sábado, 16 de agosto de 2025

Azulejos Quebrados (Soneto Desconectado)

 



Rodolfo Pamplona Filho


Do lixo à arte

Restos de parte

do que já serviu

e que servirá novamente


para adornar lindamente

o que outrora era feio

e, hoje, tornou-se belo,

como jamais se pensou ser...


na lógica do reciclar

azulejos quebrados

em novos formatos


de rostos, bichos e ditados,

surgindo de todos os lados,

sempre a nos encantar.



Guayaquil, 01 de outubro de 2013.

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

ARTIGOS 439, 440 E 441 DA CLT

 



Caros empregadores ou empresários

É lícito ao menor

Segundo nos diz o legislador

Firmar recibo pelo pagamento dos salários


Tratando-se, porém, de rescisão do contrato de trabalho minha querida

É vedado ao menor de 18 anos dar

Sem assistência dos seus responsáveis legais, é bom frisar

Quitação ao empregador pelo recebimento da indenização que lhe for devida


Dispõe a Consolidação

Que contra os menores de 18 anos

Incapazes seres humanos

Não corre nenhum prazo de prescrição


O quadro a que se refere o item I do então

Artigo 405 será revisto bienalmente

É o que está explicitamente

Disposto na nossa Consolidação.


JORGE DA ROSA


quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Pequenas Verdades Acadêmicas (em 3 linhas)

 


Rodolfo Pamplona Filho


Desconfie de quem

não consegue tratar

um garçom com educação.


O que é combinado

verdadeiramente

não é caro ou barato.


Títulos só podem

ser menosprezados

por quem os detém.


Destacar-se em certas atividades

não significa ter cultura para

discutir outros assuntos.


Sisudez não é sinônimo de seriedade,

mas respeito e educação ajudam

a demonstrar compromisso.


Formalidade não garante resultado,

mas permite a sensação de que

foi feito o que se podia fazer.


Displicência com a liturgia

transparece mais indolência

do que domínio da matéria.


Conteúdo e forma são dialéticos:

um decorre e necessita do outro

para alcançar a verdadeira síntese.



Salvador, 06 de outubro de 2013.

terça-feira, 12 de agosto de 2025

IF

 




Poema "If", de Rudyard Kipling, em tradução de Guilherme de Almeida.


Se


Se és capaz de manter a tua calma quando

Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;

De crer em ti quando estão todos duvidando,

E para esses no entanto achar uma desculpa;

Se és capaz de esperar sem te desesperares,

Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,

Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,

E não parecer bom demais, nem pretensioso;


Se és capaz de pensar --sem que a isso só te atires,

De sonhar --sem fazer dos sonhos teus senhores.

Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires

Tratar da mesma forma a esses dois impostores;

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas

Em armadilhas as verdades que disseste,

E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,

E refazê-las com o bem pouco que te reste;


Se és capaz de arriscar numa única parada

Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,

E perder e, ao perder , sem nunca dizer nada,

Resignado, tornar ao ponto de partida;

De forçar coração, nervos, músculos, tudo

A dar seja o que for que neles ainda existe,

E a persistir assim quando, exaustos, contudo

Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";


Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes

E, entre reis, não perder a naturalidade,

E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,

Se a todos podes ser de alguma utilidade,

E se és capaz de dar, segundo por segundo,

Ao minuto fatal todo o valor e brilho,

Tua é a terra com tudo o que existe no mundo

E o que mais --tu serás um homem, ó meu filho!


If


If you can keep your head when all about you

Are losing theirs and blaming it on you,

If you can trust yourself when all men doubt you

But make allowance for their doubting too,

If you can wait and not be tired by waiting,

Or being lied about, don't deal in lies,

Or being hated, don't give way to hating,

And yet don't look too good, nor talk too wise;


If you can dream--and not make dreams your master,

If you can think--and not make thoughts your aim;

If you can meet with Triumph and Disaster

And treat those two impostors just the same;

If you can bear to hear the truth you've spoken

Twisted by knaves to make a trap for fools,

Or watch the things you gave your life to, broken,

And stoop and build 'em up with worn-out tools;


If you can make one heap of all your winnings

And risk it all on one turn of pitch-and-toss,

And lose, and start again at your beginnings

And never breath a word about your loss;

If you can force your heart and nerve and sinew

To serve your turn long after they are gone,

And so hold on when there is nothing in you

Except the Will which says to them: "Hold on!"


