sábado, 10 de junho de 2017

Principado Extinto


 Matilde Campilho
Isto é um poema
fala de amor
ou medo do amor
Fala da morte
ou do fim da amálgama
rosto voz alma e cheiro
que é a morte
Isto é um poema
tenha medo
Fala dos peregrinos
que atravessam avenidas
de sobretudo e óculos
carregando flores invisíveis
e chorando mudos
Isto aqui é um poema
fala da permanência inútil
de um coração devastado
de uma floresta devastada
de uma corrida devastada
logo depois do disparo
da arma de 40 peças
que soltou a bandeirinha
e assim mesmo se desfez
Isto é um poema
fala da aparição do inverno
fala da fuga dos albatrozes

fala do punhal sobre a mesa
e do absurdo do punhal
feito de madeira e pedra
sobre a mesa do jantar
Fala do poder da erosão
que afinal incide sobre
pele nervo e osso e olho
Fala do desaparecimento
Fala do desaparecimento
Fala do desaparecimento
Claro que é um poema
fala do toque de saída
no colégio de Île de France
e das 39 saias das meninas
esvoaçando sem vontade
na direção do cais de ferro
Fala do pânico do corpo
que esbarra em si mesmo
no espelho pela manhã
e do urro silencioso
que nenhum vizinho
escuta mas que ainda
assim reverbera sem dó
até a hora final
fala do vômito que advém
dos gestos repetidos

Fala do vômito que advém
dos gestos gastos
prolongados assim ad astra
até que o sono apague tudo
Fala da palavra saudade
ou da palavra terremoto
fala do olho que tudo via
deixando lentamente de ver
até mesmo a cara de Jack Steam
o porteiro da loja de discos
onde toca a canção de Chavela
Nada mais no mundo importa
Isto é que é poema
Fala do cheiro das flores
e da injustiça da existência
das flores na cidade
Fala da dor excruciante
meu bem excruciante
que faz até desejar
o fim do poema
o fim da palavra amor
que após o disparo
se espelha apenas
na palavra loucura.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Crise de Abstinência


Rodolfo Pamplona Filho

Chegou o dia
Bateu o horário
e o que se espera
não chega...
nem virá...

Chegou o dia
Bateu o horário
e o que se precisa
não está mais
ao alcance

Seja uma droga,
um amor
ou uma vida,
poucos sobrevivem
aos efeitos
de uma crise de abstinência.


Salvador, 01 de maio de 2017.            

quinta-feira, 8 de junho de 2017

O Último Pôr-do-sol



Lenine 

A onda ainda quebra na praia
Espumas se misturam com o vento
No dia em que ocê foi embora
Eu fiquei sentindo saudades do que não foi
Lembrando até do que eu não vivi
Pensando nós dois

No dia em que ocê foi embora
Eu fiquei sentindo saudades do que não foi
Lembrando até do que eu não vivi
Pensando nós dois

Eu lembro a concha em seu ouvido
Trazendo o barulho do mar na areia
No dia em que ocê foi embora
Eu fiquei sozinho olhando o sol morrer
Por entre as ruínas de Santa Cruz
Lembrando nós dois

No dia em que ocê foi embora
Eu fiquei sozinho olhando o sol morrer
Por entre as ruínas de Santa Cruz
Lembrando nós dois

Os edifícios abandonados
As estradas sem ninguém
Óleo queimado, as vigas na areia
A lua nascendo por entre os fios dos teus cabelos
Por entre os dedos da minha mão
Passaram certezas e dúvidas

Pois no dia em que ocê foi embora
Eu fiquei sozinho no mundo, sem ter ninguém
O último homem no dia em que o sol morreu
Pois no dia em que ocê foi embora
Eu fiquei sozinho no mundo, sem ter ninguém
O último homem no dia em que o sol morreu
Pois no dia em que ocê foi embora
Eu fiquei sozinho no mundo, sem ter ninguém
O último homem no dia em que o sol morreu

quarta-feira, 7 de junho de 2017

A Esperança um dia cansa


Rodolfo Pamplona Filho
De tanto sofrer
De tanto esperar
a Esperança cansou
e deu lugar
à desilusão...


Salvador, 16 de maio de 2017.                        

terça-feira, 6 de junho de 2017

SONETO DA DESPEDIDA


 Cássio Pitangueira

A despedida não poderia ser diferente;
Infelizmente não tão contente;
E com a alma sombria e escura;
É chegada a hora de partir para sempre;

Certo de uma desvalorização absurda;
Num quadro clínico de loucura;
Numa sombra infinita de amargura,
Ponho-me em prantos serenos a gritar!

Na elevada altura de um desespero,
Coloco-me de joelhos,
Já sem forças para lutar!

Com a esperança de uma relva simples e pura,
Vou curar minha amargura,
Num novo seio que hei de encontrar;