quinta-feira, 31 de março de 2016

Da janela



Da janela do meu quarto
Um mundo novo se apresenta
Não sei se fico ou se parto
Meu coração não mais aguenta

Está partido, sangrando
As feridas ainda abertas
As verdades descobertas
Com você se enganando

O mundo novo parece o mesmo
Tudo velho, tudo visto
Saio bêbado, a esmo

Para voltar, arrependido
Os amores não mais existem
Tudo, tudo já foi lido.



Anna Fascolla
Poema selecionado no Concurso Dia Nacional da Poesia

quarta-feira, 30 de março de 2016

Poesia



Se está correndo atrás da poesia
Perdoe-me, não irá encontra-la
Pois a poesia não se alcança
Ela apenas se sente

Se está à procura de versos perfeitos
Mais uma vez, perdoe-me, mas não irá escrevê-lo
Pois os versos vem do coração
E não da sua mente

Mas, finalmente quando encontra-la
Vai perceber, que a poesia já estava em você
E que os melhores poemas, vem do âmago do seu prazer
E se tentar defini-la, ela jamais irá se deitar e regozijar até lhe satisfazer

Ricardo Oliveira do Nascimento
Poema selecionado no Concurso Dia Nacional da Poesia

terça-feira, 29 de março de 2016

Por que me irrito (ou ignoro) discursos bobos...



Vou explicar uma vez.

Veja se dá para entender.

O Brasil está em uma crise política.

Essa crise já se anunciava desde a eleição de 2014, em que houve uma divisão do país, tendo o resultado sido por cerca de 2% de diferença.

Desde então, a oposição tem investido na política de "quanto pior, melhor!".

Ao mesmo tempo, a polícia federal e o ministério público federal têm feito um fantástico trabalho de investigação das entranhas do poder, denunciando o tráfico de influência, corrupção e relações incestuosas da política com o empresariado, expondo as vísceras de um sistema que foi escrito tradicionalmente na base do "caixa 2" e dos "agrados" e "favores".

Como se não bastasse isso, o governo federal (ai, sim, leia-se o PT e aliados, históricos ou de conveniência, como o PMDB) tem se mostrado profundamente incompetente para gerenciar a situação econômica e política.
Assim, chega-se à seguinte situação:

A) impeachment é processo político, por crime de responsabilidade, não recall por incompetência gerencial;

B) toda corrupção deve ser denunciada e combatida, não se limitando a um partido ou a uma figura;

C) o clima de bipolaridade apenas estimula encarar a situação como um jogo, em que se aponta, a todo tempo, alguma "prova definitiva" da culpa, quando o julgamento jurídico não é feito pela opinião pública, mas, sim, pelo judiciário;

D) o julgamento político é feito nas urnas, não se esgotando no eventual impeachment (que pode vir, sim, e não será golpe, se feito dentro das regras constitucionais);

E) #naovaitergolpe é uma frase de efeito, que pode ser uma afirmação contra os lunáticos que sonham com um golpe militar ou querem acabar com as garantias individuais, mas também pode ser manipulado como um chavão para manter o PT no poder (o que tem se tornado insustentável).

Por isso, soa imbecil e manipulador ouvir o discurso preconceituoso contra o PT, quando não acompanhado de um juízo efetivamente crítico.

Discurso contra a corrupção, sim!

Discurso a favor das garantias processuais e constitucionais, sempre!

E esses discursos não são incompatíveis.

O importante é apurar tudo e punir quem deve ser punido.

O processo penal não é feito para punir, mas, sim, para apurar, inclusive absolvendo quem for acusado levianamente.

Quando se coloca a questão em termos de nós e eles, em um "fla-flu jurídico", fecham-se os olhos para as verdadeiras questões importantes, servindo-se de massa de manobra para as disputas intestinas de poder.


