domingo, 31 de agosto de 2025

Agonia (Soneto pelo avesso)


 







Rodolfo Pamplona Filho






Agonia


Angústia


Tensão




Stress


Impotência


Confusão




Vontade de sumir


e nunca mais aparecer...


Desejo sincero


de nunca mais acontecer...




Pensar se há alternativa


para o que não se soluciona


com toda a fé na medicina


em questão que não se equaciona




Salvador, 26 de fevereiro de 2012.

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Amor sem promessas





Rodolfo Pamplona Filho




Quando se ama,


fazem-se promessas,


como se houvesse necessidade


de verbalizar


que se pode fazer tudo


por amor




Mas prometer gera expectativas


que, quando não realizadas,


causam uma frustração,


como se o amor perdesse força


por uma promessa não cumprida.




É olhar uma parte pelo todo,


o acessório pelo principal,


o detalhe pelo conjunto,


o universo por um lugar


a vida por um dia




Amar não exige promessas


Amar exige amar


Amar sem promessas


Amar, simplesmente amar.




Salvador, 06 de julho de 2018.


quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Aquarela do Brasil

 



Ary Barroso




Brasil


Meu Brasil brasileiro


Meu mulato inzoneiro


Vou cantar-te nos meus versos


Ô Brasil, samba que dá


Bamboleio, que faz gingá


Ô Brasil do meu amor


Terra de Nosso Senhor


Brasil! Brasil!


Prá mim… prá mim…




Ô, abre a cortina do passado


Tira a Mãe Preta do serrado


Bota o Rei Congo no congado


Brasil! Brasil!


Deixa cantar de novo o trovador


À merencória luz da lua


Toda canção do meu amor


Quero ver a “Sá Dona” caminhando


Pelos salões arrastando


O seu vestido rendado


Brasil! Brasil!


Prá mim… prá mim…




Brasil


terra boa e gostosa


Da morena sestrosa


De olhar indiscreto


Ô Brasil, verde que dá


Para o mundo se admirá


Ô Brasil do meu amor


Terra de Nosso Senhor


Brasil! Brasil!


Prá mim… prá mim…




Ô, esse coqueiro que dá côco


Oi, onde amarro a minha rêde


Nas noites claras de luar


Brasil! Brasil!


Ah, ouve essas fontes murmurantes


Aonde eu mato a minha sede


E onde a lua vem brincá


Ah, este Brasil lindo e trigueiro


É o meu Brasil brasileiro


Terra de samba e pandeiro


Brasil! Brasil!


Prá mim… prá mim…


quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Amor é (quase) tudo

 












Rodolfo Pamplona Filho




Amor é quase tudo,


mas o quase não é irrelevante


O que falta ao amor


para ser impactante?


Talvez um pouco de cuidado


Talvez um carinho inesperado


Talvez uma torcida explícita


Talvez uma entrega sem retorno




Amor é quase tudo,


mas o quase não é irrelevante


O que falta ao amor


para ser incessante?


Talvez uma dose de mistério


Talvez um suspiro no espelho


Talvez um choro em desabafo


Talvez um frio na barriga no encontro




Amor é quase tudo,


mas o quase não é irrelevante


O que falta ao amor


para ser acachapante?


Talvez um bilhete inesperado


Talvez uma surpresa no acordar


Talvez dormir agarrado


Talvez nunca parar de sonhar




Salvador, 27 de outubro de 2018.

terça-feira, 26 de agosto de 2025

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Tomando Consciência






 Rodolfo Pamplona Filho


Eu não sinto falta de você,

mas do amor que eu sentia

 

Eu não sinto vontade de voltar,

mas saudade da companhia

 

Eu não suportaria reviver as brigas,

mas me agradaria lembrar as risadas

 

Eu não aguentaria reviver o que vivi,

mas não posso dizer que me arrependi

 

Eu tomei consciência do que sofri

e, por isto, nunca mais seguirei este caminho.

 


Em 16 de setembro de 2023, no voo de Campinas para Salvador.

domingo, 24 de agosto de 2025

Equilíbrio fluente







Maria da Paz R. Dantas



A Ilya Prigogine

Escalando a serra nevada

ou o monte roraima

em minhas retinas

estou hoje a um certo dia de maio

                            no topo 2000

da montanha do século.