If you can talk with crowds and keep your virtue,

Or walk with kings --nor lose the common touch,

If neither foes nor loving friends can hurt you;

If all men count with you, but none too much,

If you can fill the unforgiving minute

With sixty seconds' worth of distance run,

Yours is the Earth and everything that's in it,

And --which is more-- you'll be a Man, my son!

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Equinócio

 




Rodolfo Pamplona Filho


Março ou setembro:

não importa se me lembro

qual é realmente

o semestre presente

ou a estação do ano!

O fundamental, sem engano,

é aproveitar o momento

em que cessa todo lamento

para apenas presenciar o Sol,

quando ele está mais iminente,

sentindo-se, de novo, gente

e nunca mais se sentir só...



Quito, 03 de outubro de 2013.

domingo, 10 de agosto de 2025

Emoção sem perder a noção




>> (Vanessa Bacilieri)


>> Emoção sem perder a noção

>>

>> A poesia é muito linda

>> Sempre muito bem vinda

>> Mas em mim serviu de guarida

>> A um amor que não tem mais vida

>>

>> E por assim dizer que virou ferida

>> Não me arrependo da minha vida

>> A ela devo tudo que me fez sentida

>> Porque na vida só nos resta poder sentir a vida

>>

>> Ter o que lembrar

>> E até mesmo porque chorar

>> O sorriso não seria tão sincero

>> Se tudo que fiz não foi porque quero

>>

>> Quero nessa vida ter o que recordar

>> Daqueles beijos que me fez sonhar

>> E com muitos mais planos poder receber 

>> O sentimento belo que me faz florescer

>>

>> Virar um jardim

>> Flor que perfuma além de mim

>> Foi Ele quem mandou

>> E meu filho em mim originou

>>

>> Tenho hoje o amor mais sincero

>> E por isso se fez mais belo

>> Não que se merce o amor

>> Só que esse não veio com dor

>>

>> Expectativas além da vida

>> Deixo assim aquilo que pensei além da partida 

>> Hoje cansei de acompanhar 

>> Quero minha família agora desfrutar

>>

>> E todo suor que até então derramei

>> Coloco nos versos que sempre chorei

>> Nas mãos do Senhor deixo o destino

>> E nas minhas carrego todas as chances em desatino

>>

>> Fazer da vida uma roda gigante

>> Torna da mulher um ser inconstante

>> Mas se inconstante também é a vida

>> Constante será a dor da ferida

>>

>> Voltar ao passado

>> Ainda que revelado

>> Não trará a nenhum ser acordado

>> Nada além de um culpado

>>

>> Mas se culpado não há

>> O tempo perdido estará

>> Então tem razão

>> Aquele que segue em frente com seu alazão

>>

>> Com folha e papel na mão

>> Viverei qualquer emoção

>> Em qualquer verso farei sentido

>> Àquilo que não foi esquecido

>>

>>



sábado, 9 de agosto de 2025

O Ocaso





Rodolfo Pamplona Filho



Dos dias

Do calor

Das vidas

Do amor

De nada

De tudo

Do nada

Do mundo



Bogotá, 05 de outubro de 2013, em conexão para o Brasil, olhando o entardecer...

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Ronin

 




Rodolfo Pamplona Filho



Samurai errante

que não serve

a nenhum mestre,

além de si mesmo...

Será tão diferente

do resto da humanidade?


No Vôo do Equador para o Brasil, em 05 de outubro de 2013,


lendo sobre Wolverine e a tradição japonesa dos samurais...

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

ETERNA






Juraci Alves



Não imaginava e nem esperava

Que a aurora trouxesse todo este brilho

Sua graça, carinho e harmonia

Que reflete o seu coração


Seus lábios também brilham

Seu olhar firme me faz sonhar

Sempre vivendo verá

A aurora e o brilhar


Você não é estrela

Porque não tem luz própria

É brilho que reflete nela

Ousada, bela e preciosa, princesa do meu olhar


Na claridade que irradia do fundo do seu coração

Quem sabe um dia

Contemplar seu bilhar olhando nos seus olhos

E sentir a glória que um homem pode sonhar.


Lauro de Freitas/BA, 16/08/2013

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

São João na Pandemia

 







Rodolfo Pamplona Filho



Festa junina na pandemia

é diferente do São João

quando os dias da gente

eram apenas “normais”


Os amigos e as famílias,

como antes, não estão

presencialmente

ao lado e juntos mais


Se não dá mais para abraçar,

isso não quer dizer

que a vontade de cantar

tenha que desaparecer


Se não dá mais para beijar,

isso não quer dizer

que a ausência do tocar

anule o desejo de viver


Hoje, pode não ter dança

ou mesmo um brinde com quentão,

mas sempre terá a esperança

que aquece o coração


de que, se não abraçados

fisicamente,

continuaremos ligados

espiritualmente,


e isso renova a alegria

e o desejo por dias melhores,

que é o combustível da folia

e a ordem para que não chores


pois, na nossa folia,

pode até faltar licor,

mas, nunca na vida,

faltará o amor.


