quarta-feira, 31 de julho de 2013

Soneto do Experimentar


Soneto do Experimentar

Rodolfo Pamplona Filho
Um lugar paradisíaco
Um ingrediente afrodisíaco
Uma mais ousada posição
Uma nova e gostosa sensação

Como saber se vai gostar,
sem ao menos experimentar?
Se sabe que mal não faz,
por que o medo de olhar para trás?

Uma aventura exótica
Uma viagem erótica
Uma bebida inebriante

Sabe-se é que a rotina maltrata
e que relações mata
aquele que só quer o constante.

Santiago-Chile, 28 de junho de 2012.

terça-feira, 30 de julho de 2013

O céu


O céu (Luís Miguel Nava)

Assoam-se-me à alma, quem
como eu traz desfraldado o coração sabe o que querem
dizer estas palavras.
A pele serve de céu ao coração.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Malogro


Malogro

Rodolfo Pamplona Filho
Ir na exposição sem ter aberto
Chegar atrasado no teatro perto
Ser enganado pelo taxista do dia
Experimentar o que lhe dá alergia
Brincar com algo que nao agüenta
Sofrer pela conexão lenta
Entrar na festa antes do aniversariante
Brindar réveillon com refrigerante
Um programa que nem quem sugeriu gosta
Um malogro é sempre uma péssima aposta...

Santiago-Chile, 29 de junho de 2012.

domingo, 28 de julho de 2013

Traço comum


Traço comum (Vasco Gato)

descalço-me de sombras para chegar a ti
as linhas do meu rosto são claríssimas
nelas não vês o velho, a criança, o adulto
vês apenas o traço comum
que é onde eu procuro a tua mão
na transparência da minha palavra inteira

sábado, 27 de julho de 2013

Cérebro e Mente




Cérebro e Mente

Rodolfo Pamplona Filho
O cérebro é material
e corpóreo, como a carne.
Dele, cuidam
médicos e biólogos.
A mente é imaterial
e etérea, como o pensamento.
Dele, cuidam
filósofos e psicólogos.
Mas como separar
o corpo da alma,
sem fracionar
o que, de forma calma,
se constrói conjuntamente
na cabeça de toda gente?
Talvez só no dia
em que a verdade vazia
for mais transparente
do que a vida inclemente...
Talvez no momento
em que todo tormento
se dissipe em um zoom
e todos se sintam apenas um.

Museo Interactivo Mirador, Santiago-Chile, 29 de junho de 2012.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Um dizer ainda puro


Um dizer ainda puro (Vasco Gato)

imagino que sobre nós virá um céu
de espuma e que, de sol em sol,
uma nova língua nos fará dizer
o que a poeira da nossa boca adiada
soterrou já para lá da mão possível
onde cinzentos abandonamos a flor.

dizes: põe nos meus os teus dedos
e passemos os séculos sem rosto,
apaguemos de nossas casas o barulho
do tempo que ardeu sem luz.
sim, cria comigo esse silêncio
que nos faz nus e em nós acende
o lume das árvores de fruto.

diz-me que há ainda versos por escrever,
que sobra no mundo um dizer ainda puro.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

A Poesia é Meu Refúgio


A Poesia é Meu Refúgio

Rodolfo Pamplona Filho
Quando a tristeza me assalta
e fico imerso na melancolia;
Quando a solidão me oprime
e a depressão me consome;
Quando a rotina me irrita
e a monotonia me maltrata;
Quando o stress me atormenta
e o cansaço me anestesia;
Quando não sou compreendido
ou me sinto abandonado ou perdido;
A Poesia é Meu Refúgio...

No voo de Santiago para Puerto Montt-Chile, 29 de junho de 2012.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Douro


Douro  (Filipa Leal)

Não sei se prefiro o rio
ou o seu reflexo nas janelas espelhadas.

De um lado
os barcos ancorados,
do outro lado:
barcos - na imediata memória das âncoras.
Deste lado, o porto, ou o cais,
contracenando com a sua própria inexistência
daquele lado.

Existirá aquele rio nos espelhos?
Poderá este subsistir sem as janelas?

Sou dourada como os peixes que te
desabitaram. E, do outro lado, sou
desabitada.

terça-feira, 23 de julho de 2013

27 anos


27 anos

Rodolfo Pamplona Filho
Robert Johnson
Brian Jones
Jimmy Hendrix
Janis Joplin
Jim Morrison
Kurt Cobain
Amy Winehouse
e muita gente mais..
Talentos imensos
para vidas curtas demais...
27 anos não é tarde
para começar uma vida,
mas é muito cedo
para ir embora...