Rodolfo Pamplona Filho

27 de março de 2016

segunda-feira, 28 de março de 2016

Partido: brasileiro




Entre estrelas e tucanos,
celebramos nosso pranto.
Na cegueira de partido,
Nossos sonhos divididos.

Somos um, mas não apenas;
somos também centenas.
Sangrando em vão sem perceber
que o inimigo é o poder.

Inventam verdades,
constroem mentiras,
sonegam esperanças
em plena luz do dia.

Mamam pela manhã,
nos traem à noite.
Hoje entregam benesses,
amanhã nos punem com o açoite.

Nessa toada, seguem tranquilos
brincando de rainhas e reis.
Pão e circo! Garante o bandido:
Ninguém se preocupa com leis.

Na aquarela dos partidos,
nos encontramos e erramos feio.
Mas não esqueçamos da seguinte lição:
Não somos azuis, amarelos ou vermelhos:
somos brasileiros.


Eduardo Loula Novais de Paula

Poema selecionado no Concurso Dia Nacional da Poesia

domingo, 27 de março de 2016

Cicuta



Beber a vida num só gole
Deitar a sorte no divã
Sujar a memória com a lama
Que ficou da caminhada

O caminho foi difícil
Por vezes inóspito, árido
A recompensa inútil
A minha, a sua, a de ninguém

As rosas desfolhadas
Substituídas por plástico
Poeira amontoada
Na mesinha da cabeceira

Jornais antigos acumulam-se à porta
Sempre fechada, sempre trancada
Correspondências sem resposta
Esperando a própria morte

E o poeta morre lentamente
Curtindo a dor em suas minúcias
Dor destilada nos versos
De quem não crê, apenas escreve

A música às vezes cala
Os versos não mais falam
O poeta chora em silêncio a dor da ausência
E desiste de existir

Versos ao vento
Sem leitor, sem amor
Versos ao vento
Adeus poeta, adeus trovador

E bebe a vida num só gole
Cicuta
Cicuta
Por que você não me escuta?


Anna Frascolla
Poema selecionado no Concurso Dia Nacional da Poesia

sábado, 26 de março de 2016

Proposta de Amor Possível

Rodolfo Pamplona Filho





Quando a tristeza, a solidão
e a angústia chegarem,
tente pensar na seguinte mensagem:
você não é só privação,
imobilidade, interdição,
frustração, impossibilidade.
Você é responsabilidade,
é amor pela família que formou,
mas é também coragem,
inspiração, amor,
desejo, explosão,
aventura e paixão.

E encontrou alguém
que ama seu ser
de um jeito tão forte também...
alguém que, como você,
quer pulsar, quer luzir,
quer vibrar, quer florir,
quer acariciar, quer beijar,
não quer machucar,
não quer ferir,
mesmo quando não sabe onde ir,
pois quer apenas viver,
de preferência, para você!

As contradições não me causam susto!
O que realmente me espantaria
é se você aceitasse, de forma fria,
tudo aquilo que repulso,
como a burrice, a preguiça,
a mediocridade da pura cobiça,
a pasteurização do não pensar,
do não duvidar, do achar
que o caminho do berço ao túmulo
pode ser reto, alvo, não acidentado,
de achar normal, e não um cúmulo,
andar sem uma marca ou pecado.

A gente é feito de dia e de noite,
luz e sombra, beijo e açoite,
de prazer e dor, sim e não,
de paz e de convulsão...
Eu admiro quem assume isso!
Por isso, deixa eu assumir o compromisso
de ser o seu amor possível, sua vontade,
a sua moça do sonho, a sua essência,
a sua parceira nas diversas realidades,
a musa do seu Poema da adolescência,
o seu fogo, o seu sexo, o seu tesâo,
seu porto seguro, sua loucura, a sua mansidão.

Salvador, 08 de dezembro de 2011.



sexta-feira, 25 de março de 2016

Sonhamos, somamos, somos



A gente é sol.
A gente é só.
Até que nos provem o contrário e desatem os nós.

