Rodolfo Pamplona Filho
Dos dias
Do calor
Das vidas
Do amor
De nada
De tudo
Do nada
Do mundo
Bogotá, 05 de outubro de 2013, em conexão para o Brasil, olhando o entardecer...
Blog para ler e pensar... Um texto por dia... é a promessa... Ficarei muito feliz em ler e saber o que cada palavra despertou... Se você quiser compartilhar um texto, não hesite em mandar para rpf@rodolfopamplonafilho.com.br. Aqui, não compartilho apenas os meus textos, mas de poetas que eu já admiro e de todas as pessoas que queiram viajar comigo na poesia... Se quiser conhecer somente a minha poesia, acesse o blog rpf-poesia.blogspot.com.br. Espero que goste... Ficarei feliz com isso...
Rodolfo Pamplona Filho
Dos dias
Do calor
Das vidas
Do amor
De nada
De tudo
Do nada
Do mundo
Bogotá, 05 de outubro de 2013, em conexão para o Brasil, olhando o entardecer...
Augusto dos Anjos
A Dias Paredes
Quando ela passa: - a veste desgrenhada,
O cabelo revolto em desalinho,
No seu olhar feroz eu adivinho
O mistério da dor que a traz penada.
Moça, tão moça e já desventurada;
Da desdita ferida pelo espinho,
Vai morta em vida assim pelo caminho,
No sudário de mágoa sepultada.
Eu sei a sua história. - Em seu passado
Houve um drama d’amor misterioso
- O segredo d’um peito torturado -
E hoje, para guardar a mágoa oculta,
Canta, soluça - coração saudoso,
Chora, gargalha, a desgraçada estulta.
Rodolfo Pamplona Filho
Seu cheiro em minha roupa
é a prova mais louca
de um amor real
mas, para muitos, imoral...
Guardo seu cheiro na memória
na esperança que o inesperado
possa mudar a nossa história
e nos dar a esperada vitória
....de um amor pleno,
que, sempre a contento,
cresce e se fortalece....
...de um sentimento sincero,
que, um dia, espero,
possa ser tão público quanto seu perfume.
Praia do Forte, 23 de janeiro de 2011.
Rodolfo Pamplona Filho
A vida sem humor
não tem graça...
Literalmente...
É um critério perfeito
para escolher amigos:
Quem nao sabe rir de si
não merece rir de nós!
Brasília, 14 de março de 2013.
Caetano Veloso
Um índio descerá de uma estrela colorida brilhante
de uma estrela que virá numa velocidade estonteante
e pousará no coração do hemisfério sul
na américa num claro instante
depois de exterminada a última nação indígena
e o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
mais avançado que a mais avançada
das mais avançadas das tecnologias
virá impávido que nem Muhamed Ali
virá que eu vi
apaixonadamente como Peri
virá que eu vi
tranqüilo e infalível como Bruce Lee
virá que eu vi
o axé do afoxé, Filhos de Gandhi
virá
um índio preservado em pleno corpo físico
em todo sólido , todo gás e todo líquido
em átomos, palavras, alma, cor,
em gesto, em cheiro, em sombra,
em luz, em som magnífico
num ponto eqüidistante entre o Atlântico e o Pacífico
do objeto sim resplandecente descerá o índio
e as coisa que ele dirá , fará não dizer
assim de de um modo explícito
virá impávido que nem Muhamed Ali
virá que eu vi
apaixonadamente como Peri
virá que eu vi
tranqüilo e infalível como Bruce Lee
virá que eu vi
o axé do afoxé, Filhos de Gandhi
virá
e aquilo que nesse momento se revelará aos povos
surpreenderá a todos não por ser exótico
mas pelo fato de poder estar sempre
estado oculto quando terá sido o óbvio
Rodolfo Pamplona Filho
O único jeito de aceitar a realidade
é parando de lutar.
Em vez de espantar o medo,
a solução é convidá-lo a andar ao lado... como parceiro, não inimigo.
A flor de lótus não cresce longe da lama
e não se vive sem dor.
