sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Trabalhador Brasileiro


Helio Gustavo Alves 

Por anos cedo acordei para trabalhar
sempre fiz hora extra para o patrão ajudar
mas um dia ao emprego chegar
tinha outro em meu lugar.

Perdi o trabalho,
fiquei por anos o emprego a buscar,
me achavam velho para o labor,
foi então que percebi
que era um homem sem valor!

O jeito foi fazer bico,
não fiquei um mês sem labutar,
para a vida inteira lutar
a fim do carne do INSS pagar
e um dia me aposentar.

Trabalhei no pesado,
de criança até cansar,
quando na hora da aposentadoria buscar
o Governo resolver a lei mudar.


Ao invés de aos 49 anos me aposentar,
mesmo sem emprego encontrar
sou obrigado continuar a trabalhar
para aos 65 anos tentar
a minha aposentadoria pegar.

Como no Governo não posso confiar
vou rezar para até lá
a norma não mais alterar.




Por Helio Gustavo Alves
Em 10/12/2016
Poema escrito por um Jurista após viver o maior Golpe da história do Brasil em que o Governo deu nos trabalhadores, roubando-lhes o Direito da Aposentadoria, bem como, inúmeros Direitos Sociais previstos no capítulo Dos Direitos e Garantias Fundamentais da Constituição Federal.
Vivemos a mais nova modalidade de Ditadura, que é aquela disfarçada em Democracia Governamental, onde a vontade do Governo vale mais do que todos os Pactos Sociais em vigor, sejam Nacionais ou Internacionais.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Cachorro Vira-Lata


Rodolfo Pamplona Filho
Sou um cachorro vira-lata,
solto nas ruas,
em busca de comida
e de carinho...
Procurando um refúgio,
onde possa ser amado
e não ter mais subterfúgio
para me sentir abandonado...

Puerto Varas-Chile, 02 de julho de 2012.

domingo, 18 de dezembro de 2016

Soneto do Último Romance...


Rodolfo Pamplona Filho
Você é meu último romance...
Você é, na realidade,
o meu primeiro e único lance,
a quem me entrego de verdade...

Quero amar como se não houvesse
qualquer impedimento ou estrutura,
pois minha alma envelhece,
se não me entrego à doce loucura

de apenas em você pensar...
de nunca me arrepender de tentar
aproveitar cada sensação vivida,

após alguém finalmente encontrar
com quem possa compartilhar
a cama, a palavra e a vida.

Salvador, 09 de junho de 2012.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

A gente era feliz e não sabia


Rodolfo Pamplona Filho

quando o máximo da produção 
era uma novela de época;
quando demorava no trânsito 
há mais de uma década;
quando reclamava do calor
antes do aquecimento global;
quando sonhar com um amor 
era o caminho natural;
quando fazia refeição 
em viagem de avião;
quando era a inflação 
nossa maior preocupação;
quando tínhamos de decorar 
toda a taboada;
quando o carburador 
era a peça mais complicada;
quando tínhamos de nos preparar 
para uma sabatina;
quando podíamos caminhar
da casa até a esquina;
quando éramos inocentes 
do que está ao nosso redor;
quando éramos só sementes
e não estávamos sós...

No voo para Brasilia, na madrugada de 29 de novembro de 2016.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Pedaço de mim




Chico Buarque

Notas
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Canção da Partida sem Despedida

Canção da Partida sem Despedida
Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho

Você não pensa em sua vida,
mas sabe que o tempo
corre como um louco
e está contra você!...


terça-feira, 13 de dezembro de 2016

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Hipocrisia Útil


Rodolfo Pamplona Filho

Na porta do elevador,
ela me diz: - Bom dia!
Eu abaixo os olhos
e digo: - Bom dia!
E a vida continua...

Subimos silenciosos,
cada um para seu andar,
como se momentos embaraçosos
não interferissem no andar
E a vida continua...

E a vida continua...
E a vida...
E...
?

Salvador, 08 de março de 2013.

domingo, 11 de dezembro de 2016

DIALÉTICA


Vinicius de Moraes
É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...

sábado, 10 de dezembro de 2016

Morrer é Doce!