Um não-sei-quê

                    me amanhece

para o teu abraço

                    e descubro que

não mais me tentam

vícios de estrutura.

Um corpo leve (o meu)

me atrai me leva

no rumo de um equilíbrio fluente.

Viajar me importa.

                                    Quero

meu desejo além

                      da gravidade

Reconhecer-te

no abismo das quedas

que não chegam ao fundo.

                                   E no

enquanto de abraço

ou ar que nos enlaça

eu te sonho tu me sonhas

de modo tão descontínuo

                                  e livre

que nos sorrimos compreendidos

                            sem medo

de colisão no escuro

ou na sala

                                       civil

dos sistemas

fechados.

sábado, 23 de agosto de 2025

Advocacia Feminina

 


 





 Rodolfo Pamplona Filho




Com coragem e inteligência,


empenhadas em garantir a equidade,


lutam pelo Direito com eficiência,


com sua sabedoria e sensibilidade.


 


Na tribuna, brilham com eloquência,


com argumentos precisos e profundos,


mostrando ao mundo sua competência


em cada argumento, em cada segundo.


 


Elas quebram barreiras e preconceitos,


com sua força e perseverança!


Inspiram outras mulheres a a outros feitos


e a buscar a igualdade com esperança!


 


E, assim, a advocacia feminina desponta,


com amor pela profissão e tenacidade,


em que sua voz poderosa aponta


o caminho da Justiça para a sociedade.


 


Balneário Camboriú, 25 de agosto de 2023.

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Prece de um Pecador




 Miguel Carneiro



Meu Senhor fui negligente


E agora estou doente


Por conta de minha transgressão


Não amar só a ti


Diante de tanta farra e profanação




Meu Senhor estou convalescente


E busco o vosso perdão


Meu Deus


Não me abandones


Sou apenas um pobre grão


Pecando nesse pobre chão




Meu Senhor fui descuidado


E agora estou ferrado


Diante de tanta violação


Abrande minha pena


Diante do vosso Tribunal de Apelação




Pequei, Senhor!


Tenha piedade de mim


na hora de minha condenação.


quinta-feira, 21 de agosto de 2025

O que não me pertence

 


 




Rodolfo Pamplona Filho

 


O inconsciente


A insegurança


A paranoia


A desconfiança


A incerteza


A inconstância


 


Eu preciso aprender finalmente


a lidar conscientemente


com o que não me pertence


para saber definitivamente


quem sou


o que faço


e para onde vou.


 


Salvador, 01 de setembro de 2023.

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Como?



 




Rodolfo Pamplona Filho

 


Como conviver


com alguém que


não sabe a diferença


entre amar e sofrer?


 


Como manter a sanidade


se tudo que te faz mal


é o que mundo


chama de normal?


 


Como tentar sobreviver


se o que deseja


é o que te mata


lentamente?


 


Salvador, madrugada de 02 de setembro de 2023.

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Deserto



  


Paulo de Toledo



 minha sombra caminha

adiante de mim



sigo-a sequioso

com meu séquito de sonhos



lá atrás o sol

ao traduzir-me desola-se

domingo, 17 de agosto de 2025

No Coração e no Sovaco

 


 




Rodolfo Pamplona Filho

 


Eu te amo


no coração e no sovaco,


até mesmo quando


você não tiver saco


de aguentar minha sensibilidade


 


Eu te amo


no coração e no sovaco,


até mesmo quando


o tempo estiver opaco


e buscar o sol seja uma necessidade


 


Eu te amo


no coração e no sovaco,


morando em castelo


ou vivendo em barraco,


pois riqueza não vence a lealdade


 


Eu te amo


no coração e no sovaco,


e, definitivamente, não deixarei


que fiquem dando pitaco


em nossa cumplicidade


 


Eu te amo


no coração e no sovaco,


e, com você, tudo enfrentarei,


sem medo de cair em buraco


para matar nossa saudade


 


Eu te amo


no coração e no sovaco,


e, para sempre, serei


o seu animado macaco,


mesmo tendo chegado a maturidade


 


Eu te amo


no coração e no sovaco!