Salvador, 24 de junho de 2020.

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Not a dreamer anymore





(Negra Luz)


Não mais uma sonhadora.

Só uma sobrevivente,seguindo adiante.

Como Moisés, vou atravessando meus mares.

Haveria uma outra terra prometida?

Receberia o maná da Igualdade?

Um mundo cujos sobreviventes sejam para além dos humanos?


A humanidade, que aí está, falhou.

Se sangra, sangra e ver sangrar.

Tudo com o mesmo sentir.

Ligamos o módulo: Não tem jeito! Melhor nem ver! Que posso fazer? Eu sei o que é isso!

Tudo igual! 

Um mesma frequência!

Uma mesma sintonia! 

Agonia.

Dor.

Tudo conforme!


Inconformo, não depositando moedas nas fontes dos desejos.

Sigo apenas

Silente,

Tento não sintonizar as rádios que mitigam um Mundo de dor.


Minha frequência está aí 

Nas feridas da Mulher,

Na dor dos Pretos,

Na fome,

Nos hospitais ,

Nos esquecimentos.

Ondas longas, em curtas memórias,

Encapsularam os sonhos dessa vida aqui.



segunda-feira, 4 de agosto de 2025

A raiva é a minha kryptonita

 




Rodolfo Pamplona Filho



Sou calmo e manso

como Bruce Banner

Sou gentil e educado

como Clark Kent

Mas não há super poder

que não tenha

a sua fatal antípoda

e, de todos os sentimentos,

a raiva é minha kryptonita.


Salvador, 28 de abril de 2020.

domingo, 3 de agosto de 2025

Sim, tudo.







(Negra Luz)



Tudo estalo.

Tudo audiência.

Tudo click.

Tudo emoji.

Tudo Bauman.

Tudo calefação.

Tudo João!

Tudo George!

Tudo Miguel!

Tudo triste.

Tudo “migué”.

Tudo RACISMO.




sábado, 2 de agosto de 2025

Alegria




Rodolfo Pamplona Filho


Alegria nunca é demais:

Não há limites para sorrir!

Quem poupa alegria

despreza a energia

e a esperança de ser feliz.


Salvador, 11 de fevereiro de 2020

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

AMARGO PRESENTE-PASSADO

 






A caravela ancorova em outras terras

O bramido da revolta ecoava pelo verde intocado

Os sonidos das correntes esmorecia o belicoso  

Os irados resvalavam sobre os traidores

Os olhares fixos teciam uma despedida

Suas almas saudosistas, mortas sobre o azul pairavam

O mar se quebrava em dois

Gritam os porões para a imensidão

Bramidos de guerra que se enfraqueciam 

- Vermelho de dor, toma de  trevas este azul atlântico!

"Mãe gentil", verde de resquícios amarelos

Tu que recepciona os acorrentados

Por que traístes aqueles que por ti foram adotados?

Sangue escorre pelos que lutam

Fazem fronte os revoltados

"Liberdade, liberdade!" Onde ficas para que ti alcancem?

A dança e cantos guardam a saudade do passado

A força esbraveja dentro dos que tem esperança

Até que eis os enlaces estraçalhados

Livres estão os que foram escravizados

Mas contemporaneidade  que os abarca, onde estão teus direitos?

És tu uma farça moralista? 

Sociedade, por que encarcera os livres?

Por que matas os que lutam por ti?

Por que negas carinho para os que querem amor?

Respeito para os que do alto exigem

Prisão para aqueles que embaixo vivem

Por que essa regra de tamanha estranheza?

Persistentes estigmas perversos aprisionam os iguais.

Tristes desses que lançam para longe benéficos ideais. 

"Igualdade, igualdade" onde ficas para que ti alcancem?



PAULO HENRIQUE NOVAIS SANTOS

quinta-feira, 31 de julho de 2025

“Cidadão não. Engenheiro civil, formado. Melhor do que você"




Rodolfo Pamplona Filho


“Cidadão não.”

Desde quando

a profissão

é melhor

do que a satisfação

de ser tratado

com a dignidade

de ser parte da cidade?


“Engenheiro civil, formado.”

Desde quando

alguém pode ostentar

uma qualificação

sem ter sequer

a sua graduação?


