Rodolfo Pamplona Filho
Não posso
me deixar consumir
pelo fato consumado
Não posso
chorar compulsivamente
pelo leite derramado
Não posso
fazer voltar
as águas do rio
Não posso
tirar a roupa
e reclamar do frio
Salvador, 18 de julho de 2024.
Blog para ler e pensar... Um texto por dia... é a promessa... Ficarei muito feliz em ler e saber o que cada palavra despertou... Se você quiser compartilhar um texto, não hesite em mandar para rpf@rodolfopamplonafilho.com.br. Aqui, não compartilho apenas os meus textos, mas de poetas que eu já admiro e de todas as pessoas que queiram viajar comigo na poesia... Se quiser conhecer somente a minha poesia, acesse o blog rpf-poesia.blogspot.com.br. Espero que goste... Ficarei feliz com isso...
Rodolfo Pamplona Filho
Não posso
me deixar consumir
pelo fato consumado
Não posso
chorar compulsivamente
pelo leite derramado
Não posso
fazer voltar
as águas do rio
Não posso
tirar a roupa
e reclamar do frio
Salvador, 18 de julho de 2024.
Chico Settineri
Deboche delírio fêmea...
Piratas especialistas
de naus
do Descobrimento.
Diâmicos, cruéis, polivalentes
cruzamos juntos, tontos e doentes
os passos (tentem!)
da paixão.
Rodolfo Pamplona Filho
No coração da luta, onde a voz ressoa,
celebra-se a visibilidade da pessoa,
que não pode mais ficar calada,
nem muito menos ser silenciada.
Das sombras do passado, ergue-se altivo
um movimento imparável e decisivo.
Contra a opressão, levanta-se em união,
celebrando a força, a coragem e a visão.
Mulheres negras, guerreiras de luz,
quebram as correntes, desafiam a cruz.
Nas ruas, palcos e páginas da história,
O feminismo negro escreve sua trajetória,
reivindicando espaço, justiça e igualdade,
empoderando vidas, com amor e dignidade.
É a voz que ecoa, em cada canto e esquina,
A luta pelo direito de ser quem se destina.
Feminismo negro, raiz de resistência e poder,
estrela que ilumina o caminho a percorrer.
Salvador, 8 de junho de 2024.
Fagundes de Oliveira
Demonstra com doçura o teu amor,
Num gesto apenas, sem falar, só pensa
O quanto o sentimento é uma presença
Que adorna a vida e a encanta em seu valor.
O orvalho da manhã tem um sabor
De vida nova e uma esperança imensa.
O tempo vai passando e a recompensa\
É igual a um beijo dado com calor.
Procura ser feliz - a vida é leve
Não pára e não dá tempo à indecisão;
É um vento que acalenta enquanto é breve.
O sonho vai passando e na verdade
É uma janela aberta à imensidão
Com gosto de esperança e de saudade.
Rodolfo Pamplona Filho
O gosto amargo da solidão
Do veneno, a ingestão
A tristeza da partida
O masoquismo da despedida
O começo da consciência
O fim da existência
Descobrindo finalmente
e realmente
a dor que (quase) me fez chorar
quando o que sempre
esteve para se concluir
finalmente se completa
Salvador, 20 de junho de 2024.
Cristiane França
Um brilho tênue...
Sem desesperos...
Sem atropelos...
Somente se põe em mim.
Ressurge forte ao amanhecer
Porque ternamente se pôs
Permitindo o anoitecer.
Temores das sombras não
calam tão fortemente no
Espírito... Pois,
os olhos já conheceram o sol!
Rodolfo Pamplona Filho
A vida me contemplou
com filhos maravilhosos,
tanto no sangue,
quanto no coração!
Isso se dá, com fé,
pois, definitivamente,
a paternidade não é
uma biologia permanente.
É muito mais do que isso:
é uma eleição de paradigma
de quem assume o compromisso
de não ser um enigma.
Apadrinha-se, torna-se companheiro,
confidente, ombro amigo e parceiro.
Comemora-se junto, chora-se também,
da verdade biológica, vai-se além...
A paternidade por adoção afetiva
honrou-me com um carinho
que nem todos têm na vida...
que não se compreende sozinho...
mas que é a prova mais dura
de que pessoas podem se amar
e se entregar de forma pura,
sem qualquer outro interessar,
como deveria ser, aliás,
em qualquer verdadeira relação
de um afeto que não volta atrás...
de uma escolha consciente de devoção.
