Felicidade não é meta:
é a forma como se vive;
não é objeto, é o caminho;
não é aquilo que te falta e sim saber aproveitar aquilo que já se tem!
Orlando, 10 de janeiro de 2020.
Blog para ler e pensar... Um texto por dia... é a promessa... Ficarei muito feliz em ler e saber o que cada palavra despertou... Se você quiser compartilhar um texto, não hesite em mandar para rpf@rodolfopamplonafilho.com.br. Aqui, não compartilho apenas os meus textos, mas de poetas que eu já admiro e de todas as pessoas que queiram viajar comigo na poesia... Se quiser conhecer somente a minha poesia, acesse o blog rpf-poesia.blogspot.com.br. Espero que goste... Ficarei feliz com isso...
Felicidade não é meta:
é a forma como se vive;
não é objeto, é o caminho;
não é aquilo que te falta e sim saber aproveitar aquilo que já se tem!
Orlando, 10 de janeiro de 2020.
Palavras proibidas
Assuntos censuradas
Nomes defesos
Ideias que não podem ser discutidas
A impossibilidade absoluta
de qualquer diálogo.
Morro de São Paulo, 02 de janeiro de 2020.
amor e desejo
amor é centrífugo
desejo é centrípeto
amor quer se entregar
ao destinatário
do amar
desejo
quer absorver
o objeto
a incorporar
Amar e desejar
fazem parte do viver,
mas amar se auto-renova,
enquanto desejar depende do querer.
Salvador, 09 de janeiro de 2020.
E aí?
Mano
Top
De boa
Se ligue
Man
Véi
Baratino
Barril
Sipá
Sepa
Pala
Paia
Partiu
Morro de São Paulo, 02 de janeiro de 2020.
Pode ser
Não sei
Tanto faz
Legal, mas não é minha praia
É isso aí!
Morro de São Paulo, 01 de janeiro de 2020.
Sua mente é um aparelho
em constante busca
de soluções
para qualquer tipo
de problema:
na ausência
de um desafio,
ela se introverte
e entra em modo avião.
Seu cérebro é um processador
mais rápido do que
qualquer computador,
em que todo questionamento
automaticamente
é respondido,
antes que o interlocutor
termine o raciocínio.
Suas atitudes são reflexos
de anos de condicionamento,
em que a lógica
não excluiu a emoção,
mas a separou
em caixas diferentes
para não haver confusão.
Seu coração é um dínamo
que se alimenta de carinho
e deseja retribuir,
como o óleo e o combustível
que renovam e fazem funcionar
todo o sistema.
Ele parece uma máquina
e há quem ache que seja mesmo,
mas, no final das contas,
ele é apenas
o que Nietzsche vaticinou:
humano, demasiadamente humano,
a ponto de ser tão diferente
que a humanidade não lhe reconhece...
São Paulo, 16 de novembro de 2019.
Por vezes, tenho vontade de chorar...
Sei o motivo, mas não consigo controlar
Há um vácuo que preenche o que era completo
Uma carência de beijo, dengo e afeto
Não sei o que é pior: a distância ou a despedida;
O romper do contato no momento da partida
Um olhar para trás, um abraço apertado,
um aceno tristonho, um olhar desolado...
Como uma dor machuca tanto sem ferir?
Como dominar o que posso apenas sentir?
A paz é arrancada desde a raiz
Uma marca viva que não vira cicatriz...
Pense duas vezes antes de reclamar
Dos problemas da vida, da rotina do lar...
Há tristeza que ninguém sabe como se mede
Só se valoriza o que se tem quando se perde
A lágrima vem solta e quente
Quem negar isso apenas mente
mas faz bem, porque, como um rio
leva o fel para um outro lado vazio....
A cada alvorecer, há uma nova esperança...
que surge inocente, como sorriso de criança,
mudando planos e rumos, batendo asa,
tudo por causa da saudade de casa...
Ciudad Real, 09 de setembro de 2008
Quando as cores da aquarela
Se tornarem uma só
Quando a vida, então bela,
Virar fogo, virar pó
Quando o verde virar cinza
E o céu não for anil
Vida não era mais vida,
Homem-bicho será vil
Quando o sangue derramado
Escorrer por minha mão
Lembrarei que, algum dia,
Já vivi em comunhão
E era belo, e era lindo
E era tudo o meu viver:
Homem-planta, homem-flor,
Homem-homem, Homem-ser
Não sabia que havia
Vida pura e sem dor
Bicho e homem, seres iguais,
Já viveram com amor
(1990)
Há quem prefira
vender uma amizade
por um cachê artístico;
desprezar um amor puro
por ouvir a opinião de uma prima;
desprestigiar o trabalho alheio
para tentar se auto-afirmar;
esquecer uma fraternidade solidária
para soar de vítima da situação;
humilhar com ar de superioridade
a efetivamente investigar o ocorrido;
tripudiar a imagem de colegas
para posar de voz da maioria;
blefar descaradamente e sem pudor
do que aceitar ajuda desinteressada;
ignorar a presença e o cumprimento
em vez de tentar um diálogo honesto;
fazer troça da desgraça alheia
para se sentir aceito no grupo;
perseguir incansavelmente
por não tolerar o diferente;
jogar fora a chance de fazer o Bem,
para se deleitar com seu veneno...
