sábado, 7 de março de 2020

Segredos

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Rodolfo Pamplona Filho

Segredos são muros,
que separam pessoas
que deviam confiar

Segredos são fossos,
que escondem nas profundezas
o que não se pode ver

Segredos são armadilhas
que ameaçam a segurança
de quem estava distraído

Segredos são inevitáveis,
mas é preciso cuidado
para não virar refém deles.

Salvador, 06 de dezembro de 2019

sexta-feira, 6 de março de 2020

Trem das cores

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Caetano Veloso



A franja da encosta cor de laranja
Capim rosa-chá
O mel desses olhos, luz, mel de cor ímpar
O ouro ainda não bem verde da serra
A prata do trem
A lua e a estrela
Anel de turquesa
Os átomos todos dançam, madruga
Reluz neblina
Crianças cor de romã entram no vagão
O oliva da nuvem chumbo ficando pra trás da manhã
E a seda azul do papel que envolve a maçã
As casas tão verde e rosa que vão passando ao nos ver passar
Os dois lados da janela
E aquela num tom de azul quase inexistente, azul que não há
Azul que é pura memória de algum lugar
Teu cabelo preto, explícito objeto
Castanhos lábios
Ou, pra ser exato, lábios cor de açaí
E aqui, trem das cores, sábios projetos:
Tocar na central
E o céu de um azul celeste celestial

quinta-feira, 5 de março de 2020

Soneto da Despedida do Apaixonado





Rodolfo Pamplona Filho

Toques delicados e sorrisos leves,
sob a brisa do mar, ao anoitecer,
e os lábios sabem exatamente o que querem
quando o adeus tem que ocorrer

Preste atenção nos meus olhos:
eles brilham feito ouro
pois desejam, como poucos,
o teu amor sem decoro.

É difícil esquecer teu gosto
e ter que aceitar novos beijos
para manter nossos postos....

Meu coração está no abismo
e anuncia, a cada esquina, sem cinismo,
que a direção pode mudar..



Salvador, 29 de outubro de 2010.

quarta-feira, 4 de março de 2020

Rosas de Sangue


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Manuel João Mansos





Os passarinhos não cantam,
perderam sua alegria.
Já não canta a cotovia,
voando sobre o arado.
Alentejo abandonado
oh terra afogada em dor,
diz-me lá terra queimada,
onde está o teu valor?
«Hoje estou escravizada,
estão meus campos solitários,
aldeias em agonia:
vieram os mercenários,
Já não canta a cotovia
a sua doce canção.
Agora só canta em mim
a Aldeia de Baleizão:
na sua voz derradeira
erguem-se clamores sem fim
àquela linda ceifeira;

Catarina,
que as tuas rosas de sangue
sejam um grito de alerta
por esta terra deserta
dos meus campos em ruína,
que os mercenários se vão!
Catarina,
das tuas rosas de sangue
as searas brotarão;
nascerá azeite e vinha
e voltará às avezinhas
a sua antiga alegria.
Então, soará de novo,
Alentejo, bem-amado,
a alta voz do teu povo:
— Esta é a Pátria minha,
onde canta a cotovia
voando sobre o arado!…»


(in Antologia de Poetas Alentejanos)

terça-feira, 3 de março de 2020

Olhando os Campos da Espanha







Rodolfo Pamplona Filho

Olhando os Campos da Espanha,
pensei em toda minha existência,
a caminho de Pamplona,
origem e destino fundidos,
sem saber o que o futuro reserva
para cada momento a viver,
cada desafio a enfrentar
e cada decisão a tomar...

Sentado horas no trem,
entretido com imagens na janela
e ouvindo meu amigo Daniel a cantar
no music player do celular,
satisfeito com o passado construído,
revi cada instante vivido,
cada batalha vencida
e cada resolução assumida...

Esperando o tempo passar,
vi-me menino carente e homem feito,
com desejos ainda a saciar
e a nutrir esperanças de voltar
a acreditar em algo a encantar
cada segundo que resta da lida,
cada tarefa a ser perseguida
e cada mudança nos rumos da vida...

Olhando os Campos da Espanha...


No trem de Madrid para Pamplona, 02 de outubro de 2012.

segunda-feira, 2 de março de 2020

Verão



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Mário Del Rey






Asas ao vento

campos de um só verde

pódios de pardais



Um aguaceiro

noite de relâmpagos


ideogramas

domingo, 1 de março de 2020

Natureza


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Rodolfo Pamplona Filho


Quando as cores da aquarela
Se tornarem uma só
Quando a vida, então bela,
Virar fogo, virar pó

Quando o verde virar cinza
E o céu não for anil
Vida não era mais vida,
Homem-bicho será vil

Quando o sangue derramado
Escorrer por minha mão
Lembrarei que, algum dia,
Já vivi em comunhão

E era belo, e era lindo
E era tudo o meu viver:
Homem-planta, homem-flor,
Homem-homem, Homem-ser

Não sabia que havia
Vida pura e sem dor
Bicho e homem, seres iguais,
Já viveram com amor

(1990)