sábado, 21 de setembro de 2013

Flores


Flores

Rodolfo Pamplona Filho
Flores de plástico
são muito práticas
para ser amorosas...
Flores de verdade
são muito perenes
para ser perpetuadas...
Flores são como amores:
etéreos e eternos,
materiais e espirituais,
que dizem muito de quem dá,
mas também de quem recebe...
As flores são tudo e são nada
para quem as sente,
no toque, no perfume,
e no contemplar
a beleza que se esvai
ou se dilui com o tempo,
mas cujo significado
jamais passará...

Salvador, 18 de agosto de 2012.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A um Palmeirense do interior!


A um Palmeirense do interior!

Viver no Interior. Vidão! 
Poder: molhar iscas,
Torcer para o Porcão,
Ouvir boas músicas.

Poder passear;
Sentir o sereno.
Poder namorar,
Viver sem veneno.

Aqui em São Paulo,
Para isto não há mais espaço.
Em vez de viver. Me enjaulo

Aqui está tudo pequeno.
Precisa ser homem de aço,
Para sobreviver neste terreno. 

(Paulo Basílio 07/07/2012)

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Liberdade


Liberdade

Rodolfo Pamplona Filho
Liberdade é
uma palavra
para dizer
que não há mais nada
a perder...

Salvador, 11 de agosto de 2012.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

TRADUÇÃO


TRADUÇÃO

Confesso meu amor
imenso às ilhas

Claro está: não falamos
a mesma língua

Não sei se me ouvem
e percebem

mas em meio às ondas frias
vez ou outra
um cardume de enguias
lambe de azul
as pernas, o corpo:
no gosto, no gozo

Eu
imerso.

Alberto Bresciani

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Adaptação



Adaptação

Rodolfo Pamplona Filho
Reformar o lustre
para caber na sala
Aceitar que promessas
não passem de palavras...
Fazer amor sem som ou ardor
para não acordar as crianças
Não clamar por calor
para não criar expectativa
Anestesiar a sede de vida
para evitar a despedida
Levar o dia-a-dia sem vibração
só para não se sentir frustração...

Salvador, 31 de julho de 2012.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Nadezha Petrovna e os pássaros da estação de trem.


   Nadezha Petrovna e os pássaros da estação de trem.


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Foto: Cláudia Reina.


 Nadezha Petrovna e os pássaros da estação de trem.

