Társio Pinheiro
Quem saltará
do fundo do meu espelho
revestido de bruma
de elmo
de escudo
e espada na mão?
Certamente
cavaleiro templário
dono de estratagemas e artifícios
fiel guardião
de todos os meus mistérios.
Blog para ler e pensar... Um texto por dia... é a promessa... Ficarei muito feliz em ler e saber o que cada palavra despertou... Se você quiser compartilhar um texto, não hesite em mandar para rpf@rodolfopamplonafilho.com.br. Aqui, não compartilho apenas os meus textos, mas de poetas que eu já admiro e de todas as pessoas que queiram viajar comigo na poesia... Se quiser conhecer somente a minha poesia, acesse o blog rpf-poesia.blogspot.com.br. Espero que goste... Ficarei feliz com isso...
Társio Pinheiro
Quem saltará
do fundo do meu espelho
revestido de bruma
de elmo
de escudo
e espada na mão?
Certamente
cavaleiro templário
dono de estratagemas e artifícios
fiel guardião
de todos os meus mistérios.
Rodolfo Pamplona Filho
Só porque
as coisas são
de um jeito não
significa que não
possam mudar
Salvador, 27 de fevereiro de 2017.
Jorge Tufic
Dá-me, Apeles, o sangue dos teus dedos
e as cores deste mar, espuma ardente
em que Vênus ressoa e se reparte
entre deuses e bichos, céus e terras,
para que a louve, prostituta imensa
feita de orgasmo e sol. Pombos e cisnes
a conduzem nos braços da Volúpia
onde ela exerce, pleno, o seu domínio.
Mas, de repente, queda-se cativa
de um mortal como Adônis. Tão completa
me parece esta deusa que seu brilho
tem, sobre nós, a calma perspectiva
de uma fúria saciada: um simples nome
que a eternidade rútila consome.
Rodolfo Pamplona Filho
Não existem obstáculos
que impeçam a jornada...
O altruísmo está presente
e é longa a temporada...
Exuberante e idílico,
o caminho é a própria vida..
Nadar contra a correnteza
para completar o ciclo
a todo e qualquer custo.
Enfrentar
Sofrimento
Intempéries
Predadores
Para acasalar
onde nasceu
e depois fenecer
sem um medo sequer...
Surgir em um afluente
Rumar ao oceano
e, depois, voltar
e cumprir seus ciclos
Somos círculos
Plotino
Hipátia
Ser salmão ou tartaruga
Não ligar se a luta é dura
e simplesmente só ser...
São Paulo, 28 de março de 2013.
Chico Buarque
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
Rodolfo Pamplona Filho
Eu não quero ir para a escola.
Eu não quero aprender
Eu não quero aprender nada
Eu não quero aprender nada novo
Eu não quero aprender nada de novo
Já sei tudo
Já sei tudo que quero
Já sei tudo que quero saber
Já sei até mais que quero saber
Eu gostava mais das coisas quando não sabia nada sobre elas...
Logo, concluo que
estou sendo lesado;
estou sendo violentado;
estou sendo educado;
estou sendo educado contra minha vontade...
Então, ser ignorante é um direito?
Não sei!
Mas também não quero descobrir...
Praia do Forte, 03 de agosto de 2013, lendo Calvin...
Vinicius de Moraes
É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...
Rodolfo Pamplona Filho
Eu fico feliz
quando sinto que
você está aqui
e quando ouço que
você só quer o meu bem!
Eu quero o seu também
e sempre vou estar presente,
apoiando e estimulando,
consolando nos erros e derrotas,
comemorando os acertos e vitorias.
Apoiar é estar ao lado,
mesmo quando não é possível,
pois nada está fechado
e a força do pensamento
supera qualquer advento...
Salvador, 04 de fevereiro de 2012.
Natália Oliveira
João quis ser ator, mas numa casa tão pequena, não havia espaço para a arte. Conheceu Maria, com quem casou e teve três filhos. Tem uma vida normal, de casa para o trabalho e no clube aos fins de semana. Nunca assiste TV, nem vai mais ao teatro.
Pedro sonhava ser médico. Deu continuidade aos negócios do pai, que prosperaram e hoje sustentam até os filhos de seus oito irmãos. Foi noivo de Alice. O compromisso se desfez quando ela cismou que só entraria na igreja vestida de branco. Pedro não suportou a ofensa.
Edgar queria curtir a vida. Abandonou o curso de Direito no quinto semestre. Conheceu pessoas novas, embriagou-se com todas elas e dormiu com algumas, até o dia em que suas “economias” acabaram. Alcoólatra, atualmente mendiga dois dedos de cachaça ao primeiro que cruza a esquina e ensaia suas teses de defesa na porta do bar.
Em comum, o desejo frustrado, por vontade própria ou alheia. Incomum, deixaram-se conduzir pela vida; foram montados pelo próprio cavalo. Quiseram alguma coisa, quiseram muito, quiseram até deixar de querer. Todo homem quer, mas nem todos se permitem lutar por.
[Às vezes, o querer é querer evitar, querer não sofrer, querer permanecer inerte.