“Melhor do que você"

Desde quando

a obtenção

de uma formação

torna um ser humano

melhor do que outro?


Tempos difíceis

em que os preconceitos

saíram das mentes abjetas

para se tornar parte

de algumas metas....


Tempos complicados

em que a discriminação

soa como ostentação

de desprezar a simpatia,

ignorar a empatia,

desconhecer a alteridade

e rir da solidariedade.


Salvador, 05 de julho de 2020, uma segunda-feira de perplexidade...

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Vazio de amor




 (Negra Luz)



A gaveta após a transferência

A catedral em geladeira

A lixeira depois das 10

A primeira faxina na casa

Vazios


As férias escolares

O cinema desativado

O picadeiro sem palhaços

O tablado antes do primeiro ato

Tudo vazios


A vida que não vingou

O corpo que se violentou

O coração depois de uma grande dor

As ruas quando o Mundo se isolou

O Tempo em que não se amou

Profundos vazios


Acomodar-se com o que está desenhado

As estrofes descrevem os espaços

Lacunas que tenho negado

E mesmo ouvindo almas ao meu lado

O silêncio me chama ao vazio:

Um imenso vazio de amor.

terça-feira, 29 de julho de 2025

Alento

 



Rodolfo Pamplona Filho



A sensação de dever cumprido

A lembrança de um amor vivido

A esperança de um futuro melhor

A certeza de que não sonho só

Tudo isso vai me dar um alento

neste dia turbulento


Salvador, 02 de junho de 2020.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

O SILÊNCIO DA POESIA

 






Marco Mendes


Silencia o espírito,

nenhuma batida o coração.

Estarei morto ou pensativo?

Onde estão as emoções?

Frustrado o poeta se afoga,

no mar da desilusão.

Na escuridão do fundo,

nenhum lume, só solidão.

Teste, teste, teste...

a verdade é inconteste.

Enquanto a poesia dorme,

o poeta está sofrendo.

domingo, 27 de julho de 2025

Alteridade





Rodolfo Pamplona Filho



O segredo da real felicidade

é conhecer a dor do outro

e, com isso, vibrar com seus triunfos

e ser solidário com suas derrotas.

Viver em desertos particulares

é a fórmula mais fácil

para ser infeliz

no gozo solitário

de seu prazer íntimo,

que desconhece que

a maior sedução existente

é o intercurso de almas...


Salvador, 29 de janeiro de 2020.

sábado, 26 de julho de 2025

Santa Sabedoria

 




Rogério Medeiros


Santo Antônio, ou

Santo Antoninho,

Como lhe chamam

Os portugueses

Em Lisboa,

Terra natal.


Santo Antônio,

Discípulo de São Francisco,

O santo da fraternidade

E da natureza.


Santo Antônio,

O milagreiro

E pregador.

A mostrar que

Também a sabedoria,

É uma forma de santidade.


Santo Antônio lisboeta,

Lembrai de nós brasileiros,

Dos tantos Antônios que temos,

Por aqui e além-mar.



E traga sua sabedoria,

Para aplacar a discórdia,

Que ameaça nos liquidar.

Amém.



Feliz 13 de junho.


sexta-feira, 25 de julho de 2025

Anne

 





Rodolfo Pamplona Filho


Um perfeito cemitério

de esperanças enterradas,

perdidas como

Grandes palavras

(que) são necessárias

para expressar grandes ideias

Você jura ser minha amiga

para todo o sempre?

Dormir numa árvore

à luz da lua

é a compensação pela

ansiedade dolorida

da esperança em vão.


Salvador, 19 de junho de 2020.

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Depois, O Arco-íris

 




Negra Luz




Tempestades que me cercam

Ecoam maiores do que são.

Ouço como tambores rufando,

Apenas cânticos de libertação.


Visões de ondas gigantes,

Devastando o meu coração,

Só gotas de orvalho ao pé do ouvido,

Tilintar da minha emoção.


O farol girando sem rumo,

Sem apontar para onde devo ir.

Nada demais, só sinais.

Cada passo indica para onde se deve ir.


Há lama na estrada,

Fios em curto a atravessar.

Quando no meio do caminho há pedras,

Pare, pense e se encontrará.


Os raios que balançam,

Embalam a sua razão,

Aguçam os seus medos retidos,

Mas iluminam a sua ação.


Depois da tempestade

Alastrada dentro de ti,

Sentirá o arco-íris,

Espectro de vida, nascentes brotando em ti.



quarta-feira, 23 de julho de 2025

Arraia no ar não tem dono





Rodolfo Pamplona Filho


Arraia no ar

não tem dono:

é de quem primeiro pegar

e sair soltando!

