sábado, 11 de abril de 2020

ANGÚSTIA






Tortura do pensar! Triste lamento!
Quem nos dera calar a tua voz!
Quem nos dera cá dentro, muito a sós,
Estrangular a hidra num momento!
E não se quer pensar! ... e o pensamento
Sempre a morder-nos bem, dentro de nós ...
Querer apagar no céu – ó sonho atroz! –
O brilho duma estrela, com o vento! ...
E não se apaga, não ... nada se apaga!
Vem sempre rastejando como a vaga ...
Vem sempre perguntando: “O que te resta? ...”
Ah! não ser mais que o vago, o infinito!
Ser pedaço de gelo, ser granito,
Ser rugido de tigre na floresta!

Florbela Espanca, em "Livro de Mágoas"

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Minha Homenagem às Mulheres







Rodolfo Pamplona Filho

Se existe algo mais perfeito
do que a beleza da mulher
ganhará não só o meu respeito,
mas também minha adoração e fé,

pois somente uma obra divina,
que deve ser reverenciada,
pode ter mais perfeita sina
do que o encanto da mulher amada.

O fascínio feminino importa
muito mais que um físico atrativo:
é o conjunto completo de uma obra,
que deixa qualquer um cativo!

A inteligência, a perspicácia,
a sutileza, o instinto,
a elegância, a espontaneidade,
o sorriso, o carinho.

Todas as mulheres são lindas!
Embora algumas não expressem
toda a delicadeza
de sua infinita grandeza.

Todas as mulheres são lindas!
Falta a muitos homens
a efetiva sensibilidade
para perceber sua complexidade.

Dizem que, atrás de um grande homem,
há sempre uma grande mulher...
Isto é um engano monumental,
pois ela nunca estará no final,

mas, sim, o caminho inspirando
ou espiritualmente comandando
o passo a ser dado ou verbo a ser dito,
a ação cantada ou verso a ser escrito...

pois nada do que o homem tentar
será feito para seu próprio prazer:
haverá sempre uma musa a encantar
as etapas de seu íntimo querer.

Praia do Forte, 08 de março de 2011.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Decifrando as asas







Negra Luz

As asas não são passageiras
Nem querem respostas ligeiras
Voar e ficar na beira
Abismo, limite, trincheira.

As asas querem caminho
Encontro, seguir, expansão
Sentir-se chama: ave condoreira
Mar, Universo, sem barreira.

As aves são mestras, oleiras
Tijolos, seguir, ganhar chão
Ser do vento: liberdade sem fronteira
Da foz para Oceanos, onda em arrebentação

A ave em mim, companheira
Alma, sentir, opção
Amar me: sem eira nem beira
Dar asas ao coração.




quarta-feira, 8 de abril de 2020

Migalhas de Carinho




Migalhas de seu carinho
como um cachorrinho
junto de sua mesa,
na esperança de, um dia,
encher minha barriga vazia
e meu coração sedento...

Salvador, 16 de janeiro de 2014


Rodolfo Pamplona Filho


segunda-feira, 6 de abril de 2020

O Tempo é o Senhor da Razão




Quantas vezes eu gostaria
de alterar a ordem do dia
e poder fazer de forma diferente
o que encontro no tempo presente.

Vejo como eu poderia encontrar alegria
onde, hoje, só vejo melancolia
e descobrir uma felicidade
que perdi pouco a pouco com a idade...

Será que é possível mudar
opções que fiz no caminhar
por não saber o que me esperava
ou o que na minha vida faltava...

Como eu poderia saber ou prever
que o destino reservaria novo prazer,
encontrando novo sentido no viver
e uma forma alternativa de ser...

Ainda terei coragem para novo desafio?
Ainda enfrentarei tudo com brio?
Conseguirei ser outro alguém?
Encontrarei um mundo além?

Dúvidas são uma constante
em uma mudança tão fulminante
e o receio não é uma temeridade
no encontro da essência de verdade!

Conheço o que já tenho e não é perfeito!
Sei o que quero e o que não mais aceito!
A esperança é o gás da Transformação
e o Tempo é o Senhor da Razão...

São Paulo, 20 de novembro de 2010.


Rodolfo Pamplona Filho

domingo, 5 de abril de 2020

Quarentena




Rosiane Alves


Pedaço esquecido de nós
Exposto à nós
Como um véu que se retira
Estamos despidos com a alma nua
Vendo em nós o retrato do abandono
A descrição do quanto fomos o que não somos
Do nosso personagem que insiste em aparecer sem ser
É conviver, É sentir o dissabor de conviver

Sem disfarces habituais
Sem nada igual
É sentir o peso do julgamento
Que fizemos do outro
E que somos obrigados a fazer de nós mesmos
De nossos fracassos

De nossas dores
Das cores de nossa áurea
Que lutamos para esconder
É se expor, é ser

Quarentena é um internamento forçado do corpo
Para curar a alma
É um desespero angústiante
Que contraditoriamente acalma
É se enxergar despido
Vencido, na própria limitação

É suportar o peso das internas emoções
É cura, É liberdade, É também descoberta e felicidade
É ser, É se conhecer é reconhecer que somos apenas humanos.