A gente é mar.
E nem sabe amar direito.
Somos imensos e grãos de areia ao mesmo tempo.

A gente é.
A gente já foi.
Vivendo a rotina e sempre deixando o que importa para depois.

A gente é vida.
Bem ou mal vivida.
A gente é espera da falta que é sentida.

Mas a gente é mais do que disseram que somos.
E a gente ainda não foi o que planejamos nos sonhos.

A gente é gente.
Comum e orgulhosa.
Fazendo muito com o pouco que tem e driblando o stress como numa bossa nova.

A gente escreve separado.
Mas se a gente for junto este poema está terminado.
Porque sonhos sonhados juntos, estão metade realizados.


Victor Fernandes
Poema selecionado no Concurso Dia Nacional da Poesia

quinta-feira, 24 de março de 2016

Último desejo





Quando eu morrer,
não quero flores nem velas,
choros ou rezas,
saudade ou compaixão.

Quero que façam diferente,
Sorriam pra toda gente,
cantem alegremente,
uma linda canção.

Pois quando eu me for,
não será por querer,
e não quero lá de cima,
Ver ninguém sofrer.

De sofrimento,
já basta a morte em si.
Não quero ter que sofrer de novo,
ao vê-los do céu depois de partir.

De antemão, portanto,
ficam todos avisados:
quero festas e canções
e abraços apertados.

Meu desejo é uma ordem,
e não quero tirania.
O aval do Senhor
será a minha garantia.

Eduardo Loula Novais de Paula
Poema selecionado no Concurso Dia Nacional da Poesia

quarta-feira, 23 de março de 2016

Felicidade e Utopia





Ó, que sujeito adorável
mas por que tanta raiva contida?
Algo dói, corrói?
Que te falta em vida?

É a morte à espreita,
em noção bergmaniana?
Ou a insatisfação diária,
sem razão, por isso - talvez- cotidiana?

Delírio dos dramáticos,
Excesso de sensibilidade
Tudo querem, nada desejam
Ao fim, só buscam felicidade

Só que ela é difícil, amigo, escorregadia
É como a utopia
A cada passo que se dá, ao longe,
tanto mais ela se distancia.

Filipi Vasconcelos de Campos - Santa Maria-RS - Vencedor do Concurso Dia Nacional da Poesia - 3º lugar

terça-feira, 22 de março de 2016

Espelho





Essa senhora
Que insiste em me olhar
Quando olho para o espelho
Vem me dizer
I n s i s t e n t e m e n t e
Que tudo aquilo que vivi
Muda-me por dentro
E por fora
Marca-me
Na alma
E na pele
Nos sonhos
E nos olhos
Testa
E cabelos brancos
Que insistem
Em povoar minha cabeça
Repleta
Ainda
De sonhos
De amores
De desejos
Repleta de todos os sorrisos
Que sempre estampei no rosto
Ao me ver
À frente do espelho


Anna Frascolla - Vencedora do Concurso Dia Nacional da Poesia 2016 - 2º lugar

segunda-feira, 21 de março de 2016

Sem Título



Sim,
Todo dia é assim

Brisa no rosto
Sol a raiar
A mão exprime 
O que o coração quer calar
Puxa forte
Puxa com força a esperança 
Traz 
do fundo 
uma luz
Traz 
Da alma
Teu sustento
Traz
Da vida 
O que Deus quer
Traz
Do amor
O seu lamento 

Mas é sempre assim
Todo dia
O sol a raiar


Foto de Alisson Louback
Poesia de Maila Louback - Vencedor do Concurso Dia Nacional da Poesia 2016 - 1º Lugar

domingo, 20 de março de 2016

Família

Carlos Nejar
(1939, pai de Fabrício Carpinejar)




Nossa família: as estações.
Nada sobra
do que julgam ser
as propriedades.

O corpo, a alma,
apenas usufruto.
Também os meus deveres.