Por isso, o jeito é aceitar o todo,
com seus lados bons e ruins,
amor e compaixão.
Não é possível se livrar do medo da morte, mas se pode aprender a conviver com ele.
Salvador, 29 de julho de 2018.
Chico Buarque de Holanda
Carolina
Nos seus olhos fundos
Guarda tanta dor
A dor de todo esse mundo
Eu já lhe expliquei que não vai dar
Seu pranto não vai nada mudar
Eu já convidei para dançar
É hora, já sei, de aproveitar
Lá fora, amor
Uma rosa nasceu
Todo mundo sambou
Uma estrela caiu
Eu bem que mostrei sorrindo
Pela janela, ói que lindo
Mas Carolina não viu
Carolina
Nos seus olhos tristes
Guarda tanto amor
O amor que já não existe
Eu bem que avisei, vai acabar
De tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei pra lhe agradar
Agora não sei como explicar
Lá fora, amor
Uma rosa morreu
Uma festa acabou
Nosso barco partiu
Eu bem que mostrei a ela
O tempo passou na janela
Só Carolina não viu
Rodolfo Pamplona Filho
Acordar, comer
Banhar-se, vestir
Trabalhar, beber
Deslocar-se, dormir
Não saber o que mais fazer?
Quem sabe, talvez, viver?
Ver que um dia passa
sem, de nada, achar graça
é finalmente perguntar:
será que morri e
me esqueceram de enterrar?
Salvador, 13 de junho de 2013, após uma sessão de analise junguiana.
Luís Vaz de Camões
Fermosa e gentil Dama, quando vejo
a testa de ouro e neve, o lindo aspeito,
a boca graciosa, o riso honesto,
o marmóreo colo e branco peito,
de meu não quero mais que meu desejo,
nem mais de vos que ver tão lindo gesto.
Ali me manifesto
por vosso a Deus e ao mundo; ali me inflamo
nas lágrimas que choro;
e de mim, que vos amo,
em ver que soube amar-vos, me namoro;
e fico por mim só perdido, de arte
que hei ciúmes de mim por vossa parte.
Se porventura vivo descontente
por fraqueza de esprito, padecendo
a doce pena que entender não sei,
fujo de mim e acolho-me, correndo,
à vossa vista; e fico tão contente
que zombo dos tormentos que passei.
De quem me queixarei
se vós me dais a vida deste jeito
nos males que padeço,
senão de meu sujeito,
que não cabe com bem de tanto preço?
Mas ainda isso de mim cuidar não posso,
de estar muito soberbo com ser vosso.
Se, por algum acerto, Amor vos erra,
por parte do desejo cometendo
algum nefando e torpe desatino;
se ainda mais que ver, enfim, pretendo;
fraquezas são do corpo, que é de terra,
mas não do pensamento, que é divino.
Se tão alto imagino
que de vista me perco – peco nisto –,
desculpa-me o que vejo;
que se, enfim, resisto
contra tão atrevido e vão desejo,
faço-me forte em vossa vista pura,
e armo-me de vossa fermosura.
Das delicadas sobrancelhas pretas
os arcos, com que fere, Amor tomou,
e fez a linda corda dos cabelos;
e, porque de vós tudo lhe quadrou,
dos raios desses olhos fez as setas
com que fere quem alça os seus, a vê-los.
Olhos, que são tão belos,
dão armas de vantagem ao Amor,
com que as almas destrui;
porém, se é grande a dor,
co a alteza do mal a restitui;
e as armas com que mata são de sorte
que ainda lhe ficais devendo a morte.
Lágrimas e suspiros, pensamentos,
quem deles se queixar, fermosa Dama,
mimoso está do mal que por vós sente.
Que maior bem deseja quem vos ama
que estar desabafando seus tormentos,
chorando, imaginando docemente?
Quem vive descontente
não há-de dar alívio a seu desgosto,
por que se lhe agradeça;
mas com alegre rosto
sofra seus males, para que os mereça;
que quem do mal se queixa, que padece,
fá-lo porque esta glória não conhece.