Com você, conquistei a liberdade


de vestir o meu casaco


e amar alguém de verdade


 


São Paulo, 19 de agosto de 2023.

sábado, 16 de agosto de 2025

Azulejos Quebrados (Soneto Desconectado)

 



Rodolfo Pamplona Filho


Do lixo à arte

Restos de parte

do que já serviu

e que servirá novamente


para adornar lindamente

o que outrora era feio

e, hoje, tornou-se belo,

como jamais se pensou ser...


na lógica do reciclar

azulejos quebrados

em novos formatos


de rostos, bichos e ditados,

surgindo de todos os lados,

sempre a nos encantar.



Guayaquil, 01 de outubro de 2013.

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

ARTIGOS 439, 440 E 441 DA CLT

 



Caros empregadores ou empresários

É lícito ao menor

Segundo nos diz o legislador

Firmar recibo pelo pagamento dos salários


Tratando-se, porém, de rescisão do contrato de trabalho minha querida

É vedado ao menor de 18 anos dar

Sem assistência dos seus responsáveis legais, é bom frisar

Quitação ao empregador pelo recebimento da indenização que lhe for devida


Dispõe a Consolidação

Que contra os menores de 18 anos

Incapazes seres humanos

Não corre nenhum prazo de prescrição


O quadro a que se refere o item I do então

Artigo 405 será revisto bienalmente

É o que está explicitamente

Disposto na nossa Consolidação.


JORGE DA ROSA


quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Pequenas Verdades Acadêmicas (em 3 linhas)

 


Rodolfo Pamplona Filho


Desconfie de quem

não consegue tratar

um garçom com educação.


O que é combinado

verdadeiramente

não é caro ou barato.


Títulos só podem

ser menosprezados

por quem os detém.


Destacar-se em certas atividades

não significa ter cultura para

discutir outros assuntos.


Sisudez não é sinônimo de seriedade,

mas respeito e educação ajudam

a demonstrar compromisso.


Formalidade não garante resultado,

mas permite a sensação de que

foi feito o que se podia fazer.


Displicência com a liturgia

transparece mais indolência

do que domínio da matéria.


Conteúdo e forma são dialéticos:

um decorre e necessita do outro

para alcançar a verdadeira síntese.



Salvador, 06 de outubro de 2013.

terça-feira, 12 de agosto de 2025

IF

 




Poema "If", de Rudyard Kipling, em tradução de Guilherme de Almeida.


Se


Se és capaz de manter a tua calma quando

Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;

De crer em ti quando estão todos duvidando,

E para esses no entanto achar uma desculpa;

Se és capaz de esperar sem te desesperares,

Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,

Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,

E não parecer bom demais, nem pretensioso;


Se és capaz de pensar --sem que a isso só te atires,

De sonhar --sem fazer dos sonhos teus senhores.

Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires

Tratar da mesma forma a esses dois impostores;

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas

Em armadilhas as verdades que disseste,

E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,

E refazê-las com o bem pouco que te reste;


Se és capaz de arriscar numa única parada

Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,

E perder e, ao perder , sem nunca dizer nada,

Resignado, tornar ao ponto de partida;

De forçar coração, nervos, músculos, tudo

A dar seja o que for que neles ainda existe,

E a persistir assim quando, exaustos, contudo

Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";


Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes

E, entre reis, não perder a naturalidade,

E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,

Se a todos podes ser de alguma utilidade,

E se és capaz de dar, segundo por segundo,

Ao minuto fatal todo o valor e brilho,

Tua é a terra com tudo o que existe no mundo

E o que mais --tu serás um homem, ó meu filho!


If


If you can keep your head when all about you

Are losing theirs and blaming it on you,

If you can trust yourself when all men doubt you

But make allowance for their doubting too,

If you can wait and not be tired by waiting,

Or being lied about, don't deal in lies,

Or being hated, don't give way to hating,

And yet don't look too good, nor talk too wise;


If you can dream--and not make dreams your master,

If you can think--and not make thoughts your aim;

If you can meet with Triumph and Disaster

And treat those two impostors just the same;

If you can bear to hear the truth you've spoken

Twisted by knaves to make a trap for fools,

Or watch the things you gave your life to, broken,

And stoop and build 'em up with worn-out tools;


If you can make one heap of all your winnings

And risk it all on one turn of pitch-and-toss,

And lose, and start again at your beginnings

And never breath a word about your loss;

If you can force your heart and nerve and sinew

To serve your turn long after they are gone,

And so hold on when there is nothing in you

Except the Will which says to them: "Hold on!"


