sábado, 2 de abril de 2011

Nasci em 72

Nasci em 72

Rodolfo Pamplona Filho

Nasci em 72
e vivi o suficiente
para saber o que vem depois
e o que me deixa contente.

Chorei a seleção de 82
Vi as Diretas Já de 84
Fui fiscal do Sarney em 85
Aplaudi a Constituição Cidadã em 88

Votei para Presidente em 89
Fiz vestibular na virada de 90
Pintei a cara em 92
Gritei "é tetra!" em 94

Pensei que, passados os 20 anos,
saberia diferenciar o que é certo,
para incluir em meus planos
apenas o que queria por perto.

Casei, tive filhos, fiz pose...
Ganhei e perdi dinheiro...
Faço aniversário em 2012,
mas ainda quero me sentir inteiro.

A vida não terminou em ações
com responsabilidade, árvores e livros...
Ainda há espaço para novas canções
e busca insaciável pelo infinito...

Nunca pensei que isso aconteceria,
nem saberia que meu coração agüenta,
descobrir novos desafios seria
recomeçar a vida aos quarenta...

Salvador, 25 de dezembro de 2010.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Jejum

Jejum

Rodolfo Pamplona Filho

O jejum faz repensar
os excessos do dia-a-dia,
o desperdício da rotina,
o desprezo pela agonia...

Jejum de comida
de sexo,
De vinho,
De vida.

Reeducar
Reprogramar
Redoutrinar
Repensar

O que fazer daqui em diante?
Para onde voltar quando distante?
O que chorar quando
as lagrimas forem embora...
O que decidir quando
chegar a minha hora...

Tudo isto é provocado
com um único ato
de absoluta abstinência
em um mundo de opulência...

Para superar todo feromônio,
só a mais pura reflexão...
Para determinado tipo de demônio.
só jejum e oração...

Praia do Forte, 31 de dezembro de 2010.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Noviço na Fé

Noviço na Fé

Rodolfo Pamplona Filho

Quando se é recém-convertido,
a declaração pública da fé
funciona como um salvo-conduto,
que autoriza continuar a pé

e permite identificar no outro
um ponto comum e de suporte,
que aceita baixar o escudo
e buscar o caminho do norte.

Partilhar a ideologia,
o projeto, a utopia
permitem uma intimidade
que não se conhecia.

Mas, muitas vezes, a confiança
é só um fio de esperança,
pois nem sempre há efetiva lealdade
em quem conhece a mesma verdade.

Não adianta blasfemar,
pois, se ninguém prestar,
isto inclui você
e tudo mais que envolve seu ser...

e, se só você presta,
isto é uma confissão
de sua presunçosa arrogância
ou exagerada auto-avaliação.

O que é, contudo, o mais importante
é saber que as idéias sobrevivem
aos homens que agem, por um instante,
como não houvesse preço ou vertigem.

Sem duvida, é definitivo
ter consciência de que a decepção
é prova de que se está vivo
e que, para todo problema, há solução.

Talvez, por fim, a verdadeira lição
é saber que o sentimento de fazer parte
não deve ser mera empolgação,
mas, sim, aprender, da vida, a arte.

Praia do Forte, 30 de dezembro de 2010.

terça-feira, 29 de março de 2011

Xenofobia

Xenofobia

Rodolfo Pamplona Filho

A raiz da xenofobia
é o medo de se perder
no tipo de amor e simpatia
que o mundo não quer ver.
É um clichê através dos anos,
desde o inicio dos tempos:
que, quanto mais seres encontramos,
mais nos isolemos...

A história não se cansa
de ver o ódio aberto
a quem se arrisca na dança
de um papel outrora incerto.
O universo está repleto
de histórias de amantes
que não ficam por completo,
só por ser de lugares distantes...

Romeu e Julieta, como exemplo,
é a pior história do universo do homem,
pois, em vez de celebrar um tempo
de amor entre desiguais no nome,
consagra a sua derrota
como se fosse a forma de paz
para a única resposta
da busca por algo a mais...

Por que ter medo de olhar para o lado?
Por que ter ódio do diferente?
Somente pelo temor escancarado,
virtual ou evidente,
de ser "contaminado"
por uma forma influente
de pensar, de crer,
de amar ou de ser...

A melhor forma de combater
o preconceito a outra crença
é se misturar, a não poder,
até não perceber a diferença...
O meio perfeito de terminar,
por completo, a discriminação
é não ter medo de buscar
a pura e simples miscigenação.

Praia do Forte, 30 de dezembro de 2010.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Pelos Filhos

Pelos Filhos

Rodolfo Pamplona Filho

Pelos filhos, fazem-se loucuras,
mata-se ou morre-se, passa-se fome,
sucumbe-se a travessuras,
muda-se até de nome...

Pelo amor aos filhos,
troca-se a aventura pela segurança,
a liberdade pelos trilhos,
a programação pela esperança...

Para ver os filhos crescerem,
renuncia-se a um grande amor,
chora-se até as lágrimas se perderem,
entrega-se aos leões sem medo da dor...

Pela felicidade dos filhos,
abdica-se da individualidade,
esquece-se a própria mortalidade,
vive-se como se não mudasse de idade.

Vivendo para os filhos eternamente,
corre-se o risco de se anular,
de desaprender a ser gente,
de nunca mais voltar a sonhar...

Mas, mesmo assim,
é uma opção consciente em cena...
um investimento sem retorno ou fim...
um sacrifício que vale a pena...

Praia do Forte, 26 de dezembro de 2010.

domingo, 27 de março de 2011

O viço

O viço

Rodolfo Pamplona Filho
E se, de repente,
eu te dissesse que não queria mais
viver no mesmo teto, na mesma cama
e que tudo que planejamos
não era mais essencial pra minha chama

E se, de repente
eu te dissesse que meu coração foi tomado
por uma vontade imensa de viver
que não engloba a rotina
que você tem a me oferecer

E se, de repente,
a pergunta que aparecesse
fosse: "Você não me ama mais?”
ou “Você arranjou outra?"
Seria o comum a se falar
pois rupturas ensejam esse pensar

E se, de repente,
tudo que era sólido
se desfizesse no ar
como grãos de areia nas mãos de uma criança,
caindo incessamente na ampulheta da vida.

Isso tudo nada teria a ver com amor,
pois eu continuarei te amando
da mesma forma pura e feliz...
Isso tudo nada teria a ver com amor,
mas com o viço que eu sempre quis...

Será que este viço se perderá?
Se este viço, sem querer, se perder
não será por outro alguém,
mas pelo próprio destino maduro
de uma essência que quer mais do que se tem.
Salvador, 28 de outubro de 2010.