sábado, 3 de março de 2018

Perdoe-me


Rodolfo Pamplona Filho 

Perdoe-me por ser covarde
e não ter a coragem
de ser feliz aqui e agora.

Perdoe-me por ser falso
e não ter a honradez
de viver o que quero para mim.

Perdoe-me por ser arrogante
e achar que sei o bastante
para entender até o que eu não sei.

Perdoe-me por ser triste
e não ver a beleza que existe
além do que já vivi.



Salvador, 01 de maio de 2017.

sexta-feira, 2 de março de 2018

A Máquina do Mundo



Carlos Drummond de Andrade

E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco

se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas

lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,

a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.

Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável

pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar

toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.

Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera

e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,

convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas.

(Trecho de A Máquina do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade).

quinta-feira, 1 de março de 2018

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Chão de Giz


Zé Ramalho
 
Eu desço dessa solidão
Espalho coisas
Sobre um Chão de Giz
Há meros devaneios tolos
A me torturar
Fotografias recortadas
Em jornais de folhas
Amiúde!

Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes
Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes

Disparo balas de canhão
É inútil, pois existe
Um grão-vizir
Há tantas violetas velhas
Sem um colibri
Queria usar, quem sabe
Uma camisa de força
Ou de vênus

Mas não vou gozar de nós
Apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom

Agora pego
Um caminhão na lona
Vou a nocaute outra vez
Pra sempre fui acorrentado
No seu calcanhar
Meus vinte anos de boy
That's over, baby!
Freud explica

Não vou me sujar
Fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom

Quanto ao pano dos confetes
Já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo
É assunto popular

No mais, estou indo embora!
No mais, estou indo embora!
No mais, estou indo embora!
No mais!

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Serviço Mal Feito


Rodolfo Pamplona Filho

Cabo desencaixado
Trabalho sujo
Peças faltando
Garantias vazias
Parafusos soltos
Pregos frouxos
Informação incompleta
Serviço Mal Feito

Orlando, 27 de janeiro de 2017

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

DITO POPULAR



Manoel Hermes


No dito popular nada cai do céu,

Ao contrário, cai sim,

A luz do sol que ilumina a vida

Com seus raios fortes e quentes

E das estrelas constelares vem

O brilho candescente que guia

A todos no caminho sem luz...,

Clareado pela tocha lá do alto

Descida do espaço astral

Para aqui na terra gerar felicidade.



18/02/2018.