E quem há de contrariar um desaproveito assim? É nosso querer. Fim.]
Rodolfo Pamplona Filho
Enxergar tudo
sob o ponto de vista alheio.
Cada um vê algo
que os demais sequer percebem...
Usar os olhos não dói.
Sentir a dor do outro, sim.
Praia do Forte, 26 de março de 2013.
Olavo Bilac
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Rodolfo Pamplona Filho
Ela com A
Ela com Afeto,
Amor e Admiração
Ela do B
Ela do Barraco,
Briga e Batida de frente
Ela com A
Ela com Amizade,
Abraço e Ação
Ela do B
Ela com Birra,
Bolacha e Batalhas
Ela com A
A mulher que sonhei
para mim
Ela com B
O pesadelo que
sempre temi
Ela com A
Ela do B
Duas pessoas
em um mesmo ser.
Salvador, 18 de outubro de 2018.
Murilo Mendes
Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
E a circulação e o movimento infinito.
Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido.
Rodolfo Pamplona Filho
Usar o atalho místico
Para poupar de usar
e poupar
Do esforço
Do caminho pessoal
Entre as tentativas
e a tentação,
essa é particularmente
Atrativa
A ditadura
é mais eficiente
Pelo menos
Para os imaturas
Buscar o controle
ou ser controlado
É mais conveniente
Do que aprender
A ser diferente
Salvador, 02 de maio de 2024.
Janete Fonseca
Ar de primavera
De fruta cheirosa
Da beira da praia
Vento na memória
fareja a mulher
recém descoberta.
Passou muito tempo,
Espelho reflete
Anel de turquesa,
soutien vermelho,
Na boca desenho
De coração grená
No mundo mudado
Dos mais avelhados
Corações calados,
Erga-se um brinde
À mulher descoberta
Só a ouvir estrelas
Do homem ao lado,
Cheio de desejos
Da mulher ardente
De olhar de fogo,
Que vai olhando
Quando o vê olhar
Mulher incansável
Toma pelas mãos
retalhos do tempo
Que se vão passando
Antes que a tarde
Primaveril
morra, aberta,
dentro de mim.
Rodolfo Pamplona Filho
Comunhão
em família
Divisão
em Partilha
Acordo
da razão
em conforto
da emoção
Quando dois
se tornam um,
a convicção
da esperança
se sobrepõe
à incerteza
do futuro,
em que tudo
pode ser perfeito
ou o castelo
pode ruir
nas nuvens
e nos sonhos
de quem não
cogitou o fim.
Salvador, 16 de julho de 2022.
Janete Fonseca
Como peregrino de fé, sem adeptos,
Prossigo,
Sangrando os pés nas pedras do caminho
Sem fim,
Sem direção,
Buscador da trilha verde
Do regresso,
Um dia
Continuo na jornada
Solitária
Rotineira
Pelas veredas do acaso,
Sorrindo quase em prantos,
Filtrando velhas mágoas,
No remanso das águas
Do dourado amanhã
Alegro-me por nada
E nada me alegra.
Silencio com todos
E comparto tudo
Com todos.
Assim
Descanso o amargor
Do passado,
Na relva macia do esquecimento
Até confundir-me,
Um dia,
Na poeira atômica
Do rio principal.
Rodolfo Pamplona Filho
A onda passa
impassível
Nada que se faça
a torna flexível
e a grande graça
é enfrentar sozinho
a enorme massa
d’água no vazio
A onda permite
que se surfe nela
ou, indiferente, agride
quem se afoga por ela
A onda não muda,
quem tenta ser dela
que, inocente, se iluda
ou componha com ela
pois não há relação
onde não há movimento;
não há entrega,
onde não há sentimento;
não há emoção,
se não há bilateralidade;
a boa onda é sempre
a próxima, de verdade…
Salvador, 20 de janeiro de 2023.
Janete Fonseca
Molhadas areias brancas
Teu rastro de silêncio apagam,
Levando-te para o fundo do mar,
Vestido de vento e sal
Entre folhagens de algas
de emaranhadas cabeleiras,
Guerreiro do mar repousa,
Nessa floresta marinha
Canto para o meu amado,
Entre os habitantes marinhos
por trilhas de corais
e caracóis dançarinos
Conquistador de mares,
Dorme teu sono eterno,
Pois da sedutora sereia
a voz não mais ouvirás
Brinca com os habitantes d'água
E quando o pranto da saudade
Tu'alma dormida buscar,
Foge em cavalos marinhos
E nas estrelas do mar,
Olvida teus sonhos
De amor,
em paz
Uma voz amiga me diz
que não te verei jamais,
mas meu amor te recorda sempre,
vestido de vento e sal.
Rodolfo Pamplona Filho
Eu quero um amor
para o resto da vida!
Um amor que
não seja ferida,
nem trauma.
Um amor que
seja guarida
e afago na alma.
Um amor que
não seja breve,
nem zangado.
Um amor que
seja leve e
bem humorado.
Um amor que
goste de sorrir
e se divertir.
Um amor que
atenda ao que
o destino convida.
Um amor para
o resto da vida.
Salvador, 23 de outubro de 2022.