domingo, 27 de março de 2011

O viço

O viço

Rodolfo Pamplona Filho
E se, de repente,
eu te dissesse que não queria mais
viver no mesmo teto, na mesma cama
e que tudo que planejamos
não era mais essencial pra minha chama

E se, de repente
eu te dissesse que meu coração foi tomado
por uma vontade imensa de viver
que não engloba a rotina
que você tem a me oferecer

E se, de repente,
a pergunta que aparecesse
fosse: "Você não me ama mais?”
ou “Você arranjou outra?"
Seria o comum a se falar
pois rupturas ensejam esse pensar

E se, de repente,
tudo que era sólido
se desfizesse no ar
como grãos de areia nas mãos de uma criança,
caindo incessamente na ampulheta da vida.

Isso tudo nada teria a ver com amor,
pois eu continuarei te amando
da mesma forma pura e feliz...
Isso tudo nada teria a ver com amor,
mas com o viço que eu sempre quis...

Será que este viço se perderá?
Se este viço, sem querer, se perder
não será por outro alguém,
mas pelo próprio destino maduro
de uma essência que quer mais do que se tem.
Salvador, 28 de outubro de 2010.

4 comentários:

  1. Comecei como se tivesse ouvindo tudo isso,

    E terminei triste pq o meu amor não comporta (ou não admite) esta verdade.

    Professor, me identifico.

    Um abraço respeitoso,

    Lúcio Casado
    (IgnorantStage)

    ResponderExcluir
  2. Prezado IgnorantStage, agora identificado como Lúcio Casado

    Identificar-se com o poema não é necessariamente vivê-lo, mas, sim, incorporar seus sentimentos e imaginar como seria.
    Nem tudo que escrevo aqui foi vivido por mim, mas tudo foi imaginado como seria vivê-lo...
    Abs,

    RPF

    ResponderExcluir