Salvador, 23 de julho de 2012.

Medo


Medo

Rodolfo Pamplona Filho
O medo é como um canibal
que se alimenta de si mesmo.
Vive em cada sombra...
Espreita em cada esquina...
Esconde-se na penumbra,
mas sempre perto de você,
a ponto de sentir o seu hálito,
mesmo sem vê-lo ou tocá-lo...
Pode estar em dois
ou muito mais lugares
ao mesmo tempo:
mais à frente,
do seu lado,
em seu caminho
e, simultaneamente,
vindo atrás de você!
O medo se esconde
dentro de cada decisão,
questionando cada movimento seu.
E a culpa é sempre sua!
Você é quem dá vida a ele!
Você gera seus próprios medos...
Todos os instintos dizem
que não se pode fazer nada
diante do que aterroriza...
Mas é só isso que
o medo é... instinto.
Fugir é decorrência
da própria natureza,
afirmando ser melhor
correr e viver
para lutar outro dia...
Mas, fugindo,
o canibal se alimenta
e se torna mais forte...
O melhor é correr, sim,
mas em direção ao medo,
encará-lo, olhar em seus olhos,
fazê-lo piscar primeiro,
vê-lo diminuir...
Morrer de medo é
como cometer suicídio,
antecipando um resultado
possível de ocorrer,
mas não necessário agora,
fechando-se para o mundo lá fora,
até definhar
pela falta do ar
que decidir enfrentar
poderia proporcionar...

Puerto Varas-Chile, 30 de junho de 2012.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Verdade ou consequência


Verdade ou consequência (Rui Pires Cabral)

Houve dias cheios de sol e jogos ágeis
em redor dos lagos, uma jornada na montanha
para ouvir o eco e a sombra da nuvem
ganhando alento nas vertentes como um barco
prodigioso.

Perseguíamos nas raízes do dia uma ausência
que alastrava para o norte, para essas planícies inventadas
onde pássaros ávidos tomariam por sementes
as palavras que dizíamos.

Éramos demasiado jovens
e aos nossos olhos
o mundo tinha a idade que mais nos convinha.

domingo, 21 de julho de 2013

Fale com a Mãozinha...


Fale com a Mãozinha...

Rodolfo Pamplona Filho
Quando estiver para explodir
ou tiver vontade de gritar,
não adianta resistir
ou querer se matar,
o melhor a fazer
é tentar descobrir
como novamente ter
o prazer de sorrir.
Por isso, em vez de estourar
ou sair totalmente da linha,
melhor levantar os olhos, respirar
e falar com a mãozinha...

Fale com a Mãozinha...

Puerto Varas-Chile, 30 de junho de 2012.

sábado, 20 de julho de 2013

VIDA MALVADA


VIDA MALVADA

Eu rumino mesmo.
Qual bicho mais lindo
que a vaca?
Cresci montada em cavalo
entrando em açude
pescando piaba com goma
comendo siriguela verde
com sal da boiada.
Eu rumino mesmo.
Falo mal da vida
Não gosto dela
"Refugo e berro
essa vida malvada"
Por que me tiraram
da minha terra?
Eu rumino
Queria ser bicho
Ser currada
que nem égua
Me fizeram gente
Pior, mulher!
Aí eu rumino
de raiva
Pois eu queria mesmo
era ser uma vaca!

Jácy Laranjeira

sexta-feira, 19 de julho de 2013

O Amanhã


O Amanhã

Rodolfo Pamplona Filho
O Amanhã está a
um sonho de distância...
Eu não quero
simplesmente deitar
e esperar...
... que o amanhã chegue
como o dia que sucede o hoje.
Eu quero mais...
Quero construir o futuro,
sem chorar o presente
ou esquecer o passado...
Ao se perguntar
o que pode vir a ser
- ou o que, de fato, será -
faz-se a pergunta certa,
pois, ao ter esperança,
planejar e edificar,
molda-se o sonho,
e não se é moldado
pela realidade...
O Amanhã está a
um sonho de distância...

Puerto Varas-Chile, 30 de junho de 2012.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Gnossienne nº 1


Gnossienne nº 1 (Rui Pires Cabral)

Eu acreditei que podia amar
o teu corpo, o teu modo de insinuar o coração
nas palavras. Mas era apenas a forma como a noite
sublinhava as superfícies, eu nunca pude atravessar
essa espessura. Estavas ali para te dispores aos meus sentidos
mas crescias fora de alcance no teu próprio
pensamento. Uma distância que só serviria
aos lobos, um mau caminho arrancado às fragas.