  Ao  Liev Tolstói
                                                                                                                                                        
      A nevasca irrompera. Os flocos de neve perolados cintilavam ao encontro da luz pálida das lamparinas nos  altos postes. Os lampiões atenuavam a escuridão das ruas vazias. A noite sem lua avançava com rapidez  invernal.
     Konstantin Vladimirovitch, sentado em sua poltrona de leitura, acarinhava Putchkin, um gato cinza e sonolento que ressonava em seu colo.  As cortinas abertas permitiam a  contemplação da neve que escorria nas vidraças, com seus cristais fulgurantes como se houvessem, os cristais, sorvido a luz das estrelas ausentes, e estivessem devolvendo-a agora,  presenteando o céu sombrio. A neve irradiando nas janelas e o crepitar das chamas na lareira,  intensificava  a memória daquela tarde gélida  em que partira no trem de Moscou para São Petersburgo.
    Foi no vagão-restaurante que a vira pela primeira vez. Nadezhda Petrovna tocava o samovar como se pudesse sorver o calor para o delicado corpo. A tez alva avivada pelos  lábios vermelho-sangue e grandes olhos verdes emoldurados por sobrancelhas bem definidas. Os cabelos castanhos presos em coque, deixavam a mostra  o pescoço esguio e o colo bem definido. Os lábios rubros e os olhos vivos contrariavam o austero vestido azul marinho. Nos contrastes, ele percebeu a inquietude dessa bela mulher. Konstantin dava atenção aos detalhes desapercebidos pela maioria. Cordato, ele se tornou, de repente, atraído pelo perigo. A ameaça do desconhecido que sempre o amedrontara, acenava. O caráter sedutor   do acaso realçava o seu cotidiano invariável.
      Konstantin pensava como facilmente  poderia  esquecer dos sentidos. Todos tinham que morrer um dia, por que não viver o agora? Queria ser acariciado tal qual os amantes apaixonados. Não mais importava a falsidade à sua volta. Cansara das máscaras usadas nos julgamentos. Ser adulado, tão só pelo que podia ofertar o seu cargo, e não como um homem eivado de falibilidades e renúncias, enfadava-o , em vez de envaidecê-lo. Há muito   pagara  pela alegria da ambição. Uma  recordação dolorosa invadiu o seu pensamento. Quando Valentin Makárovitch, presidente da Corte, tivera uma doença terminal. A aparência definhada e decadente  do magistrado causada pela enfermidade, difundia temor aos demais. A figura do Poder vencido pela fragilidade humana. E, tão logo, morto, enterrado e terminada a cerimônia fúnebre, o interesse velado, era quem assumiria a vaga aberta. As sombras daqueles homens em volta da sepultura de Valentin, causavam-lhe náuseas.
     Não queria ser como aqueles que sem o Poder nada mais lhes sobra. Visivelmente perturbado, percebera como sacrificara a vida. A esposa, após tantos anos, ainda reverenciava autoridades e frequentava todas as recepções. O farfalhar das sedas e a desilusão dos rostos empoados. Tudo era  tão previsível. As regras burocráticas e os protocolos o esmagavam como rochas desmoronadas sobre um corpo são. Que importância descomunal tinha o seu cargo para que pudesse convencê-lo a morrer lentamente a cada dia? E se a sua existência não passasse de uma grande palco  que criara para dar vida ao seu papel oficial? Vivenciava o conflito que tanto evitara em  nome das instituições  que o    enraizavam.
     Tomou consciência de sua existência estreita e pesada. As muralhas que antes o protegiam, agora o sufocavam. A mulher de olhos verdes  desafiava os muros de pedras palacianas que o cercavam.
     Nadezhda Petrovna também o observava, enquanto   bebia  o chá escaldante. Gostara da aparência elegante desse homem discreto. O terno preto bem talhado. O nó alinhado da gravata. Os sapatos lustrados. Olhar firme. Nariz reto. Lábios finos. A aproximação iniciou  entre eles uma conversa agradável. Ele contou ser magistrado do Tribunal de Apelação; noutros tempos estudara música clássica. Tinha duas filhas. Viajava para um congresso jurídico.  Narrou nas entrelinhas das palavras não ditas, o trabalho ser o anestésico dos desejos encobertos.  
     Ela o  mirava com  olhos compreensivos.. Algo nele despertava ternura. A ausência de vida. Pulsante.Quis  abraçá-lo. Conteve-se.
     Por sua vez, Konstantin soube que ela era professora universitária de literatura russa. Ia  celebrar o nascimento de Dmítre, seu esperado sobrinho. Viúva precocemente, não tinha filhos. Possuía três gatos: Tolstói, preto com brilhantes olhos amarelos, arisco e desconfiado. Somente permitia ser afagado quando quisesse; Dostoiévski, mesclado de preto e branco tinha argutos olhos verdes, e, mostrava-se impaciente, guloso e asmático.  Tchekhov, sensível  e alegre, era branco com delicados olhos azuis. Encontrou os três, ainda filhotes, abandonados no parque Iskussitv onde costumava caminhar. Confessou ponderar com os felinos sobre as críticas literárias que escrevia. Tinha a nítida impressão que eles compreendiam, pois balançavam levemente os rabos e as orelhas ficavam bem em pé. Disse, gracejando, adorar a gradação sincrônica do preto e do branco em seus bichanos. Konstantin soube ter se apaixonado quando ela gargalhou sem pudor. De si mesma. Havia nela algo  deixado pela juventude inexperiente. Não estava conspurcada pela corrupção do caráter, pela devassidão dos jogadores imperturbáveis.
     Conversavam indiferentes ao tempo e ao que falar. Os assuntos se embaralhavam desordenados. Falavam como seres libertos . 
     Recordavam o verão, quando os campos e as florestas, livres das geadas e da neve,  resplandeciam. Os arvoredos seculares. Os juníperos  milenares  ao crescerem lentamente .  O  vigor  dos abetos. A resistência dos  lariços. A beleza das bétulas com sua casca branca e prateada, e as folhas ovais verde-claras. Ele também havia sido criança. Sonhara. Estendera-se sobre a relva. Gostara de ir à floresta. Colher cogumelos. Se não podia resgatar a inocência, ao menos buscaria a satisfação das sensações e dos sentidos soterrados.
     Ela disse gostar tanto do pão de mel de Tula que lá esteve para conhecer o  museu destinado à guloseima. Ele preferia um saboroso medovik para acompanhar o café nos intervalos entre as sessões do Tribunal.
     Os campos nevados avançavam pelas janelas do vagão. Sobre as planícies grisalhas   filetes de terra escura formavam estranhos  desenhos. Os salgueiros e as bétulas desfolhadas se contorciam, atormentados pelas rajadas de fortes ventos.  Os pinheiros embranquecidos, elevavam-se como torres. Em algumas aldeias,  casas  à  margem da ferrovia  emolduravam a paisagem com   luzinhas acesas e chaminés. As cúpulas  douradas, azuis com estrelas  e verdes das catedrais ortodoxas, sobrepunham-se ao céu abrumado. A simbologia dos templos.  A luta do bem contra o mal .
     Surpreenderam-se quando anunciaram a última estação. Sentiram o frio cortante ao abandonarem o trem. O piso descoberto da plataforma estava nevado. Caminharam pelos extensos corredores, lado a lado. Assombraram-se ao ver dois pássaros voando sobre os tetos da estação, sem se importarem com o ar glacial  e o céu plúmbeo.
     O voejar dos pássaros era como um alerta para não deixá-la  partir.  Não poderia destruir a chance que o acaso lhe deu. Sentia-se vivo. Vivo! Lutava contra os sentimentos. Mas sabia que toda resistência  era  inútil.  
     Um silêncio tomou conta dos dois, um silêncio em que nenhum cristal de gelo se atrevia a  estilhaçar.
      Por momentos, a surda desesperança bateu nele. Numa resignação desesperada. A ausência de coragem em pedir que ela não partisse. Não se perdesse na multidão aglomerada das plataformas.
       De repente, percebeu  que Nadezhda estava ao seu lado fitando os pássaros. 