Rodolfo Pamplona Filho

Quando em meu peito, romper-se a corrente
Que a alma me prende à dor de viver
Não quero por mim, nem uma lágrima,
Nem um suspiro, nem um sofrer...



sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Bilhete


Mario Quintana

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Sobre Ser


Rodolfo Pamplona Filho

Você não é
o que você acha que é
Você não é
o que as pessoas acham que você é.
Nem eu, nem você somos
o que a vida fez de nós dois
O que nós somos
não pode ser sabotado
por aquilo que nos tornamos



Salvador, domingo, 27 de novembro de 2016.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Dezembro


Carlos Drummond de Andrade

Quem me acode
à cabeça e ao coração
neste fim de ano,
entre alegria e dor?

Que sonho,
que mistério,
que oração?

Amor.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

O Coro de Chorus



Rodolfo Pamplona Filho
Em um universo próprio,
há espaço para a obsessão,
em que a busca do som perfeito
acaba em fascinação...

Duas ondas senoidais
com a fase invertida.
Dois áudios exatamente iguais,
com defasagem escolhida.

Divertir-se com o rate e o depth,
ou mexer com a afinação,
e não é flanger, nem vibrato,

mas, sim, um perfeito substrato
de um coro de Chorus das galáxias,
a sonoridade para levar ao túmulo.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

TABACARIA



Fernando Pessoa

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo.
que ninguém sabe quem é
( E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes
e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Frutos e Louros


Rodolfo Pamplona Filho
Somos extensão
das nossas raízes
Somos resultados
de nossas diretrizes
Imaginar que somos autônomos
em relação ao passado
é cultivar uma ingenuidade
de quem se acha isolado,
e não parte de uma história,
como se qualquer glória
pudesse ser atribuída
a um ato único de valor,
e não a toda uma vida
de luta, dedicação e dor.


Lucas 6, 43 Porque não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto.



No voo para Brasilia, na madrugada de 29 de novembro de 2016, pensando na noite de 27 de novembro de 2016.

sábado, 3 de dezembro de 2016

Não há vagas


Ferreira Gullar

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Frio em São Paulo




Fernanda Soares


Noite fria em São Paulo 
Calor humano 
Passos harmônicos na calçada 
Juízo de valor: intenso 
Coragem sem juízo 
Denso. 
Ah! Poesia 
Corre, flui, emana pelos poros 
Invade a terra 
Vai corajosa e sem pudor, sem medo 
Ecoa nos quatro cantos do mundo 
Para dizer que o mundo tem jeito 
Nós temos cura 
Vai, poesia! 
Invade e desenquadra os quatro cantos do mundo.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Oportunidades


Rodolfo Pamplona Filho 

Oportunidades surgem
e despreza-las
é sintoma de empáfia

Oportunidades passam
e não aproveitá-las
é o início da depressão

Oportunidades vão embora
e perdê-las
é arrepender-se pelo resto da vida.

São Paulo, 20 de novembro de 2016.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Tenho tanto sentimento



Fernando Pessoa

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

domingo, 27 de novembro de 2016

Migalhas de Carinho


Rodolfo Pamplona Filho

Eu mendigo
migalhas de seu carinho
como um cachorrinho
junto de sua mesa,
na esperança de, um dia,
encher minha barriga vazia
e meu coração sedento...

Salvador, 16 de janeiro de 2014

sábado, 26 de novembro de 2016

Desencontrários


Paulo Leminski 

Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.

Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Musicando a Tristeza


Rodolfo Pamplona Filho
Musiquemos a sensação...
A tristeza é inspiração...
O que machuca também ensina
e o sofrimento não precisa
ser uma eterna sina...
Somos movidos  a amor
e - porque não dizer? - a dor...
Somos o Som e a Dor...

Brasília, 14 de março de 2013.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Esquadros


Adriana Calcanhotto
Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome
Cores de almodóvar
Cores de frida kahlo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca,
Uma cápsula protetora
Ah! Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome nos meninos que têm fome

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde?
Transito entre dois lados de um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo, me mostro
Eu canto pra quem?

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle
Esquadros
Adriana Calcanhotto

Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Poliamorismo


Rodolfo Pamplona Filho

Por que não se pode
amar mais de uma pessoa
ao mesmo tempo?
Por que o ato de amar
exige uma exclusividade artificial,
como se o coração pudesse....


terça-feira, 22 de novembro de 2016

A culpa do ideal




Osvaldo Leal Júnior
Culpado, 
pelo simples uso do bom senso, de saber o que é certo e o que é errado e descobrir que nada nessa vida ocorre por acaso. 

