segunda-feira, 9 de julho de 2018

Minha querida, minha amada



Bruno Terras


Minha querida, minha amada,

agora que tanto se passou,

que mesmo a última esperança despedaçou,

é mais fácil admitir minha culpa

por seu agastamento, por não saber dizer,

no momento mais importante,

em que nada mais era significante,

uma palavra de amor.



Agora, quando nada resta,

quando não há nenhum motivo para aresta,

nem mesmo é relevante estar próximo ou distante,

desabafar é tonificante,

ainda que o alívio do espírito

não seja lenitivo para a dor

que cada parte do corpo sente

por ausência de seu calor.

Respiro profundamente e sem temor.



Quem não é de Deus que não repare

a confusão de um crente

no instante da separação.

Quem é do terreno infundado,

dos suspiros sem retorno,

do piso sem chão e que desequilibra,

que me aguarde,

estou descendo do campanário

que enganei merecer

e não me pertence nele viver.



Sorriem por me calar,

deprimem o sentimento de tocar.

Tudo que direi no oportuno.

Pagarei pelo deslate e nada reclamarei,

pregado por pés e punhos

de frente ao recôncavo de abominável destino.

Que significa agora dizer,

se o que disser já nada puder prover?



Torno os olhos para o poente

e apenas sei que se nada fizer

nem perdão dos meus netos merecerei.

Os sinos de que antes zombei,

agora tocam pelo meu silêncio

e eu nem sabia que era possível

sofrer depois do espírito liberto

de um corpo sem álibi sequer para morrer.

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