domingo, 6 de julho de 2025

Ser Idoso

 

 





 




Rodolfo Pamplona Filho




Terceira idade

Melhor idade

Qualquer idade


Descobrir-se em um mundo

diferente daquele

que presenciou na infância.


Conhecer aparelhos

que seus descendentes

dominam desde criança.


Frequentar mais funerais que batizados

e ir a casamentos de pessoas,

que poderiam ter sido

seus pajens ou damas de honra...


Falar de remédios e dores

e não ser conversa desagradável...

Ou descrever certos horrores

não ser assunto impublicável...


Chamá-lo de tio, avô ou senhor

e não se incomodar com isso...

Ficar feliz ou envaidecido

quando é chamado de moço

ou quando se lembram

de feitos seus,

realizados há mais de uma década...


Viver o decurso do tempo...

que leva cabelos e traz peso,

mas propicia a sabedoria

e quilometragem da experiência...



Ser idoso não é bom ou ruim,

mas, sim, um estado de fato...

Tornar-se idoso é melhor, enfim,

do que perecer jovem no passado.



Salvador, 05 de maio de 2011.

sábado, 5 de julho de 2025

A água em você



 


(Negra Luz)


Me diga que não precisa pensar na vida.

Me diga que não precisa pensar em você.

Se a resposta certa é o que espero,

Então me diga que pensa na água,

Ela está em você.

A água está em em mim

Está em você.

Sem ela, a fonte da vida é rio que seca.

Ressecam-se a fauna e a flora

E todo viver. 


Oxum e Yemanjá tem seus filhos

E abençoam com água

Salgada ou doce,

Abençoam o nosso viver.


Se tens fé nas Águas,

Da água deve cuidar,

Pensar nas nascente, 

Nos mares 

E nas suas vidas.

Em não poluir, revitalizar,

Proteger o que temos

Rever desperdícios e perdas ajudam a resolver.



Se já bebeu água com sede,

Sabe o que é não ter...

Por um segundo e urgimos sem ela.

Imagine o pior dos mundos sem a ter!


Me diga que não precisa pensar na vida.

Me diga que não precisa pensar em você,

Se a resposta certa é o que espero,

Então me diga que pensa na água,

Ela está em você.


sexta-feira, 4 de julho de 2025

Desculpa Furada (Viva a Cultura de Vitimização!)







 Rodolfo Pamplona Filho




Nada do que eu faço é culpa minha!


Toda as minhas influências


e paradigmas comportamentais


ensejaram a internalização


de um gestalt disfuncional!


Sem o devido planejamento,


não há como desenvolver!


Meu comportamento viciado


é fruto de um processo doentio


de codependência forçada!


Preciso urgentemente de


um tratamento holístico integral,


sem internamentos compulsórios,


mas, sim, como resultado


de um diálogo habermasiano


de construção comunicativa


de um consenso democrático


que me permita exercitar,


sem condicionamentos,


a autonomia da vontade...


Sem isso, não há


como responder


por qualquer ato,


pois todo resultado


foi contaminado


pelo desrespeito


da minha individualidade...




Viva a Cultura de Vitimização!








Praia do Forte, 03 de agosto de 2013, lendo Calvin...

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Amor Feinho





Adélia Prado




Eu quero amor feinho.


Amor feinho não olha um pro outro.


Uma vez encontrado é igual fé,


não teologa mais.


Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo


e filhos tem os quantos haja.


Tudo que não fala, faz.


Planta beijo de três cores ao redor da casa


e saudade roxa e branca,


da comum e da dobrada.


Amor feinho é bom porque não fica velho.


Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:


eu sou homem você é mulher.


Amor feinho não tem ilusão,


o que ele tem é esperança:


eu quero um amor feinho.


quarta-feira, 2 de julho de 2025

Amor sem promessas

 



Rodolfo Pamplona Filho


Quando se ama,

fazem-se promessas,

como se houvesse necessidade

de verbalizar

que se pode fazer tudo

por amor


Mas prometer gera expectativas

que, quando não realizadas,

causam uma frustração,

como se o amor perdesse força

por uma promessa não cumprida.


É olhar uma parte pelo todo,

o acessório pelo principal,

o detalhe pelo conjunto,

o universo por um lugar

a vida por um dia


Amar não exige promessas

Amar exige amar

Amar sem promessas

Amar, simplesmente amar.




Salvador, 06 de julho de 2018.


terça-feira, 1 de julho de 2025

A vida




Camilo Martins Neto



Mergulho no rio 


Correnteza à baixo


Nadando de frente


Ora de lado


Outras de costas


Enfrentando tudo


Basculhos, pedras


Cortantes folhas,


Águas turvas,


Peixes vorazes,


Cobras venenosas,


Peçonhentos tantos


A desanimar a lida.


Mas, nado, e, nada


Me impede a ida


Quero chegar ao


Outro lado da vida.


Canso, descanso


E no remanso fico


A boiar na água


Mansa do meu rio.


Rio que vai e nunca


Mais volta, tal como


Eu que nado, nado...


E vou, pra nunca


Mais voltar à mesma


Água que se foi.


É assim, braços


Cansados, pernas


Cansadas, corpo


Cansado, o tempo


Que também se foi...


Estou quase chegando


Ao outro lado do rio


Nado e nada me


Impede de pisar


Em solo firme


E vem lembranças


Da travessia 


Quanta luta e o


Suor se misturando


Com a água do rio,


As lágrimas a


Aumentarem-lhe


O volume e juntar-se


À água salgada


Do velho mar.


Falta pouco e


Nesse pouco


Vejo o quanto


Foi importante


Nadar e não


Deixar que nada


Impedissem as


Sagradas braçadas


Que além das


Forças, minhas e


Do rio, foram


Vencendo cada


Obstáculo quase


Intransponíveis


Da travessia do rio.


E continuo nadando


E dando tudo de


Mim para vencer


A correnteza final


E chegar e sorrir


E chorar de alegria


E descansar afinal


Merecidamente


Eternamente, pois


Assim é a vida.