Claudia Moraes Rego
"Olha o balão!"
Não via.
Não falava nada.
"Olha o gavião!"
Não via.
Calava.
"Olha o Cristo Redentor!"
Puxa, não via!
Mas fingia
"O bondinho!"
Nada.
Era assim.
Certamente,
sem dúvida nenhuma,
fazia parte
(tinha caído do lado)
da tribo dos exilados
do prazer.
Rodolfo Pamplona Filho
Comandar os passos,
mesmo quando ninguém
pediu por isso
Portar-se como censor,
estabelecendo volume
e assunto que possa ser tratado
Irar-se e fechar-se
quando alguém faz algo
fora do script
Desconhecer que
o Líder de verdade
tem sua autoridade
na sua credibilidade,
e não na sua vontade.
São Paulo, 16 de novembro de 2019.
Garcia Rosa
Quando passas altiva e desdenhosa,
Como uma deusa em mármore esculpida,
Lembras-me a Grécia antiga e luminosa
E, adorando a Mulher, bendigo a Vida.
Toda a força do amor misteriosa
Trazes soberbamente refletida
Na perfeição da plástica mimosa
E na graça do andar, indefinida...
Mas quando te acompanho na esperança
De penetrar os íntimos refolhos
Dessa alma em flor, que a amar não se abalança,
Volves em torno, distraída, os olhos,
Na pertinácia vã de uma esquivança
Que semeia ilusões em vez de abrolhos.
Rodolfo Pamplona Filho
É no Santuário de Sculapio,
em que Hipócrates separou
o Logos da Cega Crença,
que se depositam as esperanças
de quem ainda crê em salvação,
não da alma perdida ou maltratada,
mas, sim, do corpo massacrado,
entregue às intempéries da saudade,
no sofrimento da enfermidade.
Não se sabe quem cura:
se Deus ou a mão do homem...
Isto pouco importa para quem busca
a retomada do vigor,
o reencontro do calor
e a superação do torpor
do sofrimento e da dor.
Atenas/Grécia, 29 de setembro de 2012, pensando no Templo de Sculapio.
Maciel Monteiro
Formosa, qual pincel em tela fina
Debuxar jamais pode ou nunca ousara;
Formosa, qual jamais desabrochara
Na primavera a rosa purpurina;
Formosa, qual se a própria mão divina
Lhe alinhara o contorno e a forma rara;
Formosa, qual jamais no céu brilhara
Astro gentil, estrela peregrina;
Formosa, qual se a natureza e a arte,
Dando as mãos em seus dons, em seus lavores
jamais soube imitar no todo ou parte;
Mulher celeste, oh! anjo de primores!
Quem pode ver-te, sem querer amar-te?
Quem pode amar-te, sem morrer de amores?!
Rodolfo Pamplona Filho
Contrastar uma crença básica
em oposição diametral à outra.
Viver uma vida antropofágica,
devorando o que está à solta.
Declarar-se algo
que se sabe que não se é...
pois tudo que conquistou
foi baseado em um temor
que deixou de existir,
passando a viver
somente para repetir
o que nem mais se crê,
em uma forma de auto-punir,
ao impor a si mesmo um sofrer...
Mikonos, 24 de setembro de 2012.
Chico Buarque de Holanda
O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Meu maestro soberano
Foi Antonio Brasileiro
Foi Antonio Brasileiro
Quem soprou esta toada
Que cobri de redondilhas
Pra seguir minha jornada
E com a vista enevoada
Ver o inferno e maravilhas
Nessas tortuosas trilhas
A viola me redime
Creia, ilustre cavalheiro
Contra fel, moléstia, crime
Use Dorival Caymmi
Vá de Jackson do Pandeiro
Vi cidades, vi dinheiro
Bandoleiros, vi hospícios
Moças feito passarinho
Avoando de edifícios
Fume Ari, cheire Vinícius
Beba Nelson Cavaquinho
Para um coração mesquinho
Contra a solidão agreste
Luiz Gonzaga é tiro certo
Pixinguinha é inconteste
Tome Noel, Cartola, Orestes
Caetano e João Gilberto
Viva Erasmo, Ben, Roberto
Gil e Hermeto, palmas para
Todos os instrumentistas
Salve Edu, Bituca, Nara
Gal, Bethania, Rita, Clara
Evoé, jovens a vista
O meu pai era paulista
Meu avô pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô baiano
Vou na estrada há muitos anos
Sou um artista brasileiro
Rodolfo Pamplona Filho
Há indivíduos que
mal comem feijão com arroz
e querem questionar
a qualidade do champagne...
