sábado, 23 de novembro de 2013

As Sem - Razões do Amor


As Sem - Razões do Amor

Carlos Drummond de Andrade

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.
Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Descoberta da Paternidade (Soneto)

Descoberta da Paternidade (Soneto)

Rodolfo Pamplona Filho
Um dia, tem-se a oportunidade
de finalmente aprender
qual é, na realidade,
a sensação de nada poder.

Sobre o tema, todo chavão
ou o mais conhecido bordão
sempre soará verdadeiro
diante da sensação de desespero

Tudo isso se dá
pelo imenso prazer
que a nova vida pode trazer,

só de imaginar
a mais pura felicidade,
que é a descoberta da paternidade.

Salvador, 07 de janeiro de 2012,
um sábado de noite,
no cinema com filhos e sobrinhos,
pensando no amigo-irmão Pablo Stolze Gagliano.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Saudade


Saudade

Rodolfo Pamplona Filho
Parece doença...
Parece tristeza...
Parece dor no peito...
Parece desespero...
Parece depressão,
mas é só saudade...

Gramado, 18 de outubro de 2012.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O rosto sem face


O rosto sem face


Aquele era sim o seu rosto, mas não sua face. Não saberia explicar o paradoxo não fosse o álibi inquestionável da ciência. Mas ela estava ali, prostrada e, diante do espelho, a busca pela identidade só encontrava sossego diante do conhecido e atordoado olhar. Não, não haveria perguntas. O silêncio seria a única possível manifestação humana diante de tão grandioso mistério. O chamado do outro tardaria, e o seu próprio chamado não iria se fazer mais cedo. Será possível que ninguém a reconheceria? Teria ela de contar e recontar sua história, de mergulhar mais uma vez em todas as dores, alegrias e amores para descobrir a si mesma uma vez mais em seu ser. Não, isso não era justo. Não era possível, crível... não era... nada!

Nada! Que estranho sentido esta palavra agora adquiria. Jamais pensara que nada pudesse significar tanto. Causar tanto pânico, transtorno... e conforto. Nada. O que seria? Quem seria? Nada sou eu? – perguntava-se a criatura desconsolada. Sem memória, sem história, sem espelho! Sem o olhar do outro que refletisse o seu próprio a lhe mostrar o que se reconhece – e é bem verdade, o que se desconhece, se recusa e se nega também.

De repente, uma forte batida na porta faz cessar todo o monólogo existencial-metafísico.
- São os fotógrafos da revista! Estão esperando lá embaixo, a empregada lhe grita do corredor. Ela então mais uma vez fecha os olhos, num rito quase-fúnebre de quem cerra os olhos para morrer. Sabia que a partir dali não haveria mais espelhos, apenas câmeras e flashs a registrar o belíssimo rosto cuja face consistia em ser nada.


--
 
 
 
Fernando Armando Ribeiro

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Escravas Sagradas de Korinthio


Escravas Sagradas de Korinthio

Rodolfo Pamplona Filho
No encontro entre o Egeu e o Jônico
e de dois portos importantes,
encontra-se a cidade
que não conhecia o amor

No culto à Afrodite,
entregam-se mais do que primícias,
pois é o próprio corpo o objeto
do contato, do negócio e do prazer,

proporcionando conforto e alento
a quem vem de muito longe
e não sente há muito mais

o contato com a pele aveludada
em que o sentimento é nada,
mas a entrega e satisfação totais.

Na estrada de Korinthio para Atenas, 29 de setembro de 2012.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O tempo - Mário Quintana


"O tempo - Mário Quintana

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará."

domingo, 17 de novembro de 2013

Pontualidade


Pontualidade

Rodolfo Pamplona Filho
Achar natural
que outros esperem,
ainda que alguns segundos,
fazer algo que
só interessa a você
é o cúmulo da cara-de-pau
com a falta de noção...
E o pior de tudo
é quando se pede
que tenham consciência
para respeitar
o que só lhe interessa,
seja o embarque
(ou desembarque)
de alguém
ou mesmo
que algo ocorra
como se fosse
a mais importante
de todo o universo.
Como não se irritar
com as desculpas
ou justificativas
para seu atraso?
Ver rostos contritos,
olhos de gato de botas
ou um ar indignado
de quem foi vítima,
e não a causa
do irritante atraso
que prejudica todo mundo,
até mesmo a si...
E quem ousa reclamar,
deixando o silêncio conveniente,
para ser descrito
como um sujeito paranóico,
estressado ou simplesmente chato,
que fica inventando caso
ou querendo aparecer...
Pontualidade é respeito
ao tempo alheio!
E ponto!

Atenas, 29 de setembro de 2012.