De modo que, se cai o pensamento
em algüa fraqueza, de contente
é porque este segredo não conheço:
assi que com razões, não tão-somente
desculpo ao Amor de meu tormento,
mas ainda a culpa sua lhe agradeço.
Por esta fé mereço
a graça, que esses olhos acompanha,
o bem do doce riso;
mas porém não se ganha
cum paraíso outro paraíso.
E assi, de enleada, a esperança
se satisfaz co bem que não alcança.
Se com razões escuso meu remédio,
sabe, Canção, que, porque não vejo,
engano com palavras o desejo.
Rodolfo Pamplona Filho
A última nota na canção.
O arremate da costura
O ponto final na redação
O encerramento da semeadura
O beijo de despedida
O suspiro final
A lágrima vertida
O pecado original
O Adeus na partida
O final da festa
A palavra definitiva
O que mais nos resta
Praia do Forte, 03 de junho de 2018.
Georgina Albuquerque
A estrada pertence ao homem que a ilumina
e busca dar certeza
aos passos que exercita afoito.
É também da mulher que aguarda dar à luz,
suor brotando meio ao sangue,
o seio pesado e entumescido
premiando a vitória do parir.
Cordões rompidos preservam resquícios,
rastros de passado na terra úmida;
frutos cobiçados, maturação alcançada,
choro irrompendo uma membrana fina.
Ainda que os mortos-vivos se levantem,
e cantem pela manhã os pássaros indiferentes,
o mundo é dos obstinados que se entregam,
e pensam que carregam o necessário dentro de si.
A chegada, porém, pertence ao homem corajoso,
aquele que despreza o tempo no afago à sua amada;
à mãe que sorri, indolente, noite enluarada,
e conta sempre ao filho coisas engraçadas.
Não precisa dormir, nem dar à luz, nem nada,
tampouco encenar uma vida agitada.
O final da rota é apenas o início,
um útero macio que comporta, aquecido,
a calma experiência de um viver fugaz.
Rodolfo Pamplona Filho
A TV divulga, a rádio anuncia,
o jornal comunica
o saldo das mortes do final de semana...
o trânsito, o acidente doméstico
ou a costumeira e pontual queima de arquivo...
Normal...
Ouvimos impassíveis,
tomando o café nosso de cada dia,
no meio das notícias políticas
ou da alegria, tristeza com
o resultado do jogo do nosso time...
Normal...
Não há espaço para indignação,
nem mesmo há tempo para isso...
A informação passa por
nossos olhos e ouvidos
como uma brisa imperceptível...
Normal...
O sangue escorre das imagens,
do som e dos papéis...
mas não se sente nada...
Anestesia coletiva, difusa e impessoal...
A apatia e a indiferença
não fazem acepção de pessoas...
Normal...
Normal?
Salvador, 16 de agosto de 2010, uma segunda-feira sangrenta...
Társio Pinheiro
Quem saltará
do fundo do meu espelho
revestido de bruma
de elmo
de escudo
e espada na mão?
Certamente
cavaleiro templário
dono de estratagemas e artifícios
fiel guardião
de todos os meus mistérios.
Rodolfo Pamplona Filho
Desejo morrer
por não poder
fazer mais do que
fiz para você,
na ilusão de que controlaria
onde o Sol um dia se poria.
Desejo morrer
por não conseguir
fazer você afinal sorrir
depois de uma vida
de luta, dor e lamento
como se sua sina fosse o sofrimento.
Desejo morrer
por não consumar o
tudo que sonhei realizar,
sentindo-me preso
a uma vida sem sabor
onde nunca terei o fogo do amor.
Salvador, 16 de junho de 2018.
Jorge Tufic
Dá-me, Apeles, o sangue dos teus dedos
e as cores deste mar, espuma ardente
em que Vênus ressoa e se reparte
entre deuses e bichos, céus e terras,
para que a louve, prostituta imensa
feita de orgasmo e sol. Pombos e cisnes
a conduzem nos braços da Volúpia
onde ela exerce, pleno, o seu domínio.