Pessoas que não sabem distinguir
um idioma de um dialeto,
um prato de um lanche
ou uma casa de um lar
e querem posar para a sociedade
como sacerdotes do culto,
vestais do templo
ou oráculos da verdade...
Pobres diabos,
eles não sabem
o que fazem, pois
sua vontade de viver
se confunde com
sua necessidade de reclamar...
Pamplona/Espanha, 03 de outubro de 2012.
Adão José Pereira
A vida é um poema mui lindo
Que o Pai Celeste assinou,
E com habilidade infinda
Afeto e ternura expressou.
Porém ela é veloz e passageira,
Corre tão rapidamente!
E qual uma águia ligeira,
Passa e nos leva de repente.
Ma enquanto existe há esperança
De que melhores dias virão!
Trazendo paz, amor e bonança,
Fartura, prosperidade e realização.
Rodolfo Pamplona Filho
Ainda que divididos pelo Atlântico
e por fusos horários incompatíveis,
o que um sente de um lado,
o outro automaticamente responde.
Se um levanta assustado,
encontrará o outro conectado,
como se a energia gerada
fosse automaticamente repassada.
É realmente impressionante,
como tudo surge em um instante,
permitindo a imediata compreensão
pois o que, para muitos, é acaso,
para mim, é o mais evidente traço
de uma sintonia infalível de paixão.
Pamplona/Espanha, 03 de outubro de 2012.
Adélia Prado
As galinhas com susto abrem o bico
e param daquele jeito imóvel
- ia dizer imoral -
as barbelas e as cristas envermelhadas,
só as artérias palpitando no pescoço.
Uma mulher espantada com sexo:
mas gostando muito.
Rodolfo Pamplona Filho
Todo mundo é vítima
e ninguém assume a culpa
Todo mundo é vítima
e se pode fugir da luta
Todo mundo é vítima
e se empurra a responsabilidade
Todo mundo é vítima
e não se muda nada de verdade
Todo mundo é vítima
e há argumento para tudo
Todo mundo é vítima
e punir é um absurdo
Todo mundo é vítima
No Trem de Madrid para Pamplona, 02 de outubro de 2012.
Camilo Martins Neto
Mergulho no rio
Correnteza à baixo
Nadando de frente
Ora de lado
Outras de costas
Enfrentando tudo
Basculhos, pedras
Cortantes folhas,
Águas turvas,
Peixes vorazes,
Cobras venenosas,
Peçonhentos tantos
A desanimar a lida.
Mas, nado, e, nada
Me impede a ida
Quero chegar ao
Outro lado da vida.
Canso, descanso
E no remanso fico
A boiar na água
Mansa do meu rio.
Rio que vai e nunca
Mais volta, tal como
Eu que nado, nado...
E vou, pra nunca
Mais voltar à mesma
Água que se foi.
É assim, braços
Cansados, pernas
Cansadas, corpo
Cansado, o tempo
Que também se foi...
Estou quase chegando
Ao outro lado do rio
Nado e nada me
Impede de pisar
Em solo firme
E vem lembranças
Da travessia
Quanta luta e o
Suor se misturando
Com a água do rio,
As lágrimas a
Aumentarem-lhe
O volume e juntar-se
À água salgada
Do velho mar.
Falta pouco e
Nesse pouco
Vejo o quanto
Foi importante
Nadar e não
Deixar que nada
Impedissem as
Sagradas braçadas
Que além das
Forças, minhas e
Do rio, foram
Vencendo cada
Obstáculo quase
Intransponíveis
Da travessia do rio.
E continuo nadando
E dando tudo de
Mim para vencer
A correnteza final
E chegar e sorrir
E chorar de alegria
E descansar afinal
Merecidamente
Eternamente, pois
Assim é a vida.