Culpado, 
por não se contentar com respostas vazias, indo até o fundo do poço buscar a verdade e utilizar a consciência como guia, não importa o tempo que dure, nem a certeza da finidade. 

Culpado, 
pelas noites passadas em claro, virando e revirando possíveis soluções, que provavelmente serão deixadas de lado por alguém revestido de ambições. 

Culpado, 
Por acreditar piamente no pensamento, sem levar em conta que, às vezes, são apenas sonhos, que perdem o poder de convencimento. E nas primeiras horas da manhã se dissipam com o vento, trazendo a frieza e a dureza da vida real. E quando isso acontece, os sonhos se desfazem e a vida volta ao normal. 
Mas ele permanece, o ideal nunca morre. 
Fica na espreita, como um vírus incubado, esperando apenas um vacilo do velho coração endurecido. 
E quando isso acontece, o que se imaginou ter acabado, volta mais forte do que nunca, arrebatando tudo ao seu lado. Assim ocupa todos os espaços novamente. Mas acontece tudo de novo, nada diferente. 
Mas se acontece o contrário e esse ideal é estimulado, aí sim, será ainda mais culpado. 

Culpado, 
pela felicidade, por ver o sonho realizado. 
Poder chorar de alegria e constatar nesse momento que a dor, a angústia e o sofrimento são compensados apenas pela euforia. 
E o que dizer do prazer do objetivo alcançado, obra prima da sabedoria do amor e da esperança. 
Um momento de gozo que se estenderá para sempre na lembrança. 
Por tudo isso ... e, principalmente, por tornar a vida bem mais intensamente vivida, o ideal é: 

"CULPADO". 

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Desmascarando o Canalha


Rodolfo Pamplona Filho

Você se diz infinito,
acreditando que
seu poder é ilimitado,
mas está errado!

Você não passa de
um acidente da natureza,
um câncer da criação,
um tumor com ilusões de grandeza...

É hora de extirpá-lo...
jogando-o no lixo, que é o seu lugar,
para que eu dance sobre seu caixão
e escarre em sua sepultura...

Apenas mais irritantes que
as trombetas da moralidade alheia
(pois a própria não vale nada...)
só os sepulcros caiados
que posam de vestais nas cerimônias,
sem pudor da sua podridão interior...

Praia do Forte, 09 de março de 2011.

domingo, 20 de novembro de 2016

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades




Luís de Camões Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

L. V. de. 200 Sonetos. Porto Alegre: L&PM. 1998.

sábado, 19 de novembro de 2016

Promessa Recíproca


Rodolfo Pamplona Filho

Promete morrer
depois de mim?
Prometo morrer
no dia que você morrer
para eu não ter de viver
um dia sequer sem você...

Assim eu choro...
Só chore na minha frente
para que eu possa enxugar
suas lágrimas com meus beijos
Obrigado por você ser perfeito
Eu é que agradeço por ser privilegiado por seu amor.

Somente vou descansar
no dia seguinte a você
para não ter que viver
uma noite sequer sem você

21 de outubro de 2016, no voo para Fortaleza.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

E SE TODOS FOSSEM IGUAIS?


Caio Souza Matos

Hoje acordei cedo e logo fui caminhar
Andando pelo sertão me pus a pensar:
Afinal, o que é a justiça que tanto ouço falar
No radio, na tv ou na mesa de um bar?

Sai por ai perguntando, procurando de canto em canto:
O que é justiça para o senhor, me responda sem espanto?
O silencio dominava, só se ouvia a passarada.
Ninguém dizia, ninguém falava, mas todo mundo pensava...
O que será essa Justiça por tantos procurada?

“IGUALDADE!!!!” gritou o velho que estava no canto do bar.
Me interessei pela fala dele, logo começamos a prosear
Uma dose de cachaça, um tira-gosto pra cortar
O “vei” me perguntou se eu parei pra pensar:
Como seria o mundo se A fosse igual a B,
E B fosse igual a A?

- Justiça é igualdade, sem rancor e sem maldade
Igualdade que vem pura, sem rancor, sem amargura.
Justiça é igualdade, equilíbrio, equidade.
Se fosse cor era branca, pra não ter disparidade...
Pois o branco reúne todas as cores, deixa tudo na igualdade.