Mas, de repente, queda-se cativa
de um mortal como Adônis. Tão completa
me parece esta deusa que seu brilho
tem, sobre nós, a calma perspectiva
de uma fúria saciada: um simples nome
que a eternidade rútila consome.
Rodolfo Pamplona Filho
Na porta do elevador,
ela me diz: - Bom dia!
Eu abaixo os olhos
e digo: - Bom dia!
E a vida continua...
Subimos silenciosos,
cada um para seu andar,
como se momentos embaraçosos
não interferissem no andar
E a vida continua...
E a vida continua...
E a vida...
E...
?
Chico Buarque
Notas
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
Rodolfo Pamplona Filho
Quando em meu peito, romper-se a corrente
Que a alma me prende à dor de viver
Não quero por mim, nem uma lágrima,
Nem um suspiro, nem um sofrer...
Vinicius de Moraes
É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...
Rodolfo Pamplona Filho
Você não é
o que você acha que é
Você não é
o que as pessoas acham que você é.
Nem eu, nem você somos
o que a vida fez de nós dois
O que nós somos
não pode ser sabotado
por aquilo que nos tornamos
Salvador, domingo, 27 de novembro de 2016.
Mario Quintana
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
Rodolfo Pamplona Filho
Somos extensão
das nossas raízes
Somos resultados
de nossas diretrizes
Imaginar que somos autônomos
em relação ao passado
é cultivar uma ingenuidade
de quem se acha isolado,
e não parte de uma história,
como se qualquer glória
pudesse ser atribuída
a um ato único de valor,
e não a toda uma vida
de luta, dedicação e dor.
Lucas 6, 43 Porque não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto.
No voo para Brasilia, na madrugada de 29 de novembro de 2016, pensando na noite de 27 de novembro de 2016.
Felicidade não é meta:
é a forma como se vive;
não é objeto, é o caminho;
não é aquilo que te falta e sim saber aproveitar aquilo que já se tem!
Orlando, 10 de janeiro de 2020.
Palavras proibidas
Assuntos censuradas
Nomes defesos
Ideias que não podem ser discutidas
A impossibilidade absoluta
de qualquer diálogo.
Morro de São Paulo, 02 de janeiro de 2020.
amor e desejo
amor é centrífugo
desejo é centrípeto
amor quer se entregar
ao destinatário
do amar
desejo
quer absorver
o objeto
a incorporar
Amar e desejar
fazem parte do viver,
mas amar se auto-renova,
enquanto desejar depende do querer.
Salvador, 09 de janeiro de 2020.
E aí?
Mano
Top
De boa
Se ligue
Man
Véi
Baratino
Barril
Sipá
Sepa
Pala
Paia
Partiu
Morro de São Paulo, 02 de janeiro de 2020.
Pode ser
Não sei
Tanto faz
Legal, mas não é minha praia
É isso aí!
Morro de São Paulo, 01 de janeiro de 2020.
Sua mente é um aparelho
em constante busca
de soluções
para qualquer tipo
de problema:
na ausência
de um desafio,
ela se introverte
e entra em modo avião.
Seu cérebro é um processador
mais rápido do que
qualquer computador,
em que todo questionamento
automaticamente
é respondido,
antes que o interlocutor
termine o raciocínio.
Suas atitudes são reflexos
de anos de condicionamento,
em que a lógica
não excluiu a emoção,
mas a separou
em caixas diferentes
para não haver confusão.
Seu coração é um dínamo
que se alimenta de carinho
e deseja retribuir,
como o óleo e o combustível
que renovam e fazem funcionar
todo o sistema.
Ele parece uma máquina
e há quem ache que seja mesmo,
mas, no final das contas,
ele é apenas
o que Nietzsche vaticinou:
humano, demasiadamente humano,
a ponto de ser tão diferente
que a humanidade não lhe reconhece...
São Paulo, 16 de novembro de 2019.
Por vezes, tenho vontade de chorar...
