sábado, 28 de maio de 2022

Clangor



 


Mundo em guerra

poesia quieta.

Os poetas andam

de bicicleta

não em suas pode

rosas máquinas

voadoras.


Vida inquieta

com sider

al all dreams

without lider.


A ciber (n) ética

ser / vindo

o homem a ser.


Vil medo

a dúvida do viver.

Para onde dirigir

o raio do laser?



 (Permissivo Amor, 1978)

 -J. B. Sayeg

sexta-feira, 27 de maio de 2022

Caso




Cada caso é um caso

e, caso eu case,

quero casa,

pois só caso 

se tiver um caso

com quem, por acaso,

nunca quis comigo casar.


Salvador, 25 de abril de 2022.

quinta-feira, 26 de maio de 2022

Romance forense: O amor em segredo de Justiça






conceda a liminar.

Caso eu a tenha ofendido

Com a inépcia do pedido,

Rogo pelo amor de Deus:

Se me faltou algum tato,

Prenda-me por desacato,

Mas prenda nos braços seus"

Prontamente, a magistrada teria despachado à mão, numa folha sem timbre, aposta dentro de um envelope de insinuante cor rosa, mandado entregar no escritório do advogado.

"Em toda a minha carreira,

Como juíza de direito,

Nunca vi tanta besteira,

Nem tamanho desrespeito.

Minha conduta moral

É lei que não se revoga

Nem com sustentação oral

Debaixo da minha toga.

Por isso, ilustre advogado,

Seu pedido tresloucado

Indefiro nesta liça.

Depois, com a noite em curso,

Fora do expediente,

Eu aguardo o seu recurso.

E que se faça presente,

Mas em segredo de Justiça".


Autor Desconhecido

quarta-feira, 25 de maio de 2022

Cachorro Vira-Lata

 






Rodolfo Pamplona Filho



Sou um cachorro vira-lata,

solto nas ruas,

em busca de comida

e de carinho...

Procurando um refúgio,

onde possa ser amado

e não ter mais subterfúgio

para me sentir abandonado...


Puerto Varas-Chile, 02 de julho de 2012.

terça-feira, 24 de maio de 2022

No tempo do forte verde



Na sala de jantar

um pouco acima

da cristaleira

o capacete da revolução.

E bem ao lado da terrina

de louça clara adornada

com frutos levemente esmaltados

o pente de balas de fuzil

espetava o dourado ocre do metal.

Foi quando olhei para a rua

e uma bandeira inflava levemente

ao ruflar de longínquos tambores.

Outra vez olhei para o interior

onde as mulheres costuravam.

Pude constatar que o verde

realmente era uma cor

muito forte.


 

 (Cavalos ao Sol, 1982)


 -J. B. Sayeg

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Fardo

 




Trago o ranço 

Trago o lanço

Trago o alvo

Trago a salvo

Trago o próximo

Trago o último

Trago nada

Trago tudo

Trago o trago 

Trago o fardo 

de não saber 

o que trazer


Salvador, 11 de abril de 2022.

domingo, 22 de maio de 2022

Olhos de um melro

 


 


Os olhos mecânicos do melro

eram as únicas coisas que se moviam

na sala. O quadro de Paul Klee desenhava

movimentos de um anjo,

eram movimentos eternos, insatisfatórios

porque não eram efêmeros resolúveis

numa fração de segundo. Os olhos porém

eram ágeis, falavam, escutavam, eram olhos

indagadores. Eu mesmo me imobilizei apavorado

perante aqueles movimentos rápidos e impacientes.


Sentei-me na cadeira de grande espaldar

defronte à escrivaninha. Dobrei a página,

deixando o marcador indicando-me a leitura

interrompida. Os olhos se detiveram,

por um instante. A seguir, desesperadamente

recomeçaram seus inteligentes movimentos.



 (Pantomimas e Animação, 1989)

 -J. B. Sayeg