O "vei" era esperto, me deu logo essa resposta.
Mas como seria o mundo em que tudo fosse igual?
Ninguém diferente, sem classe social, sem diversidade cultural.
Ai pensei:
todo mundo ia nascer no mesmo lugar;
Usar a mesma roupa;
Falar do mesmo jeito;
Estudar a mesma coisa;
Torcer pro mesmo time;
Comer a mesma comida;
Ter o mesmo carro
Ter as mesmas coisas
Não ter as mesmas coisas...

Pensei mais um pouquinho:
Num mundo desse, onde não tem rico e não tem pobre...
Preto, branco, amarelo, verde, azul, roxo...
Onde todo mundo é igual  a todo mundo, eu me pergunto:
Serei eu a deixar de ser matuto pra virar executivo?
Ou vai ser o executivo que vai virar matuto e viver como eu vivo?

Virei para o "veio" e comecei a replicar.
Ele até que tava certo, vou até parabenizar!
Parei na sua resposta que muito me fez pensar.
- Justiça e igualdade como irmãs devem andar...
Mas não esqueça a diversidade, ela também tem o seu lugar.

O mundo é diferente, basta ver na nossa frente.
A natureza é nossa mãe, dela vem muita gente.
Todas diferentes!!!
Uns alegres e sorridentes,
Outros nem tão contentes!

Não adianta ser tudo igual pra dizer que ta tudo justo.
Nunca quis ser executivo, executivo não quer ser matuto.
O que se busca é justiça nesse mundo absurdo.
E justiça é viver com respeito, sem olhar só pro seu mundo
Pois o mundo é de todo mundo.
O destino é de todos nós...
E ninguém é igual a ninguém!!!!

 14/11/2016
(Em referência à teoria da justiça, de John Rawls.)

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Conte comigo!


Rodolfo Pamplona Filho 

Estar ao lado
não é só
aproveitar as coisas boas!
É dividir o peso!
É compartilhar a dor!
É emprestar o ombro!
É chorar pelo mesmo temor!

Estar ao lado
não é só
postar-se fisicamente!
É torcer na mesma linha!
É pensar em alternativas!
É vibrar na mesma sintonia!
É buscar uma mudança de vida!

Estar ao lado
não é só
dar uma mensagem de ânimo!
É unir seu desejo à sua emoção!
É transformar a palavra em ação!
É poder dizer verdadeiramente:
Conte comigo para todo o sempre!

Praia do Forte, 12 de novembro

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Tomara



Vinicius de Moraes

Tomara
Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore, se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho


Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...

terça-feira, 15 de novembro de 2016

A ajuda vem


Rodolfo Pamplona Filho

A ajuda vem
de onde
menos se espera

A ajuda vem
de quem
nem se cogitava

A ajuda vem
da forma
menos ortodoxa possível

A ajuda vem
quando
a esperança
parecia esvair

A ajuda vem
quando
a consciência
supera o pudor

A ajuda vem
quando
se descobre haver
mais de uma forma de amor.

Rio de Janeiro, 21 de outubro de 2016.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Hamlet



William Shakespeare
Duvida da luz dos astros,
De que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
Mas confia em meu amor.

domingo, 13 de novembro de 2016

Preconceito


Letra: Rodolfo Pamplona Filho
Música: Adelmo Schindler Jr. e Ricardo Barata

Sou baiano,
Negro,
Pobre
E Gay
Sou cigano
Feio,
Baixo e
Chinês
Nordestino ou
Argentino
Mendigo ou
Indigente
Idoso ou
Menor Carente
Deficiente ou
Impotente

(Refrão)
Crente ou
Ateu
Árabe ou
Judeu

Umbandista ou
Adventista
Testemunha ou
Kardecista
Migrante ou
Imigrante
Presidiário ou
Proletário
Refugiado ou
Desabrigado
Bêbado ou
Drogado
Alcóolatra ou
Viciado
Desempregado ou
Condenado

(Refrão)
Crente ou
Ateu
Árabe ou
Judeu

Sou muito mais que tudo isso...
Se, não na carne, no espírito
de solidariedade com aquele
que sofre, chora e morre
não pelo que faz ou fez,
mas pelo sentimento incontrolável
de quem não compreende...
Nem faz qualquer esforço para isso...

É preciso sentir na pele,
por vezes, literalmente,
para dimensionar a loucura
de julgar o outro
sem um dado objetivo
que justifique esta postura.