Já só conhecia os dias onde tu os frequentavas, o sítio
em que me mantinhas era mais urgente
que o sangue. Sem dúvida que vinhas pelo meu desejo
mas eu perdia sempre alguma coisa
quando te ganhava. Às vezes era só
a minha vontade, outras vezes era toda a frase
do meu nome.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Momentos Felizes


Momentos Felizes

Rodolfo Pamplona Filho
Não dá para ser
feliz o tempo todo,
nem acreditar que
é para sempre
a felicidade que contagia
aquele que está curtindo...
O importante é
saber viver
os momentos felizes
ou, ainda mais,
saber extrair,
tal qual Poliana,
a alegria de cada instante,
como a água de um cactos
ou um suco de uma fruta
que já passou o tempo
de ser comida...
É preciso aproveitar
os momentos felizes...

Puerto Varas-Chile, 02 de julho de 2012.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Ramo


Ramo (Gastão Cruz)

Talvez eu não consiga quanto amo
ou amei teu ser dizer, talvez
como num mar que tu não vês
o meu corpo submerso seja o ramo
final que estendo já não sei a quem

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Decrepitude Incorporada


Decrepitude Incorporada

Rodolfo Pamplona Filho
Comportar-se como um doente
sem ter sequer um passado...
Achar ter visto o suficiente
sem ter olhado para o lado...
Sentir o peso dos anos
que nem sequer passaram...
Abdicar de fazer planos
pois os sonhos abandonaram...
Reclamar de dores
que nunca efetivamente sentiu
ou senti-las mais como fruto
de uma sugestão psicológica...
Resmungar pela vida,
barulho ou comida,
nunca havendo o que realmente
agrade sua vontade inclemente,
que somente nasceu
para, de tudo, se queixar,
em uma postura que cedeu
a sentimentos que não voltam mais,
lembrando-se do tempo de seus pais,
como se pudesse ter vivido atrás...
É o prazer de ser rabugento...
É o conforto de ser um tormento...
É sentir-se menos que nada...
É a decrepitude incorporada.

Puerto Varas-Chile, 02 de julho de 2012.

domingo, 14 de julho de 2013

Memória


Memória (Gastão Cruz)

A voz rouca da noite exprime a nossa
memória poderia dizer a
nossa história mas evito
o que possa
anular o sentido
do que procuro manter vivo

sábado, 13 de julho de 2013

O Detalhe é a Palavra



O Detalhe é a Palavra

Rodolfo Pamplona Filho
O detalhe é a palavra
Esta é a diferença
entre gostar e amar,
entre simpatizar e se encantar,
entre flertar e seduzir,
entre chorar e sorrir...

O detalhe é a palavra
Esta é a diferença
entre ser parente e ser amigo
entre ser herói e ser bandido
entre ser mestre e ser professor,
entre ser amante e ser amor

O detalhe é a palavra
Esta é a diferença
entre cogitar e fazer,
entre viver e sobreviver,
entre sonhar e querer,
entre ter e verdadeiramente ser...

Puerto Varas-Chile, 02 de julho de 2012.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Sentença de um juiz de Minas



Sentença de um juiz de Minas

 Esta aconteceu em Minas Gerais (Carmo da Cachoeira).
 O Juiz Ronaldo Tovani, 31 anos, substituto da Comarca de Varginha,  ex-promotor de justiça, concedeu liberdade provisória a um sujeito  preso em flagrante por ter furtado duas galinhas e ter perguntado ao  delegado "desde quando furto é crime neste Brasil de bandidos?".

 O magistrado lavrou então sua sentença em versos.
 
 No dia cinco de outubro
 Do ano ainda fluente
 Em Carmo da Cachoeira
Terra de boa gente
 Ocorreu um fato inédito
 Que me deixou descontente.

O jovem Alceu da Costa
Conhecido por "Rolinha"
Aproveitando a madrugada
Resolveu sair da linha
Subtraindo de outrem
Duas saborosas galinhas.

 Apanhando um saco plástico
 Que ali mesmo encontrou
O agente muito esperto
Escondeu o que furtou
Deixando o local do crime
Da maneira como entrou.

O senhor Gabriel Osório
Homem de muito tato
Notando que havia sido
A vítima do grave ato
Procurou a autoridade
Para relatar-lhe o fato.

Ante a notícia do crime
A polícia diligente
Tomou as dores de Osório
E formou seu contingente
Um cabo e dois soldados
E quem sabe até um tenente.