Sei o motivo, mas não consigo controlar
Há um vácuo que preenche o que era completo
Uma carência de beijo, dengo e afeto
Não sei o que é pior: a distância ou a despedida;
O romper do contato no momento da partida
Um olhar para trás, um abraço apertado,
um aceno tristonho, um olhar desolado...
Como uma dor machuca tanto sem ferir?
Como dominar o que posso apenas sentir?
A paz é arrancada desde a raiz
Uma marca viva que não vira cicatriz...
Pense duas vezes antes de reclamar
Dos problemas da vida, da rotina do lar...
Há tristeza que ninguém sabe como se mede
Só se valoriza o que se tem quando se perde
A lágrima vem solta e quente
Quem negar isso apenas mente
mas faz bem, porque, como um rio
leva o fel para um outro lado vazio....
A cada alvorecer, há uma nova esperança...
que surge inocente, como sorriso de criança,
mudando planos e rumos, batendo asa,
tudo por causa da saudade de casa...
Ciudad Real, 09 de setembro de 2008
Quando as cores da aquarela
Se tornarem uma só
Quando a vida, então bela,
Virar fogo, virar pó
Quando o verde virar cinza
E o céu não for anil
Vida não era mais vida,
Homem-bicho será vil
Quando o sangue derramado
Escorrer por minha mão
Lembrarei que, algum dia,
Já vivi em comunhão
E era belo, e era lindo
E era tudo o meu viver:
Homem-planta, homem-flor,
Homem-homem, Homem-ser
Não sabia que havia
Vida pura e sem dor
Bicho e homem, seres iguais,
Já viveram com amor
(1990)
Há quem prefira
vender uma amizade
por um cachê artístico;
desprezar um amor puro
por ouvir a opinião de uma prima;
desprestigiar o trabalho alheio
para tentar se auto-afirmar;
esquecer uma fraternidade solidária
para soar de vítima da situação;
humilhar com ar de superioridade
a efetivamente investigar o ocorrido;
tripudiar a imagem de colegas
para posar de voz da maioria;
blefar descaradamente e sem pudor
do que aceitar ajuda desinteressada;
ignorar a presença e o cumprimento
em vez de tentar um diálogo honesto;
fazer troça da desgraça alheia
para se sentir aceito no grupo;
perseguir incansavelmente
por não tolerar o diferente;
jogar fora a chance de fazer o Bem,
para se deleitar com seu veneno...
Isso só gera mágoa,
que vira raiva,
até se converter,
se houver o remédio
do esquecimento,
em profunda indiferença,
mesmo sendo cicatriz,
que não se apaga,
para ensinar
em quem vale confiar...
Pamplona, 03 de outubro de 2012, pensando sobre o passado...
Sinto sede, fome e desejo
Sede dos seus seios,
da sua boca
e do gosto doce do seu beijo
Fome de seu corpo,
do seu abraço
e da maciez de sua pele
Desejo da sua essência,
da sua alma
e do gozo que extravasa cada poro.
Sede, fome e desejo
É o nosso trio elétrico,
que energiza minha existência
e me mostra
o verdadeiro carnaval do amor.
Salvador, 14 de fevereiro de 2024.
Pessoas são como músicas.
Algumas, nós gostamos desde o início.
É a paixão à primeira vista!
É a energia que bate imediatamente!
Outras, gostamos somente
depois de um tempo.
São feitas para serem ouvidas
e compreendidas.
Algumas tocam a nossa vida
e sempre que a encontramos,
uma boa lembrança vem à mente
e/oi um sorriso vem ao rosto…
mas sempre há uma,
que é a mais mais especial:
essa é a nossa trina sonora.
Salvador, 18 de fevereiro de 2024.
Jorge da Rosa
Ensinam os doutrinadores
De forma bem amável
Que na fraude contra credores
O negócio é anulável
Para a anulação
Do negócio fraudulento
Pauliana é a ação
Este é o entendimento
Situação de insolvência
Patrimônio e sua alienação
Devedor sem inocência
Fraude na atuação
Conluio fraudulento
Tem ciência o devedor
Que causará nesse momento
Prejuízo ao credor.