Sou baiano,
Negro,
Pobre
E Gay
Sou cigano
Feio,
Baixo e
Chinês
Nordestino ou
Argentino
Mendigo ou
Indigente
Idoso ou
Menor Carente
Deficiente ou
Impotente

(Refrão)
Crente ou
Ateu
Árabe ou
Judeu

Umbandista ou
Adventista
Testemunha ou
Kardecista
Migrante ou
Imigrante
Presidiário ou
Proletário
Refugiado ou
Desabrigado
Bêbado ou
Drogado
Alcóolatra ou
Viciado
Desempregado ou
Condenado

(Refrão)
Crente ou
Ateu
Árabe ou
Judeu

Não é fácil matar
um leão por dia
e ser excluído pelo
grau de melanina
OU por quem você suspira
OU pela sua conta bancária
OU pela sua luta diária
OU de onde vai ou vem
OU de quem você crê no além...

Esqueça-me por um dia
ou – melhor! – definitivamente,
pois o meu maior defeito
é parecer diferente
aos olhos de quem esqueceu
qual é o sentido de
ser gente...

sábado, 12 de novembro de 2016

Velha História



Mário Quintana 

Era uma vez um homem que estava pescando, Maria. Até que apanhou um peixinho! Mas o peixinho era tão pequenininho e inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que o homem ficou com pena. E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a garganta do coitadinho. Depois guardou-o no bolso traseiro das calças, para que o animalzinho sarasse no quente. E desde então, ficaram inseparáveis. Aonde o homem ia, o peixinho o acompanhava, a trote, que nem um cachorrinho. Pelas calçadas. Pelos elevadores. Pelo café. Como era tocante vê-los no "17"! o homem, grave, de preto, com uma das mãos segurando a xícara de fumegante moca, com a outra lendo o jornal, com a outra fumando, com a outra cuidando do peixinho, enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava laranjada por um canudinho especial... Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do rio onde o segundo dos dois fora pescado. E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. E disse o homem ao peixinho: "Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubar-te por mais tempo ao carinho do teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para o seio da tua família. E viva eu cá na terra sempre triste!...Dito isso, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho n’água. E a água fez redemoinho, que foi depois serenando, serenando... até que o peixinho morreu afogado...

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Bela, recatada e do lar



Letra: Rodolfo Pamplona Filho e Marianna Chaves
Música: Adelmo Schindler Jr. e Ricardo Barata

Era bela, recatada e do lar
Moldada em uma velha lição
Pra ter só uma preocupação
Polêmica não venha criar
Se calada ficar e agradar

Era bela, recatada e do lar
Foi criada para não reclamar
Educada pra trabalho não dar
Mas não aceitava imposição
De um modelo de castração

Bela, recatada e do lar
Fera sensitiva e do bar
Sabia que o trabalho era duro
As vezes se perdia no escuro
Mas no fim só queria sambar

Bela, recatada e do lar
Sagaz e sabia mandar
Sua moral e suas éticas próprias
Nas loucuras pouco sóbrias
Que fazem o corpo dançar

Era bela, recatada e do lar
Queria ter apenas o mundo
Viajar no tempo em um segundo
Dominar as notícias e o fogão
Tudo que despertasse a paixão

Era bela, recatada e do lar
Seja linda desbocada e meretriz
Judiada descuidada e atriz
A alegria pavimenta o sonhar
Até de quem não é...
ou não quer virar...

Bela, recatada e do lar

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

A Vida


Florbela Espanca

É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés d'alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!

Todos somos no mundo "Pedro Sem",
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo donde vem!

A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...

Amar-te a vida inteira eu não podia...
A gente esquece sempre o bem dum dia.
Que queres, ó meu Amor, se é isto a Vida!...

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Soneto para Catarina



Rodolfo Pamplona Filho

O mundo ganhou nova cor
e se tornou pleno de carinho,
quando o fruto do amor
chegou devagarzinho...

Bem-vinda à vida,
pequena Catarina!
Que seu olhar tranquilo
seja o mais doce abrigo

para acalmar o coração
de quem ama sem juízo
e se entrega em paixão...

Que todo dia seja especial,
como o seu lindo sorriso,
que nos traz paz, afinal.

