Blog para ler e pensar... Um texto por dia... é a promessa... Ficarei muito feliz em ler e saber o que cada palavra despertou... Se você quiser compartilhar um texto, não hesite em mandar para rpf@rodolfopamplonafilho.com.br. Aqui, não compartilho apenas os meus textos, mas de poetas que eu já admiro e de todas as pessoas que queiram viajar comigo na poesia... Se quiser conhecer somente a minha poesia, acesse o blog rpf-poesia.blogspot.com.br. Espero que goste... Ficarei feliz com isso...
sábado, 2 de junho de 2018
Oportunidades
Oportunidades surgem
e despreza-las
é sintoma de empáfia
Oportunidades passam
e não aproveitá-las
é o início da depressão
Oportunidades vão embora
e perdê-las
é arrepender-se pelo resto da vida.
São Paulo, 20 de novembro de 2016.
sexta-feira, 1 de junho de 2018
Poema em linha reta
Fernando Pessoa
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
(…)
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos – mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
quinta-feira, 31 de maio de 2018
O amor é confuso
Rodolfo Pamplona Filho
O amor é confuso.
Se não fosse confuso, não seria amor
Poderia ser paixão. Muito mais simples.
Paixão explode, é intensa.
Quando acalma, acaba.
Pronto, passou.
O amor é confuso.
O amor é tão confuso, que teima em viver
um tempo não vivido.
São as lembranças dos dias felizes,
um planejamento de futuro
e ainda tem o se,
aquele do futuro do pretérito.
O amor é confuso.
O amor não pensa, só sente.
Por não pensar, não tem razão.
Não é certo e nem errado.
Pode ser triste e,
no minuto seguinte,
te deixar em êxtase.
O amor é confuso.
Ficamos admirando
o objeto do nosso amor,
da nossa devoção,
embasbacados,
sem saber se partimos
ou se ficamos.
O amor é confuso.
É difícil viver com ele
É difícil viver sem ele
É impossível não querer vivê-lo.
É impossível passar por ele sem sofrer.
O amor é confuso.
Mas não vale a pena
ter vivido
se não tiver sido experimentado
pelo menos uma vez...
Salvador, 20 de agosto de 2017
quarta-feira, 30 de maio de 2018
Para ser grande, sê inteiro
Fernando Pessoa
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
terça-feira, 29 de maio de 2018
Crepúsculo
o sol se pondo aqui
e meu coração
sentindo frio
só porque não vê...
Mas tudo tem resposta,
pois, de repente, volta
o meu corpo a aquecer:
basta pensar em você.
Praia do Forte, 24 de fevereiro de 2017.
segunda-feira, 28 de maio de 2018
Poética
Manuel Bandeira
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
domingo, 27 de maio de 2018
Dependência Tecnológica
Rodolfo Pamplona Filho
Não saber o que fazer
quando a conexão cai...
Ter momentos de prazer
com a senha do Wi-Fi
Dividir as pessoas entre quem usa
e quem não acessa certo app...
Eleger como Mestre ou Musa
quem tudo explica step by step...
Sentir-se completamente isolado
se não tiver um celular ao lado,
como se o mundo fosse malquisto.
Usar o WhatsApp compulsivamente
e perder-se em sua própria mente
como se a vida dependesse disto.
No avião Salvador-Recife, 09 de agosto de 2015.
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