terça-feira, 6 de maio de 2025

É tempo de primavera

 


 

Janete Fonseca



Ar de primavera 


De fruta cheirosa 


Da beira da praia 






Vento na memória 


fareja a mulher 


recém descoberta. 


Passou muito tempo, 


Espelho reflete 


Anel de turquesa, 


soutien vermelho, 


Na boca desenho 


De coração grená 






No mundo mudado 


Dos mais avelhados 


Corações calados, 


Erga-se um brinde 


À mulher descoberta 


Só a ouvir estrelas 


Do homem ao lado, 


Cheio de desejos 


Da mulher ardente 


De olhar de fogo, 


Que vai olhando 


Quando o vê olhar 






Mulher incansável 


Toma pelas mãos 


retalhos do tempo 


Que se vão passando 


Antes que a tarde 


Primaveril 


morra, aberta, 


dentro de mim.


segunda-feira, 5 de maio de 2025

Regime de Bens

 


 




Rodolfo Pamplona Filho


Comunhão


em família


Divisão


em Partilha


Acordo


da razão


em conforto


da emoção


Quando dois


se tornam um,


a convicção


da esperança


se sobrepõe


à incerteza


do futuro,


em que tudo


pode ser perfeito


ou o castelo


pode ruir


nas nuvens


e nos sonhos


de quem não


cogitou o fim.


 


Salvador, 16 de julho de 2022.

domingo, 4 de maio de 2025

Caminhante

 


 








Janete Fonseca




 Como peregrino de fé, sem adeptos, 


 Prossigo, 


 Sangrando os pés nas pedras do caminho 


 Sem fim, 


 Sem direção, 


 Buscador da trilha verde 


 Do regresso, 


 Um dia 




 


 Continuo na jornada 


 Solitária 


 Rotineira 


 Pelas veredas do acaso, 


 Sorrindo quase em prantos, 


 Filtrando velhas mágoas, 


 No remanso das águas 


 Do dourado amanhã 






 Alegro-me por nada 


 E nada me alegra. 


 Silencio com todos 


 E comparto tudo 


 Com todos. 




 Assim 


 Descanso o amargor 


 Do passado, 


 Na relva macia do esquecimento 


 Até confundir-me,


 Um dia,


 Na poeira atômica 


 Do rio principal. 

sábado, 3 de maio de 2025

Aprendendo com as Ondas

 


 






Rodolfo Pamplona Filho




A onda passa


impassível


Nada que se faça


a torna flexível


e a grande graça


é enfrentar sozinho


a enorme massa


d’água no vazio


 


A onda permite


que se surfe nela


ou, indiferente, agride


quem se afoga por ela


A onda não muda,


quem tenta ser dela


que, inocente, se iluda


ou componha com ela


 


pois não há relação


onde não há movimento;


não há entrega,


onde não há sentimento;


não há emoção,


se não há bilateralidade;


a boa onda é sempre


a próxima, de verdade…


 


Salvador, 20 de janeiro de 2023.


sexta-feira, 2 de maio de 2025

No fundo do mar



 





Janete Fonseca




Molhadas areias brancas 


Teu rastro de silêncio apagam, 


Levando-te para o fundo do mar, 


Vestido de vento e sal 


 




Entre folhagens de algas 


de emaranhadas cabeleiras, 


Guerreiro do mar repousa, 


Nessa floresta marinha 


 




Canto para o meu amado, 


Entre os habitantes marinhos 


por trilhas de corais 


e caracóis dançarinos 


 




Conquistador de mares, 


Dorme teu sono eterno, 


Pois da sedutora sereia 


a voz não mais ouvirás 


 




Brinca com os habitantes d'água 


E quando o pranto da saudade 


Tu'alma dormida buscar, 


Foge em cavalos marinhos 


 




E nas estrelas do mar, 


Olvida teus sonhos


De amor, 


em paz 





Uma voz amiga me diz 


que não te verei jamais, 


mas meu amor te recorda sempre, 


vestido de vento e sal. 


quinta-feira, 1 de maio de 2025

Amor para o Resto da Vida


 







Rodolfo Pamplona Filho




Eu quero um amor


para o resto da vida!


Um amor que


não seja ferida,


nem trauma.


Um amor que


seja guarida


e afago na alma.


Um amor que


não seja breve,


nem zangado.


Um amor que


seja leve e


bem humorado.


Um amor que


goste de sorrir


e se divertir.


Um amor que


atenda ao que


o destino convida.


Um amor para


o resto da vida.


 


Salvador, 23 de outubro de 2022.

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Dilema



 





Janete Fonseca




Como duas paralelas em busca infinita,


Perto estamos distantes, 


Longe ficamos tão perto.


Separa-nos rio límpido mas revolto, 


Rola os seixos, lapida reentrâncias, 


Num dia de muita borrasca, 


noutro só de flores. 


Nunca nos encontramos 


no azul do céu infinito, 


mas sempre juntos estamos, 


encurtando a distância 


de nosso eterno dilema. 


terça-feira, 29 de abril de 2025

As Vozes da Minha Cabeça

 


 






Rodolfo Pamplona Filho




Não preciso de estudo


Não preciso de história


Não preciso de lógica


Não preciso de ciência


Não preciso de fontes


Não preciso de provas


Só preciso da minha convicção


e das vozes da minha cabeça.


