sábado, 14 de agosto de 2021

Lidando com Idiotas

 




Não é fácil lidar com idiotas:

conviver com quem já se sabe

o que vai falar

ou como vai se comportar...

Aquele tipo de gente

que incomoda pela presença,

pelo tom ou pelo assunto,

mas que insiste em estar junto,

apresentando sua opinião

como se fosse uma dúvida legítima

ou um exercício de um ponto de vista,

e não uma mera reprodução

de um chavão ou bordão,

repetido à exaustão,

no grupo de WhatsApp da ocasião.

Para eles, o ódio

está sempre à mostra,

a concordância a si

é sempre imposta

e, para sobreviver,

somente há uma proposta:

para idiotas, o silêncio

é sempre a melhor resposta.

 

Praia do Forte, 29 de dezembro de 2020.

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Período sabãotico




Tirei um período para lavar tudo.

Guardados... empoeirados,

Pó...  do que que já me esqueci.

Tirar a limpo emoções retidas,

Checar as cicatrizes de antigas feridas.

Fazer um cortejo à Colina,

Jarras de banho de cheiro

Passeando por dentro de mim.

Um cheiro de alfazema!

Fé no que está por vir.

Tudo novo! 

Tudo zerado.

Banho de mãe:

Com bucha do lado,

Limpei os ouvidos, 

Cortei os cabelos distraídos.

As sobrancelhas em dias!

Tudo renovado!

Cheirando a alho!

Um rio segue o seu curso ...

Pronta.

Recriam-se cenários...

Novos scripts!

E eu, no palco,

Alternância:

Entre monólogos e “casa cheia”

Vou no curso do viver.


 Negra Luz 

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Chuço

 




Chuça 

Chucho 

Poucas letras  

Simples palavras  

Tudo que nada serve 

e pode ser usado para matar  

 

Salvador, 24 de janeiro de 2021. 

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Romance

 




(Negra Luz)


No dia que o beija flor encontrou o colibri,

Algo dentro deles mudou,

Todos os sinais foram compreendidos, enfim.

Foi uma grande cartada da vida: 

O beija-flor seguia na lida,

Quando bebia um pouco de orvalho, 

Na partida, encontrou o seu amor.


O colibri com suas asas agitadas, 

Também havia ali parado,

Para matar a sede e recostara

Na pétala de rosa, em que, ao acaso, o beija flor bebeu.

Quando olhou para o céu e viu: 

Era o vento do seu amor que chegou

Foi quando o beija flor a olhou,

Seu mundo todo estremeceu,

Sem entender como, em um instante, o amor aconteceu,

Olhou para o beijador e falou:

Loucura esse nosso amor!

Eu um colibri, você um beija flor!

Há tanta diferença entre nós,

Viver é para além dos lençóis!

Foi nesse instante que minha razão se perdeu,

Um beijo de amor ele me deu,

Aí, com surpresa, percebi:

Ele era muito semelhante à mim,

Um lampejo de razão me lembrou 

Colibri é sinônimo de beija-flor.

E, sem pensar, meu coração falou:

Bati asas mais rápido que consegui,

Mostrei que estava pronta para partir.

Sorrindo, um buquê de flores ele me ofereceu...

Com água fresca e para perto mim voou,

Versando a mágica daquele momento 

E que selaríamos com um juramento:

Voar sempre juntos,

Fazendo do nosso encontro de asas

Diariamente, mais feliz!

terça-feira, 10 de agosto de 2021

Homens Feministas?







Seu medo é diferente do meu.
Seu sexo pode ser
instrumento de terror.
Não me venha com
suas boas intenções,
pois, com elas,
pavimenta-se
a estrada para o inferno.
Sua posição soa mais
como indevida apropriação
do que compartilhamento.
Sua gentileza vira violência
Seu abraço não conforta,
mas, sim, agride.
O seu beijo machuca
e seu carinho quer me subjugar.
Não preciso de um defensor,
mas, sim, de um aliado,
quando chamado,
pois mesmo aliados
podem ser encarados
como inimigos infiltrados,
se não for delimitado
qual seja seu lugar de fala.
Suas brincadeiras não têm graça.
Sua cortesia me ofende.
Suas palavras,
em vez de inspirar,
apenas despertam minha ira.
Melhor permanecer calado...
E simplesmente ficar ao lado,
esperando a manifestação
de quem se ofendeu,
aguardando a reação,
em vez de tomar,
para si, a sua defesa,
pois, até para lutar,
é preciso legitimidade,
para não desvalorizar o movimento...


Salvador, 16 de agosto de 2016, compreendendo-se como parte do opressor na busca por não oprimir...

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Judiciário e Desencanto

 





“A vida é um soco no estômago”, declara Clarice Lispector em A Hora da Estrela

Na verdade em quase toda sua obra

É carnaval que a doença da mãe estraga

E o fato de que todo mundo é um pouco triste e um pouco só

Escreve pra se entender e não morrer 

De tanto mal-estar

Todo mundo esconde a falta de habilidade de ser bom

Mesmo quem sonha alto e consegue lá chegar

Tem sempre um buraco com que lidar

Freud também se ocupou do assunto

Escreveu um texto sobre o tal mal-estar

Religião, ciência, arte e mesmo intoxicação

A força no mundo testar

Entre causas e cargos, ou sair por aí a amar sem parar

Mas quem entra na Justiça não quer saber

Nem mesmo de esperar

Acha que pode tudo e quer o que é seu pra ontem

Muitas vezes quer mesmo é se vingar

O juiz e a juíza, uns mais, outros menos

Experimentam a varinha mágica

Ora pesa, ora é puro encanto

Mas a cada encanto um desencanto

A varinha também é martelo 

Direito se tem, mas não tanto

É o que diz todos os dias

Esse o seu lugar


Luciane Buriasco Isquerdo

domingo, 8 de agosto de 2021

Ensinando a fazer Barba



Em um momento,

o bebê cresce

e vira um jovem,

a criança se torna adulto

e novos instantes

podem ser mágicos

 

O que dizer da primeira vez

que se faz barba juntos,

aprendendo a cortar

o excesso desprezável,

pois tudo que excede

normalmente não interessa,

pois a medida certa

é aquela que nos é agradável.

 

Ser pai e filho

não é só uma ascendência,

é uma experiência

de construção conjunta

de uma relação contínua

de cumplicidade, confiança,

autonomia e segurança.

 

Colocar espuma no rosto,

sentir o deslizar do pincel,

passar uma navalha afiada

ou um simples barbeador,

temer o frio na espinha,

a aspereza da lâmina

e o primeiro corte...

secar o rosto,

queimar com loção,

olhar no espelho

e admirar o resultado:

passos de um ritual

da passagem

do menino

para o homem.

 

Há lembranças eternas,

coisas que só o pai ensina,

sensações inesquecíveis

que se guardam para o resto da vida.

Talvez seja o caso

da memória afetiva

do simples ato

de fazer a barba

pela primeira vez...

 

Salvador, 21 de janeiro de 2021.