sábado, 8 de abril de 2017

Passarinho Preso


Rodolfo Pamplona Filho
Passarinho Preso
Luta por liberdade
mesmo sem saber
de verdade
Contra o que
está lutando

Não consegue perceber
que o vidro impede
ultrapassar o limite
imposto pelas circunstâncias,
mas, mesmo assim,
ele se joga adiante...

E se machuca...
E se fere...
E se extenua...
Mas não desiste...

E, por vezes, o olhar do monstro
ou o susto do terror
não é um sinal da morte,
mas, sim, da renovação
da esperança da saída,
em que a dor e o medo
são o que nos impelem
a continuar tentando...
até o fim...
... qualquer que seja ele...


Salvador, 24 de novembro de 2013, na rede da varanda da casa...

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Contando Histórias: E Nem Verão Era


Ney Pimenta

Ao ver o filho no chão
Tanta juventude perdida
As pernas não aguentaram o próprio peso e se dobraram
Joelhos no asfalto, braços abertos, olhos escancarados, fitava o nada.
A boca se abriu como antes nenhuma outra
Nenhuma outra jamais
E dela saiu um grito que não se descreve
Porque quem criou as palavras não imaginou um sofrimento assim
E foi tão alto que nenhum pássaro cantou
Nenhum homem falou
Nenhum cão latiu
Apenas uma cigarra
Num canto tão triste...
E nem verão era.

Fonte: http://neypimenta.blogspot.com.br/

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Brigadeiro de Colher

Brigadeiro de Colher (soneto)

Rodolfo Pamplona Filho
Como é bom se sentir criança
lambendo os beiços para aproveitar
o gosto que traz a lembrança
de quando nada havia a preocupar...

A sensação gustativa da memória
que o sabor do doce lança
faz acender a própria história
que é maior que encher a pança,

pois significa simplesmente reviver
a primeira manifestação de prazer,
muito antes de ser homem ou mulher,

pois, antes de qualquer orgasmo,
o seu primeiro grande espasmo
foi provar um brigadeiro de colher.


São Paulo, 09 de junho de 2013.