Só o amor é nosso.
E o soluço.



sábado, 19 de março de 2016

Madrugada (e esse Amor)




Beatriz A.M.



Você cheira o meus cabelos e morde o meu ombro esquerdo, quando a gente faz amor.
Você puxa os meus cabelos, e une ansiosamente os fios no topo da cabeça,  lá no alto, num penteado que me faz lembrar a coroa de uma santa moderna, quando a gente faz amor.
Quando a gente faz amor, você alterna a suavidade do encaixe perfeito com um desejo bruto que me joga de quatro, que me suspende as pernas, que me penetra sem pedir, que me arranha os seios, que me deixa roxa, que me faz tremer.
E tem os teus gemidos, que são como uma sinfonia e que carregam, até a garganta, um grito que explode agudo e lindo, um grito que me deixa boba, quando a gente faz amor..
E tem a tua fome dos meus seios, a minha sede do teu gosto, a tua barba no meu rosto, quando a gente faz amor.
E assim, noventa e três dias e sete encontros depois, sinto, nessa pele que é tão tua, um arrepio ao perceber que é esse amor que tem feito a gente, menino.  É Esse amor que tem nos feito mais gente...

Salvador, 26 de outubro de 2011


sexta-feira, 18 de março de 2016

Soneto da Riqueza

Rodolfo Pamplona Filho




É possivel empregar
a palavra riqueza
em dois sentidos sem par
e sem qualquer estranheza:

a primeira é a riqueza material,
concepção mundana e fria,
que é a do vil metal;
já a segunda poderia

ser a riqueza do sentimento,
que é, para o poeta, no momento,
encarnada no ser a se amar.

Trata-se de um jogo duplo bacana,
como diferentes formas na cama,
que o vocábulo pode encerrar...

Salvador, 27 de novembro de 2011.


quinta-feira, 17 de março de 2016

Por que você faz poema?


Herculano Neto http://herculanoneto.blogspot.com/2010/02/por-que-voce-faz-poema.html




para dizer sem dizer
e irritar quem não me entende
(quem me detesta
mas esmiúça minha palavra)

para alentar meu público fiel
meu público efêmero

para exibir minha verve
em troca do elogio oco
do pouco-caso

para que os conhecidos
busquem meus enganos nas entrelinhas
e os desconhecidos espelho na minha farsa

para transformar minha frase em verso
meu verso em canção
cartão-postal
epígrafe
tatuagem
epitáfio
sacada genial

“para chatear os imbecis”


quarta-feira, 16 de março de 2016


Rodolfo Pamplona Filho




Olhando os Campos da Espanha,
pensei em toda minha existência,
a caminho de Pamplona,
origem e destino fundidos,
sem saber o que o futuro reserva
para cada momento a viver,
cada desafio a enfrentar
e cada decisão a tomar...

Sentado horas no trem,
entretido com imagens na janela
e ouvindo meu amigo Daniel a cantar
no music player do celular,
satisfeito com o passado construído,
revi cada instante vivido,
cada batalha vencida
e cada resolução assumida...

Esperando o tempo passar,
vi-me menino carente e homem feito,
com desejos ainda a saciar
e a nutrir esperanças de voltar
a acreditar em algo a encantar
cada segundo que resta da lida,
cada tarefa a ser perseguida
e cada mudança nos rumos da vida...

Olhando os Campos da Espanha...

No trem de Madrid para Pamplona, 02 de outubro de 2012.



terça-feira, 15 de março de 2016

Pamplona em Pamplona


por Charles Silva Barbosa, em 02/10/2012



Se o ser Pamplona
está em terra Pamplona...

A simbiose na Espanha,
então, é perfeita...

A defesa da tesina é futuro prestes
a juntar-se ao passado em redoma...

Mais um sucesso em uma vida de lutas e conquistas a espreita...

