sábado, 18 de junho de 2011

Soneto do Sexo Casual

Soneto do Sexo Casual

Darci HF

Quero falar de um assunto
tido como proibido para muitos,
mas que todos já cogitaram um dia,
nem que seja em uma louca fantasia...

Não se trata de amor,
Não se trata de paixão,
É puro desejo e calor
É puro e louco tesão!

A entrega total a um desconhecido
A busca desenfreada da libido
Um prazer que satisfaz...

O gozo natural e incontido
O viver sem amarras no infinito
Sexo pelo sexo também é bom demais...

sexta-feira, 17 de junho de 2011

TALVEZ

TALVEZ

Não há mais o tempo
Talvez a luz dos pirilampos
E o movimento estático das folhas

Talvez nos campos
Lembranças de priscas eras
De feitos tantos

O corpo vaga no espaço
Entre folhas, pirilampos eras
A luz instante infinito

Torpor no espaço:
Não há mais a dor
E pensamentos tantos feitos eras





Alexandre Roque
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quinta-feira, 16 de junho de 2011

Sonho Lúcido

Sonho Lúcido

Rodolfo Pamplona Filho
Hoje, tive uma idéia de pura magia
para construir uma poesia.
Dei um salto no escuro.
Tive um sonho lúcido, no duro!

Eu estava acordado
e sonhando, como quem tudo sente...
Eu me vi inebriado,
mas, ao mesmo tempo, consciente.

Pensei em versos colocar
toda essa (con)fusão
de viver o sonho no ar
e sonhar o real na sensação.

Bateu um desespero,
por não me sentir inteiro
para saber direito o que vi,
nem o que realmente senti...

mas é uma sensação única,
como o momento de concepção,
desfazendo-se da túnica
no ato de criação...

Praia do Forte, 08 de março de 2011.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Afinidade

Afinidade


Não é o mais brilhante,
Mas é o mais sutil,
Delicado e penetrante dos sentimentos.
Não importa o tempo, a ausência,
Os adiantamentos, a distância, as impossibilidades.
Quando há afinidade,
Qualquer reencontro retoma a relação,
O diálogo, a conversa,
O afeto, no exato ponto de onde foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediante a vida.
É a vitória do adivinhado sobre o real,
Do subjetivo sobre o objetivo,
Do permanente sobre o passageiro,
Do básico sobre o superficial.
Ter afinidade é muito raro,
Mas quando ela existe,
Não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Ela existia antes do conhecimento,
Irradia durante e permanece depois que as pessoas deixam de estar juntas.
Afinidade é ficar longe, pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem, sensibilizam.
Afinidade é receber o que vem de dentro com uma aceitação anterior ao entendimento.
Afinidade é sentir com...
Nem sentir contra, sem sentir para...
Sentir com e não ter necessidade de explicação do que está sentindo.
É olhar e perceber.
Afinidade é um sentimento singular, discreto e independente.
Pode existir a quilômetros de distância, mas é adivinhado na maneira de falar,
De escrever,
De andar,
De respirar...

Afinidade é retomar a relação
No tempo em que parou.
Porque ele (tempo) e
Ela (separação) nunca existiu.
Foi apenas a oportunidade dada (tirada)
Pelo tempo para que a maturação
Pudesse ocorrer e que cada
Pessoa pudesse ser cada vez mais.



Texto de Artur da Távola

terça-feira, 14 de junho de 2011

A Epopéia do Herói (meu tributo a Joseph Campbell)

A Epopéia do Herói (meu tributo a Joseph Campbell)

Rodolfo Pamplona Filho

Todo inicio da aventura se dá
na terra do perfeito alvorecer,
em que ninguém imaginará
o que ainda está para acontecer.

O chamado para a emoção
vem em repentina urgência
como uma irrecusável convocação
para a próxima fase da existência.

A recusa ao chamado da canção
não é um charme disfarçado,
mas a natural hesitação
de quem estava acomodado.

