sábado, 2 de abril de 2022

Castração

 






Perder o que me define
Desprezar a minha essência
Chorar sozinho na dor
de não ter mais a chance
de, um dia, ser feliz

Salvador, 22 de julho de 2018.

sexta-feira, 1 de abril de 2022

Talvez




 




Amor é fato.

Amar é ato.


Se falta afeto neste fado

ou se, de fato, há fogo febril

-que nos consome num afago

que nos mata em chamas mil-

quero deixar clara a intenção

de consumir-me, não em palavras

-que estas torpes sílabas vãs

revestem justo

o que pretendo desnudar-


mas consumir-me

em consumir-te. Em

“ser”, tendo-te.


Amor volátil,

Fugaz

Que, amanhã, pode não ser.

Mas que hoje, tudo apraz.


 Bea Galvão

quinta-feira, 31 de março de 2022

Amor sem promessas

 






Quando se ama,
fazem-se promessas,
como se houvesse necessidade
de verbalizar
que se pode fazer tudo
por amor

Mas prometer gera expectativas
que, quando não realizadas,
causam uma frustração,
como se o amor perdesse força
por uma promessa não cumprida.

É olhar uma parte pelo todo,
o acessório pelo principal,
o detalhe pelo conjunto,
o universo por um lugar
a vida por um dia

Amar não exige promessas
Amar exige amar
Amar sem promessas
Amar, simplesmente amar.

Salvador, 06 de julho de 2018.

quarta-feira, 30 de março de 2022

Retrato

 





Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?


Cecília Meireles

terça-feira, 29 de março de 2022

Libertando-se

 


Não sinta culpa
em buscar a liberdade
Não se martirize
por sonharem ser feliz
A vida é um sopro
e pena é o pior sentimento
que se pode ter por alguém...
Libertar alguém machuca,
mas viver uma mentira dói mais...

Salvador, 06 de abril de 2018.

segunda-feira, 28 de março de 2022

Cafarnaum

 

 



 



 



velhos armários,

guardando nas suas gavetas

o cheiro aveludado de tantos invernos,

esculpidos em retratos sonâmbulos,

carpidos no ranger de redes

e no murmúrio oblongo de potes de barro.

Nada há de velho que não enterneça.

nem o mofo,

nem o lodo,

nem os anos embotados no imaginário humano.

Nada passa que não nos faça avançar para antes,

para uma anterioridade lírica,

sob a luz das lamparinas

talhadas em ausências e muita solidão.

Nada há de novo que não nos mostre o velho,

o passado,

o que fomos nós,

nos passos tênues dos nossos avós,

no lastimoso grito memorial

dos nossos corpos na dança secular;

dos nossos corações empedernidos

pelas inúmeras cicatrizes

que clamam refeição.

O que há em nós

é um imenso desejo de reconstituição

de refazimento.

Um desejo

de saciar a nossa fome ancestral,

agora, no presente futuro.



Francisco Perna Filho

Para Jádson Barros Neves

domingo, 27 de março de 2022

Hoje é dia de festa

                                     



Há quem tema
o confronto
com quem cobra
o que não pode ser dado

Há quem fuja
de constrangimentos,
por saber que nem todos
tem sensibilidade e noção

Temer e fugir
não são respostas
para quem ainda sonha
um dia viver

Por isso, se te incomodarem,
corte gentilmente.
“Hoje não,
hoje é dia de festa”

Salvador, 15 de dezembro de 2018.