quinta-feira, 30 de abril de 2020

Suyolak






Rodolfo Pamplona Filho

Lenda cigana
Mestre Imortal
das Artes Médicas
Esperança
da cura
de todo mal.
Sonho eterno
de uma vida imortal.

Praia do Forte, 03 de junho de 2018.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

O apanhador de desperdícios








Manoel de Barros


Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

terça-feira, 28 de abril de 2020

Momentos Felizes








Rodolfo Pamplona Filho

Não dá para ser
feliz o tempo todo,
nem acreditar que
é para sempre
a felicidade que contagia
aquele que está curtindo...
O importante é
saber viver
os momentos felizes
ou, ainda mais,
saber extrair,
tal qual Poliana,
a alegria de cada instante,
como a água de um cactos
ou um suco de uma fruta
que já passou o tempo
de ser comida...
É preciso aproveitar
os momentos felizes...

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Perdi a calcinha








Desesperada estava a procurar a calcinha
Prova irrefutável do que queria ocultar
Orvalhada e com lascivo odor da minha alma
Diria por mim em metáforas aquilo que ele viera me questionar.

Olhei para o teto…
Nada alí!
Em algum momento lembrei:
Ao longe, sem rumo, lancei!

Estiquei a colcha amassada
 E nela nada não há rastro da danada
Restava a gaveta vizinha…
Estaria lá, embolada, entre papéis e versos de amor?

Nenhuma pista me levava
Uma dúvida se aguçara....
Uma calcinha usei?
No meio daquele furor?

E nesse momento tremi,
Quando nos olhos dele
"Meninos eu vi!'
A renda que esqueci

Ao não ter por onde sair
Não mais adiei,
Gritei! Rospondi:
Quero mais!

Negra Luz

domingo, 26 de abril de 2020

Exemplo









Exemplo é ensinar com gestos,
conduta e comprometimento,
não somente com palavras
que se perdem com o vento...

O que adianta reclamar de ética
quando se frauda o ponto,
mete-se um atestado,
finge-se que não é consigo?

Como se exigir o cumprimento,
se faz tudo incompleto,
não capricha nas próprias tarefas,
orgulha-se das suas pendências?

Moral se compreende teoricamente,
mas não se aprende sem se viver,
não se internaliza sem sofrer
ou se testemunha sem saber.

A lição se aprende finalmente
quando o verbo se faz carne,
o ideal sai do armário
e a promessa vira ação.


São Paulo, 07 de junho de 2013, mas pensando em um péssimo exemplo
visto em Praia do Forte em 30 de maio de 2013.

Rodolfo Pamplona Filho

sábado, 25 de abril de 2020

O mar em súplica






Minha mãe, me protege!
Tô perdendo nessa briga, não sei filtrar.
O óleo entrou em minhas ondas,
Só a você, mãe, posso reclamar.

Eu que fiz parte de belas fotografias,
Nas festas estava que fizeram pra ti saudar,
Dei alimento, fui tema de filme, novela e poesia,
30 dias eu sangro esse betume e ninguém a me cuidar

Eu que pensava ser das leis um protegido,
Sou um desvalido, contagiado, a contaminar.
Restando apenas rogar a ti a beira desse abismo:
- Vem das profundezas, minha rainha, me abraçar!

Tenho certeza de que sua força contagia.
E com você, essa ferida vai passar.
Interceda! Muda as correntes! Seja meu guia! Onda marinha serei fiel no meu caminhar!

Negra Luz

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Álbum de Figurinhas








Rodolfo Pamplona Filho

Como se diz a alguém
que ela não é mais o seu bem?
Como se faz para falar
que é o momento de separar?

A vida a dois
é um álbum de figurinhas...
A cola une
para ser eterno,
mas, com força,
dá para retirar...
mas sempre fica um pouco
do álbum na figurinha
e da figurinha no álbum...

