sábado, 22 de agosto de 2020

GRATIDÃO

 


Veio tomar água no rio

Uma formiga sedenta.

Subiu numa folha e disse:

“Será que ela me aguenta?”


Porém, a verde folhinha 

Era frágil, com certeza.

A formiga escorregou

E caiu na correnteza.


Uma pomba ali pousada

Num galho de uma ingazeira,

Vendo a formiga em perigo,

Acudiu a companheira.


Uma folha bem maior

A pombinha arrancou

E ali perto da formiga

Com seu bico a lançou.


A formiguinha subiu

Naquela folha comprida.

Agradeceu à pombinha

Por ter lhe salvado a vida.


E conseguiu alcançar

A margem do outro lado.

E matou a sua sede

Naquele rio gelado.


Um caçador bem malvado

Ela avistou, de repente.

Apontava uma espingarda

Para a pombinha inocente.


A formiga aproximou-se

Do homem, bem devagar.

Deu-lhe uma ferroada

No seu grande calcanhar.


O caçador deu um grito,

E deixou a arma cair.

A pombinha, mais esperta,

Conseguiu escapulir.


E voou ali pertinho

Da corajosa formiga.

E, agradecida, arrulhou:

“Obrigada, minha amiga!”


Geraldo de Castro Pereira

(Historinha infantil, que eu versifiquei)

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Futebol na Pandemia

 

 

Será que nunca mais

terei a oportunidade

de, a um estádio, comparecer

para, por meu time, torcer?

 

Será que ficou para trás

a incomensurável felicidade

de soltar o grito da garganta

e que nada mais adianta?

 

Quero muito poder gritar,

abraçar e comemorar

o momento mágico do gol,

 

pois, na curta estrada da vida,

minha única arte desenvolvida

é ser tudo o que sou.

 

Salvador, 03 de julho de 2020.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Violões adolescentes



Estavam empoeirados.

Décadas de armários, 

Sob cortinas,

Suportados por livros.

Num sopro induzido,

A poeira subiu!

Uma por uma, as notas foram ouvidas.

O Tempo voltou.

A matrix, escrita outrora,

Era ouvida no agora:

Violões adolescentes 

Exalavam o desejo de vida.

Indignações depressivas,

Crença no “Amanhecer”.

Haveria um “Equilíbrio Distante”?

“O bêbado e o equilibrista” passaram por lá

E, ainda hoje, bambeiam!

Talvez, o desalinho seja até mais forte.

Há infinita razão.

Um vento à revelia do sopro!

As cordas, agora mais limpas,

Ecoam o mofo sobre aquelas notas...

“Vamos fazer um filme”?

Dúvida passiva.

A vida já é samba tocado em cada esquina

Com ou sem máscaras.

“Como será o amanhã?”

Quem vai responder?

Esteja lá!

Haverá mais pó nas entranhas do violão:

Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si grisalhas:

Desejo.

Quando o ar em movimento passar,

E o sopro de vida espargir,

Que a partitura ouvida seja:

“A Paz” reinando no meu coração,

E no seu,

E no nosso!

E no Mundo!


(Negra Luz)


quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Força Maior e Pandemia

 


Inevitável

Imprevisível

O impossível

aconteceu

E a profecia

apocalíptica

tornou-se

realidade...

Não foi uma guerra,

nem um desastre natural,

mas, sim, um vírus

que a tudo atingiu,

fulminando negócios,

extinguindo relações,

destruindo economias,

despedaçando corações...

E a força maior

tornou-se a resposta

e a desculpa

para todos e todas,

na certeza

que a normalidade

nunca mais retornará

à nossa realidade...

 

Salvador, 30 de junho de 2020.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Velas náufragas



Retenho a alma da minha cidade encantada

e o coração

de seus viventes na armadura

de um farol que busca amplidões 


no choque entre as pedras

mansas e bravas


que se desprendem do azul oceânico

de um céu vazio


As águas refeitas são nuvens

de presságios que se iluminam

na sede de um ser doído,

cansado de guerra

contra si mesmo


E toda palavra reside

em seu globo de luz


assim como todo homem que nasce

no litoral vive do seu

sopro de mar, da sua raiz

de fundos longínquos

parada no etéreo


Lumar! Lumar! 



Diego Mendes Sousa

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Fake News na Pandemia


 

A Internet

deu voz

a quem não tem

o que dizer

e que acaba

dizendo

o que não consegue esconder:

a sua própria raiva,

ódio e ignorância,

misturados com a insegurança

de simplesmente

antipatizar

quem virou alvo

do seu difamar,

como se seu mal querer

pudesse justificar

ou verdade tornar

o fel que escorre

no íntimo do seu ser.

 

Salvador, 25 de julho de 2020

domingo, 16 de agosto de 2020

Ser Dor Mar


Cosmonave de um coração costeiro

que navega na preamar da dor

na maré do amor

no mar do ser

meu alterego

a dor-mar

a domar

os sargaços

de um sal salgado

de um sol solstício

de uma lua lunática

que passa na alma

de enseada


Meu coração aberto

nas praias do sonho

litoral de aberturas

ao mundo


SOUSA, Diego Mendes. "Ser dor mar". In:__. "Opus II: Coração Costeiro". In:__. Velas náufragas. Guaratinguetá, SP.: Penalux, 2019.