If you can talk with crowds and keep your virtue,

Or walk with kings --nor lose the common touch,

If neither foes nor loving friends can hurt you;

If all men count with you, but none too much,

If you can fill the unforgiving minute

With sixty seconds' worth of distance run,

Yours is the Earth and everything that's in it,

And --which is more-- you'll be a Man, my son!

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Equinócio

 




Rodolfo Pamplona Filho


Março ou setembro:

não importa se me lembro

qual é realmente

o semestre presente

ou a estação do ano!

O fundamental, sem engano,

é aproveitar o momento

em que cessa todo lamento

para apenas presenciar o Sol,

quando ele está mais iminente,

sentindo-se, de novo, gente

e nunca mais se sentir só...



Quito, 03 de outubro de 2013.

domingo, 10 de agosto de 2025

No Coração e no Sovaco

 

 





Rodolfo Pamplona Filho

 


Eu te amo


no coração e no sovaco,


até mesmo quando


você não tiver saco


de aguentar minha sensibilidade


 


Eu te amo


no coração e no sovaco,


até mesmo quando


o tempo estiver opaco


e buscar o sol seja uma necessidade


 


Eu te amo


no coração e no sovaco,


morando em castelo


ou vivendo em barraco,


pois riqueza não vence a lealdade


 


Eu te amo


no coração e no sovaco,


e, definitivamente, não deixarei


que fiquem dando pitaco


em nossa cumplicidade


 


Eu te amo


no coração e no sovaco,


e, com você, tudo enfrentarei,


sem medo de cair em buraco


para matar nossa saudade


 


Eu te amo


no coração e no sovaco,


e, para sempre, serei


o seu animado macaco,


mesmo tendo chegado a maturidade


 


Eu te amo


no coração e no sovaco!


Com você, conquistei a liberdade


de vestir o meu casaco


e amar alguém de verdade


 


São Paulo, 19 de agosto de 2023.

Emoção sem perder a noção




>> (Vanessa Bacilieri)


>> Emoção sem perder a noção

>>

>> A poesia é muito linda

>> Sempre muito bem vinda

>> Mas em mim serviu de guarida

>> A um amor que não tem mais vida

>>

>> E por assim dizer que virou ferida

>> Não me arrependo da minha vida

>> A ela devo tudo que me fez sentida

>> Porque na vida só nos resta poder sentir a vida

>>

>> Ter o que lembrar

>> E até mesmo porque chorar

>> O sorriso não seria tão sincero

>> Se tudo que fiz não foi porque quero

>>

>> Quero nessa vida ter o que recordar

>> Daqueles beijos que me fez sonhar

>> E com muitos mais planos poder receber 

>> O sentimento belo que me faz florescer

>>

>> Virar um jardim

>> Flor que perfuma além de mim

>> Foi Ele quem mandou

>> E meu filho em mim originou

>>

>> Tenho hoje o amor mais sincero

>> E por isso se fez mais belo

>> Não que se merce o amor

>> Só que esse não veio com dor

>>

>> Expectativas além da vida

>> Deixo assim aquilo que pensei além da partida 

>> Hoje cansei de acompanhar 

>> Quero minha família agora desfrutar

>>

>> E todo suor que até então derramei

>> Coloco nos versos que sempre chorei

>> Nas mãos do Senhor deixo o destino

>> E nas minhas carrego todas as chances em desatino

>>

>> Fazer da vida uma roda gigante

>> Torna da mulher um ser inconstante

>> Mas se inconstante também é a vida

>> Constante será a dor da ferida

>>

>> Voltar ao passado

>> Ainda que revelado

>> Não trará a nenhum ser acordado

>> Nada além de um culpado

>>

>> Mas se culpado não há

>> O tempo perdido estará

>> Então tem razão

>> Aquele que segue em frente com seu alazão

>>

>> Com folha e papel na mão

>> Viverei qualquer emoção

>> Em qualquer verso farei sentido

>> Àquilo que não foi esquecido

>>

>>



sábado, 9 de agosto de 2025

O Ocaso





Rodolfo Pamplona Filho



Dos dias

Do calor

Das vidas

Do amor

De nada

De tudo

Do nada

Do mundo



Bogotá, 05 de outubro de 2013, em conexão para o Brasil, olhando o entardecer...

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Ronin

 




Rodolfo Pamplona Filho



Samurai errante

que não serve

a nenhum mestre,

além de si mesmo...