Cláudia Reina.

25 de julho de 2013.


domingo, 15 de setembro de 2013

Da Personalidade Jurídica das Pessoas Naturais


Da Personalidade Jurídica das Pessoas Naturais

Alysson José de Andrade Oliveira[1]
Aracaju, 02 de janeiro de 2013.

Com o nascimento surge a personalidade,
materializando-se na capacidade
de contrair obrigações e titularizar direitos,
atributos necessários a todos os sujeitos.

Sendo expressa a determinação legal
que estabelece o nascimento como o termo inicial
da personalidade jurídica da pessoa natural.
Devendo o indivíduo respirar
para a sua vida comprovar,
visto que a legislação civilista
adotou a teoria natalista.

Em razão dessa aquisição, a pessoa passa a atuar
podendo atos e negócios jurídicos realizar.

Uma observação se faz essencial,
posto que a lei de forma magistral,
veio de plano a assegurar
direitos ao nascituro para sua vida resguardar.
Possuindo este desde a concepção
direitos que protegem a sua perfeita formação.

O que leva parte da doutrina,
não sendo esta a que domina,
a explanar de forma idealista
que a teoria mais adequada seria a concepcionista.
Mesmo nesta corrente
entende-se de forma prudente
que o nascituro não titulariza direito patrimonial,
sendo a sua personalidade é meramente formal.

Outra parcela doutrinária,
igualmente minoritária,
alega que a teoria mais racional
seria a da personalidade condicional.
O nascimento constituiria a condição suspensiva
que daria ao nascituro a capacidade aquisitiva
de direito patrimonial,
posto que para esta teoria é essencial,
o nascimento com vida
para que se tenha por completo a personalidade prometida.


[1] Graduando do Curso de Direito da Universidade Tiradentes (UNIT), estagiário da Procuradoria da Fazenda Nacional em Sergipe (PFN/SE) e autor de artigos jurídicos. Tendo atuado, também, como Monitor de Direito Civil II (Obrigações) da UNIT e Pesquisador PROBIC/UNIT.