Rodolfo Pamplona Filho
A palavra encanta
e provoca a reflexão
Se a imagem diz muito,
a palavra diz tudo,
para sábios e incultos,
na medida do seu alcance...
Madrid, 01 de outubro de 2012.
Stéfane Pyaar
todo mundo
pede ajuda
o tempo todo.
alguns gritam,
outros choram baixinho.
e eu, bem, eu escrevo.
Rodolfo Pamplona Filho
Amor é quase tudo,
mas o quase não é irrelevante
O que falta ao amor
para ser impactante?
Talvez um pouco de cuidado
Talvez um carinho inesperado
Talvez uma torcida explícita
Talvez uma entrega sem retorno
Amor é quase tudo,
mas o quase não é irrelevante
O que falta ao amor
para ser incessante?
Talvez uma dose de mistério
Talvez um suspiro no espelho
Talvez um choro em desabafo
Talvez um frio na barriga no encontro
Amor é quase tudo,
mas o quase não é irrelevante
O que falta ao amor
para ser acachapante?
Talvez um bilhete inesperado
Talvez uma surpresa no acordar
Talvez dormir agarrado
Talvez nunca parar de sonhar
Salvador, 27 de outubro de 2018.
Poema de Fernando Py (1935-2020)
– melancólico olhar, sereno rosto,
postura fixa e o todo bem composto –
no retrato que o tempo desafia.
Fui eu na minha infância fugidia
de prazeres ingênuos, e o desgosto
de sentir tão efêmera a alegria
bem depressa mudada em seu oposto.
Fui eu, sim; mas o tempo que perpassa
e tudo altera nem sequer deixou
um grão de infância feito esmola escassa.
Fui eu; e da figura só ficou
o olhar desenganado na fumaça
em que a criança inteira se mudou.
abril 1998
(De Sentimento da Morte – 2003)
Rodolfo Pamplona Filho
De supetão,
joga-se tudo para cima,
muda-se a programação,
arrisca-se fazer o inédito
De supetão,
muda-se o clima,
o humor
e a disposição
De supetão,
sai-se de casa,
abandona-se um lar,
busca-se uma saída
De supetão,
toma-de coragem
para fazer o que
nunca se fez na vida.
Salvador, 09 de janeiro de 2021.
Celso Cruz
Aprendi o Nome das Uvas.
Cada lenda, cada história,
Guardei na memória,
Pra conversar bonito,
Pra passar por erudito,
Por um bom entendedor.
Eu sou um bom bebedor.
Gosto de uma boa bebida,
Com uma boa comida,
Harmonizando o sabor :
🍇🍇🍇
Cabernet Sauvignon
Presente em toda taverna,
Cabernet vem de caverna
Sauvignon, de selvagem
Vai do calor à friagem
Se adaptando a cada clima
Um cruzamento “obra-prima”
É do século dezesseis
E vou dizer pra vocês
É uva de minha estima.
🍇🍇🍇🍇
A francesa Merlot
O seu significado
Diz-se ter se originado
Do pássaro “merle”, pequeno,
Abundante em terreno,
Onde a uva era plantada.
Sua cor preto azulada
Seu gosto por ela, madura
Era a praga da cultura,
Em outra época passada.
🍇🍇🍇🍇
E veio lá da Borgonha,
A uva Pinot Noir,
Depende do terroir
De onde é extraída,
O buquê, sua bebida
A sua coloração
É a uva camaleão,
Muda de aroma, de cor
Uva de fino sabor,
Requer harmonização.
🍇🍇🍇🍇
Sucesso do Uruguai,
Tannat, a uva francesa,
Vai bem com a sobremesa
Com um assado de vitela,
Um churrasco de costela
Pois, seus taninos marcantes,
Tem poderes antioxidantes.
Eu mesmo acho adorável,
Final longo, memorável,
Vinhos Intensos e elegantes.
🍇🍇🍇🍇
De nome Petit Verdot,
Uva de cacho pequeno,
Própria de clima ameno,
Demora amadurecer
Entre o plantar e o colher.
Ela mostra-se resistente,
Brota precocemente
Me garantiu meu vizinho
Que é expert em vinho
E de Bordeaux, é procedente.
🍇🍇🍇🍇🍇
Chianti, Rosso, Brunello,
Favorece a minha tese
Que a uva Sangiovese,
Essa cepa italiana
Da região da Toscana,
É história engarrafada.
