sábado, 24 de setembro de 2016

Como alguém pode?



Rodolfo Pamplona Filho

Como alguém pode
abrir mão
de seu coração?
Como alguém pode
renegar a essência
do fundo de sua alma?
Como alguém pode
substituir uma parte
da sua própria vida?
Eu acho que não pode...
Prometo, então, que
não vou te esquecer...
Serei sua hoje
por toda essa vida
e só sua nas próximas...

Salvador, 4 de setembro de 2016.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Sem título


Paulo Leminski

Eu tão isósceles
Você ângulo
Hipóteses
Sobre o meu tesão

Teses sínteses
Antíteses
Vê bem onde pises
Pode ser meu coração

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Opressor Oprimido


Rodolfo Pamplona Filho

Reconhecer, em si, o mal
Maltrata
Maldiz
Molesta

Descobrir-se opressor
oprime
deprime
machuca

Declarar-se ser
não é suficiente
não é inteligente
não é sequer coerente

Desejar estar ao lado
não é saber
não é viver
não basta

Olhar a si e ao mundo com outros olhos
é a alternativa ao suicídio
é a reconstrução da própria história
é a única esperança da humanidade.

Quarta-feira, 17 de agosto de 2016,  literalmente no voo para Vitoria/ES.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Marina


Dorival Caymmi

Marina morena Marina você se pintou

Marina você faça tudo

Mas faça o favor

Não pinte este rosto que eu gosto

Que eu gosto e que é só meu

Marina você já é bonita

Com o que Deus lhe deu

Me aborreci, me zanguei

Já não posso falar

E quando eu me zango, Marina

Não sei perdoar

Eu já desculpei tanta coisa

Você não arrajava outro igual

Desculpe Marina, morena

Mas eu tô de mal, de mal com você

De mal com você

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Nós não sabíamos



Rodolfo Pamplona Filho

Nós não sabíamos
que, nas madrugadas,
a força imperava
sobre a liberdade.

Nós não sabíamos
que, à sorrelfa,
esperanças se despedaçavam
a cada anoitecer.

Nós não sabíamos
que, ao entardecer,
o sol se escondia
pelo que podia acontecer.

Nós não sabíamos
que, a cada amanhecer,
o medo se renovava
pelo medo do desconhecido.

Salvador, 22 de agosto de 2016.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Amar e ser amado

Castro Alves

Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu’alma, ter só vida
P’ra tão puro e celeste sentimento:
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano —,
Beijar teus dedos em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante — amado —
Como um anjo feliz... que pensamento!?

domingo, 18 de setembro de 2016

O viço



Rodolfo Pamplona Filho
E se, de repente,
eu te dissesse que não queria mais
viver no mesmo teto, na mesma cama
e que tudo que planejamos
não era mais essencial pra minha chama

E se, de repente
eu te dissesse que meu coração foi tomado
por uma vontade imensa de viver
que não engloba a rotina
que você tem a me oferecer

E se, de repente,
a pergunta que aparecesse
fosse: "Você não me ama mais?”
ou “Você arranjou outra?"
Seria o comum a se falar
pois rupturas ensejam esse pensar

E se, de repente,
tudo que era sólido
se desfizesse no ar
como grãos de areia nas mãos de uma criança,
caindo incessamente na ampulheta da vida.

Isso tudo nada teria a ver com amor,
pois eu continuarei te amando
da mesma forma pura e feliz...
Isso tudo nada teria a ver com amor,
mas com o viço que eu sempre quis...

Será que este viço se perderá?
Se este viço, sem querer, se perder
não será por outro alguém,
mas pelo próprio destino maduro
de uma essência que quer mais do que se tem.
Salvador, 28 de outubro de 2010.