sábado, 23 de janeiro de 2021

Mate-nos de vez




Mata-me de vez!

Não a pequenos golpes.

Não a bateias de mercúrio.

Contamina de vez os meus rios!

Destrói todas as matas!


Mata-me de vez!

Não unha a unha.

Não a contrabandos em feiras.

Extingue todas as espécies!

Fauna! Flora! Tudo!


Mata-me de vez!

Não a cotidianas torturas.

Não a lixo no ar... no mar...

Derrete as geleiras de Norte a Sul!

Detona todas as bombas que criou!


Mata-me de vez!

Não a queimadas de pasto.

Não a indígenas desabrigados.

Faz-me letra morta!

Revoga todos os meus direitos em lei!


Mate-me assim...

De vez!

Eu, Meio Ambiente, peço.

Mas lembre-se:

Você não é as baratas!


Negra Luz

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Lidando com Idiotas

 



 

Não é fácil lidar com idiotas:

conviver com quem já se sabe

o que vai falar

ou como vai se comportar...

Aquele tipo de gente

que incomoda pela presença,

pelo tom ou pelo assunto,

mas que insiste em estar junto,

apresentando sua opinião

como se fosse uma dúvida legítima

ou um exercício de um ponto de vista,

e não uma mera reprodução

de um chavão ou bordão,

repetido à exaustão,

no grupo de WhatsApp da ocasião.

Para eles, o ódio

está sempre à mostra,

a concordância a si

é sempre imposta

e, para sobreviver,

somente há uma proposta:

para idiotas, o silêncio

é sempre a melhor resposta.

 

Praia do Forte, 29 de dezembro de 2020.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Ao Senhor do Bonfim



(Negra Luz)


Bonfim, me aguarde!

Logo estarei aí!

Se estou viva, me guardas.

Sabes porque, hoje, não fui aí.

Da tua Colina sou parte,

O tapete branco da Paz segue em mim,

Eu sigo na fé

Aguardo:

A cura está por vir!

No próximo ano, me aguarde:

Vou a pé!

Vou na fé!

 Muito mais forte em ti!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Impedimento

 





Não há impedimento,

mas, sim, condicionamento

e vontade.

Não há verdade,

mas, sim, gosto

e predileções

Não há opinões

mas, sim, torcida

e decisão

Não há razão,

mas, sim, ódio

e ressentimento.

É este o impedimento.

 

Praia do Forte, 27 de dezembro de 2020.

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Fui Eu






 Fui eu esse menino que me espia

– melancólico olhar, sereno rosto,
postura fixa e o todo bem composto –
no retrato que o tempo desafia.

Fui eu na minha infância fugidia
de prazeres ingênuos, e o desgosto
de sentir tão efêmera a alegria
bem depressa mudada em seu oposto.

Fui eu, sim; mas o tempo que perpassa
e tudo altera nem sequer deixou
um grão de infância feito esmola escassa.

Fui eu; e da figura só ficou
o olhar desenganado na fumaça
em que a criança inteira se mudou.

abril 1998

(De Sentimento da Morte – 2003)

Poema de Fernando Py (1935-2020)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Gozar

 



 

Gozar

a vida

o momento

a companhia

a cara de alguém

de forma gostosa

abundante

incessante

como há muito tempo

como nunca antes

é bom

é ótimo

é sublime

é imprescindível.

 

Praia do Forte, 03 de janeiro de 2021.

domingo, 17 de janeiro de 2021

Pequenos na Imensidão




A imensidão dos pequenos

Pequenos na imensidão

O homem e o universo

Na sua real dimensão 

 

O homem é um ponto insignificante

Na imensidão do universo 

Ao longe desaparece

Nas profundezas de um olhar

 

O universo é gigante

Nossos olhos não conseguem findar

Só na mente do homem 

Que quer sempre dominar

 

Dominar a natureza 

Dominar o universo 

Dominar o próprio homem

Para então um Deus se tornar

 

Quem será o gigante

Que conseguirá se superar

Desnudando os próprios monstros 

Para então se libertar

 

Imenso é universo 

Assim como a mente humana

Que busca o inverso  

Com suas atitudes desumanas

 

Humildade tem que haver

Pois somos um pontinho no universo 

A arrogância deve desaparecer

Extinguindo os homens perversos

 

O universo é exemplo

De grandeza e humildade

E é assim que devemos ser

Com a própria humanidade 

 

Maria Aparecida Francisco