sábado, 2 de abril de 2016

Linguagem


Essa nossa linguagem
Tão própria de nós dois
Fala e cala
Emociona e ri
Minha pele chama
 E você responde
Nossa interlocução
Não tem fim
Ou é fim
Enfim...




Anna Fascolla
Poema selecionado no Concurso Dia Nacional da Poesia

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Mas



Me ame devagarinho
Mas não tão devagar
Me olhe com desejo pulsante
Mas de forma que não vá me amedrontar

Me deseje em qualquer lugar
Mas não a todo momento
Me procure aonde eu estiver
Mas não me traga sofrimento

Me acalme com palavras
Mas não com apenas uma expressão
Me alimente com seus olhos
Mas de forma que não vá partir meu coração

Me dê todo amor que tiver
E me entregue seu coração
Mas, se um dia eu o partir
É porque a poesia se esvaiu na multidão

Ricardo Oliveira do Nascimento

Poema selecionado no Concurso Dia Nacional da Poesia

quinta-feira, 31 de março de 2016

Da janela



Da janela do meu quarto
Um mundo novo se apresenta
Não sei se fico ou se parto
Meu coração não mais aguenta

Está partido, sangrando
As feridas ainda abertas
As verdades descobertas
Com você se enganando

O mundo novo parece o mesmo
Tudo velho, tudo visto
Saio bêbado, a esmo

Para voltar, arrependido
Os amores não mais existem
Tudo, tudo já foi lido.



Anna Fascolla
Poema selecionado no Concurso Dia Nacional da Poesia

quarta-feira, 30 de março de 2016

Poesia



Se está correndo atrás da poesia
Perdoe-me, não irá encontra-la
Pois a poesia não se alcança
Ela apenas se sente

Se está à procura de versos perfeitos
Mais uma vez, perdoe-me, mas não irá escrevê-lo
Pois os versos vem do coração
E não da sua mente

Mas, finalmente quando encontra-la
Vai perceber, que a poesia já estava em você
E que os melhores poemas, vem do âmago do seu prazer
E se tentar defini-la, ela jamais irá se deitar e regozijar até lhe satisfazer

Ricardo Oliveira do Nascimento
Poema selecionado no Concurso Dia Nacional da Poesia

terça-feira, 29 de março de 2016

Por que me irrito (ou ignoro) discursos bobos...



Vou explicar uma vez.

Veja se dá para entender.

O Brasil está em uma crise política.

Essa crise já se anunciava desde a eleição de 2014, em que houve uma divisão do país, tendo o resultado sido por cerca de 2% de diferença.

Desde então, a oposição tem investido na política de "quanto pior, melhor!".

Ao mesmo tempo, a polícia federal e o ministério público federal têm feito um fantástico trabalho de investigação das entranhas do poder, denunciando o tráfico de influência, corrupção e relações incestuosas da política com o empresariado, expondo as vísceras de um sistema que foi escrito tradicionalmente na base do "caixa 2" e dos "agrados" e "favores".

Como se não bastasse isso, o governo federal (ai, sim, leia-se o PT e aliados, históricos ou de conveniência, como o PMDB) tem se mostrado profundamente incompetente para gerenciar a situação econômica e política.
Assim, chega-se à seguinte situação:

A) impeachment é processo político, por crime de responsabilidade, não recall por incompetência gerencial;

B) toda corrupção deve ser denunciada e combatida, não se limitando a um partido ou a uma figura;

C) o clima de bipolaridade apenas estimula encarar a situação como um jogo, em que se aponta, a todo tempo, alguma "prova definitiva" da culpa, quando o julgamento jurídico não é feito pela opinião pública, mas, sim, pelo judiciário;

D) o julgamento político é feito nas urnas, não se esgotando no eventual impeachment (que pode vir, sim, e não será golpe, se feito dentro das regras constitucionais);

E) #naovaitergolpe é uma frase de efeito, que pode ser uma afirmação contra os lunáticos que sonham com um golpe militar ou querem acabar com as garantias individuais, mas também pode ser manipulado como um chavão para manter o PT no poder (o que tem se tornado insustentável).

Por isso, soa imbecil e manipulador ouvir o discurso preconceituoso contra o PT, quando não acompanhado de um juízo efetivamente crítico.

Discurso contra a corrupção, sim!

Discurso a favor das garantias processuais e constitucionais, sempre!

E esses discursos não são incompatíveis.

O importante é apurar tudo e punir quem deve ser punido.

O processo penal não é feito para punir, mas, sim, para apurar, inclusive absolvendo quem for acusado levianamente.

Quando se coloca a questão em termos de nós e eles, em um "fla-flu jurídico", fecham-se os olhos para as verdadeiras questões importantes, servindo-se de massa de manobra para as disputas intestinas de poder.


Rodolfo Pamplona Filho

27 de março de 2016

segunda-feira, 28 de março de 2016

Partido: brasileiro




Entre estrelas e tucanos,
celebramos nosso pranto.
Na cegueira de partido,
Nossos sonhos divididos.

Somos um, mas não apenas;
somos também centenas.
Sangrando em vão sem perceber
que o inimigo é o poder.

Inventam verdades,
constroem mentiras,
sonegam esperanças
em plena luz do dia.

Mamam pela manhã,
nos traem à noite.
Hoje entregam benesses,
amanhã nos punem com o açoite.

Nessa toada, seguem tranquilos
brincando de rainhas e reis.
Pão e circo! Garante o bandido:
Ninguém se preocupa com leis.

Na aquarela dos partidos,
nos encontramos e erramos feio.
Mas não esqueçamos da seguinte lição:
Não somos azuis, amarelos ou vermelhos:
somos brasileiros.


Eduardo Loula Novais de Paula

Poema selecionado no Concurso Dia Nacional da Poesia

domingo, 27 de março de 2016

Cicuta



Beber a vida num só gole
Deitar a sorte no divã
Sujar a memória com a lama
Que ficou da caminhada

O caminho foi difícil
Por vezes inóspito, árido
A recompensa inútil
A minha, a sua, a de ninguém

As rosas desfolhadas
Substituídas por plástico
Poeira amontoada
Na mesinha da cabeceira

Jornais antigos acumulam-se à porta
Sempre fechada, sempre trancada
Correspondências sem resposta
Esperando a própria morte

E o poeta morre lentamente
Curtindo a dor em suas minúcias
Dor destilada nos versos
De quem não crê, apenas escreve

A música às vezes cala
Os versos não mais falam
O poeta chora em silêncio a dor da ausência
E desiste de existir

Versos ao vento
Sem leitor, sem amor
Versos ao vento
Adeus poeta, adeus trovador

E bebe a vida num só gole
Cicuta
Cicuta
Por que você não me escuta?


Anna Frascolla
Poema selecionado no Concurso Dia Nacional da Poesia