Será tão diferente

do resto da humanidade?


No Vôo do Equador para o Brasil, em 05 de outubro de 2013,


lendo sobre Wolverine e a tradição japonesa dos samurais...

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

ETERNA






Juraci Alves



Não imaginava e nem esperava

Que a aurora trouxesse todo este brilho

Sua graça, carinho e harmonia

Que reflete o seu coração


Seus lábios também brilham

Seu olhar firme me faz sonhar

Sempre vivendo verá

A aurora e o brilhar


Você não é estrela

Porque não tem luz própria

É brilho que reflete nela

Ousada, bela e preciosa, princesa do meu olhar


Na claridade que irradia do fundo do seu coração

Quem sabe um dia

Contemplar seu bilhar olhando nos seus olhos

E sentir a glória que um homem pode sonhar.


Lauro de Freitas/BA, 16/08/2013

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

São João na Pandemia

 







Rodolfo Pamplona Filho



Festa junina na pandemia

é diferente do São João

quando os dias da gente

eram apenas “normais”


Os amigos e as famílias,

como antes, não estão

presencialmente

ao lado e juntos mais


Se não dá mais para abraçar,

isso não quer dizer

que a vontade de cantar

tenha que desaparecer


Se não dá mais para beijar,

isso não quer dizer

que a ausência do tocar

anule o desejo de viver


Hoje, pode não ter dança

ou mesmo um brinde com quentão,

mas sempre terá a esperança

que aquece o coração


de que, se não abraçados

fisicamente,

continuaremos ligados

espiritualmente,


e isso renova a alegria

e o desejo por dias melhores,

que é o combustível da folia

e a ordem para que não chores


pois, na nossa folia,

pode até faltar licor,

mas, nunca na vida,

faltará o amor.


Salvador, 24 de junho de 2020.

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Not a dreamer anymore





(Negra Luz)


Não mais uma sonhadora.

Só uma sobrevivente,seguindo adiante.

Como Moisés, vou atravessando meus mares.

Haveria uma outra terra prometida?

Receberia o maná da Igualdade?

Um mundo cujos sobreviventes sejam para além dos humanos?


A humanidade, que aí está, falhou.

Se sangra, sangra e ver sangrar.

Tudo com o mesmo sentir.

Ligamos o módulo: Não tem jeito! Melhor nem ver! Que posso fazer? Eu sei o que é isso!

Tudo igual! 

Um mesma frequência!

Uma mesma sintonia! 

Agonia.

Dor.

Tudo conforme!


Inconformo, não depositando moedas nas fontes dos desejos.

Sigo apenas

Silente,

Tento não sintonizar as rádios que mitigam um Mundo de dor.


Minha frequência está aí 

Nas feridas da Mulher,

Na dor dos Pretos,

Na fome,

Nos hospitais ,

Nos esquecimentos.

Ondas longas, em curtas memórias,

Encapsularam os sonhos dessa vida aqui.



segunda-feira, 4 de agosto de 2025

A raiva é a minha kryptonita

 




Rodolfo Pamplona Filho



Sou calmo e manso

como Bruce Banner

Sou gentil e educado

como Clark Kent

Mas não há super poder

que não tenha

a sua fatal antípoda

e, de todos os sentimentos,

a raiva é minha kryptonita.


Salvador, 28 de abril de 2020.

domingo, 3 de agosto de 2025

Sim, tudo.







(Negra Luz)



Tudo estalo.

Tudo audiência.

Tudo click.

Tudo emoji.

Tudo Bauman.

Tudo calefação.

Tudo João!

Tudo George!

Tudo Miguel!

Tudo triste.

Tudo “migué”.

Tudo RACISMO.




sábado, 2 de agosto de 2025

Alegria




Rodolfo Pamplona Filho


Alegria nunca é demais:

Não há limites para sorrir!

Quem poupa alegria

despreza a energia

e a esperança de ser feliz.


Salvador, 11 de fevereiro de 2020

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

AMARGO PRESENTE-PASSADO

 






A caravela ancorova em outras terras

O bramido da revolta ecoava pelo verde intocado

Os sonidos das correntes esmorecia o belicoso  

Os irados resvalavam sobre os traidores

Os olhares fixos teciam uma despedida

Suas almas saudosistas, mortas sobre o azul pairavam

O mar se quebrava em dois

Gritam os porões para a imensidão

Bramidos de guerra que se enfraqueciam 

- Vermelho de dor, toma de  trevas este azul atlântico!

