sábado, 6 de março de 2021

Nunca vi ninguém olhar







com tal ternura um cavalo
e um cavalo navegar
nos seus olhos, desviá-lo
para dentro, onde é mar
e o mar, apenas cavalo.
Nunca vi ninguém olhar
nicanor naqueles olhos
que pareciam findar
onde os espaços se foram.
Nicanor sabia olhar
sem o menor intervalo
como lhe fosse apanhar
a toda brida, os andares.
E se podiam falar
num trote pequeno ou largo,
com rédea de muito amparo,
o corpo estando a montar
a eternidade cavalo.

Poema de Carlos Nejar (1939-)

sexta-feira, 5 de março de 2021

Filho

 



 

Sinto sua falta

desde o momento

em que respiro

até quando

não mais perceber isso.

Meu amor por você

faz parte do meu ser

como se seu olhar

compusesse meu DNA

Você é a parte de mim

que ganhou asas

e voará alto e bonito,

mas minha esperança

no infinito

é que você saiba

que, em meus braços,

terá sempre um porto seguro...

 

Salvador, 15 de janeiro de 2021.

quinta-feira, 4 de março de 2021

Violões adolescentes




Estavam empoeirados.

Décadas de armários, 

Sob cortinas,

Suportados por livros.

Num sopro induzido,

A poeira subiu!

Uma por uma, as notas foram ouvidas.

O Tempo voltou.

A matrix, escrita outrora,

Era ouvida no agora:

Violões adolescentes 

Exalavam o desejo de vida.

Indignações depressivas,

Crença no “Amanhecer”.

Haveria um “Equilíbrio Distante”?

“O bêbado e o equilibrista” passaram por lá

E, ainda hoje, bambeiam!

Talvez, o desalinho seja até mais forte.

Há infinita razão.

Um vento à revelia do sopro!

As cordas, agora mais limpas,

Ecoam o mofo sobre aquelas notas...

“Vamos fazer um filme”?

Dúvida passiva.

A vida já é samba tocado em cada esquina

Com ou sem máscaras.

“Como será o amanhã?”

Quem vai responder?

Esteja lá!

Haverá mais pó nas entranhas do violão:

Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si grisalhas:

Desejo.

Quando o ar em movimento passar,

E o sopro de vida espargir,

Que a partitura ouvida seja:

“A Paz” reinando no meu coração,

E no seu,

E no nosso!

E no Mundo!


(Negra Luz)

quarta-feira, 3 de março de 2021

Construções do Amor



O amor é tijolo,

cimento e concreto

O amor é madeira,

pregada com afeto

O amor é obra

que nunca termina

O amor é benção

que contamina

Amor é medida

que nunca se excede

O que se constrói

com amor não se perde...

 

Salvador, 14 de janeiro de 2021. 

terça-feira, 2 de março de 2021

Gratidão



Veio tomar água no rio

Uma formiga sedenta.

Subiu numa folha e disse:

“Será que ela me aguenta?”


Porém, a verde folhinha 

Era frágil, com certeza.

A formiga escorregou

E caiu na correnteza.


Uma pomba ali pousada

Num galho de uma ingazeira,

Vendo a formiga em perigo,

Acudiu a companheira.


Uma folha bem maior

A pombinha arrancou

E ali perto da formiga

Com seu bico a lançou.


A formiguinha subiu

Naquela folha comprida.

Agradeceu à pombinha

Por ter lhe salvado a vida.


E conseguiu alcançar

A margem do outro lado.

E matou a sua sede

Naquele rio gelado.


Um caçador bem malvado

Ela avistou, de repente.

Apontava uma espingarda

Para a pombinha inocente.


A formiga aproximou-se

Do homem, bem devagar.

Deu-lhe uma ferroada

No seu grande calcanhar.


O caçador deu um grito,

E deixou a arma cair.

A pombinha, mais esperta,

Conseguiu escapulir.


E voou ali pertinho

Da corajosa formiga.

E, agradecida, arrulhou:

“Obrigada, minha amiga!”


Geraldo de Castro Pereira

(Historinha infantil, que eu versifiquei)

segunda-feira, 1 de março de 2021

Sobre Livre Arbítrio

 




O que fazer quando

não se sabe o que fazer?

O que dizer quando

não se consegue se mover.

Pensar e lembrar:

não temos controle do futuro,

mas apenas do presente.

Só depende de nós

Temos livre árbitro.

Dizer que o presente

não depende

só da gente

é uma bela desculpa

para a covardia...

Culpar o outro

por sua inércia

é querer tirar

a sua própria responsabilidade

na construção do seu momento.

Assim, cada um leva a vida

como bem quiser

ou bem puder,

pois sempre há

tempo a perder...

 

Salvador, 10 de janeiro de 2021.

domingo, 28 de fevereiro de 2021

Greve Sanitária


 

Greve pela vida.

Afastamento do trabalho.

Economia ou sobrevida.

“lockdown” em atalho.

Paradas mal realizadas.

Mortes aumentando.

Cuidados não realizados.

Condutas estrambóticas normalizadas.

Ciência negligenciada.

Vacina ainda estudada.

Só nos resta oração.

Greve sanitária,

Para tentar salvação,

Em economia parasitária.


(Paulo Basílio – 01.08.2020)