sábado, 28 de julho de 2018

Adoção afetiva

Rodolfo Pamplona Filho

A vida me contemplou
com filhos maravilhosos,
tanto no sangue,
quanto no coração!

Isso se dá, com fé,
pois, definitivamente,
a paternidade não é
uma biologia permanente.

É muito mais do que isso:
é uma eleição de paradigma
de quem assume o compromisso
de não ser um enigma.

Apadrinha-se, torna-se companheiro,
confidente, ombro amigo e parceiro.
Comemora-se junto, chora-se também,
da verdade biológica, vai-se além...

A paternidade por adoção afetiva
honrou-me com um carinho
que nem todos têm na vida...
que não se compreende sozinho...

mas que é a prova mais dura
de que pessoas podem se amar
e se entregar de forma pura,
sem qualquer outro interessar,

como deveria ser, aliás,
em qualquer verdadeira relação
de um afeto que não volta atrás...
de uma escolha consciente de devoção.

Aracaju, 07 de outubro de 2010.




sexta-feira, 27 de julho de 2018

Matutinamente



Ferdinand Azalb

O sol da manhã tem o santo dom
de romper o tom da melancolia.
O ar matutino abriga algo de bom
para romper o som dessa agonia.
Se a alma matutinamente
sofre, de repente, uma assepsia,
que venha certa a profilaxia,
fazendo, pois, matutina a mente.

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Acuado, mas pensando

Rodolfo Pamplona Filho

Preso, restrito, cercado
Verdadeiramente acuado
Sem noticias
Sem informação
Apenas a tensão
de não poder fazer nada,
mas, mesmo assim, permanecer
em um misto de apoio,
solidariedade e indignação,
não somente com os motivos,
mas com a própria manifestação...
em que o justo pleito
é verbalizado em um grito
há muito reprimido
e que não quer mais calar...
em que o pai quer ensinar
ao filho como reivindicar
e ser finalmente protagonista
de uma sociedade revista...
mas que se sente impotente
diante de quem só quer aproveitar
para vantagem tirar
ou somente barbarizar
e nos colocar a culpa...
A justa medida não é fácil,
pois a justa medida não existe
e o que é mais triste
é ver o combate não à causa,
mas às consequências
de mais de quinhentos anos
de um Estado sem Governo,
de um povo refém do medo,
de um desejo sem ação
de uma nação sem cidadão...

Aeroporto de Guarulhos, noite de 21 de junho de 2013,
tudo pensado,
literalmente parado,
em um quadrado

de espaço recuado...



quarta-feira, 25 de julho de 2018

Doses de vida



Ferdinand Azalb

Leite de pedra é um bom exilir.
Chá de espinhos bebo, aos sapos.
Sufocam-me, porém, certas rãs e girinos;
cobras, lagartos, que habitam a garganta.

Se a vida é amarga, reivindico minha dose;
cada gole intragável; as porções de bílis.

Se a atmosfera é densa, respiro profundo;
carbonizo de ranso os cansados pulmões.

No fim, é o fim, que se aproxima de mim,
ainda que ele, a mil léguas, se esconda.

Enfim, é o abismo, que se afasta de mim,
ainda que, presente, a sua face não olhe.

terça-feira, 24 de julho de 2018

Aprendiz da Vida

Rodolfo Pamplona Filho

Não faz sentido
ter medo de tentar,
muito menos
receio de arriscar,
quando a cara à tapa dar
é apenas uma chance a enfrentar...

O que, para muitos é crise,
para mim, é oportunidade.
O que, para muitos é grandeza,
para mim, é necessidade.
O que, para muitos é erro,
para mim, é aprendizado!
O que, para muitos é sonho,
para mim, é projeto realizado!

Eu quero mais!
Eu quero aprender!
Eu quero conhecer tudo
que a vida me permitir!
Por isso, jamais abrirei mão
de ser aquele que nunca diz não
para tudo que importar em nova lida
e em ser eternamente aprendiz da vida!




segunda-feira, 23 de julho de 2018

Nós



Ferdinand Azalb

Se não tem como ir,
alimento-lhe de mim.
Dou-me-lhe em nacos.
Transmito-me-lhe, aos poucos.
Cedo-me, em reflexões e apoio.
Incentivo, pois, a ousadia,
as suas potencialidades;
para que vá além de mim;
para que voe bem mais alto;
para que alcance novos ares.
Porque, assim, fará bem mais;
o que eu não poderia fazer,
E, nos voos, estarei em ti...
Metáfora e mente.
E, nas suas conquistas,
também conquistarei.
Se não tenho como ir,
alimento-lhe de mim.
E, assim, vou... em ti.
E, enfim, voo alto...
no seu voo...
com as suas asas,
com o seu talento.
Uma dupla,
uma equipe...
Mesmo a sós,
Sempre...
nós.

domingo, 22 de julho de 2018

E se eu morrer amanhã

Rodolfo Pamplona Filho

Se eu morrer amanhã,
não vão dizer que eu não tentei
aproveitar cada momento
e cada oportunidade
como se fosse a última
(até isso virar verdade...)

Se eu morrer amanhã,
não vão dizer que eu não lutei
para romper com a anestesia
do marasmo do dia-a-dia
e da mediocridade da acomodação
(até isso virar normal...)

Se eu morrer amanhã,
não vão dizer que eu não amei
cada pessoa com quem convivi,
fazendo com que cada encontro
fosse mais do que um simples bom dia
(até isso virar adeus...)

Se eu morrer amanhã
não vão dizer que eu não vivi
buscando poesia em cada palavra,
buscando amor em cada olhar,
buscando paz em cada lugar
(até isso virar passado...)

Salvador, 15 de setembro de 2010.