terça-feira, 20 de maio de 2025

Passagem secreta

 




Társio Pinheiro




Quem saltará

do fundo do meu espelho

revestido de bruma

de elmo

de escudo

e espada na mão?

Certamente

cavaleiro templário

dono de estratagemas e artifícios

fiel guardião

de todos os meus mistérios.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

domingo, 18 de maio de 2025

Vênus

 



Jorge Tufic


Dá-me, Apeles, o sangue dos teus dedos

e as cores deste mar, espuma ardente

em que Vênus ressoa e se reparte

entre deuses e bichos, céus e terras,


para que a louve, prostituta imensa

feita de orgasmo e sol. Pombos e cisnes

a conduzem nos braços da Volúpia

onde ela exerce, pleno, o seu domínio.


Mas, de repente, queda-se cativa

de um mortal como Adônis. Tão completa

me parece esta deusa que seu brilho


tem, sobre nós, a calma perspectiva

de uma fúria saciada: um simples nome

que a eternidade rútila consome.








sábado, 17 de maio de 2025

Filosofia dos Salmões

 



Rodolfo Pamplona Filho



Não existem obstáculos

que impeçam a jornada...

O altruísmo está presente

e é longa a temporada...

Exuberante e idílico,

o caminho é a própria vida..

Nadar contra a correnteza

para completar o ciclo

a todo e qualquer custo.

Enfrentar

Sofrimento

Intempéries

Predadores

Para acasalar

onde nasceu

e depois fenecer

sem um medo sequer...

Surgir em um afluente

Rumar ao oceano

e, depois, voltar

e cumprir seus ciclos

Somos círculos

Plotino

Hipátia

Ser salmão ou tartaruga

Não ligar se a luta é dura

e simplesmente só ser...


São Paulo, 28 de março de 2013.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Pedaço de Mim

 





Chico Buarque



Oh, pedaço de mim

Oh, metade afastada de mim

Leva o teu olhar

Que a saudade é o pior tormento

É pior do que o esquecimento

É pior do que se entrevar


Oh, pedaço de mim

Oh, metade exilada de mim

Leva os teus sinais

Que a saudade dói como um barco

Que aos poucos descreve um arco

E evita atracar no cais


Oh, pedaço de mim

Oh, metade arrancada de mim

Leva o vulto teu

Que a saudade é o revés de um parto

A saudade é arrumar o quarto

Do filho que já morreu


Oh, pedaço de mim

Oh, metade amputada de mim

Leva o que há de ti

Que a saudade dói latejada

É assim como uma fisgada

No membro que já perdi


Oh, pedaço de mim

Oh, metade adorada de mim

Leva os olhos meus

Que a saudade é o pior castigo

E eu não quero levar comigo

A mortalha do amor

Adeus

quinta-feira, 15 de maio de 2025

A Ignorância é um direito?




Rodolfo Pamplona Filho                                               



Eu não quero ir para a escola.

Eu não quero aprender

Eu não quero aprender nada

Eu não quero aprender nada novo

Eu não quero aprender nada de novo


Já sei tudo

Já sei tudo que quero

Já sei tudo que quero saber

Já sei até mais que quero saber

Eu gostava mais das coisas quando não sabia nada sobre elas...


Logo, concluo que

estou sendo lesado;

estou sendo violentado;

estou sendo educado;

estou sendo educado contra minha vontade...


Então, ser ignorante é um direito?

Não sei!

Mas também não quero descobrir...






Praia do Forte, 03 de agosto de 2013, lendo Calvin...

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Dialética

 




Vinicius de Moraes



É claro que a vida é boa

E a alegria, a única indizível emoção

É claro que te acho linda

Em ti bendigo o amor das coisas simples

É claro que te amo

E tenho tudo para ser feliz

Mas acontece que eu sou triste...


terça-feira, 13 de maio de 2025

Apoio

 


Rodolfo Pamplona Filho


Eu fico feliz

quando sinto que

você está aqui

e quando ouço que

você só quer o meu bem!


Eu quero o seu também

e sempre vou estar presente,

apoiando e estimulando,

consolando nos erros e derrotas,

comemorando os acertos e vitorias.