Isso só gera mágoa,
que vira raiva,
até se converter,
se houver o remédio
do esquecimento,
em profunda indiferença,
mesmo sendo cicatriz,
que não se apaga,
para ensinar
em quem vale confiar...
Pamplona, 03 de outubro de 2012, pensando sobre o passado...
Sinto sede, fome e desejo
Sede dos seus seios,
da sua boca
e do gosto doce do seu beijo
Fome de seu corpo,
do seu abraço
e da maciez de sua pele
Desejo da sua essência,
da sua alma
e do gozo que extravasa cada poro.
Sede, fome e desejo
É o nosso trio elétrico,
que energiza minha existência
e me mostra
o verdadeiro carnaval do amor.
Salvador, 14 de fevereiro de 2024.
Pessoas são como músicas.
Algumas, nós gostamos desde o início.
É a paixão à primeira vista!
É a energia que bate imediatamente!
Outras, gostamos somente
depois de um tempo.
São feitas para serem ouvidas
e compreendidas.
Algumas tocam a nossa vida
e sempre que a encontramos,
uma boa lembrança vem à mente
e/oi um sorriso vem ao rosto…
mas sempre há uma,
que é a mais mais especial:
essa é a nossa trina sonora.
Salvador, 18 de fevereiro de 2024.
Jorge da Rosa
Ensinam os doutrinadores
De forma bem amável
Que na fraude contra credores
O negócio é anulável
Para a anulação
Do negócio fraudulento
Pauliana é a ação
Este é o entendimento
Situação de insolvência
Patrimônio e sua alienação
Devedor sem inocência
Fraude na atuação
Conluio fraudulento
Tem ciência o devedor
Que causará nesse momento
Prejuízo ao credor.
Rodolfo Pamplona Filho
O sol já foi embora,
mas ainda dá para ver...
Olhamos para o horizonte,
vendo o passado,
em um instante levado
além dos seus limites
Viajar no tempo
não é ir ao futuro
ou voltar ao passado,
mas, sim, ter mais tempo
para estar no presente
e apreciar a beleza
que fatalmente desaparecerá.
Salvador, 14 de outubro de 2018.
Adélia Prado
É teu destino, ó José,
a esta hora da tarde,
se encostar na parede,
as mãos para trás.
Teu paletó abotoado
de outro frio te guarda,
enfeita com três botões
tua paciência dura.
A mulher que tens, tão histérica,
tão histórica, desanima.
Mas, ó José, o que fazes?
Passeias no quarteirão
o teu passeio maneiro
e olhas assim e pensas,
o modo de olhar tão pálido.
Por improvável não conta
O que tu sentes, José?
O que te salva da vida
é a vida mesma, ó José,
e o que sobre ela está escrito
a rogo de tua fé:
“No meio do caminho tinha uma pedra”
“Tu és pedra e sobre esta pedra”.
A pedra, ó José, a pedra.
Resiste, ó José. Deita, José,
Dorme com tua mulher,
gira a aldraba de ferro pesadíssima.
O reino do céu é semelhante a um homem
como você, José.
Rodolfo Pamplona Filho
Nenhuma intolerância é tolerável
Nenhuma discriminação é aceitável
É preciso dar espaço de fala
para quem se discorda,
para que nossa própria voz
não seja calada.
Como respeitar a palavra de ódio
de quem não te respeita?
Sendo maior que ele
e torcendo para que
a fé no respeito
seja maior do que
o desrespeito da fé.
Salvador, 30 de outubro de 2018.
Mario Quintana
Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!
Rodolfo Pamplona Filho
Há momentos
em que se decide
embrutecer voluntariamente,
como se a violência
fosse a única resposta
eficiente para qualquer problema.
Há momentos
em que se decide
emburrecer voluntariamente,
como se o conhecimento
fosse um obstáculo
para uma tomada de decisão.
Há momentos
em que se decide
desaparecer voluntariamente,
como se a auto-anulação
fosse a solução
para o convívio como nação.
Eu digo não!
Não abra mão
do que te faz diferente:
a cultura é uma segunda pele,
uma tatuagem na alma da gente.
Salvador, 25 de agosto de 2017.