Assim é que o aparato
Da Polícia Militar
Atendendo a ordem expressa
Do Delegado titular
Não pensou em outra coisa
Senão em capturar.
E depois de algum trabalho
O larápio foi encontrado
Num bar foi capturado
Não esboçou reação
Sendo conduzido então
À frente do Delegado.
Perguntado pelo furto
Que havia cometido
Respondeu Alceu da Costa
Bastante extrovertido
Desde quando furto é crime
Neste Brasil de bandidos?

Ante tão forte argumento
Calou-se o delegado
Mas por dever do seu cargo
O flagrante foi lavrado
Recolhendo à cadeia
Aquele pobre coitado.

E hoje passado um mês
De ocorrida a prisão
Chega-me às mãos o inquérito
Que me parte o coração
Solto ou deixo preso
Esse mísero ladrão?

Soltá-lo é decisão
Que a nossa lei refuta
Pois todos sabem que a lei
É pra pobre, preto e puta...
Por isso peço a Deus
Que norteie minha conduta.

É muito justa a lição
Do pai destas Alterosas.
Não deve ficar na prisão
Quem furtou duas penosas,
Se lá também não estão presos
Pessoas bem mais charmosas.

Afinal não é tão grave
Aquilo que Alceu fez
Pois nunca foi do governo
Nem sequestrou o Martinez
E muito menos do gás
Participou alguma vez.

Desta forma é que concedo
A esse homem da simplória,
Com base no CPP,
liberdade provisória
Para que volte para casa
E passe a viver na glória.

Se virar homem honesto
E sair dessa sua trilha
Permaneça em Cachoeira
Ao lado de sua família
Devendo, se ao contrário,
Mudar-se para Brasília!!!

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Diálogo em Baianês


Diálogo em Baianês

Rodolfo Pamplona Filho
Ó o auê aí ó!
Digaí!
Você está por cima da carne seca, véi!
Colé, véi! Você vê os pulos que dou, mas não vê os tombos que tomo...
Você é que é de fritar bolinho e beber o caldo...
Não acerte seu relógio pelo dele, pois, na hora do vamos ver, todo mundo se pica...
Valeu, véi! Vou chegando...

Puerto Varas-Chile, 02 de julho de 2012.


quarta-feira, 10 de julho de 2013

The stone

http://youtu.be/8m2fQWXrZK8

The stone

I've this creeping
Suspicion that things here are not as they seem
Oh, reassure me
Why do I feel as if I'm in too deep?
Oh, I've been praying
For some way to show them
I'm not what they see
Oh, I have done wrong
But what I did I thought needed be done
I swear
Oh, Unholy day
If I leave now I might get away
God knows it weighs on me
As heavy as stone and as blue as I go
I was just wondering if you'd come along
Hold up my head when my head won't hold on
I'll do the same if the same's what you want
But if not I'll go
I will go a long way
Far from that fool's mistake
And now forever pay
No, run
I will run and I'll be ok
I was just wondering if you'd come along
Hold up my head when my head won't hold on
I'll do the same if the same's what you want
But if not I'll go
I will go a long way
To bury the past
For I don't want to pay
Oh, and I wish this
To turn back the clock and do over again
I was just wondering if you'd come along
Hold up my head when my head won't hold on
I'll do the same if the same's what you want
But if not I'll go
I will go alone
Oh, I need so
To stay in your arms see you smile hold you close
Oh, And it weighs on me
As heavy as stone and a bone chilling cold
I was just wondering if you'd come along
Just tell me you will

Let it all fall out
Let it all fall out

terça-feira, 9 de julho de 2013

Cachorro Vira-Lata


Cachorro Vira-Lata

Rodolfo Pamplona Filho
Sou um cachorro vira-lata,
solto nas ruas,
em busca de comida
e de carinho...
Procurando um refúgio,
onde possa ser amado
e não ter mais subterfúgio
para me sentir abandonado...

Puerto Varas-Chile, 02 de julho de 2012.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Lilás

Lilás

Luz do dia, brilha o sol e ainda és neblina.
Brumas e fumaças ao teu redor dançam.
Fusão de luz e sombra por entre minha retina,
do efêmero ao indelével que teus olhos lançam.

Misturam-se em ti a perversão e o sublime,
numa louca poesia que nunca se finda.
A mim tua boca acusa, a mim teu corpo redime,
numa sutil percepção que sempre me deslinda

Tua mente é labirinto quase insondável.
Paradoxo Minotauro com mãos de veludo.
Busquei-te por milênios de forma incansável.

E agora o tendo, novamente, em meu destino,
muito embora homem pertencente ao tudo,
em meus braços, meu amor, és só um menino.

