sábado, 4 de janeiro de 2020

Arquitetura de Impacto







Rodolfo Pamplona Filho


Paralelas
Iluminações
Passarelas
Calçadões
Subterrâneas
Construções
Contemporâneas
Inovações

Toda mudança choca,
pois o apego à segurança
 do que se passou
(e não voltará jamais)
termina por travar
o avanço ou evolução
do que veio para ficar
e não apenas ser saudade.

Seja a pirâmide
para o Louvre
ou Chagall para o teto
da ópera de Paris,
o que é novo
gera repulsa
de quem vive a nostalgia
e não vê a realidade.

Seja no Porto
ou em Salvador,
novas tecnologias
sempre terão um opositor,
pois a essência
da resposta natural
a qualquer mudança
é a negativa total.

Mais difícil
do que transformar
é conseguir superar
a resistência,
pois nem todos percebem
que simplesmente mudar
pode ser a única forma
de sobrevivência.


Salvador, 20 de agosto de 2017.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Torturante condenação


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Claudia Moraes Rego




Palavras
que palavras
mesmas palavras
jargões e charlas
uneasy words


O silêncio.
Cairá
um dia
sobre o banquete vocabular?


Palavras
sem elas
articulações ainda
orações
outra jaculatórias
apelos
e juras.
Inapetência.


Botar os pingos
em pratos limpos
e como petit pois
comê-los?


Letras
cartas marcadas
de um baralho cansado:
Náusea.
Balbuciante cicio
latir bem alto
palavras
como pedras lançadas ao mar:
vômito em jato.


Palavras como pedras
em três dimensões
para guardar no bolso
e
afundar no mar
e lá
ficar
sepultada --- sob letras
--- sob pedras


Devorando
letras
e os códigos
e motes
duros, atijolados
pesá-los no
fundo do estômago
e
lá ficar
no fundo
do estômago-mar
sepultada --- em pedras
--- em letras


Palavras como pedras
arrancadas
das vísceras de cada Prometeu
e
catapultadas
a uma órbita
em torno
de um buraco
NEGROTÚRGIDO
NOJENTOÚMIDO
e
mudo.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

O Cachorro da Minha Infância


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Rodolfo Pamplona Filho

O Cachorro da Minha Infância
me ensinou muito mais do que eu poderia ensiná-lo.
Aprendi, com ele, que lealdade e amor não têm preço;
que é possível estar só no meio de um mundo de gente;
e que nunca se é só se há um amigo do lado...

Aprendi que não é loucura conversar sozinho,
pois haverá quem sempre entenda com um olhar
o sentimento de quem não consegue expressar
em palavras o que se carrega dentro do peito
como um segredo que se tem medo de compartilhar...

Aprendi que não é preciso morar junto
para ter a sensação que o outro faz parte da sua vida;
que conviver é a arte do respeito à diferença
e que a alegria do reencontro é a retomada
de uma estrada que nunca foi interrompida...

Aprendi que uma boa caminhada ajuda
a colocar muitas idéias no seu devido lugar...
que hora de carinho é hora somente de carinho,
sem me preocupar com quem está em volta...
e hora de brigar é hora de rosnar e colocar os dentes para fora...

Aprendi que companheirismo significou muito mais
do que comer o mesmo pão junto...
Foi brincar de dois amigos contra o mundo,
dois heróis contra o universo,
dois corações irmanados sem filtros da razão.

Tudo isso eu poderia aprender sozinho
ou com qualquer outro ser humano,
lendo, amando ou simplesmente vivendo...
mas, na verdade, foi mesmo convivendo
com quem, para mim, era muito mais do que gente:
O cachorro da minha infância...

Para Linho (1980-983) e Trois (1985-1990), os cachorros da minha infância
Campina Grande, 08 de maio de 2010

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Receita de Ano Novo




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Carlos Drummond Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Hoje é um novo dia!



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Rodolfo Pamplona Filho



Hoje é um novo dia!
Não carregue o stress
de ontem pra hoje

Hoje é um novo dia!
Deixe o ocorrido no passado
no seu local adequado

Hoje é um novo dia!
Não apague o sofrimento,
mas o transforme em aprendizado

Hoje é um novo dia!
Aprenda a superar a dor
do fato que já se consolidou.

Hoje é um novo dia!
E, sendo novo, agradeça
por mais uma chance de tentar.

Salvador, 31 de janeiro de 2019

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Exílio e Miopia (para Julia)

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Claudia Moraes Rego



"Olha o balão!"
Não via.
Não falava nada.


"Olha o gavião!"
Não via.
Calava.


"Olha o Cristo Redentor!"
Puxa, não via!
Mas fingia


"O bondinho!"
Nada.
Era assim.


Certamente,
sem dúvida nenhuma,
fazia parte
(tinha caído do lado)
da tribo dos exilados
do prazer.

domingo, 29 de dezembro de 2019

Adoção Afetiva








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Rodolfo Pamplona Filho



A vida me contemplou
com filhos maravilhosos,
tanto no sangue,
quanto no coração!

Isso se dá, com fé,
pois, definitivamente,
a paternidade não é
uma biologia permanente.

É muito mais do que isso:
é uma eleição de paradigma
de quem assume o compromisso
de não ser um enigma.

Apadrinha-se, torna-se companheiro,
confidente, ombro amigo e parceiro.
Comemora-se junto, chora-se também,
da verdade biológica, vai-se além...

A paternidade por adoção afetiva
honrou-me com um carinho
que nem todos têm na vida...
que não se compreende sozinho...

mas que é a prova mais dura
de que pessoas podem se amar
e se entregar de forma pura,
sem qualquer outro interessar,

como deveria ser, aliás,
em qualquer verdadeira relação
de um afeto que não volta atrás...
de uma escolha consciente de devoção.