Como se comunica
não se querer mais dividir a vida?
Como se rompe
o que era para sempre?

A vida a dois
é um álbum de figurinhas...
O tempo esmaece
o que era vivo e viçoso
e o que já foi muito gostoso
pode continuar assim
ou mudar o tom
para um quadro sem cor
ou um filme sem som...

A vida a dois
é um álbum de figurinhas...


Praia do Forte, 8 de setembro de 2017.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

As rosas de outubro







É preciso tocar nas duas rosas.
Tu as tem diante de ti.
Permitir- se adentrar nos meandros.
Profundamente, tocar- se e sentir.

Estas rosas tocadas por ti
Ganham brilho e te tranquilizarão.
Tocar-se garante o benefício
Que de câncer não morrerão.

Não ocultes de ti as tuas rosas.
São só duas!
E tuas são!
Dê lhes amor.

Toque e retoque nas flores segura.
Se algo estranho, procure o doutor.
Suas flores não serão mais só tuas,
A Medicina e todos os istas delas, certo, cuidarão com amor.

Negra Luz

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Resolução de Vida Nova







Rodolfo Pamplona Filho

Cansei!
Resolvi lutar!
Daqui em diante,
tudo vai mudar!

Quero me relacionar
com quem me olhe nos olhos
e me identifique pelo nome,
não por um número de RG, CPF,
Cartão de Crédito, CTPS,
Passaporte ou PIS/PASEP.

Eu não quero viver
com quem me pergunta como vou
e não presta atenção na resposta;
com quem arrota uma grandeza
que não é e que não tem
(como se ter algo engrandecesse alguém...)

Eu não vou fazer mais
o que não me dá prazer,
o que não me cause risos ou lágrimas,
o que não me dê vontade de repetir,
o que não me dê frio na barriga,
o que não me faça me sentir vivo...

Eu não vou mais dinheiro guardar,
como se não fosse feito para gastar...
Eu não vou me poupar
de um sabor experimentar,
de ver um filme ou curtir um show,
ou de viajar e conhecer um lugar...

Eu não vou mais tolerar
gente mal-amada e mal-comida,
que desconta seus complexos
em que está à sua volta
como se culpados fossem
da sua esperança nascer morta...

Eu não vou mais ouvir
gente que precisa, dos outros, falar mal,
que destila seu veneno ou afia suas garras
em resenhas que não constroem nada amado:
não andarei segundo seus conselhos,
não me deterei em seu caminho, nem me assentarei ao seu lado...

Jamais esquecerei
que a história é um livro aberto,
cujas páginas, porém, não se pode voltar,
mesmo quando se quer reescrevê-las,
pois palavras proferidas são flechas desferidas,
que não voltam, mesmo quando miram estrelas...

Não deixarei anestesiar
minha capacidade de me indignar...
Não descansarei...
...até você também se empolgar...
Vou viver como sempre quis...
...minha resolução de vida nova é ser feliz!

João Pessoa, 19 de julho de 2010.

terça-feira, 21 de abril de 2020

Entre quatro paredes






Vale tudo, logo cedo aprendi
Enquadrada nas minhas escolhas
Tudo vale ali

Em Lençóis listrados
Margens dos dois lados
30 linhas: início e fim

Liberto-me de todos os pecados
Permito-me em todo invadir
Me desnudo não só para mim

Passiva ou ativa
Direta ou indireta
Auxiliar como o haver no existir

Cubro as vergonhas com metáforas
Flor beijando o colibri
Cálice do orvalho de ti

E conectando os sentidos
Coerente com o sentido
Deixo me inteira fluir

A seguir, abro as portas
A realidade estampada
A mulher ocultada revelou-se bem alí

Negra Luz

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Escravas Sagradas de Korinthio








Rodolfo Pamplona Filho


No encontro entre o Egeu e o Jônico
e de dois portos importantes,
encontra-se a cidade
que não conhecia o amor

No culto à Afrodite,
entregam-se mais do que primícias,
pois é o próprio corpo o objeto
do contato, do negócio e do prazer,

proporcionando conforto e alento
a quem vem de muito longe
e não sente há muito mais

o contato com a pele aveludada
em que o sentimento é nada,
mas a entrega e satisfação totais.