Laura Liberato

domingo, 7 de julho de 2013

Mi Viaje en Chile


Mi Viaje en Chile

Rodolfo Pamplona Filho
Apurate, hombre!
És la hora!
Que mentira, oxe...
Você é simpatizante ou tendencioso?
Fale para a mãozinha!
Calada, só respirando!
Nós estamos pagando é para sentir frio!
Nesta boca de duro, traficam-se manzanas...
Prefiro Chupe de Locos, na Escala ou Escuela Richter...
E disculpem las moléstias...

Puerto Varas-Chile, 02 de julho de 2012.

sábado, 6 de julho de 2013

O QUADRO DO CAPETA




O QUADRO DO CAPETA
(*) Por Marco A. M. Mendes

Sozinho naquela cidadezinha do interior, Zé Paulino resolveu comprar uma tela, tintas, preencher o tempo com uma pintura. Não tinha dons artísticos não, mas sentia-se muito solitário, queria um pouco de companhia. Então resolveu pintar uma família, ainda que fossem apenas figuras por ele próprio idealizadas, pintadas numa tela. Juntou os trocados, foi até a papelaria mais próxima, retirou o dinheiro embolado do bolso e comprou uma tela, bisnagas de tinta e uns pinceis. Empregou ali todas suas economias.
Chegando em casa improvisou um cavalete, alçou a tela sobre ele e espremeu as tintas num prato velho. Sacou um dos pinceis como se fosse um espadachim e mãos a obra. Iniciou a pintura conforme lhe aprouvesse, começando a pintura por uma bela menina. Um tanto pálida é verdade, sem o domínio das cores, exagerou no amarelo. Chamou-a de filha.
Vendo que a pintura ficou um tanto pálida, tentou corrigir com novas pinceladas. Sem  destreza do pincel derramou um pouco de tinta preta sobre a tela, respingando sobre a menina. Ficaram parecendo tatuagens. Zé Paulino ficou louco da vida, pois detestava tatuágens. A pintura não havia saído como queria. Contudo, estava determinado a pintar uma família e continuou sua obra. Para tentar corrigir o erro, na tentativa de disfarçar a primeira figura, idealizou pintar outra figura ao lado. Talvez as pessoas não prestassem atenção à primeira figura. Lançando o pincel sobre a tela fez a figura de um menino, que chamou de filho. Essa nova figura não saiu como pretendia por parecia um tanto desfigurado. O menino não agradou o pintor, por isso deu-lhe uma surra de pincel.
Zé Paulino logo partiu para pintar uma terceira figura, a qual chamou de mulher. Afinal, já tinha dois filhos e eles não poderiam ficar sem uma mãe. Como havia de se esperar de um pintor improvisado, não afeto à arte da pintura, carregou demais no vermelho. Fez o rosto da mulher parecer uma pimenta. Como um espadachim enfurecido sacou outro pincel do bolso e lançou as cerdas contra a tela. Travou um medonho duelo com a mulher. Desse duelo respingou tinta por toda a sala, sujando sua roupa e até os móveis que estavam por perto. Até o cachorro que dormia sossegado ali perto saiu colorido. Procurava amoldá-la, reformá-la, para que ficasse tal qual era seu desejo. Mas, sua falta de habilidade com o pincel delineava uma figura surreal. Os respingos muticoloridos e traços indesejados mancharam e riscaram toda a tela. Curiosamente os respingos improvisados modelaram uma figura pequena e sorridente no canto esquerdo, que ao final Zé Paulino chamou de filhote. Batizou o quadro com o nome de “Família” e o pendurou nos fundos da casa, pois se envergonhava de tudo o que havia feito e queria esconder o quadro.
Deprimido com sua obra, embriagou-se. Num momento de fúria, na tentativa de destruir sua criação, ameaçou a tela com fogo, que ficou toda chamuscada. Passada a bebedeira resolveu vendê-la. Foi até a feira da praça central e ali a ofereceu por qualquer preço.
Nesse mesmo dia, passava pela praça um senhor pomposo, fraque e cartola. Zé Paulino não sabia, mas era o demônio disfarçado. Olhando aquela tela e o estado deplorável de Zé Paulino, ofereceu-lhe uma vaca em troca do quadro. Zé Paulino aceitou na hora, pois seria uma maneira de resgatar um pouco do dinheiro investido no material utilizado.
A vaca era velha, não dava leite, logo adoeceu e morreu. Zé Paulino caiu na desgraça. Mulambento, percorria as ruas da cidade pedindo esmolas. Certo dia, revirando o cesto de lixo, encontrou um jornal que lhe chamou a atenção. Ficou surpreso quando viu a notícia de que seu quadro foi reconhecido arte contemporâneo de ponta. Tal qual Monalisa, as pessoas do quadro tinham um sorriso sinistro, um misto de choro e sofrimento, ora parecendo rir da sorte do pintor, ora parecendo chorar a desgraça do abandono. O ardiloso diabo sabia o valor do quadro desde o momento em lançou os olhos. Pagou uma bagatela pela “Família” e agora tinha uma fortuna em suas mãos, enquanto Zé Paulino morria à mingua.
Desesperado Zé Paulino ajuizou uma ação contra o demônio na tentativa de desfazer a venda. O Juiz da causa era rigoroso e não gostou nenhum pouco do fato de Zé Paulino ter matratado e abandonado a “Família”. Zé Paulino percebeu a enrascada em que se meteu e aceitou um acordo. Obrigou-se a comparecer todos os dias no museu do capeta para espanar o pó da “Família”, em troca de um lugar para dormir e um prato de cominda.
O ardiloso demônio além de ficar com a “Família”, ainda se apoderou da alma de Zé Paulino, aprisionando-o num contrato que vigoraria por toda a eternidade. Esse é o destino de quem maltrata e abandona sua familia e, ainda por cima, deixa-se levar pelo ardil do capeta.
__._,_.___