Como uma oportunidade que surge,

como um amor que nasce,

como uma ideia a desenvolver,

como um poema a recitar...


Arraia no ar

não tem dono:

é de quem primeiro pegar

e sair soltando!


Salvador, 02 de fevereiro de 2020.

terça-feira, 22 de julho de 2025

Memórias da minha tradição

 





Negra Luz




A flores em crepom na mesa.

No teto, as bandeirolas.

No xote, chamegos.

No xaxado, estórias.

Baião ou sertanejo.

Quentão mandingueiro.

O povo da roça saindo à chita,

Dançando quadrilha em busca de glória.

Na mesa, a fartura:

Canjica, milho cozido,

Bolo de carimã e de aipim.

Amendoim,nem te conto, farinha para mim.

Sou nordestina.

Junina de coração.

Os fogos, que em mim acendem,

Formam fogueiras de emoção.

Giro o Mundo, nada esqueço.

Essa a minha tradição.

Era janeiro!

Era verão!

O sol altaneiro!

Tudo memórias!

Tudo saudade de meu São João!

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Ciência e Consciência





Rodolfo Pamplona Filho




Uma coisa é a ciência,

outra é a consciência.

A primeira tenta explicar pergunta

A segunda já afirma respondendo

Uma decorre de consenso

Outra do próprio senso

Uma é absolutamente infinita

Outra abrange todo o espaço disponível

Mas tudo que quer a ciência

é, um dia, virar consciência

na mente de quem não lutou por ela.


Salvador, 05 de fevereiro de 2020.

domingo, 20 de julho de 2025

O fim e a glória





Rogério Medeiros




Fim de mandato.

Não foi fácil

Presidir um tribunal eleitoral.


Muitas aflições.

Pandemia do coronavírus,

A pior delas.


Problemas internos,

Pressões externas.

O poder é sempre solitário.


Decidir, eis o desafio.

Coragem e integridade,

Sempre.


Já dizia Einstein:

Uma hora namorando,

Parece um minuto;

Um minuto,

Sentado sobre um formigueiro,

Parece uma hora...


Fiquei durante um ano

Sentado sobre um formigueiro.

Pareceu-me uma eternidade.


Fiz o que pude e

Creio que fiz bem.

Não fui perfeito, ninguém é.


Agora, recordo Tom Jobim e

Vou viver a derradeira glória do ser humano:

Andar nas ruas,

Como um ilustre desconhecido.



sábado, 19 de julho de 2025

Consulta

 




Rodolfo Pamplona Filho


Consultar é uma atitude sofisticada

em uma relação a dois

Por vezes, a ação mais delicada

é dar nome aos bois.

Perguntar e esperar a resposta

é a prova definitiva

de que a opinião alheia Importa

e que o que se vai fazer

não é fruto de um só querer,

mas resultado de um conviver.


Salvador, 09 de abril de 2020.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Fui Eu

 









Fui eu esse menino que me espia

– melancólico olhar, sereno rosto,

postura fixa e o todo bem composto –

no retrato que o tempo desafia.


Fui eu na minha infância fugidia

de prazeres ingênuos, e o desgosto

de sentir tão efêmera a alegria

bem depressa mudada em seu oposto.


Fui eu, sim; mas o tempo que perpassa

e tudo altera nem sequer deixou

um grão de infância feito esmola escassa.


Fui eu; e da figura só ficou

o olhar desenganado na fumaça

em que a criança inteira se mudou.


abril 1998


(De Sentimento da Morte – 2003)


Poema de Fernando Py (1935-2020)

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Crianças feridas

 





Rodolfo Pamplona Filho


Crianças feridas

se reconhecem reciprocamente.

Encontros de sensibilidades

na carência de amor

e de reconhecimento.

Na precisão

do olhar do outro

com bons olhos.

No reconhecimento

não por ser brilhante,

mas por ser específico.

Ser visto com olhos normais

se limita ao senso comum;

os bons olhos veem

apenas o que é único.


Salvador, 12 de fevereiro de 2020

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Soneto





Sânzio de Azevedo



Há muito tempo, muito tempo mesmo,

sentisse uma tristeza ou uma alegria,

brotavam-me da pena, às tontas, a esmo,

rastros de poema, cacos de poesia...

É claro que nem tudo que me vinha

com maior ou menor facilidade,

ao fim e ao cabo, na verdade tinha

a mesma altura, a mesma qualidade.

Mas escrevia. Hoje, bem mais distante

ficou aquilo que era minha meta.