Na estrada de Korinthio para Atenas, 29 de setembro de 2012.

domingo, 19 de abril de 2020

Que amor é esse?




Lea Oliveira

Que amor é esse?
Que enche o peito
Que falta o ar
Que vira música no seu olhar

Que vira noite
Que vira dia
Que passam as horas
E é alegria

Que amor é esse que hipnotiza?
Que faz de mim poeta
É você, minha princesa, Luísa
Que é mais que brincar de boneca

E não bastasse esse sonho, meu Deus,
Você transbordou os meus dias e me deu meu pequeno Mateus!

sábado, 18 de abril de 2020

O Ocaso





Rodolfo Pamplona Filho

Dos dias
Do calor
Das vidas
Do amor
De nada
De tudo
Do nada
Do mundo




Bogotá, 05 de outubro de 2013, em conexão para o Brasil, olhando o entardecer...

sexta-feira, 17 de abril de 2020

O Velho E A Flor







Vinicius de Moraes

Por céus e mares eu andei,
Vi um poeta e vi um rei
Na esperança de saber
O que é o amor.

Ninguém sabia me dizer,
Eu já queria até morrer
Quando um velhinho
Com uma flor assim falou:

O amor é o carinho,
É o espinho que não se vê em cada flor.
É a vida quando
Chega sangrando aberta
em pétalas de amor.


quinta-feira, 16 de abril de 2020

Cadáver Vivo








Rodolfo Pamplona Filho

Acordar, comer
Banhar-se, vestir
Trabalhar, beber
Deslocar-se, dormir
Não saber o que mais fazer?
Quem sabe, talvez, viver?
Ver que um dia passa
sem, de nada, achar graça
é finalmente perguntar:
será que morri e
me esqueceram de enterrar?


Salvador, 13 de junho de 2013, após uma sessão de analise junguiana.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Olha lá






Paula Yurie Abiko


Olha lá

Aquele indivíduo apontando dedo

Como se soubesse todo o enredo

Do que está por vir nesse mundo

Acha que o conhecimento do mundo

Cabe na sua cabeça apenas

Como a sua única verdade deveras

De acreditar ser o dono da verdade

Que vaidade!

Mal sabia que não conhecia

Metade do que dizia

Ou achava que conhecia

Contudo julgava os outros

Apontando-lhe os dedos frouxos

Como se todos estivessem sempre

Com seus ouvidos moucos

É absurdo

Querer sempre estar certo

Num mundo cada vez mais incompleto

Cheio de fissuras e agruras

E estes não percebiam

Que assim cada vez mais permaneciam

Fechados para explorar o entorno de mundo

Com tudo o que é mais visado

Que sarro

Até parece que quando sair desse mundo

Levará estampado em sua lápide

Todo o conhecimento e toda sua vaidade

O que vale mesmo está sendo jogado

Ao lado de tudo que nos é pautado

Para sermos na vida e almejar

De que vale suas certezas se irá agonizar

Na busca incessante do ego acreditar

Que era o único certo e sem pestanejar

O dono do mundo irá perceber

Que nessa vida só vale mesmo o que fizemos


Por merecer…


terça-feira, 14 de abril de 2020

O Prego no Caixão



Rodolfo Pamplona Filho

A última nota na canção.
O arremate da costura
O ponto final na redação
O encerramento da semeadura
O beijo de despedida
O suspiro final
A lágrima vertida
O pecado original
O Adeus na partida
O final da festa
A palavra definitiva
O que mais nos resta

Praia do Forte, 03 de junho de 2018.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

A MULHER





Ó Mulher! Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!
Quantas morrem saudosa duma imagem.
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca rir alegremente!
Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doce alma de dor e sofrimento!
Paixão que faria a felicidade.
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!