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Memória


Memória

Rodolfo Pamplona Filho
somente
retive em minha mente
o momento
de uma noite de sentimento
incomensurável,
como todo prazer insuperável ,
incrível,
como toda experiência inesquecível,
história
que ficará sempre na memória.

Puerto Varas-Chile, 02 de julho de 2012.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Caminho sumido



Caminho sumido

As mulheres idosas se reuniam na igreja para rosário, quitutes e fofocas. Encontros semanais. Se uma faltasse, logo se pensava em doença ou coisa pior. Um telefonema – um alívio, um desejo de melhoras, pranto, a depender da notícia ou circunstância. Anos de amizade. Encontro religioso religiosamente uma vez por semana. Eram trinta. O padre as temia e delas precisava, eram quem povoava e traziam povoação à paróquia. Um senão que falassem e a tranquilidade do pároco descia mundo abaixo.
            Uma parenta de Semíramis, crocheteira de primeira linha, como agradecimento pelo recebimento de muda de planta, entregou-lhe um caminho de mesa por ela tecido. Era uma encomenda para ser entregue a Arminda, colega da reza do rosário. Semíramis entregou a encomenda, antes mesmo do início das orações. A mimoseada abriu parcialmente o embrulho, deleitou-se ao ver o belo trabalho, tateou para conferir a textura e decidiu guardá-lo na bolsa sem mostrar a ninguém. Todavia, uma das companheiras viu, alardeou e a curiosidade imperou entre as mulheres. Divino fruto, o caminho passou pelas mãos deslumbradas com a excelência do trabalho. Entre interjeições de júbilo, alguém impôs a ordem e se fez silêncio. Era preciso iniciar as orações. Caminho esquecido.
Foram debulhadas as contas dos três terços. Encerrada a rezaria, passou-se à comilança.  Umas tinham levado bolos, outras salgadinhos, café e refrigerantes. Começaram as fofocas, logo interrompidas pela presença do padre, que ali chegara para contar ovelhas, fazer uma boquinha e sair para os seus santos e ignorados compromissos naquele fim de manhã de verão. Os mexericos volveram e, entre uma e outra mordiscada, vidas foram devassadas e piadas foram contadas, algumas bem picantes. Súbito a reunião se esvaziou, pois as que ainda tinham maridos se lembraram do almoço. As viúvas nem conseguiam pensar nesse repasto, estavam fartas. Foram aos quefazeres ou às respectivas preguiças.
            Semíramis atendeu ao telefone. Uma chorosa Arminda mal conseguia pronunciar palavra. Custosamente, entre soluços, disse:
            — O caminho de mesa... Sumiu!
            — Não está em sua bolsa?
            Não estava. Arminda virou e revirou os pertences, como se um embrulho daquele volume pudesse submergir.
            Confirmada a ausência do caminho, as duas idosas traçaram um projeto de localização, condizente com as suas dificuldades de locomoção. Usariam o telefone. Ao cabo de alguns minutos, formalizaram duas listas. Cada qual com uma delas. Ligariam para as colegas e perguntariam se, por acaso, não teriam levado, sem querer, o caminho sumido.
            No início, os telefonemas eram prontamente atendidos, mas logo os telefones ficaram ocupados e elas tinham de repetir com insistência as discagens para que se completassem as chamadas. Dava-se um efeito cascata. As primeiras que receberam as ligações telefonaram para as outras e entre elas afinou-se grande conversação. Somente à boca da noite, a tarefa havia sido concluída e elas se comunicaram para o resumo da missão. Debalde o esforço. Ninguém sabia do paradeiro do caminho de mesa.
            Se houvesse uma escuta investigativa, quem a fizesse chegaria próximo da insanidade, porque muitas foram acusadas, condenadas ou absolvidas, por essa ou aquela. A que condenava uma era condenada por outra. O assunto seguiu noite adentro e pela semana a seguir. Mudava-se de ideia com a mesma rapidez que se respira. A amizade fraterna posta à prova mortal. Uma delas, Concebida, disse ao ouvido de Mariluce ser Arminda velha caquética e desmemoriada. Por tal motivo, enfiara o pano em algum lugar, "Deus sabe onde..." e agora vinha culpar os outros pelo próprio desleixo. Cada condenação era repassada às outras, menos para a condenada, é claro.  Filomena, a pacificadora, discordou de todas as hipóteses ouvidas, como sempre fazia, e àquelas que lhe pediram opinião disse não ter nenhuma. Mas não faltou quem achasse suspeita a sua atitude de neutralidade. Seu silêncio foi interpretado como confissão de culpa ou conivência.