 


Oceano Atlântico, 12 de janeiro de 2023.

segunda-feira, 28 de abril de 2025

Madrugada em Meu Jardim


Jansen Filho




Um divino clarão vem do nascente


E sobre o meu jardim calmo resvala!


Na graça deste quadro reluzente,


A aragem fria os meus rosais embala! 






Tudo desperta misteriosamente!


E a luz cresce e se expande em doce escala,


Avivando o lençol resplandecente


Da brancura dos lírios cor de opala! 




E o sol, doirando as franjas do horizonte,


Celebra a missa do romper da aurora


Na doce Eucaristia do levante! 






Da passarada escuta-se o clarim !


E a madrugada estende-se sonora,


Na aleluia de luz do meu jardim ! 

domingo, 27 de abril de 2025

Meus Cachorros



 




Rodolfo Pamplona Filho


Meus cachorros têm marcas


decorrentes das pauladas


e das porradas


que a vida proporcionou


 


Meus cachorros têm traumas


potencialmente insuperáveis,


frutos amargos da árvore


de mal-tratos que sofreram


 


Meus cachorros têm Cicatrizes


no corpo e na alma,


marcas do que passaram


nas mãos cruéis do destino


 


Meus cachorros têm um Amor


simplesmente inexplicável,


potencialmente infindável


e naturalmente adorável


 


Meus cachorros me representam


Eles são meu espelho,


meu esteio e meu sentido


Eles são eu e


Eu sou eles


 


Salvador, 10 de dezembro de 2022

 

sábado, 26 de abril de 2025

Canção

 


 

Cecília Meireles



Pus o meu sonho num navio


e o navio em cima do mar;


- depois, abri o mar com as mãos,


para o meu sonho naufragar






Minhas mãos ainda estão molhadas


do azul das ondas entreabertas,


e a cor que escorre de meus dedos


colore as areias desertas.






O vento vem vindo de longe,


a noite se curva de frio;


debaixo da água vai morrendo


meu sonho, dentro de um navio...






Chorarei quanto for preciso,


para fazer com que o mar cresça,


e o meu navio chegue ao fundo


e o meu sonho desapareça.






Depois, tudo estará perfeito;


praia lisa, águas ordenadas,


meus olhos secos como pedras


e as minhas duas mãos quebradas.

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Aceitando o que é possível

 


 






Rodolfo Pamplona Filho




Sonhar não custa nada,


mas alcançar o que se deseja


não é fácil


e, muitas vezes,


só se pode


se confirmar com o que se tem,


suspirar pelo que não vem,


lamentar o irrealizável


e aceitar o que é possível.


 


Salvador, 16 de dezembro de 2022.

quinta-feira, 24 de abril de 2025

O Depósito




 




Clivia Filgueiras




Do contrato sou um tipo


Me assento na confiança plena


Referente a custódia ou guarda de coisa alheia


Pode ser ela grande ou pequena.




Duas pessoas de mim fazem parte


Uma entrega e a outra guarda o montante


Há uma relação de confiança


Entre o depositário e o depositante.




Quando entrego a coisa


Espero deveras a restituição – sigo confiante...


Se na ocasião ajustada dela não me fizer novamente dono


Uma Ação de Depósito proponho


Afinal, sou o depositante!




Eu recebo a coisa


Restituí-la-ei conforme o ajustado


Não sou o seu dono


Apenas depositário!




Como depositário tenho algumas obrigações:


Guardo a coisa alheia recebida mas dela não posso me servir...


Respondo por dolo ou culpa se a coisa perecer...


Ao depositante sou obrigado a restituir.




Se da coisa me apossar sem autorização


Receberei a devida sanção


O juiz decretará uma pena


Irei parar na prisão.




Como depositante as minhas obrigações vão além


Remunero quando sou oneroso


Mas posso ser gratuito também!




Posso também ter obrigações de fato real:


Reembolsar as despesas de meu interesse


Indenizar os prejuízos de vício real.




Contrato Irregular também posso ser


Posso usar e dispor da coisa depositada...


Restituir coisa de igual valor e quantidade...


Devolver não exatamente a que me foi confiada.




Posso ser Necessário, Legal, Hospedeiro ou Miserável


Os três primeiros com fundamento ou exigência legal


O último quando em guerra...terremoto e coisa e tal.




Para concluir:


Antes da coisa entregar


É preciso no depositário confiar


Pois sou baseado numa relação de boa-fé


De Depósito devem me chamar. 





segunda-feira, 31 de março de 2025

Olhares

 


 






Rodolfo Pamplona Filho




O que diz um olhar?


Mais do que palavras


O que ensina um olhar?


Mais do que muitas lições


O que mostra um olhar?


Mais do que mil exposições


O que prende um olhar?


Mais do que prisões


O que mata um olhar?


A dor fatal das repressões


 


Buzios, 13 de janeiro de 2023.

domingo, 30 de março de 2025

As folhas do crepúsculo


 







Janete Fonseca






Cai a primeira folha, 

A segunda também. 

