segunda-feira, 29 de maio de 2017

Maltratado


Rodolfo Pamplona Filho 

Apanhar quando se espera carinho
Ser acusado quando se queria um beijo
Explicar o que já foi entendido
Desculpar-se pelo que não fez
Um choro calado
pela surpresa da reação
Uma tristeza profunda
pela incompreensão
Uma saudade incontida
de um simples abraço
Uma lembrança bendita
de que ainda existe esperança.

Cusco, 15 de abril de 2017.

domingo, 28 de maio de 2017

Não há vagas


Ferreira Gullar 

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira

sábado, 27 de maio de 2017

Vivendo com Mãe


Rodolfo Pamplona Filho 

Amor sem paixão
Tesão sem desejo
Cuidado maternal
que inspira gratidão
Velando na doença
Orando na ansiedade
Secando no banho
Aquecendo no frio
Arrumando no dia-a-dia
Vivendo cada dia
como se não chegasse ao fim...

Cusco, 15 de abril de 2017                    

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Inscrição na Areia



Cecília Meireles 

O meu amor não tem
importância nenhuma.
Não tem o peso nem
de uma rosa de espuma!

Desfolha-se por quem?
Para quem se perfuma?

O meu amor não tem
importância nenhuma.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Prometo não prometer


Rodolfo Pamplona Filho

Não quero promessas!
Era mais fácil quando vivíamos
um dia apos o outro...
Não dá para voltar a viver assim?
Tem como voltar no tempo?
Tem como apagar o que foi vivido?
Não...
Mas tem como ter nova atitude sempre!
São as mesmas pessoas
Nada mudou
Só o tempo que passou
e continua andando:
o tempo não para...
Eu continuo sentindo a mesma coisa,
mas, a cada dia,
sinto o futuro mais distante...
Que tal parar de pensar no futuro?
E viver o presente?
É o que fiz
É o que faço
É o que farei
Só não quero promessas...
Minha única promessa
é não prometer mais nada
Só não quero promessas.


Salvador, 23 de abril de 2017.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Quero-te Apenas Porque a Ti Eu Quero


Pablo Neruda

Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não querer-te chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.

Quero-te só porque a ti te quero.
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te como um cego.

Talvez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,

Nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor, a sangue e fogo.



terça-feira, 23 de maio de 2017

SONETO DA DESPEDIDA


Cássio Pitangueira

A despedida não poderia ser diferente;
Infelizmente não tão contente;
E com a alma sombria e escura;
É chegada a hora de partir para sempre;

Certo de uma desvalorização absurda;
Num quadro clínico de loucura;
Numa sombra infinita de amargura,
Ponho-me em prantos serenos a gritar!

Na elevada altura de um desespero,
Coloco-me de joelhos,
Já sem forças para lutar!

Com a esperança de uma relva simples e pura,
Vou curar minha amargura,
Num novo seio que hei de encontrar;



                               

sexta-feira, 12 de maio de 2017

O Meu Amor



Chico Buarque


O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Ampulheta

Rodolfo Pamplona Filho

Um dia, ganhei uma ampulheta
e pensei em como o tempo flui,
mudando projetos e sentimentos,
vendo escoar as areias do tempo
e torcendo para que o destino sorria...