sábado, 27 de julho de 2013

Cérebro e Mente




Cérebro e Mente

Rodolfo Pamplona Filho
O cérebro é material
e corpóreo, como a carne.
Dele, cuidam
médicos e biólogos.
A mente é imaterial
e etérea, como o pensamento.
Dele, cuidam
filósofos e psicólogos.
Mas como separar
o corpo da alma,
sem fracionar
o que, de forma calma,
se constrói conjuntamente
na cabeça de toda gente?
Talvez só no dia
em que a verdade vazia
for mais transparente
do que a vida inclemente...
Talvez no momento
em que todo tormento
se dissipe em um zoom
e todos se sintam apenas um.

Museo Interactivo Mirador, Santiago-Chile, 29 de junho de 2012.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Um dizer ainda puro


Um dizer ainda puro (Vasco Gato)

imagino que sobre nós virá um céu
de espuma e que, de sol em sol,
uma nova língua nos fará dizer
o que a poeira da nossa boca adiada
soterrou já para lá da mão possível
onde cinzentos abandonamos a flor.

dizes: põe nos meus os teus dedos
e passemos os séculos sem rosto,
apaguemos de nossas casas o barulho
do tempo que ardeu sem luz.
sim, cria comigo esse silêncio
que nos faz nus e em nós acende
o lume das árvores de fruto.

diz-me que há ainda versos por escrever,
que sobra no mundo um dizer ainda puro.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

A Poesia é Meu Refúgio


A Poesia é Meu Refúgio

Rodolfo Pamplona Filho
Quando a tristeza me assalta
e fico imerso na melancolia;
Quando a solidão me oprime
e a depressão me consome;
Quando a rotina me irrita
e a monotonia me maltrata;
Quando o stress me atormenta
e o cansaço me anestesia;
Quando não sou compreendido
ou me sinto abandonado ou perdido;
A Poesia é Meu Refúgio...

No voo de Santiago para Puerto Montt-Chile, 29 de junho de 2012.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Douro


Douro  (Filipa Leal)

Não sei se prefiro o rio
ou o seu reflexo nas janelas espelhadas.

De um lado
os barcos ancorados,
do outro lado:
barcos - na imediata memória das âncoras.
Deste lado, o porto, ou o cais,
contracenando com a sua própria inexistência
daquele lado.

Existirá aquele rio nos espelhos?
Poderá este subsistir sem as janelas?

Sou dourada como os peixes que te
desabitaram. E, do outro lado, sou
desabitada.

terça-feira, 23 de julho de 2013

27 anos


27 anos

Rodolfo Pamplona Filho
Robert Johnson
Brian Jones
Jimmy Hendrix
Janis Joplin
Jim Morrison
Kurt Cobain
Amy Winehouse
e muita gente mais..
Talentos imensos
para vidas curtas demais...
27 anos não é tarde
para começar uma vida,
mas é muito cedo
para ir embora...

Salvador, 23 de julho de 2012.

Medo


Medo

Rodolfo Pamplona Filho
O medo é como um canibal
que se alimenta de si mesmo.
Vive em cada sombra...
Espreita em cada esquina...
Esconde-se na penumbra,
mas sempre perto de você,
a ponto de sentir o seu hálito,
mesmo sem vê-lo ou tocá-lo...
Pode estar em dois
ou muito mais lugares
ao mesmo tempo:
mais à frente,
do seu lado,
em seu caminho
e, simultaneamente,
vindo atrás de você!
O medo se esconde
dentro de cada decisão,
questionando cada movimento seu.
E a culpa é sempre sua!
Você é quem dá vida a ele!
Você gera seus próprios medos...
Todos os instintos dizem
que não se pode fazer nada
diante do que aterroriza...
Mas é só isso que
o medo é... instinto.
Fugir é decorrência
da própria natureza,
afirmando ser melhor
correr e viver
para lutar outro dia...
Mas, fugindo,
o canibal se alimenta
e se torna mais forte...
O melhor é correr, sim,
mas em direção ao medo,
encará-lo, olhar em seus olhos,
fazê-lo piscar primeiro,
vê-lo diminuir...
Morrer de medo é
como cometer suicídio,
antecipando um resultado
possível de ocorrer,
mas não necessário agora,
fechando-se para o mundo lá fora,
até definhar
pela falta do ar
que decidir enfrentar
poderia proporcionar...

Puerto Varas-Chile, 30 de junho de 2012.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Verdade ou consequência


Verdade ou consequência (Rui Pires Cabral)

Houve dias cheios de sol e jogos ágeis
em redor dos lagos, uma jornada na montanha
para ouvir o eco e a sombra da nuvem
ganhando alento nas vertentes como um barco
prodigioso.

Perseguíamos nas raízes do dia uma ausência
que alastrava para o norte, para essas planícies inventadas
onde pássaros ávidos tomariam por sementes
as palavras que dizíamos.

Éramos demasiado jovens
e aos nossos olhos
o mundo tinha a idade que mais nos convinha.

domingo, 21 de julho de 2013

Fale com a Mãozinha...


Fale com a Mãozinha...

Rodolfo Pamplona Filho
Quando estiver para explodir
ou tiver vontade de gritar,
não adianta resistir
ou querer se matar,
o melhor a fazer
é tentar descobrir
como novamente ter
o prazer de sorrir.
Por isso, em vez de estourar
ou sair totalmente da linha,
melhor levantar os olhos, respirar
e falar com a mãozinha...

Fale com a Mãozinha...

Puerto Varas-Chile, 30 de junho de 2012.