            Os trinta telefones não descansaram durante a semana e, ao final dela, centenas de "certezas incertas" estavam postas. Houve quem jurasse uma coisa e logo mudasse de opinião. As mais criativas encontraram diversas soluções, frutos de mera especulação.
            Chegou o dia do encontro com os três terços do rosário e nada menos do que tantas soluções quantas eram as orações proferidas foram catalogadas por Filomena, que além de pacificar tinha a mania de anotar tudo que se lhe dissesse. Nesse dia, elas chegaram à igreja na hora marcada. Fato incomum, porque sempre vinham mais cedo, para um dedo de prosa ou arrumar apoio para alguma fofoca capaz de abalar e animar a festa, como elas gostavam de dizer, em sacrossanto deleite. Dessa vez, com ar impregnado de desconfiança e de culpa, as orações foram recitadas entre olhares suspeitosos. Em cada cabeça, uma sentença ou muitas, com ressalva de Filomena, que, embora tivesse vontade de condenar alguém, manteve-se neutra e crente na honestidade humana.  Dissintonia. Reza e pecado. Acusações falsas pensadas e repensadas. Preces mecânicas. Olhares de soslaio. Alguém se entregaria? Furto. Uma embusteira entre elas. Mazelas nas mentes.
            Findas as orações, as trinta senhoras se aproximaram da mesa. Seria o momento de lazer transformado em fel. Uma inimizade íntima coletiva e descabida se constituiu. Muitas grudadas às bolsas. Teve quem nem colocasse o cordão com crucifixo ou santinho. O padre chegou para contar ovelhas e fazer uma boquinha. O silêncio. A voz de Filomena se fez ouvir, tímida, no silêncio cortado apenas pelo som de pratos e copos.
            — Padre. Por acaso o senhor não viu um caminho de mesa de crochê na semana passada? Acho que foi esquecido.
            O padre respondeu sem tirar os olhos do prato e com a boca semicheia:
            — Vi não. Perguntaram para Marilyn? E para seu Rubem?
            Dentro das cabeças pecantes, a faxineira e o sacristão tornaram-se os principais suspeitos. Murmúrio de velório. Umas diziam às outras:
            — Como não pensamos neles?
            — Minha nossa, me perdoe, eu desconfiei de você, minha querida...
            Confissões mútuas. Choros e abraços. A incrível sensação de quem se desvencilha de segredo ou pensamento daninho. As trinta senhoras se uniram instantaneamente contra os dois possíveis malfeitores. E, após a saída do padre para seus outros interesses, uma vez farto das guloseimas, naquele dia com pitada de amargura, elas se uniram para estabelecer um plano capaz de deixar tudo às claras e recuperar os caminhos: o de mesa e o da fraternidade.  Formaram dois ternos, que teriam a missão de interrogar Marilyn Monroe Pereira e Rubem Braga Cardoso. Elas sabiam os horários deles na paróquia. O resultado dos interrogatórios seria divulgado no próximo encontro para o rosário.
            Elas chegaram mais cedo que de costume e, antes mesmo das orações, apresentados os relatórios das investigadoras, souberam que Marilyn e Rubem eram inocentes. A cizânia secreta. A desconfiança voltou a povoar as mentes. Rezaram com amargura. Silêncio no momento das iguarias. Olhares de través. O padre chegou para contar ovelhas e fazer boquinha. Uma voz quase inaudível:
            — E se foi ele...
            Algumas semanas depois, Arminda resolveu pôr ordem nos guardados do marido, um bagunceiro de marca. Entre jornais velhos, revistas e livros, ela encontrou o embrulho. Reconheceu-o imediatamente. O caminho. O marido na sala vendo jogo.
            — Gideão, como esse embrulho foi parar nas suas coisas?
            — Eu achei no chão, perto do portão da rua. Guardei pensando que o dono poderia vir procurar — ele disse, com o olhar fixo no jogo.
            Arminda ficou alguns instantes pensando em achar um caminho para ajeitar a situação com as amigas. Percebeu o quanto ela e o marido não conversavam mais. Pôs-se a chorar...