Rodolfo Pamplona Filho
O sol já foi embora,
mas ainda dá para ver...
Olhamos para o horizonte,
vendo o passado,
em um instante levado
além dos seus limites
Viajar no tempo
não é ir ao futuro
ou voltar ao passado,
mas, sim, ter mais tempo
para estar no presente
e apreciar a beleza
que fatalmente desaparecerá.
Salvador, 14 de outubro de 2018.
Adélia Prado
É teu destino, ó José,
a esta hora da tarde,
se encostar na parede,
as mãos para trás.
Teu paletó abotoado
de outro frio te guarda,
enfeita com três botões
tua paciência dura.
A mulher que tens, tão histérica,
tão histórica, desanima.
Mas, ó José, o que fazes?
Passeias no quarteirão
o teu passeio maneiro
e olhas assim e pensas,
o modo de olhar tão pálido.
Por improvável não conta
O que tu sentes, José?
O que te salva da vida
é a vida mesma, ó José,
e o que sobre ela está escrito
a rogo de tua fé:
“No meio do caminho tinha uma pedra”
“Tu és pedra e sobre esta pedra”.
A pedra, ó José, a pedra.
Resiste, ó José. Deita, José,
Dorme com tua mulher,
gira a aldraba de ferro pesadíssima.
O reino do céu é semelhante a um homem
como você, José.
Rodolfo Pamplona Filho
Nenhuma intolerância é tolerável
Nenhuma discriminação é aceitável
É preciso dar espaço de fala
para quem se discorda,
para que nossa própria voz
não seja calada.
Como respeitar a palavra de ódio
de quem não te respeita?
Sendo maior que ele
e torcendo para que
a fé no respeito
seja maior do que
o desrespeito da fé.
Salvador, 30 de outubro de 2018.
Mario Quintana
Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!
Rodolfo Pamplona Filho
Há momentos
em que se decide
embrutecer voluntariamente,
como se a violência
fosse a única resposta
eficiente para qualquer problema.
Há momentos
em que se decide
emburrecer voluntariamente,
como se o conhecimento
fosse um obstáculo
para uma tomada de decisão.
Há momentos
em que se decide
desaparecer voluntariamente,
como se a auto-anulação
fosse a solução
para o convívio como nação.
Eu digo não!
Não abra mão
do que te faz diferente:
a cultura é uma segunda pele,
uma tatuagem na alma da gente.
Salvador, 25 de agosto de 2017.
Tiago Figueiredo
Querem que eu repita minhas ações,
assim como os belos traços no desenho das mansões.
Querem que eu confirme aquilo que eu não vi,
assim como sempre fazem julgando a ti.
E neste mundo onde a vantagem conta mais valor,
fico pensando nas vezes em que falta o amor.
E neste mundo onde a incerteza vale como argumento,
fico pensando nas vezes em que falta o sentimento.
Os homens perderam a razão do negociar e do fazer da paz.
A vida se tornou um marasmo, um cadeado sem a sua chave.
E ainda perguntam como serão as marcas das gerações.
As mulheres agora lutam com prazer e força.
Que marasmo irritante se tornou esta rotina.
E ainda perguntam sobre minhas visões.
Bebês segurando bebês, amamentando o que o futuro viu.
Realidade que se torna bem efetiva neste lugar.
E ainda perguntam sobre nossas emoções.
Se foi, se foi, se foi... Eu não sei.
A união do mundo que rasgou seus traços.
São marcas de um egoísmo vivente em nós,
são só gente perdeu os seus abraços.
Se foi, se foi, se foi... Eu já vi.
A união de um mundo que não dá sua mão.
São marcar de um egoísmo vivente em nós,
são só gente que perdeu amor no coração.
Querem que eu repita minhas ações.
Neste mundo onde a vantagem conta mais valor.
Onde foi a união e seu heroísmo.
São as marcas que compõe este egoísmo.
Rodolfo Pamplona Filho
Não se vive sem ar,
água e comida.