Mais outra... e outras mais, 

Centenas delas caem 

Das árvores centenárias 

Apenas sopra o vento, 

No alaranjado crepúsculo 



E à tarde primaveril, 

Quando o olhar se embaça 

Ao sol da memória, 

Voltam todas, 

Molhando os caminhos 

Em longas cabeleiras 

Em galhos silentes, 

Pingando cores 




Também do coração, 

Onde brotam as ilusões, 

Uma por uma vai tombando, 

Descendo ladeiras 

Em fortes enxurradas 

Por esse mundo fora 

Como tombam as folhas das árvores

centenárias 



No mar azul da infância, 

Olhar suspiroso e 

Imaginação solta 

Voam...Mas às copas as folhas voltam, 

E elas ao coração não voltam jamais, 

Levadas pelas águas de março 





(PARÁFRASE DO POEMA DE RAIMUNDO CORREA  "AS POMBAS")


segunda-feira, 24 de março de 2025

Empréstimo

 


 






Rodolfo Pamplona Filho



 


Vou te emprestar


meus olhos


para veres


a coisa linda que vejo


quando sorris.


 


Vou deixar contigo


a minha pele


para sentires


a doçura


do teu toque.


 


Vou esquecer em tuas mãos


o meu coração


para teres a certeza


de que ele pulsa


por ti.


 


Salvador, 22 de janeiro de 2023.

domingo, 23 de março de 2025

E não pode esperar o coração

 


 





Jaci Bezerra 






Toda a lua e claridade


assim te quero, assim te vejo


e se te vejo o amor invade


meu corpo inteiro e o deixa aceso


e se te vejo o amor em mim


é um cheiro morno de jardim


A tua dor doendo em mim


 é um rio latejando aceso


sou um cantareiro no jardim


do sonho em que te quero e vejo


primaveras de claridade


na primavera que me invade






Toda nua és um rio aceso


de primavera e claridade


mas quero mais do que o que vejo


sentindo a angústia que me invade


esse amor que doendo em mim


arde em silêncio no jardim




Extinta a angústia que me invade


te sinto perto e junto a mim


mais do que amar a claridade


amo teu cheiro de jardim


por isso à noite durmo aceso


no dia em que te sinto e vejo.




Teu coração é um jardim


tremulando na claridade


mesmo quando doendo em mim


também é a angústia que me invade


porque no dia em que te vejo


teu corpo dorme em mim aceso




No fundo dos teus olhos vejo


longe da angústia que me invade


 como o amor doendo aceso


é uma trança de claridade


o coração dentro de mim


dorme abrasado em teu jardim.


sábado, 22 de março de 2025

Alegria em Doses Homeopáticas





 



Rodolfo Pamplona Filho






É difícil sorrir


com receio de consequências


É difícil fluir


com medo das intermitências


É difícil respirar


com receio das armadilhas


É difícil se entregar


com certeza da desconfiança


É difícil amar


tendo perdido a esperança


É difícil sobreviver


com dificuldades burocráticas


É difícil viver


a alegria em doses homeopáticas


 


Praia do Forte, 31 de dezembro de 2022.

sexta-feira, 21 de março de 2025

Para te ver é longa toda espera

 


 






Jaci Bezerra 



Há uma serra no teu peito


feita de sonho e de distância.


É nessa serra que me deito


com tua luminosa infância.






Ao te esfolhar, na tarde branca,


me extravio nas tuas ancas.






Habitando a paisagem branca


na curva dessa serra deito.






Assim, montando as tuas ancas,


cavalgo os sonhos do teu peito.






Depois, retido na distância,


na cama acendo a tua infância.






Nos veludos da tua infância


qualquer montanha é pura e branca,


claro verão que, na distância,


cintila sobre tuas ancas.






É minha a serra do teu peito


quando à sombra do teu corpo deito.






Sobre os lençóis, quando me deito,


meu coração é a tua infância.






Eu, pelas serras do teu peito,


sou um menino na distância,


cavalgando, na tarde branca,


os girassóis das tuas ancas.






Nos extremos das tuas ancas


cavalgo as serras do teu peito.






O teu corpo, na tarde branca,


é o meu lençol quando me deito.






Uma criança, na distância,


sou a serra da tua infância.






Quero galgar serra e distância


nas tuas mãos de nuvens brancas,


do mesmo modo quero a infância


e os girassóis das tuas ancas.






A mim me basta, se me deito,


morrer nas serras do teu peito.


quinta-feira, 20 de março de 2025

Minha Parede


 







Rodolfo Pamplona Filho




Uma parede


pode ser


divisão


para garantir


separação


ou, então,


ser sustentação


para um abrigo


ou proteção.


 


Uma parede


pode ser


um paredão,


o local


onde se aniquila


a vida


ou ser o final


de um beco


sem saída


 


Minha parede,


porém,


é muito além:


a perfeita


tradução


metafórica


de meus dilemas,


um painel coberto,


paulatinamente,


pelos meus poemas.


 


Salvador, 01 de fevereiro de 2023.