"Strenght and honor"

segunda-feira, 14 de março de 2016

Soneto do Perdão


Rodolfo Pamplona Filho




Por vezes, vive-se um sentimento
em que se carrega um tormento
de não saber a canção
que toca o seu coração

É um alívio tirar um peso
enorme em cima dos ombros,
que o fazia se sentir preso
ou a viver em escombros.

Quando há real arrependimento,
o melhor medicamento
é uma gostosa sensação

de voltar a gostar do mundo,
nunca mais se vendo imundo
com o alívio do perdão.

Na Ponte Aérea Recife-Salvador, 26 de novembro de 2011.


domingo, 13 de março de 2016

Amarre meu coração na primeira árvore

(Fabricio Carpinejar)




Mas ele será canalha por que amou a verdade? Ele traiu o quê? Trair sua vida de repente não é trair o seu sentimento, de repente não é trair o seu desejo, de repente não é trair seu cheiro. Como avaliar o que será perfeito dentro de 2 ou 10 anos? Como apontar que aquilo será melhor se o melhor ainda aguarda a invenção? Como adivinhar se uma relação dará certo sem estar nela ou sair dela? Como escolher entre dois amores se não é concedida a chance de escolher entre duas mortes ou dois nascimentos? De que adian ta ser objetivo se o que menos emociona é a objetividade?

Quando se escolhe, nunca se saberá se foi a definição errada, pois recordar é não deixar de alterar o passado. Nunca se saberá se foi a definição certa, já que estaremos sempre insatisfeitos.

Opina-se à vontade sobre a paixão com senso e prudência até que aconteça de modo pessoal. Perde-se a idealização e o sentido de comentar. Não terá nenhum valor o que você aprendeu nas apostilas. O cotidiano é feito de baques. Eu diferencio com dificuldade o desespero de viver da alegria.

Que lealdade a gente busca no amor além da ânsia de saltar o braço em torno do pescoço dela ou da calma ancestral de sentar de mãos dadas no fundo do lotação? Ou do descobrir uma cicatriz de infância debaixo do queixo? Ou de ir ao cinema para encurvar os ombros? Ou de apertar o braço dela ao percorrer a rua e a noite? Ou de ser uma criança com desaforos adultos? Ou um adulto com elog ios infantis? Ou de estalar bei jos nos ouvidos? Ou de acumular a lã e a luz no umbigo? Ou de observar as telhas como um pelego de estrelas? Ou de assobiar o bico da garrafa, transformando o vinho que resta em sopro?

Que lealdade a gente busca senão a de se aproximar e não pensar? Deixar que o tempo ceda espaço para o tempo da linguagem e que a carne seja metade da fruta na boca.

O amor não é segurança, todos procuram o nervosismo. Ao amar, fica-se fragmentado, não dividido. Dividido é um homem ainda muito inteiro.

Fica-se tão sensível que se entra em um estado de insensibilidade. O choro é pavio mergulhado na vela. Difícil erguê-lo da cera. Não se reage, demora-se o olhar e o talher, demora-se a ouvir. Algo como sentar na ante-sala da voz para folhear revistas.

O fluxo emocional é maior do que a possibilidade de comunicá-lo. Flutua-se como se o mundo ainda estivesse ensaiando antes de amanhecer. Procura-se uma praia para arrastar com preguiç a a rede dos pés na areia. Sem coragem de falar, o jeito é esperar o milagre da espuma, um sinal, um aviso, que os peixes sejam mais fortes do que nós e arrebentem as cordas

sábado, 12 de março de 2016

Soneto do Querer


Rodolfo Pamplona Filho




Eu quero ter seu amor todo tempo
e a cada simples momento,
como se um incontido vento
me tomasse cada argumento...

Eu quero gritar para o mundo
tudo que carrego no peito
como um vazio sem fundo
que só é repleto no leito

onde descobri o imenso prazer
de compartilhar com você
a cama, os sonhos e a vida,

pois não há sede maior
do que quando se está só
no instante da partida.