Florbela Espanca

domingo, 12 de abril de 2020

Verdades





Rodolfo Pamplona Filho

Quando estiver triste
e se sentindo só,
lembre que eu existo
só por você

Saber que você existe
é poder ter esperança
de viver um amor
e nunca mais ser triste.

Salvador, 20 de março de 2018.

sábado, 11 de abril de 2020

ANGÚSTIA






Tortura do pensar! Triste lamento!
Quem nos dera calar a tua voz!
Quem nos dera cá dentro, muito a sós,
Estrangular a hidra num momento!
E não se quer pensar! ... e o pensamento
Sempre a morder-nos bem, dentro de nós ...
Querer apagar no céu – ó sonho atroz! –
O brilho duma estrela, com o vento! ...
E não se apaga, não ... nada se apaga!
Vem sempre rastejando como a vaga ...
Vem sempre perguntando: “O que te resta? ...”
Ah! não ser mais que o vago, o infinito!
Ser pedaço de gelo, ser granito,
Ser rugido de tigre na floresta!

Florbela Espanca, em "Livro de Mágoas"

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Minha Homenagem às Mulheres







Rodolfo Pamplona Filho

Se existe algo mais perfeito
do que a beleza da mulher
ganhará não só o meu respeito,
mas também minha adoração e fé,

pois somente uma obra divina,
que deve ser reverenciada,
pode ter mais perfeita sina
do que o encanto da mulher amada.

O fascínio feminino importa
muito mais que um físico atrativo:
é o conjunto completo de uma obra,
que deixa qualquer um cativo!

A inteligência, a perspicácia,
a sutileza, o instinto,
a elegância, a espontaneidade,
o sorriso, o carinho.

Todas as mulheres são lindas!
Embora algumas não expressem
toda a delicadeza
de sua infinita grandeza.

Todas as mulheres são lindas!
Falta a muitos homens
a efetiva sensibilidade
para perceber sua complexidade.

Dizem que, atrás de um grande homem,
há sempre uma grande mulher...
Isto é um engano monumental,
pois ela nunca estará no final,

mas, sim, o caminho inspirando
ou espiritualmente comandando
o passo a ser dado ou verbo a ser dito,
a ação cantada ou verso a ser escrito...

pois nada do que o homem tentar
será feito para seu próprio prazer:
haverá sempre uma musa a encantar
as etapas de seu íntimo querer.

Praia do Forte, 08 de março de 2011.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Decifrando as asas







Negra Luz

As asas não são passageiras
Nem querem respostas ligeiras
Voar e ficar na beira
Abismo, limite, trincheira.

As asas querem caminho
Encontro, seguir, expansão
Sentir-se chama: ave condoreira
Mar, Universo, sem barreira.

As aves são mestras, oleiras
Tijolos, seguir, ganhar chão
Ser do vento: liberdade sem fronteira
Da foz para Oceanos, onda em arrebentação

A ave em mim, companheira
Alma, sentir, opção
Amar me: sem eira nem beira
Dar asas ao coração.




quarta-feira, 8 de abril de 2020

Migalhas de Carinho




Migalhas de seu carinho
como um cachorrinho
junto de sua mesa,
na esperança de, um dia,
encher minha barriga vazia
e meu coração sedento...

Salvador, 16 de janeiro de 2014


Rodolfo Pamplona Filho


segunda-feira, 6 de abril de 2020

O Tempo é o Senhor da Razão




Quantas vezes eu gostaria
de alterar a ordem do dia
e poder fazer de forma diferente
o que encontro no tempo presente.

Vejo como eu poderia encontrar alegria
onde, hoje, só vejo melancolia
e descobrir uma felicidade
que perdi pouco a pouco com a idade...