Tiago Figueiredo
Querem que eu repita minhas ações,
assim como os belos traços no desenho das mansões.
Querem que eu confirme aquilo que eu não vi,
assim como sempre fazem julgando a ti.
E neste mundo onde a vantagem conta mais valor,
fico pensando nas vezes em que falta o amor.
E neste mundo onde a incerteza vale como argumento,
fico pensando nas vezes em que falta o sentimento.
Os homens perderam a razão do negociar e do fazer da paz.
A vida se tornou um marasmo, um cadeado sem a sua chave.
E ainda perguntam como serão as marcas das gerações.
As mulheres agora lutam com prazer e força.
Que marasmo irritante se tornou esta rotina.
E ainda perguntam sobre minhas visões.
Bebês segurando bebês, amamentando o que o futuro viu.
Realidade que se torna bem efetiva neste lugar.
E ainda perguntam sobre nossas emoções.
Se foi, se foi, se foi... Eu não sei.
A união do mundo que rasgou seus traços.
São marcas de um egoísmo vivente em nós,
são só gente perdeu os seus abraços.
Se foi, se foi, se foi... Eu já vi.
A união de um mundo que não dá sua mão.
São marcar de um egoísmo vivente em nós,
são só gente que perdeu amor no coração.
Querem que eu repita minhas ações.
Neste mundo onde a vantagem conta mais valor.
Onde foi a união e seu heroísmo.
São as marcas que compõe este egoísmo.
Rodolfo Pamplona Filho
Não se vive sem ar,
água e comida.
Mas andar sem poesia
é manter o corpo aquecido
de forma artificial.
A poesia é o que nos difere
de um animal irracional,
embora ele também possa
inspirar poesia,
ainda que sem saber.
A poesia transforma
o efêmero em eterno,
o instante em contínuo
e o fugaz em imortal.
Não me deseje o mal,
nem queira me tolher:
privar-me da poesia
é assassinar silenciosamente
meu desejo de viver.
No vôo para Orlando, 01 de janeiro de 2019.
Octavio Paz
Se é real a luz branca
desta lâmpada, real
a mão que escreve, são reais
os olhos que olham o escrito?
Duma palavra à outra
o que digo desvanece-se.
Sei que estou vivo
entre dois parênteses.
Rodolfo Pamplona Filho
Ser altruísta é bom,
pois pensar no outro ajuda
a resolver os problemas do coletivo
Ser altruísta é importante,
pois tratar somente em si
pode destruir a humanidade
Ser altruísta é valoroso,
pois achar quem cuida de outrem
traz exemplos que edificam
Mas não dá para ser só altruísta,
pois esquecer de sua felicidade
é condenar-se ao sofrimento.
Mas não dá para ser só altruísta,
pois não realizar seus desejos
é chafurdar na frustração.
Mas não dá para ser só altruísta,
pois não se preocupar também consigo
é o início de sua própria anulação.
Salvador, 20 de julho de 2018.
Carlos Drummond de Andrade
Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Rodolfo Pamplona Filho
Quero viver com você!
Se já vivo,
quero viver mais:
Mais perto
Mais tempo
Mais quente
Mais vivo
Você merece o que há de bom!
Se já tem,
Quero dar tudo:
Tudo de vivo
Tudo de delicado
Tudo de romântico
Tudo de intenso
Tudo de mim!
Salvador, 10 de março de 2018.
Elizabeth Bishop
(tradução de Nelson Ascher)
A arte da perda é fácil de estudar:
a perda, a tantas coisas, é latente
que perdê-las nem chega a ser azar.
Perde algo a cada dia. Deixa estar:
percam-se a chave, o tempo inutilmente.
A arte da perda é fácil de abarcar.
Perde-se mais e melhor. Nome ou lugar,
destino que talvez tinhas em mente
para a viagem. Nem isto é mesmo azar.
Perdi o relógio de mamãe. E um lar
dos três que tive, o (quase) mais recente.
A arte da perda é fácil de apurar.
Duas cidades lindas. Mais: um par
de rios, uns reinos meus, um continente.
Perdi-os, mas não foi um grande azar.
Mesmo perder-te (a voz jocosa, um ar
que eu amo), isso tampouco me desmente.
A arte da perda é fácil, apesar
de parecer (Anota!) um grande azar.
Rodolfo Pamplona Filho
Ser importante é do Ego
Ser feliz é da alma
Ser valorizado é do Ego
Realizar-se é da alma
Ter títulos é do Ego
Saber é da alma
Ser lembrado é do Ego
Fazer é da alma
Ser reconhecido é do Ego
Ter amigos é da alma
Ser casca é do Ego
Ser essência é da alma
Salvador, 21 de julho de 2018.