Apoiar é estar ao lado,

mesmo quando não é possível,

pois nada está fechado

e a força do pensamento

supera qualquer advento...


Salvador, 04 de fevereiro de 2012.


segunda-feira, 12 de maio de 2025

Nosso querer

 




Natália Oliveira


João quis ser ator, mas numa casa tão pequena, não havia espaço para a arte. Conheceu Maria, com quem casou e teve três filhos. Tem uma vida normal, de casa para o trabalho e no clube aos fins de semana. Nunca assiste TV, nem vai mais ao teatro.

Pedro sonhava ser médico. Deu continuidade aos negócios do pai, que prosperaram e hoje sustentam até os filhos de seus oito irmãos. Foi noivo de Alice. O compromisso se desfez quando ela cismou que só entraria na igreja vestida de branco. Pedro não suportou a ofensa.

Edgar queria curtir a vida. Abandonou o curso de Direito no quinto semestre. Conheceu pessoas novas, embriagou-se com todas elas e dormiu com algumas, até o dia em que suas “economias” acabaram. Alcoólatra, atualmente mendiga dois dedos de cachaça ao primeiro que cruza a esquina e ensaia suas teses de defesa na porta do bar.

Em comum, o desejo frustrado, por vontade própria ou alheia. Incomum, deixaram-se conduzir pela vida; foram montados pelo próprio cavalo. Quiseram alguma coisa, quiseram muito, quiseram até deixar de querer. Todo homem quer, mas nem todos se permitem lutar por.


                 [Às vezes, o querer é querer evitar, querer não sofrer, querer permanecer inerte. 


E quem há de  contrariar um desaproveito assim? É nosso querer. Fim.]










domingo, 11 de maio de 2025

Paralaxe

 








Rodolfo Pamplona Filho                      


Enxergar tudo

sob o ponto de vista alheio.

Cada um vê algo

que os demais sequer percebem...

Usar os olhos não dói.

Sentir a dor do outro, sim.


Praia do Forte, 26 de março de 2013.

sábado, 10 de maio de 2025

Língua portuguesa

  



Olavo Bilac 




Última flor do Lácio, inculta e bela,

És, a um tempo, esplendor e sepultura:

Ouro nativo, que na ganga impura

A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.

Tuba de alto clangor, lira singela,

Que tens o trom e o silvo da procela,

E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma

De virgens selvas e de oceano largo!

Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",

E em que Camões chorou, no exílio amargo,

O gênio sem ventura e o amor sem brilho!






sexta-feira, 9 de maio de 2025

Ela com A, Ela do B

 






Rodolfo Pamplona Filho




Ela com A

Ela com Afeto,

Amor e Admiração 


Ela do B

Ela do Barraco,

Briga e Batida de frente 


Ela com A

Ela com Amizade,

Abraço e Ação 


Ela do B

Ela com Birra,

Bolacha e Batalhas 


Ela com A

A mulher que sonhei

para mim


Ela com B

O pesadelo que

sempre temi


Ela com A

Ela do B

Duas pessoas

em um mesmo ser.



Salvador, 18 de outubro de 2018.

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Reflexão n°.1




Murilo Mendes



Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho

Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio

Nem ama duas vezes a mesma mulher.

Deus de onde tudo deriva

E a circulação e o movimento infinito.




Ainda não estamos habituados com o mundo

Nascer é muito comprido.


quarta-feira, 7 de maio de 2025

Atalhos Místicos

 


 




Rodolfo Pamplona Filho


 


Usar o atalho místico

Para poupar de usar

e poupar

Do esforço

Do caminho pessoal


 Entre as tentativas

e a tentação,

essa é particularmente

Atrativa


A ditadura

é mais eficiente

Pelo menos

Para os imaturas


Buscar o controle

ou ser controlado

É mais conveniente

Do que aprender

A ser diferente



Salvador, 02 de maio de 2024.

terça-feira, 6 de maio de 2025

É tempo de primavera

 


 

Janete Fonseca



Ar de primavera 


De fruta cheirosa 


Da beira da praia 






Vento na memória 


fareja a mulher 


recém descoberta. 