Será que é possível mudar
opções que fiz no caminhar
por não saber o que me esperava
ou o que na minha vida faltava...

Como eu poderia saber ou prever
que o destino reservaria novo prazer,
encontrando novo sentido no viver
e uma forma alternativa de ser...

Ainda terei coragem para novo desafio?
Ainda enfrentarei tudo com brio?
Conseguirei ser outro alguém?
Encontrarei um mundo além?

Dúvidas são uma constante
em uma mudança tão fulminante
e o receio não é uma temeridade
no encontro da essência de verdade!

Conheço o que já tenho e não é perfeito!
Sei o que quero e o que não mais aceito!
A esperança é o gás da Transformação
e o Tempo é o Senhor da Razão...

São Paulo, 20 de novembro de 2010.


Rodolfo Pamplona Filho

domingo, 5 de abril de 2020

Quarentena




Rosiane Alves


Pedaço esquecido de nós
Exposto à nós
Como um véu que se retira
Estamos despidos com a alma nua
Vendo em nós o retrato do abandono
A descrição do quanto fomos o que não somos
Do nosso personagem que insiste em aparecer sem ser
É conviver, É sentir o dissabor de conviver

Sem disfarces habituais
Sem nada igual
É sentir o peso do julgamento
Que fizemos do outro
E que somos obrigados a fazer de nós mesmos
De nossos fracassos

De nossas dores
Das cores de nossa áurea
Que lutamos para esconder
É se expor, é ser

Quarentena é um internamento forçado do corpo
Para curar a alma
É um desespero angústiante
Que contraditoriamente acalma
É se enxergar despido
Vencido, na própria limitação

É suportar o peso das internas emoções
É cura, É liberdade, É também descoberta e felicidade
É ser, É se conhecer é reconhecer que somos apenas humanos.

sábado, 4 de abril de 2020

Luto e Luta





Rodolfo Pamplona Filho




Luto ferozmente
contra a melancolia,
o vazio, o medo

de não ter você...
Luto diuturnamente
para não entristecer,
pra seguir vivendo
de cabeça erguida.

Luto tenazmente
para a maldita culpa
e a terrível solidão
não me consumirem.

Luto pela luta
Luto sem luto
Luto por tudo
Luto por você...

Salvador, 23 de janeiro de 2014

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Perplexidades



Ferreira Gullar: Veja repercussão da morte do escritor | Pop ...

FERREIRA GULLAR



a parte mais efêmera
de mim
é esta consciência de que existo

e todo o existir consiste nisto

é estranho!
e mais estranho
ainda
me é sabê-lo
e saber
que esta consciência dura menos
que um fio de meu cabelo

e mais estranho ainda
que sabê-lo
é que
enquanto dura me é dado
o infinito universo constelado
de quatrilhões e quatrilhões de estrelas
sendo que umas poucas delas
posso vê-las
fulgindo no presente do passado

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Triste fim?






Rodolfo Pamplona Filho


Será o fim?
Triste fim...
Na verdade, tudo muda...
Só não muda a mudança...
Tudo muda...
As mudas voltarão a florescer...
e os mudos e os mundos também...
Por aí...
Os exemplos vão ficar
e os trilhos voltarão a se encaixar...
depois...

Salvador, 24 de agosto de 2013, batendo papo com Bernardo Lima no Whatsapp..

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Acidente na sala


Ferreira Gullar – Wikipédia, a enciclopédia livre


Ferreira Gullar
movo a perna esquerda
de mau jeito
e a cabeça do fêmur
atrita
no osso da bacia
sofro um tranco
e me ouço
perguntar:
aconteceu comigo
ou com meu osso?
e outra pergunta:
eu sou meu osso?
ou sou somente a mente
que a ele não se junta?
e outra:
se osso não pergunta,
quem pergunta?
alguém que não é osso
(nem carne)
em mim habita?
alguém que nunca ouço
a não ser quando
em meu corpo
um osso com outro osso atrita?