Na Ponte Aérea Recife-Salvador, 26 de novembro de 2011.


sexta-feira, 11 de março de 2016

A vida quase morta.





(Cris Guerra)

"O contrário do prazer não é a tristeza, é o tédio", disse o belo professor de filosofia. Ela não imaginava que a inteligência pudesse morar em casa tão bonita.

Rápida, tentou impressionar:

— Da tristeza eu faço letra de samba. E acordo de novo a alegria que mora em mim.

"É preciso ter coragem", ele respondeu. Sem coragem, a vida é mesmo um tédio. E o que ela mais teme é ser engolida pelo tédio.

— É preciso ter coragem para não se acostumar.

E pediram mais uma garrafa de vinho

http://amoreponto.blogspot.com/2009/09/o-contrario-do-prazer-nao-e-tristeza-e.html


quinta-feira, 10 de março de 2016

Soneto da Interpretação da Poesia


Rodolfo Pamplona Filho




O poema não pertence ao poeta,
mas, sim, ao mundo que o interpreta.
Por isso, qualquer explicação
é pura e simples reflexão

sobre qual era a proposta,
que, originalmente, havia sido posta
para fazer a construção
de uma nova manifestação.

Mas qualquer conjectura
nunca será realmente pura
para quem conseguiu se envolver

nas palavras lançadas ao vento,
buscando novo alento
na sensibilidade de cada ser.

Na Ponte Aérea Recife-Salvador, 26 de novembro de 2011.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Sobre Encontros Casuais

Rodolfo Pamplona Filho





 
Lua Estrela

Queria poder beber o seu riso
Sentir o seu cio
Amar o seu tom

E mais uma vez
Sentir o arrepio
Do seu ouvido
Saber como é bom

Estar contigo
Dormir contigo
E ser contido

Pela madrugada
Inesperada
Que entra e cala

Todo o furor
Do nosso amor
Que enfim resvala...




terça-feira, 8 de março de 2016

(Re)Encontrando um Irmão

Rodolfo Pamplona Filho





(Re)Encontrando um Irmão
Rodolfo Pamplona Filho
Quanto tempo se passou
sem que uma palavra fosse
sequer trocada ou ventilada?

Quantos momentos se perderam
pelo medo de um contato proibido,
sabe-se lá por qual razão?

Quantas imagens foram implantadas
sem saber qual era, na realidade,
o rosto de quem não se conhecia?

Quanta animosidade foi estimulada
por quem cabia apenas, na verdade,
permitir e ensinar o amor?

O passado jamais voltará
e é um pueril exercício de ingenuidade
lamentar o que poderia ter sido...

O presente é o que se pode viver
e, em vez de chorar o ocorrido,
que tal aproveitar o que surgiu?

O futuro não pertence a ninguém,
mas pode ser melhor do que tudo,
pois ainda será construído!

Um irmão nunca se perde!
Se os caminhos se afastaram
é porque era necessário lapidar

a carne, o sangue e o espírito,
que se há de compartilhar enquanto
se tem alguma esperança na vida...



Rio de Janeiro, 07 de outubro de 2012




segunda-feira, 7 de março de 2016

JOSÉ



Carlos Drummond de Andrade


E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?




domingo, 6 de março de 2016

A Ignorância é uma Benção



Rodolfo Pamplona Filho

Quem disse que, estudando,
alguém se torna feliz?
Ilude-se quem anda pensando
que descobrirá a real diretriz...

Aprender abre horizontes,
perspectivas, oportunidades...
Permite superar velhos montes
ou adquirir econômica estabilidade!