Passou muito tempo, 


Espelho reflete 


Anel de turquesa, 


soutien vermelho, 


Na boca desenho 


De coração grená 






No mundo mudado 


Dos mais avelhados 


Corações calados, 


Erga-se um brinde 


À mulher descoberta 


Só a ouvir estrelas 


Do homem ao lado, 


Cheio de desejos 


Da mulher ardente 


De olhar de fogo, 


Que vai olhando 


Quando o vê olhar 






Mulher incansável 


Toma pelas mãos 


retalhos do tempo 


Que se vão passando 


Antes que a tarde 


Primaveril 


morra, aberta, 


dentro de mim.


segunda-feira, 5 de maio de 2025

Regime de Bens

 


 




Rodolfo Pamplona Filho


Comunhão


em família


Divisão


em Partilha


Acordo


da razão


em conforto


da emoção


Quando dois


se tornam um,


a convicção


da esperança


se sobrepõe


à incerteza


do futuro,


em que tudo


pode ser perfeito


ou o castelo


pode ruir


nas nuvens


e nos sonhos


de quem não


cogitou o fim.


 


Salvador, 16 de julho de 2022.

domingo, 4 de maio de 2025

Caminhante

 


 








Janete Fonseca




 Como peregrino de fé, sem adeptos, 


 Prossigo, 


 Sangrando os pés nas pedras do caminho 


 Sem fim, 


 Sem direção, 


 Buscador da trilha verde 


 Do regresso, 


 Um dia 




 


 Continuo na jornada 


 Solitária 


 Rotineira 


 Pelas veredas do acaso, 


 Sorrindo quase em prantos, 


 Filtrando velhas mágoas, 


 No remanso das águas 


 Do dourado amanhã 






 Alegro-me por nada 


 E nada me alegra. 


 Silencio com todos 


 E comparto tudo 


 Com todos. 




 Assim 


 Descanso o amargor 


 Do passado, 


 Na relva macia do esquecimento 


 Até confundir-me,


 Um dia,


 Na poeira atômica 


 Do rio principal. 

sábado, 3 de maio de 2025

Aprendendo com as Ondas

 


 






Rodolfo Pamplona Filho




A onda passa


impassível


Nada que se faça


a torna flexível


e a grande graça


é enfrentar sozinho


a enorme massa


d’água no vazio


 


A onda permite


que se surfe nela


ou, indiferente, agride


quem se afoga por ela


A onda não muda,


quem tenta ser dela


que, inocente, se iluda


ou componha com ela


 


pois não há relação


onde não há movimento;


não há entrega,


onde não há sentimento;


não há emoção,


se não há bilateralidade;


a boa onda é sempre


a próxima, de verdade…


 


Salvador, 20 de janeiro de 2023.


sexta-feira, 2 de maio de 2025

No fundo do mar



 





Janete Fonseca




Molhadas areias brancas 


Teu rastro de silêncio apagam, 


Levando-te para o fundo do mar, 


Vestido de vento e sal 


 




Entre folhagens de algas 


de emaranhadas cabeleiras, 


Guerreiro do mar repousa, 


Nessa floresta marinha 


 




Canto para o meu amado, 


Entre os habitantes marinhos 


por trilhas de corais 


e caracóis dançarinos 


 




Conquistador de mares, 


Dorme teu sono eterno, 


Pois da sedutora sereia 


a voz não mais ouvirás 


 




Brinca com os habitantes d'água 


E quando o pranto da saudade 


Tu'alma dormida buscar, 


Foge em cavalos marinhos 


 




E nas estrelas do mar, 


Olvida teus sonhos


De amor, 


em paz 





Uma voz amiga me diz 


que não te verei jamais, 


mas meu amor te recorda sempre, 


vestido de vento e sal. 


quinta-feira, 1 de maio de 2025

Amor para o Resto da Vida


 







Rodolfo Pamplona Filho




Eu quero um amor


para o resto da vida!


Um amor que


não seja ferida,


nem trauma.


Um amor que


seja guarida


e afago na alma.


Um amor que


não seja breve,


nem zangado.


Um amor que


seja leve e


bem humorado.


Um amor que


goste de sorrir


e se divertir.


Um amor que


atenda ao que


o destino convida.


Um amor para


o resto da vida.


 


Salvador, 23 de outubro de 2022.