No vôo de Salvador
para Imperatriz-MA (via Brasília),
09 de novembro de 2011.


segunda-feira, 7 de novembro de 2016

UM INSTANTE



Ferreira Gullar

Aqui me tenho
como não me conheço
nem me quis

sem começo
nem fim

aqui me tenho
sem mim

nada lembro
nem sei

à luz presente
sou apenas um bicho
transparente

domingo, 6 de novembro de 2016

Sobre o presente e o futuro...


Rodolfo Pamplona Filho
Eu tenho planos para você,
não programações ou agendas...
Já pensei em deixar você...
já olhei tantas vezes para o lado...
mas quando penso em alguém...
é por você que fecho os olhos....

Eu não preciso dizer mais nada.
Eu te amo com toda força do mundo..

Salvador, 26 de novembro de 2010

sábado, 5 de novembro de 2016

Soneto a quatro mãos



Vinícius de Moraes e Paulo Mendes Campos


Tudo de amor que existe em mim foi dado
Tudo que fala em mim de amor foi dito
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado. 

Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado. 

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse. 

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Soneto para a Chegada de Gabriella e Giovanna


Rodolfo Pamplona Filho

Duas estrelinhas surgiram
no céu de nossa cidade!
Duas pequenas rosas nasceram
no jardim da felicidade!

Será que existe maior alegria
do que viver cada dia
na enorme expectativa
do momento de sua vinda?

Se uma só já seria amada,
recebermos duas na mesma fornada
é amor que não mede tamanho!

Venham ver como a vida é bela,
Giovanna e Gabriella
Assunção Stolze Gagliano

No vôo de Salvador para São Paulo,
para assistir o show do Pearl Jam,
em 04 de novembro de 2011.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Motivo da rosa


Cecilia Meireles

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A Poesia é Meu Refúgio




Rodolfo Pamplona Filho
Quando a tristeza me assalta
e fico imerso na melancolia;
Quando a solidão me oprime
e a depressão me consome;
Quando a rotina me irrita
e a monotonia me maltrata;
Quando o stress me atormenta
e o cansaço me anestesia;
Quando não sou compreendido
ou me sinto abandonado ou perdido;
A Poesia é Meu Refúgio...

No voo de Santiago para Puerto Montt-Chile, 29 de junho de 2012.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Aquarela


Toquinho

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo.
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva,
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva.

Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel,
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu.
Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul,
Vou com ela, viajando, Havai, Pequim ou Istambul.
Pinto um barco a vela branco, navegando, é tanto céu e mar num beijo azul.

Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená.
Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar.
Basta imaginar e ele está partindo, sereno, indo,
E se a gente quiser ele vai pousar.

Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida.
De uma América a outra consigo passar num segundo,
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo.

Um menino caminha e caminhando chega no muro
E ali logo em frente, a esperar pela gente, o futuro está.
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar,
Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar.
Sem pedir licença muda nossa vida, depois convida a rir ou chorar.

Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá.
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar.
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia, enfim, descolorirá.

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo (que descolorirá).
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo (que descolorirá).
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo (que descolorirá).

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Eu me divirto com minhas próprias loucuras


Rodolfo Pamplona Filho

O nome da minha autobiografia
O meu estilo de vida
A minha profissão de fé
O que sou e o que me tornei
A minha perfeita definição
A minha genuína tradução
O meu verdadeiro eu
O que se define como meu
Eu me divirto com
minhas próprias loucuras...

Salvador, 15 de janeiro de 2013.

domingo, 30 de outubro de 2016

As cartas de Elohim


Ricardo Albuquerque

Elohim é um professor de filosofia, já aposentado, que acaba por perder a esposa, Graça, vitimada, de forma inesperada e abrupta, por um tumor implacável. Sem ter tempo (e direito) de chorar a morte “de sua graça”, o Professor Elohim carrega consigo uma tríplice responsabilidade, a tutela dos trigêmeos, seus netos, filhos de sua única filha, desaparecida, Vasti, que, após uma severa depressão pós-parto dos trigêmeos, empreende uma viagem ao exterior, mais precisamente, ao Noroeste da Espanha, em Santiago de Compostela, de onde se limitou ao envio de um único cartão postal, e, desde então, cinco longos anos passaram-se, sem sombra de notícias. Neste cenário, Elohim tenta recompor-se da perda da esposa, empreende esforços para descobrir o paradeiro da filha, e, com muito esmero, faz-se de pai e mãe dos trigêmeos, aos quais se doa com amor incondicional.  Retoma as aulas de filosofia na Universidade, para fazer frente à crise financeira que enfrenta. Porém, numa manhã qualquer, é surpreendido com um diagnóstico médico aterrorizante: um timoma -, um tipo de tumor maligno localizado no mediastino, região do tórax que fica entre os pulmões. Certo de que, em breve, perderá a luta em face deste cruel antagonista, Elohim passa a redigir cartas secretas, sobre diversos temas da vida, a fim de que os netos recebam as mesmas com constância religiosa, as quais, algumas delas, fazem parte desta coletânea nomeada de ‘As cartas de Elohim’.

