Blog para ler e pensar... Um texto por dia... é a promessa... Ficarei muito feliz em ler e saber o que cada palavra despertou... Se você quiser compartilhar um texto, não hesite em mandar para rpf@rodolfopamplonafilho.com.br. Aqui, não compartilho apenas os meus textos, mas de poetas que eu já admiro e de todas as pessoas que queiram viajar comigo na poesia... Se quiser conhecer somente a minha poesia, acesse o blog rpf-poesia.blogspot.com.br. Espero que goste... Ficarei feliz com isso...
sábado, 26 de janeiro de 2019
Tudo de mim
Rodolfo Pamplona Filho
Quero viver com você!
Se já vivo,
quero viver mais:
Mais perto
Mais tempo
Mais quente
Mais vivo
Você merece o que há de bom!
Se já tem,
Quero dar tudo:
Tudo de vivo
Tudo de delicado
Tudo de romântico
Tudo de intenso
Tudo de mim!
Salvador, 10 de março de 2018.
sexta-feira, 25 de janeiro de 2019
A Flor e a Náusea
Carlos Drummond de Andrade
Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2019
Egoísta ou Altruísta
Rodolfo Pamplona Filho
Ser altruísta é bom,
pois pensar no outro ajuda
a resolver os problemas do coletivo
Ser altruísta é importante,
pois tratar somente em si
pode destruir a humanidade
Ser altruísta é valoroso,
pois achar quem cuida de outrem
traz exemplos que edificam
Mas não dá para ser só altruísta,
pois esquecer de sua felicidade
é condenar-se ao sofrimento.
Mas não dá para ser só altruísta,
pois não realizar seus desejos
é chafurdar na frustração.
Mas não dá para ser só altruísta,
pois não se preocupar também consigo
é o início de sua própria anulação.
Salvador, 20 de julho de 2018.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2019
Certeza
Octavio Paz
Se é real a luz branca
desta lâmpada, real
a mão que escreve, são reais
os olhos que olham o escrito?
Duma palavra à outra
o que digo desvanece-se.
Sei que estou vivo
entre dois parênteses.
terça-feira, 22 de janeiro de 2019
Por que Poesia?
Rodolfo Pamplona Filho
Não se vive sem ar,
água e comida.
Mas andar sem poesia
é manter o corpo aquecido
de forma artificial.
A poesia é o que nos difere
de um animal irracional,
embora ele também possa
inspirar poesia,
ainda que sem saber.
A poesia transforma
o efêmero em eterno,
o instante em contínuo
e o fugaz em imortal.
Não me deseje o mal,
nem queira me tolher:
privar-me da poesia
é assassinar silenciosamente
meu desejo de viver.
No vôo para Orlando, 01 de janeiro de 2019.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2019
Marcas de um egoísmo
Tiago Figueiredo
Querem que eu repita minhas ações,
assim como os belos traços no desenho das mansões.
Querem que eu confirme aquilo que eu não vi,
assim como sempre fazem julgando a ti.
E neste mundo onde a vantagem conta mais valor,
fico pensando nas vezes em que falta o amor.
E neste mundo onde a incerteza vale como argumento,
fico pensando nas vezes em que falta o sentimento.
Os homens perderam a razão do negociar e do fazer da paz.
A vida se tornou um marasmo, um cadeado sem a sua chave.
E ainda perguntam como serão as marcas das gerações.
As mulheres agora lutam com prazer e força.
Que marasmo irritante se tornou esta rotina.
E ainda perguntam sobre minhas visões.
Bebês segurando bebês, amamentando o que o futuro viu.
Realidade que se torna bem efetiva neste lugar.
E ainda perguntam sobre nossas emoções.
Se foi, se foi, se foi... Eu não sei.
A união do mundo que rasgou seus traços.
São marcas de um egoísmo vivente em nós,
são só gente perdeu os seus abraços.
Se foi, se foi, se foi... Eu já vi.
A união de um mundo que não dá sua mão.
São marcar de um egoísmo vivente em nós,
são só gente que perdeu amor no coração.
Querem que eu repita minhas ações.
Neste mundo onde a vantagem conta mais valor.
Onde foi a união e seu heroísmo.
São as marcas que compõe este egoísmo.
domingo, 20 de janeiro de 2019
Sobre a Cultura
Rodolfo Pamplona Filho
Há momentos
em que se decide
embrutecer voluntariamente,
como se a violência
fosse a única resposta
eficiente para qualquer problema.
Há momentos
em que se decide
emburrecer voluntariamente,
como se o conhecimento
fosse um obstáculo
para uma tomada de decisão.
Há momentos
em que se decide
desaparecer voluntariamente,
como se a auto-anulação
fosse a solução
para o convívio como nação.
Eu digo não!
Não abra mão
do que te faz diferente:
a cultura é uma segunda pele,
uma tatuagem na alma da gente.
Salvador, 25 de agosto de 2017.
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