"Mãe gentil", verde de resquícios amarelos

Tu que recepciona os acorrentados

Por que traístes aqueles que por ti foram adotados?

Sangue escorre pelos que lutam

Fazem fronte os revoltados

"Liberdade, liberdade!" Onde ficas para que ti alcancem?

A dança e cantos guardam a saudade do passado

A força esbraveja dentro dos que tem esperança

Até que eis os enlaces estraçalhados

Livres estão os que foram escravizados

Mas contemporaneidade  que os abarca, onde estão teus direitos?

És tu uma farça moralista? 

Sociedade, por que encarcera os livres?

Por que matas os que lutam por ti?

Por que negas carinho para os que querem amor?

Respeito para os que do alto exigem

Prisão para aqueles que embaixo vivem

Por que essa regra de tamanha estranheza?

Persistentes estigmas perversos aprisionam os iguais.

Tristes desses que lançam para longe benéficos ideais. 

"Igualdade, igualdade" onde ficas para que ti alcancem?



PAULO HENRIQUE NOVAIS SANTOS

quinta-feira, 31 de julho de 2025

“Cidadão não. Engenheiro civil, formado. Melhor do que você"




Rodolfo Pamplona Filho


“Cidadão não.”

Desde quando

a profissão

é melhor

do que a satisfação

de ser tratado

com a dignidade

de ser parte da cidade?


“Engenheiro civil, formado.”

Desde quando

alguém pode ostentar

uma qualificação

sem ter sequer

a sua graduação?


“Melhor do que você"

Desde quando

a obtenção

de uma formação

torna um ser humano

melhor do que outro?


Tempos difíceis

em que os preconceitos

saíram das mentes abjetas

para se tornar parte

de algumas metas....


Tempos complicados

em que a discriminação

soa como ostentação

de desprezar a simpatia,

ignorar a empatia,

desconhecer a alteridade

e rir da solidariedade.


Salvador, 05 de julho de 2020, uma segunda-feira de perplexidade...

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Vazio de amor




 (Negra Luz)



A gaveta após a transferência

A catedral em geladeira

A lixeira depois das 10

A primeira faxina na casa

Vazios


As férias escolares

O cinema desativado

O picadeiro sem palhaços

O tablado antes do primeiro ato

Tudo vazios


A vida que não vingou

O corpo que se violentou

O coração depois de uma grande dor

As ruas quando o Mundo se isolou

O Tempo em que não se amou

Profundos vazios


Acomodar-se com o que está desenhado

As estrofes descrevem os espaços

Lacunas que tenho negado

E mesmo ouvindo almas ao meu lado

O silêncio me chama ao vazio:

Um imenso vazio de amor.

terça-feira, 29 de julho de 2025

Alento

 



Rodolfo Pamplona Filho



A sensação de dever cumprido

A lembrança de um amor vivido

A esperança de um futuro melhor

A certeza de que não sonho só

Tudo isso vai me dar um alento

neste dia turbulento


Salvador, 02 de junho de 2020.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

O SILÊNCIO DA POESIA

 






Marco Mendes


Silencia o espírito,

nenhuma batida o coração.

Estarei morto ou pensativo?

Onde estão as emoções?

Frustrado o poeta se afoga,

no mar da desilusão.

Na escuridão do fundo,

nenhum lume, só solidão.

Teste, teste, teste...

a verdade é inconteste.

Enquanto a poesia dorme,

o poeta está sofrendo.

domingo, 27 de julho de 2025

Alteridade





Rodolfo Pamplona Filho



O segredo da real felicidade

é conhecer a dor do outro

e, com isso, vibrar com seus triunfos

e ser solidário com suas derrotas.

Viver em desertos particulares

é a fórmula mais fácil

para ser infeliz

no gozo solitário

de seu prazer íntimo,

que desconhece que

a maior sedução existente

é o intercurso de almas...


Salvador, 29 de janeiro de 2020.

sábado, 26 de julho de 2025

Santa Sabedoria

 




Rogério Medeiros


Santo Antônio, ou

Santo Antoninho,

Como lhe chamam

Os portugueses

Em Lisboa,

Terra natal.


Santo Antônio,

Discípulo de São Francisco,

O santo da fraternidade

E da natureza.