Escrito por Jairo Vianna Ramos

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Cemitério


Cemitério

Rodolfo Pamplona Filho
Qual é o sentido
de se buscar
um lugar mais agradável
para não ser feliz?
De que adianta mudar
se o lugar aonde se vai
é tão ruim quanto
aquele de onde se veio?
Um cemitério
pode ser melhor
do que outro?
Faz diferença
para os mortos
quem despeja terra
sobre seus corpos?
E se o sepulcro
for sempre caiado
ou ficar abandonado
faz alguma diferença
para quem é ali depositado?
A resposta não é evidente,
mesmo verdadeira e transparente:
não se busca um lugar
de descanso e louvor,
mas, sim, para proporcionar
uma lembrança a quem ficou
a imaginar e a sofrer
por tudo que passou
e por quem não voltará a ver,
pois, para quem partiu,
realmente pouco importa,
onde, como e quem se despediu
de sua inútil carne morta...

Santiago-Chile, 27 de junho de 2012.

terça-feira, 2 de julho de 2013

TUDO QUE VICIA COMEÇA COM "C"


TUDO QUE VICIA COMEÇA COM "C"

Luiz Fernando Veríssimo 


Por alguma razão que ainda desconheço, minha mente foi tomada por uma ideia um tanto sinistra: vícios.

Refleti sobre todos os vícios que corrompem a humanidade. Pensei, pensei e,de repente, um insight: tudo que vicia começa com a letra C!

De drogas leves a pesadas, bebidas, comidas ou diversões, percebi que todo vício curiosamente iniciava com cê.

Inicialmente, lembrei do cigarro que causa mais dependência que muita droga pesada. Cigarro vicia e começa com a letra c. Depois, lembrei das drogas pesadas: cocaína, crack e maconha. Vale lembrar que maconha é apenas o apelido da cannabis sativa que também começa com cê.

Entre as bebidas super populares há a cachaça, a cerveja e o café. Os gaúchos até abrem mão do vício matinal do café mas não deixam de tomar seu chimarrão que também – adivinha – começa com a letra c.

Refletindo sobre este padrão, cheguei à resposta da questão que por anos atormentou minha vida: por que a Coca-Cola vicia e a Pepsi não? Tendo fórmulas e sabores praticamente idênticos, deveria haver alguma explicação para este fenômeno. Naquele dia, meu insight finalmente revelara a resposta. É que a Coca tem dois cês no nome enquanto a Pepsi não tem nenhum.

Impressionante, hein?

E o  computador e o  chocolate?   Estes dispensam comentários.  Os vícios alimentares conhecemos aos montes, principalmente daqueles alimentos carregados com sal e açúcar. Sal é cloreto de sódio. E o açúcar que vicia é aquele extraído da cana.

Algumas músicas também causam dependência. Recentemente, testemunhei a popularização de uma droga musical chamada “créeeeeeu”. Ficou todo o mundo viciadinho, principalmente quando o ritmo atingia a velocidade… cinco.

Nesta altura, você pode estar pensando: sexo vicia e não começa com a letra C. Pois você está redondamente enganado. Sexo não tem esta qualidade porque denota simplesmente a conformação orgânica que permite distinguir o homem da mulher. O que vicia é o “ato sexual”, e este é denominado coito.

Pois é. Coincidências ou não, tudo que vicia começa com cê. Mas atenção: nem tudo que começa com cê vicia. Se fosse assim, estaríamos salvos pois a humanidade seria viciada em Cultura.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Gosto de Ti


Gosto de Ti

Rodolfo Pamplona Filho
Gosto quando falas
e quando calas
Gosto quando interpretas
minhas palavras
Gosto quando inovas
e renovas minhas idéias
Gosto até quando discutes
relacionamento e pensamento,
conferindo relevância
até ao que eu não dava importância,
dando-me trabalho para explicar,
fundamentar e argumentar,
mas com o imenso prazer
de sempre te convencer
o que já é do teu saber:
sem ti, não sei mais viver...

Santiago-Chile, 01 de julho de 2012.