sábado, 1 de agosto de 2020

AMARGO PRESENTE-PASSADO







A caravela ancorova em outras terras

O bramido da revolta ecoava pelo verde intocado

Os sonidos das correntes esmorecia o belicoso 

Os irados resvalavam sobre os traidores

Os olhares fixos teciam uma despedida

Suas almas saudosistas, mortas sobre o azul pairavam

O mar se quebrava em dois

Gritam os porões para a imensidão

Bramidos de guerra que se enfraqueciam

- Vermelho de dor, toma de  trevas este azul atlântico!

"Mãe gentil", verde de resquícios amarelos

Tu que recepciona os acorrentados

Por que traístes aqueles que por ti foram adotados?

Sangue escorre pelos que lutam

Fazem fronte os revoltados

"Liberdade, liberdade!" Onde ficas para que ti alcancem?

A dança e cantos guardam a saudade do passado

A força esbraveja dentro dos que tem esperança

Até que eis os enlaces estraçalhados

Livres estão os que foram escravizados

Mas contemporaneidade  que os abarca, onde estão teus direitos?

És tu uma farça moralista?

Sociedade, por que encarcera os livres?

Por que matas os que lutam por ti?

Por que negas carinho para os que querem amor?

 Respeito para os que do alto exigem

Prisão para aqueles que embaixo vivem

Por que essa regra de tamanha estranheza?

Persistentes estigmas perversos aprisionam os iguais.

Tristes desses que lançam para longe benéficos ideais.

"Igualdade, igualdade" onde ficas para que ti alcancem?

PAULO HENRIQUE NOVAIS SANTOS

sexta-feira, 31 de julho de 2020

Cabelo na Pandemia






Na pandemia,
muitas coisas
crescem
sem parar
É o medo,
o receio
ou mesmo o terror.
Mas, abstraindo
o horror,
melhor falar
de uma coisa
com menos
(ou tanto)
terror!
É o cabelo que,
pelo lockdown,
não para de
me deixar mal!
Cresce, cresce,
Sem parar
Brancos
Assumidos
Grandes
Sem pentear
Sem pintar
Sem cortar
Sem controle
Sem ficar
no seu lugar...
Mas, aí dele,
pois, um dia,
voltarei
a cortar!
E, nesse dia,
hei de me vangloriar:
meu cabelo,
no espelho,
poderei olhar!

Salvador, 28 de junho de 2020.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Receita de poema





Um poema que desaparecesse
à medida que fosse nascendo,
e que dele nada então restasse
senão o silêncio de estar não sendo.

Que nele apenas ecoasse
o som do vazio mais pleno.
E depois que tudo matasse
morresse do próprio veneno.

Antonio Carlos Secchin.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Arte na Pandemia






Aprendemos a viver
sem bares e restaurantes,
sem coisas que fazíamos antes,
mas não conseguimos
abrir mão da poesia,
do sentimento de alegria,
da música que contagia,
da arte que nos inebria...
Se há algo que se aprendeu
no isolamento da pandemia
foi que a arte sempre vive
e sempre será vida
no nosso dia-a-dia.

Salvador, 28 de junho de 2020.

terça-feira, 28 de julho de 2020

Off price



Que a sorte me livre do mercado
e que me deixe
continuar fazendo (sem o saber)
fora de esquema
meu poema
inesperado

e que eu possa
cada vez mais desaprender
de pensar o pensado
e assim poder
reinventar o certo pelo errado

Ferreira Gullar. Em alguma parte alguma. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Amores na Pandemia







A pandemia traz terrores,
mas também renova amores,
pois, por medo da solidão,
amores vêm e vão,
na busca de companhia
ou apenas dormir de conchinha,
pois o amor que sobrevive ao isolamento
persiste infinitamente em seu belo momento.

Salvador, 28 de junho de 2020.

domingo, 26 de julho de 2020

Nicanor e seu Cavalo



Nunca vi ninguém olhar
com tal ternura um cavalo
e um cavalo navegar
nos seus olhos, desviá-lo
para dentro, onde é mar
e o mar, apenas cavalo.
Nunca vi ninguém olhar
nicanor naqueles olhos
que pareciam findar
onde os espaços se foram.
Nicanor sabia olhar
sem o menor intervalo
como lhe fosse apanhar
a toda brida, os andares.
E se podiam falar
num trote pequeno ou largo,
com rédea de muito amparo,
o corpo estando a montar
a eternidade cavalo.

Poema de Carlos Nejar (1939-)