Wisława Szymborska
"O
poeta, independentemente de educação, idade, sexo e preferências, permanece no
seu coração o herdeiro espiritual da humanidade dos primórdios. Explicações
científicas sobre o mundo não o impressionam muito. Ele é um animista, um
fetichista, que acredita nos poderes secretos adormecidos em todas as coisas, e
está convencido de poder mexer com essas forças com a ajuda de um punhado de
palavras bem escolhidas. O poeta pode até ter recebido um ou outro título com
distinção e louvor, mas no momento em que se senta para escrever um poema, seu
uniforme da escola racionalista começa a pinicar sob os braços. Ele se retorce,
bufando, abre primeiro um botão, depois outro, até arrancar a roupa de uma vez,
expondo-se diante de todo mundo como um selvagem que leva uma argola no nariz.
Isso mesmo, um selvagem. Do que mais se pode chamar uma pessoa que fala em v
ersos com os mortos e os não-nascidos, com as árvores, os pássaros, e até mesmo
com abajures e pernas de mesa?" (Wisława Szymborska)
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