Mas não deve ser encarada
como causa de felicidade,
pois compreender a verdade

acaba sendo uma grande furada
pra quem crê haver sempre solução:
a Ignorância é uma Benção

Congonhas, na conexão de Cuiabá para Salvador, 30 de outubro de 2011.

sábado, 5 de março de 2016

Meu filho, você nao merece nada

Eliane Brum





Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.
Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.
Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.
Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.
Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.
É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?
Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.
Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.
Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.
A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.
Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.
Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.
Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.
Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.
O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.
Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.
 Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.
Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.
Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.

sexta-feira, 4 de março de 2016

A saudade e a busca pela felicidade

João Vitor Alves




O que te faz feliz?
Você é feliz?
Quem lhe faz feliz?

É curioso notar como a distância aproxima,
como a saudade reanima...
faz ver o não visto!

Estar perto e longe,
próximo e distante,
permite ir adiante...
na busca pela felicidade!

Em qualquer idade,
a saudade responde...
ao que se entende por felicidade.

Salvador, 30 de novembro de 2011.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Ao Admirado

Andressa Raphaella




O feixe de luz que escapa da janela
insiste em revelar partes do corpo dela,
que a vergonha da noite teme mostrar.

O que era moreno então vira dourado...
O desejo, antes seco, fica molhado...
E até as paredes gélidas parecem queimar.

É a mulher enlaçada em lençóis perfumados
São as sinuosas formas de um corpo excitado,
na esperança que o macho chegue...
penetre...sem perguntas...sem pensar...

Com a mão, com a boca, com a língua...
Impaciente, aos soluços, com força...
Apertando a cintura da moça,
até um susurro agudo ecoar...

Então o desconhecido dos livros some,
a porta se fecha, o sol dá sinal...
e a moça não sabe se dor ou se festa,
se sonho ou real...




quarta-feira, 2 de março de 2016

Soneto da Descoberta do Amor Verdadeiro


Rodolfo Pamplona Filho


Eu quero descobrir o amor
e superar qualquer pudor
por essa liberdade de se buscar,
de se reconhecer e de sempre amar

tantos seres e tantas pessoas,
a quem me entregarei, numa boa,
pois foi assim que eu sei
que finalmente me apaixonei...

E por descobrir alguém
que me entende de verdade,
que não tem problema de sinceridade

e sabe o que cada coisa significa,
como não a querer, sem dica,
para o resto da vida?

Rio de Janeiro, 18 de novembro de 2011.


terça-feira, 1 de março de 2016

LITISCONSÓRCIO



Clivia Filgueiras <cjfilgueiras@hotmail.com>


Dos romanos às XII tábuas
Sou nascido na antiguidade
Das Ordenações Filipinas ao ZPO alemão
Fui chegar à modernidade.

Dentro do mesmo fundamento de fato e de direito
Apareço na comunhão de direitos e obrigações
Quando houver conexão de objeto ou causa de pedir
Quando houver afinidade de questões.

Na formação do processo posso nascer
Chamar-me-ei Inicial,
Mas na lide posso ser Ulterior
E tumultuar a marcha processual.

Posso ser Ativo com muitos autores
Passivo quanto aos réus da ação
Misto pluralizando as pessoas
Em ambos os pólos da relação.

No plano material também sou pertinente:
Sou Unitário na decisão uniforme
Sou Simples nas decisões diferentes.

Necessário ou Facultativo posso ser
Alterando, assim, a minha formação
Num é a lei quem vai determinar
Noutro não há essa obrigação.

Quando sou Eventual
Mais de um é complicado!
Se um for procedente
O outro será negado.

Alternativo é mais uma opção
Em muito cresce o pedido
Ou esse Ou aquele requeiro
Alvíssaras, em um serei atendido!

Ao fazer a cumulação
Do cliente atendo o clamor
Passo a chamar-me Sucessivo
Pois o segundo será aceito se o primeiro também o for.

Ao ser Multitudinário
Convoco muita gente, sou quase uma multidão
Pode o juiz me limitar
Caso for prejudicar a ação.

De litisconsórcio fui batizado
E a esse nome sou fiel
Sou uma reunião de pessoas
Na posição de autor ou de réu.