Santo Antônio,

O milagreiro

E pregador.

A mostrar que

Também a sabedoria,

É uma forma de santidade.


Santo Antônio lisboeta,

Lembrai de nós brasileiros,

Dos tantos Antônios que temos,

Por aqui e além-mar.



E traga sua sabedoria,

Para aplacar a discórdia,

Que ameaça nos liquidar.

Amém.



Feliz 13 de junho.


sexta-feira, 25 de julho de 2025

Anne

 





Rodolfo Pamplona Filho


Um perfeito cemitério

de esperanças enterradas,

perdidas como

Grandes palavras

(que) são necessárias

para expressar grandes ideias

Você jura ser minha amiga

para todo o sempre?

Dormir numa árvore

à luz da lua

é a compensação pela

ansiedade dolorida

da esperança em vão.


Salvador, 19 de junho de 2020.

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Depois, O Arco-íris

 




Negra Luz




Tempestades que me cercam

Ecoam maiores do que são.

Ouço como tambores rufando,

Apenas cânticos de libertação.


Visões de ondas gigantes,

Devastando o meu coração,

Só gotas de orvalho ao pé do ouvido,

Tilintar da minha emoção.


O farol girando sem rumo,

Sem apontar para onde devo ir.

Nada demais, só sinais.

Cada passo indica para onde se deve ir.


Há lama na estrada,

Fios em curto a atravessar.

Quando no meio do caminho há pedras,

Pare, pense e se encontrará.


Os raios que balançam,

Embalam a sua razão,

Aguçam os seus medos retidos,

Mas iluminam a sua ação.


Depois da tempestade

Alastrada dentro de ti,

Sentirá o arco-íris,

Espectro de vida, nascentes brotando em ti.



quarta-feira, 23 de julho de 2025

Arraia no ar não tem dono





Rodolfo Pamplona Filho


Arraia no ar

não tem dono:

é de quem primeiro pegar

e sair soltando!

Como uma oportunidade que surge,

como um amor que nasce,

como uma ideia a desenvolver,

como um poema a recitar...


Arraia no ar

não tem dono:

é de quem primeiro pegar

e sair soltando!


Salvador, 02 de fevereiro de 2020.

terça-feira, 22 de julho de 2025

Memórias da minha tradição

 





Negra Luz




A flores em crepom na mesa.

No teto, as bandeirolas.

No xote, chamegos.

No xaxado, estórias.

Baião ou sertanejo.

Quentão mandingueiro.

O povo da roça saindo à chita,

Dançando quadrilha em busca de glória.

Na mesa, a fartura:

Canjica, milho cozido,

Bolo de carimã e de aipim.

Amendoim,nem te conto, farinha para mim.

Sou nordestina.

Junina de coração.

Os fogos, que em mim acendem,

Formam fogueiras de emoção.

Giro o Mundo, nada esqueço.

Essa a minha tradição.

Era janeiro!

Era verão!

O sol altaneiro!

Tudo memórias!

Tudo saudade de meu São João!

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Ciência e Consciência





Rodolfo Pamplona Filho




Uma coisa é a ciência,

outra é a consciência.

A primeira tenta explicar pergunta

A segunda já afirma respondendo

Uma decorre de consenso

Outra do próprio senso

Uma é absolutamente infinita

Outra abrange todo o espaço disponível

Mas tudo que quer a ciência

é, um dia, virar consciência

na mente de quem não lutou por ela.


Salvador, 05 de fevereiro de 2020.

domingo, 20 de julho de 2025

O fim e a glória





Rogério Medeiros




Fim de mandato.

Não foi fácil

Presidir um tribunal eleitoral.


Muitas aflições.

Pandemia do coronavírus,

A pior delas.


Problemas internos,

Pressões externas.

O poder é sempre solitário.


Decidir, eis o desafio.

Coragem e integridade,

Sempre.


Já dizia Einstein:

Uma hora namorando,

Parece um minuto;

Um minuto,

Sentado sobre um formigueiro,

Parece uma hora...


Fiquei durante um ano

Sentado sobre um formigueiro.

Pareceu-me uma eternidade.


Fiz o que pude e

Creio que fiz bem.

Não fui perfeito, ninguém é.