Somente a inspiração rara e inconstante

é que me diz que ainda sou poeta.

Já nem sei bem o que daria agora

para escrever poemas como outrora.



terça-feira, 15 de julho de 2025

Arrogância na Pandemia

 




Rodolfo Pamplona Filho



“Sabe com quem

você está falando?

Não entende bem

quem está no comando?”


Arrogância

Espírito mau

Petulância

Cara de pau

Dizer: não fiz nada!

Tripudiar

Dar carteirada

Humilhar

Ter a habilidade

de incomodar

autoridades

para livrar

a própria cara

e mandar colocar

no seu devido lugar

quem está

apenas a cumprir

o seu dever

de servir...


E toda essa empáfia

de desfazer do trabalho alheio:

Jogando as multas na cara

de quem mexeu no vespeiro

é somente para arrotar

a sua condição especial

de cidadão exemplar

que defende o social

e que, por isso, é vítima,

e não agressor...

em uma farsa ilegítima,

um verdadeiro complô,

envolvido em um esquema

decorrente do sistema

do que se joga no ventilador...


Salvador, 19 de julho de 2020.

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Mãe

 




Poema de Adriano Espínola,

in: Praia provisória, 2006




De terra a tua voz,

de terra os teus gestos,

de terra a tua bênção,

de terra a tua mágoa,

de terra os teus restos

agora enraizados:

árvore crescendo

às avessas - lá onde

tudo começa e finda:

no silêncio do sangue

que me dói ainda.



domingo, 13 de julho de 2025

(Re)Encontros Virtuais na Pandemia

 




Rodolfo Pamplona Filho


Há tanto tempo

que eu não te via

que parecia

uma lembrança

de um mundo distante...

Mas, neste instante,

parece que foi ontem

que me despedi de nosso papo,

que disse até amanhã,

que marcamos uma saída,

que vivemos a nossa vida...

Um brinde ao reencontro,

ainda que virtual,

pois, em tantos desencontros

da quarentena presencial,

há a plena certeza

de uma única fortaleza:

sempre volta a alegria,

até mesmo na pandemia,

pois o isolamento é efetivo,

mas nunca precisará ser afetivo...


Salvador, 28 de junho de 2020.

sábado, 12 de julho de 2025

Nicanor e seu Cavalo

 




Poema de Carlos Nejar (1939-)



Nunca vi ninguém olhar

com tal ternura um cavalo

e um cavalo navegar

nos seus olhos, desviá-lo

para dentro, onde é mar

e o mar, apenas cavalo.

Nunca vi ninguém olhar

nicanor naqueles olhos

que pareciam findar

onde os espaços se foram.

Nicanor sabia olhar

sem o menor intervalo

como lhe fosse apanhar

a toda brida, os andares.

E se podiam falar

num trote pequeno ou largo,

com rédea de muito amparo,

o corpo estando a montar

a eternidade cavalo.



sexta-feira, 11 de julho de 2025

Amores na Pandemia

 





Rodolfo Pamplona Filho




A pandemia traz terrores,

mas também renova amores,

pois, por medo da solidão,

amores vêm e vão,

na busca de companhia

ou apenas dormir de conchinha,

pois o amor que sobrevive ao isolamento

persiste infinitamente em seu belo momento.


Salvador, 28 de junho de 2020.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Off price

 







Que a sorte me livre do mercado

e que me deixe

continuar fazendo (sem o saber)

fora de esquema

meu poema

inesperado


e que eu possa

cada vez mais desaprender

de pensar o pensado

e assim poder

reinventar o certo pelo errado


Ferreira Gullar. Em alguma parte alguma. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010.

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Arte na Pandemia

 





Rodolfo Pamplona Filho



Aprendemos a viver

sem bares e restaurantes,

sem coisas que fazíamos antes,

mas não conseguimos

abrir mão da poesia,

do sentimento de alegria,

da música que contagia,

da arte que nos inebria...

Se há algo que se aprendeu

no isolamento da pandemia

foi que a arte sempre vive

e sempre será vida

no nosso dia-a-dia.


Salvador, 28 de junho de 2020.

terça-feira, 8 de julho de 2025

Receita de poema

 



Antonio Carlos Secchin.


Um poema que desaparecesse

à medida que fosse nascendo,

e que dele nada então restasse

senão o silêncio de estar não sendo.


Que nele apenas ecoasse

o som do vazio mais pleno.