Mas andar sem poesia
é manter o corpo aquecido
de forma artificial.
A poesia é o que nos difere
de um animal irracional,
embora ele também possa
inspirar poesia,
ainda que sem saber.
A poesia transforma
o efêmero em eterno,
o instante em contínuo
e o fugaz em imortal.
Não me deseje o mal,
nem queira me tolher:
privar-me da poesia
é assassinar silenciosamente
meu desejo de viver.
No vôo para Orlando, 01 de janeiro de 2019.
Octavio Paz
Se é real a luz branca
desta lâmpada, real
a mão que escreve, são reais
os olhos que olham o escrito?
Duma palavra à outra
o que digo desvanece-se.
Sei que estou vivo
entre dois parênteses.
Rodolfo Pamplona Filho
Ser altruísta é bom,
pois pensar no outro ajuda
a resolver os problemas do coletivo
Ser altruísta é importante,
pois tratar somente em si
pode destruir a humanidade
Ser altruísta é valoroso,
pois achar quem cuida de outrem
traz exemplos que edificam
Mas não dá para ser só altruísta,
pois esquecer de sua felicidade
é condenar-se ao sofrimento.
Mas não dá para ser só altruísta,
pois não realizar seus desejos
é chafurdar na frustração.
Mas não dá para ser só altruísta,
pois não se preocupar também consigo
é o início de sua própria anulação.
Salvador, 20 de julho de 2018.
Carlos Drummond de Andrade
Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Rodolfo Pamplona Filho
Quero viver com você!
Se já vivo,
quero viver mais:
Mais perto
Mais tempo
Mais quente
Mais vivo
Você merece o que há de bom!
Se já tem,
Quero dar tudo:
Tudo de vivo
Tudo de delicado
Tudo de romântico
Tudo de intenso
Tudo de mim!
Salvador, 10 de março de 2018.
Elizabeth Bishop
(tradução de Nelson Ascher)
A arte da perda é fácil de estudar:
a perda, a tantas coisas, é latente
que perdê-las nem chega a ser azar.
Perde algo a cada dia. Deixa estar:
percam-se a chave, o tempo inutilmente.
A arte da perda é fácil de abarcar.
Perde-se mais e melhor. Nome ou lugar,
destino que talvez tinhas em mente
para a viagem. Nem isto é mesmo azar.
Perdi o relógio de mamãe. E um lar
dos três que tive, o (quase) mais recente.
A arte da perda é fácil de apurar.
Duas cidades lindas. Mais: um par
de rios, uns reinos meus, um continente.
Perdi-os, mas não foi um grande azar.
Mesmo perder-te (a voz jocosa, um ar
que eu amo), isso tampouco me desmente.
A arte da perda é fácil, apesar
de parecer (Anota!) um grande azar.
Rodolfo Pamplona Filho
Ser importante é do Ego
Ser feliz é da alma
Ser valorizado é do Ego
Realizar-se é da alma
Ter títulos é do Ego
Saber é da alma
Ser lembrado é do Ego
Fazer é da alma
Ser reconhecido é do Ego
Ter amigos é da alma
Ser casca é do Ego
Ser essência é da alma
Salvador, 21 de julho de 2018.
Mário Quintana
- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta.
Rodolfo Pamplona Filho
Vou mudar
minha cara,
minha casa,
minha fala
Vou mudar
meu endereço,
meu adereço
minha composição
Vou mudar
a minha postura.
a minha estrutura,
o meu caminhar
Vou mudar
tudo em mim
para poder
ser o mesmo para você.
Salvador, 14 de outubro de 2018.
Um oceano a lhes separar.
O mesmo sol, o mesmo mar.
A mesma terra. O mesmo luar,
Só não o mesmo lugar.
Tão perto:
No pensamento.
Mas tão distante:
No firmamento.
Como naufrago numa ilha,
Com um mar à frente,
Vê-se como indigente.
A distância é de milhas.
Apesar de chamar Terra,
É o Mar que tudo encerra?
(Paulo Basílio - 05/01/2016)