Agora, recordo Tom Jobim e

Vou viver a derradeira glória do ser humano:

Andar nas ruas,

Como um ilustre desconhecido.



sábado, 19 de julho de 2025

Consulta

 




Rodolfo Pamplona Filho


Consultar é uma atitude sofisticada

em uma relação a dois

Por vezes, a ação mais delicada

é dar nome aos bois.

Perguntar e esperar a resposta

é a prova definitiva

de que a opinião alheia Importa

e que o que se vai fazer

não é fruto de um só querer,

mas resultado de um conviver.


Salvador, 09 de abril de 2020.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Fui Eu

 









Fui eu esse menino que me espia

– melancólico olhar, sereno rosto,

postura fixa e o todo bem composto –

no retrato que o tempo desafia.


Fui eu na minha infância fugidia

de prazeres ingênuos, e o desgosto

de sentir tão efêmera a alegria

bem depressa mudada em seu oposto.


Fui eu, sim; mas o tempo que perpassa

e tudo altera nem sequer deixou

um grão de infância feito esmola escassa.


Fui eu; e da figura só ficou

o olhar desenganado na fumaça

em que a criança inteira se mudou.


abril 1998


(De Sentimento da Morte – 2003)


Poema de Fernando Py (1935-2020)

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Crianças feridas

 





Rodolfo Pamplona Filho


Crianças feridas

se reconhecem reciprocamente.

Encontros de sensibilidades

na carência de amor

e de reconhecimento.

Na precisão

do olhar do outro

com bons olhos.

No reconhecimento

não por ser brilhante,

mas por ser específico.

Ser visto com olhos normais

se limita ao senso comum;

os bons olhos veem

apenas o que é único.


Salvador, 12 de fevereiro de 2020

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Soneto





Sânzio de Azevedo



Há muito tempo, muito tempo mesmo,

sentisse uma tristeza ou uma alegria,

brotavam-me da pena, às tontas, a esmo,

rastros de poema, cacos de poesia...

É claro que nem tudo que me vinha

com maior ou menor facilidade,

ao fim e ao cabo, na verdade tinha

a mesma altura, a mesma qualidade.

Mas escrevia. Hoje, bem mais distante

ficou aquilo que era minha meta.

Somente a inspiração rara e inconstante

é que me diz que ainda sou poeta.

Já nem sei bem o que daria agora

para escrever poemas como outrora.



terça-feira, 15 de julho de 2025

Arrogância na Pandemia

 




Rodolfo Pamplona Filho



“Sabe com quem

você está falando?

Não entende bem

quem está no comando?”


Arrogância

Espírito mau

Petulância

Cara de pau

Dizer: não fiz nada!

Tripudiar

Dar carteirada

Humilhar

Ter a habilidade

de incomodar

autoridades

para livrar

a própria cara

e mandar colocar

no seu devido lugar

quem está

apenas a cumprir

o seu dever

de servir...


E toda essa empáfia

de desfazer do trabalho alheio:

Jogando as multas na cara

de quem mexeu no vespeiro

é somente para arrotar

a sua condição especial

de cidadão exemplar

que defende o social

e que, por isso, é vítima,

e não agressor...

em uma farsa ilegítima,

um verdadeiro complô,

envolvido em um esquema

decorrente do sistema

do que se joga no ventilador...


Salvador, 19 de julho de 2020.

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Mãe

 




Poema de Adriano Espínola,

in: Praia provisória, 2006




De terra a tua voz,

de terra os teus gestos,

de terra a tua bênção,

de terra a tua mágoa,

de terra os teus restos

agora enraizados:

árvore crescendo

às avessas - lá onde

tudo começa e finda:

no silêncio do sangue

que me dói ainda.



domingo, 13 de julho de 2025

(Re)Encontros Virtuais na Pandemia

 




Rodolfo Pamplona Filho


Há tanto tempo

que eu não te via

que parecia

uma lembrança

de um mundo distante...

Mas, neste instante,

parece que foi ontem

que me despedi de nosso papo,

que disse até amanhã,

que marcamos uma saída,

que vivemos a nossa vida...

Um brinde ao reencontro,

ainda que virtual,

pois, em tantos desencontros

da quarentena presencial,

há a plena certeza

de uma única fortaleza:

sempre volta a alegria,

até mesmo na pandemia,

pois o isolamento é efetivo,

mas nunca precisará ser afetivo...


Salvador, 28 de junho de 2020.