sábado, 29 de outubro de 2016

Sensação Estranha


Rodolfo Pamplona Filho

Sensação estranha
é sentir, no peito,
a saudade do "hoje",
sem que tenha ido embora!

Sensação estranha
é olhar o horizonte
e imaginar viver
o que está do lado de lá!

Sensação estranha
é chorar pelo leite
que sequer se derramou,
pois nem ordenhado foi!

Sensação estranha...
Sensação estranha
Hoje ainda é ontem,
mas já parece amanhã...

12 de outubro de 2016, no voo para São Paulo.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Motivo


Cecilia Meireles

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Coisa de Novela


Rodolfo Pamplona Filho
Sempre achei
que amor eterno
era coisa de novela...
Sempre gostei
mais do frio do inverno
do que da flor da primavera
Sempre chorei
com finais felizes
de romances impossíveis
Sempre cantei
melodias tristes
de sofrimentos incontíveis
Até que surgiu você...
meu ar, minha água, minha comida
Até que surgiu você...
a maior surpresa da minha vida
Até que surgiu você...
a leveza de um outro caminho
Até que surgiu você...
a esperança de não estar sozinho.

21 de Outubro de 2016, no voo para Fortaleza.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Relacionamentos


Arnaldo Jabor


Sempre acho que namoro, casamento, romance, tem começo, meio e fim. Como tudo na vida.

Detesto quando escuto aquela conversa:
- Ah, terminei o namoro...
- Nossa, estavam juntos há tanto tempo...
- Cinco anos.... que pena... acabou...
- é... não deu certo...

Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou. E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.

Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.
Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?
E não temos essa coisa completa.

Às vezes ela é fiel, mas é devagar na cama.
Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.
Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.
Às vezes ela é muito bonita, mas não é sensível.
Tudo junto, não vamos encontrar.

Perceba qual o aspecto mais importante para você e invista nele.
Pele é um bicho traiçoeiro. Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia.

E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...
Acho que o beijo é importante... e se o beijo bate... se joga... se não bate... mais um Martini, por favor... e vá dar uma volta.

Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra. O outro tem o direito de não te querer.

Não brigue, não ligue, não dê pití. Se a pessoa tá com dúvidas, problema dela, cabe a você esperar... ou não.

Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.
O ser humano não é absoluto.

Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta. Nada de drama.
Que graça tem alguém do seu lado sob pressão?

O legal é alguém que está com você, só por você. E vice-versa. Não fique com alguém por pena. Ou por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós.

Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.

Tem gente que pula de um romance para o outro. Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?

Gostar dói. Muitas vezes você vai sentir raiva, ciúmes, ódio, frustração... Faz parte. Você convive com outro ser, um outro mundo, um outro universo.

E nem sempre as coisas são como você gostaria que fosse... A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.

Se alguém vier com este papo, corra, afinal você não é terapeuta. Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.

Na vida e no amor, não temos garantias.
Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar. Nem todo beijo é para romancear.
E nem todo sexo bom é para descartar... ou se apaixonar... ou se culpar...

Enfim...quem disse que ser adulto é fácil ????

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Surpresa


Rodolfo Pamplona Filho

Eu já havia desistido
de achar alguém parecido.
Eu já estava convencido
de que o mundo era finito...
de que não havia perfeição
na vida e na canção
mas, de repente, descubro
que posso ter outro rumo...
Eu não prometo ter
qualquer compromisso
Eu nem sequer cogito
rascunhar um plano bonito
Eu só quero viver
o momento de simplesmente ser
Eu só quero o prazer
de apenas estar com você.



21 de outubro de 2016, no voo para Fortaleza.