Na Itália ela é amada,
Desde a Roma antiga.
Existe quem contradiga
A história aqui contada.
🍇🍇🍇🍇
A uva perdida de Bordeaux,
Carmenère, me encanta
Seu sabor se agiganta
Com um harmonizar propício.
Ótimo custo benefício
E se bem harmonizado,
Mesmo americanizado,
É uma de cepa divina,
Em toda América Latina
Esse vinho é encontrado
🍇🍇🍇🍇
Syrah, Shiraz “Darou-é-shah”
Ou, o remédio do Rei,
Pelo que pesquisei
E ouvi do meu amigo,
Se discordarem, não ligo
Bom de harmonização
Ótimo pro coração
Sabor intenso e profundo
No novo e no velho mundo
Sempre desperta paixão
🍇🍇🍇
Malbec, uva francesa
Sucesso na Argentina,
Sempre uma bebida fina,
De Mendonza à Patagônia
Eu digo, sem parcimônia,
O Patagão prefiro eu
Estando no apogeu
Com o seu sabor marcante
É um vinho mais elegante
Bem ao estilo europeu
🍇🍇🍇🍇
Nebbiolo vem de “nebbia”,
Que traduz-se em nevoeiro,
Foi o meu amor primeiro.
Um vinho piemontês
Eu vou dizer pra vocês
Se bebo sinto saudade
Sem nenhuma vaidade
Se junto à pessoa amada
Com uma boa macarronada
Meu nome é felicidade
🍇🍇🍇🍇
Que dizer da Tempranillo
Uva ilustre da Espanha
Com uma enorme façanha
De três mil anos de história,
Se não me falha a memória,
É a que primeiro amadurece.
E, pelo que me parece,
“Temprano” é precocidade
O vinho é a felicidade
Que em garrafa se oferece.
Rodolfo Pamplona Filho
Festa junina na pandemia
é diferente do São João
quando os dias da gente
eram apenas “normais”
Os amigos e as famílias,
como antes, não estão
presencialmente
ao lado e juntos mais
Se não dá mais para abraçar,
isso não quer dizer
que a vontade de cantar
tenha que desaparecer
Se não dá mais para beijar,
isso não quer dizer
que a ausência do tocar
anule o desejo de viver
Hoje, pode não ter dança
ou mesmo um brinde com quentão,
mas sempre terá a esperança
que aquece o coração
de que, se não abraçados
fisicamente,
continuaremos ligados
espiritualmente,
e isso renova a alegria
e o desejo por dias melhores,
que é o combustível da folia
e a ordem para que não chores
pois, na nossa folia,
pode até faltar licor,
mas, nunca na vida,
faltará o amor.
Salvador, 24 de junho de 2020.
Negra Luz
Para ficar,
Me dê motivos...
Está bem mais fácil eu me perder.
Para apostar,
Me dê razões...
A aposta é alta. E se eu perder?
A quem cobrar?
Não há garantias...
A conta é alta, para não te perder.
Você está Rei,
Eu nasci Rainha...
O meu reinado vai além de você.
Amar...
Eu amo.
Afirmo isso.
A quem mais amo?
Meu próprio ser.
Rodolfo Pamplona Filho
Uma vida sem filhos
é como uma árvore sem frutos:
beleza ornamental,
que cumpre sua jornada
e realiza sua missão,
não se machucando ao final
pela dor da sua ausência.
Mas como saber
se há a dor
sem provar o sabor
do primeiro amor?
Como disse o poeta;
“Filhos, melhor não tê-los,
mas, se não tê-los,
como sabê-los?”...
Praia do Forte, 02 de janeiro de 2021.
(Negra Luz)
A mulher
A negra
A mãe
A trabalhadora
A beleza
A resistência
O amor
A luta
A angústia
O diploma
O filho
O pão
A barra
O barraco
O tráfico
A repulsa
O pulso
A quebrada
A abolição
A frustração
Um estampido!
Muitas direções!
Pelo rastro de sangue, mais uma vida.
Vidas!
Um coração!
Muitas esperas!
Pela cor da pele, mais um negro...negra.
Negras! Negros!
Morreu.
E ela morreu.
Um negro...
Uma negra...
Importam?
Portam?
Vidas importam!
Mais uma vez,
Foi-se uma vida negra.