Mas uma ajuda sobrenatural,
vinda de uma protetora figura,
fornece o estímulo fundamental
para o início da aventura.

A superação do primeiro limiar
é apenas a abertura do caminhar,
vencendo o desafio inicial,
que dá coragem para o confronto real.

Cair na barriga da baleia
é ser engolido pelo desconhecido
e deixar que o mundo leia
que você foi morto e/ou vencido.

É preciso vencer terrores
e enfrentar a estrada de testes,
com desafios de terríveis horrores
de sangue, suor, lágrimas e pestes.

O encontro com a Deusa Verdade
ocorre quando a alma do controverso
se reúne à Mãe-Terra, na realidade,
a verdadeira alma do universo.

É necessário encontrar ainda o dia
da redenção da figura do pai cego
e superar a incrustrada fobia
da iniciação destruidora de ego.

Somente assim será possível
obter a desejada benção final,
em que alcançar o segredo indizível
será completar, dos deuses, o ritual.

Mas é preciso ter cuidado permanente,
pois a vitória gera a tentação
de querer gozar eternamente
o êxtase celestial da superação.

E, por isso, é uma necessidade
realizar o vôo mágico da volta à cidade
para apresentar à sociedade
o elixir descoberto da felicidade.

O mais difícil, porém, ainda virá
com o confronto dos limites de outrora,
pois o herói totalmente mudará
com o simples decurso da história...

as coisas jamais poderão voltar
a ser como eram antes da passagem,
pois, por sua própria porta, adentrar
é a mais difícil de todas as viagens.

A jornada do herói é a transformação
da consciência de cada indivíduo são,
que vai se descobrir finalmente vivo,
revelando-se Mitras, Buda e Cristo.

Praia do Forte, 08 de março de 2011.


segunda-feira, 13 de junho de 2011

A Gente se acostuma...

A Gente se acostuma...

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos
e a não ter outra vista que não seja as janelas em redor.
E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz.
E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.
E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz.
E não aceitando as negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra,
dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e de que necessita.
A lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer fila para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com o que pagar
nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes,
a abrir revistas e ver anúncios.
A ligar a televisão e assistir comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável
catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição.
Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
À luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
À contaminação da água do mar.
À lenta morte dos rios.
Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galo de madrugada,
a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé,
a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando
uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.
Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo
e ainda satisfeito porque tem sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.

Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se
da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que, gasta, de tanto se acostumar,
se perde de si mesma.

Marina Colassanti


domingo, 12 de junho de 2011

Minha Homenagem às Mulheres

Minha Homenagem às Mulheres

Rodolfo Pamplona Filho
Se existe algo mais perfeito
do que a beleza da mulher
ganhará não só o meu respeito,
mas também minha adoração e fé,

pois somente uma obra divina,
que deve ser reverenciada,
pode ter mais perfeita sina
do que o encanto da mulher amada.

O fascínio feminino importa
muito mais que um físico atrativo:
é o conjunto completo de uma obra,
que deixa qualquer um cativo!

A inteligência, a perspicácia,
a sutileza, o instinto,
a elegância, a espontaneidade,
o sorriso, o carinho.

Todas as mulheres são lindas!
Embora algumas não expressem
toda a delicadeza
de sua infinita grandeza.

Todas as mulheres são lindas!
Falta a muitos homens
a efetiva sensibilidade
para perceber sua complexidade.

Dizem que, atrás de um grande homem,
há sempre uma grande mulher...
Isto é um engano monumental,
pois ela nunca estará no final,

mas, sim, o caminho inspirando
ou espiritualmente comandando
o passo a ser dado ou verbo a ser dito,
a ação cantada ou verso a ser escrito...

pois nada do que o homem tentar
será feito para seu próprio prazer:
haverá sempre uma musa a encantar
as etapas de seu íntimo querer.

Praia do Forte, 08 de março de 2011.