E depois que tudo matasse

morresse do próprio veneno.



segunda-feira, 7 de julho de 2025

Cabelo na Pandemia

 




Rodolfo Pamplona Filho


Na pandemia,

muitas coisas

crescem

sem parar

É o medo,

o receio

ou mesmo o terror.

Mas, abstraindo

o horror,

melhor falar

de uma coisa

com menos

(ou tanto)

terror!

É o cabelo que,

pelo lockdown,

não para de

me deixar mal!

Cresce, cresce,

Sem parar

Brancos

Assumidos

Grandes

Sem pentear

Sem pintar

Sem cortar

Sem controle

Sem ficar

no seu lugar...

Mas, aí dele,

pois, um dia,

voltarei

a cortar!

E, nesse dia,

hei de me vangloriar:

meu cabelo,

no espelho,

poderei olhar!


Salvador, 28 de junho de 2020.

domingo, 6 de julho de 2025

Ser Idoso

 

 





 




Rodolfo Pamplona Filho




Terceira idade

Melhor idade

Qualquer idade


Descobrir-se em um mundo

diferente daquele

que presenciou na infância.


Conhecer aparelhos

que seus descendentes

dominam desde criança.


Frequentar mais funerais que batizados

e ir a casamentos de pessoas,

que poderiam ter sido

seus pajens ou damas de honra...


Falar de remédios e dores

e não ser conversa desagradável...

Ou descrever certos horrores

não ser assunto impublicável...


Chamá-lo de tio, avô ou senhor

e não se incomodar com isso...

Ficar feliz ou envaidecido

quando é chamado de moço

ou quando se lembram

de feitos seus,

realizados há mais de uma década...


Viver o decurso do tempo...

que leva cabelos e traz peso,

mas propicia a sabedoria

e quilometragem da experiência...



Ser idoso não é bom ou ruim,

mas, sim, um estado de fato...

Tornar-se idoso é melhor, enfim,

do que perecer jovem no passado.



Salvador, 05 de maio de 2011.

sábado, 5 de julho de 2025

A água em você



 


(Negra Luz)


Me diga que não precisa pensar na vida.

Me diga que não precisa pensar em você.

Se a resposta certa é o que espero,

Então me diga que pensa na água,

Ela está em você.

A água está em em mim

Está em você.

Sem ela, a fonte da vida é rio que seca.

Ressecam-se a fauna e a flora

E todo viver. 


Oxum e Yemanjá tem seus filhos

E abençoam com água

Salgada ou doce,

Abençoam o nosso viver.


Se tens fé nas Águas,

Da água deve cuidar,

Pensar nas nascente, 

Nos mares 

E nas suas vidas.

Em não poluir, revitalizar,

Proteger o que temos

Rever desperdícios e perdas ajudam a resolver.



Se já bebeu água com sede,

Sabe o que é não ter...

Por um segundo e urgimos sem ela.

Imagine o pior dos mundos sem a ter!


Me diga que não precisa pensar na vida.

Me diga que não precisa pensar em você,

Se a resposta certa é o que espero,

Então me diga que pensa na água,

Ela está em você.


sexta-feira, 4 de julho de 2025

Desculpa Furada (Viva a Cultura de Vitimização!)







 Rodolfo Pamplona Filho




Nada do que eu faço é culpa minha!


Toda as minhas influências


e paradigmas comportamentais


ensejaram a internalização


de um gestalt disfuncional!


Sem o devido planejamento,


não há como desenvolver!


Meu comportamento viciado


é fruto de um processo doentio


de codependência forçada!


Preciso urgentemente de


um tratamento holístico integral,


sem internamentos compulsórios,


mas, sim, como resultado


de um diálogo habermasiano


de construção comunicativa


de um consenso democrático


que me permita exercitar,


sem condicionamentos,


a autonomia da vontade...


Sem isso, não há


como responder


por qualquer ato,


pois todo resultado


foi contaminado


pelo desrespeito


da minha individualidade...




Viva a Cultura de Vitimização!








Praia do Forte, 03 de agosto de 2013, lendo Calvin...

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Amor Feinho





Adélia Prado




Eu quero amor feinho.


Amor feinho não olha um pro outro.


Uma vez encontrado é igual fé,


não teologa mais.


Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo


e filhos tem os quantos haja.


Tudo que não fala, faz.


Planta beijo de três cores ao redor da casa


e saudade roxa e branca,


da comum e da dobrada.


Amor feinho é bom porque não fica velho.


Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:


eu sou homem você é mulher.


Amor feinho não tem ilusão,


o que ele tem é esperança:


eu quero um amor feinho.


quarta-feira, 2 de julho de 2025

Amor sem promessas

 



Rodolfo Pamplona Filho


Quando se ama,

fazem-se promessas,

como se houvesse necessidade

de verbalizar

que se pode fazer tudo

por amor


Mas prometer gera expectativas

que, quando não realizadas,

causam uma frustração,

como se o amor perdesse força

por uma promessa não cumprida.


É olhar uma parte pelo todo,

o acessório pelo principal,

o detalhe pelo conjunto,

o universo por um lugar

a vida por um dia


Amar não exige promessas

Amar exige amar

Amar sem promessas

Amar, simplesmente amar.




Salvador, 06 de julho de 2018.


terça-feira, 1 de julho de 2025

A vida




Camilo Martins Neto



Mergulho no rio 


Correnteza à baixo


Nadando de frente


Ora de lado


Outras de costas


Enfrentando tudo


Basculhos, pedras


Cortantes folhas,


Águas turvas,


Peixes vorazes,


Cobras venenosas,


Peçonhentos tantos


A desanimar a lida.


Mas, nado, e, nada


Me impede a ida


Quero chegar ao


Outro lado da vida.


Canso, descanso


E no remanso fico


A boiar na água


Mansa do meu rio.


Rio que vai e nunca


Mais volta, tal como


Eu que nado, nado...


E vou, pra nunca


Mais voltar à mesma


Água que se foi.


É assim, braços


Cansados, pernas


Cansadas, corpo


Cansado, o tempo


Que também se foi...


Estou quase chegando


Ao outro lado do rio


Nado e nada me


Impede de pisar


Em solo firme


E vem lembranças


Da travessia 


Quanta luta e o


Suor se misturando


Com a água do rio,


As lágrimas a


Aumentarem-lhe


O volume e juntar-se


À água salgada


Do velho mar.


Falta pouco e


Nesse pouco


Vejo o quanto


Foi importante


Nadar e não


Deixar que nada


Impedissem as


Sagradas braçadas


Que além das


Forças, minhas e


Do rio, foram


Vencendo cada


Obstáculo quase


Intransponíveis


Da travessia do rio.


E continuo nadando


E dando tudo de


Mim para vencer


A correnteza final


E chegar e sorrir


E chorar de alegria


E descansar afinal


Merecidamente


Eternamente, pois


Assim é a vida. 

segunda-feira, 30 de junho de 2025

Fato Consumado


 





 Rodolfo Pamplona Filho




Não posso

me deixar consumir

pelo fato consumado

Não posso

chorar compulsivamente

pelo leite derramado

Não posso

fazer voltar

as águas do rio

Não posso

tirar a roupa 

e reclamar do frio

 


Salvador, 18 de julho de 2024.

domingo, 29 de junho de 2025

Os Pastos da Razão

 

 




Chico Settineri




       Deboche delírio fêmea...


       Piratas especialistas


       de naus


        do Descobrimento.


       Diâmicos, cruéis, polivalentes


       cruzamos juntos, tontos e doentes


       os passos (tentem!)


       da paixão.

sábado, 28 de junho de 2025

Feminismo Negro

 





Rodolfo Pamplona Filho


 


No coração da luta, onde a voz ressoa,

celebra-se a visibilidade da pessoa,

que não pode mais ficar calada,

nem muito menos ser silenciada.


 


Das sombras do passado, ergue-se altivo

um movimento imparável e decisivo.

Contra a opressão, levanta-se em união,

celebrando a força, a coragem e a visão.


 

Mulheres negras, guerreiras de luz,

quebram as correntes, desafiam a cruz.

Nas ruas, palcos e páginas da história,

O feminismo negro escreve sua trajetória,

reivindicando espaço, justiça e igualdade,

empoderando vidas, com amor e dignidade.

 


É a voz que ecoa, em cada canto e esquina,

A luta pelo direito de ser quem se destina.

Feminismo negro, raiz de resistência e poder,

estrela que ilumina o caminho a percorrer.


 


Salvador, 8 de junho de 2024.

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Recado

 



Fagundes de Oliveira





Demonstra com doçura o teu amor,

Num gesto apenas, sem falar, só pensa

O quanto o sentimento é uma presença

Que adorna a vida e a encanta em seu valor.



O orvalho da manhã tem um sabor

De vida nova e uma esperança imensa.

O tempo vai passando e a recompensa\

É igual a um beijo dado com calor.



Procura ser feliz - a vida é leve

Não pára e não dá tempo à indecisão;

É um vento que acalenta enquanto é breve.



O sonho vai passando e na verdade

É uma janela aberta à imensidão

Com gosto de esperança e de saudade.