sábado, 7 de julho de 2012

OPOÉTICA

OPOÉTICA

Azrael


Manhãs ofegantes e cálidas
Após tardes de tempestades.
Sexo terno e matreiro,
O ruim feito bom à metade.
Futura analista com ex-marinheiro
Achando o Nirvana no chão de Gorazde...
Quem, afinal, pode ter matrimônio
Que resista sem alguns demônios?


                                 Luz e orvalho com trevas e fogo,
                                 Água com óleo, sal com resina.
                                 Por que resistir ao pendor
                                 De atirar o abismo à colina?
                                

Qual, afinal, o casamento
Que, padecendo e curando,
Não encontra o próprio alimento
No rio acima, remando?




Os teus cabelos perdidos,
O meu masoquismo em cutículas...
As tuas visões pessimistas,
O meu otimismo suicida...
Se não fôssemos tão diferentes
Terias meu toque de Midas?


Veja o relógio da sala,
Dezenove com dezenove...
A noite embriaga e me cala
Quando o vento sibila onde chove.
Tudo me torna mais seu,
Tudo o que é “mas...?” se remove.
E o meu Eu taciturno te ama
Como amei desde os meus vinte e nove...

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Soneto da Paixão pelo Boxe

Soneto da Paixão pelo Boxe

Rodolfo Pamplona Filho

Há dias em que
tudo que se quer
é o indisfarçável prazer
de socar o que puder...

Completamente viciado
na descoberta da serotonina,
evidentemente despertado
por injeção de adrenalina...

Não há stress que sobreviva
ou tensão que persista
a alguns minutos de manopla...

Se, no passado, eu fui frágil
ou não sabia ser ágil,
no boxe, encontrei minha rota.

Salvador, 27 de setembro de 2011.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Seu cheiro!

Seu cheiro!
Erick Quintella



Ah, o cheiro. Seu cheiro!
O cheiro dela me prende quando ela passa
Mulher cheirosa primeiro
Mulher sem cheiro tem pouca graça


Depois do cheiro, o pescoço,
e o cheiro inteiro do corpo
seu corpo inteiro e mais nada.


Menina seu andar tem cheiro bom
Faz te seguir, sair do tom
Menina o brilho em seu olhar
Faz te querer, faz te sonhar.


Seus olhos me fazem menino,
Me deixam tímido,
Querendo lhe conquistar


Minha boca só quer sua boca,
Menina moça,
Quero tanto te beijar


Me deixa lhe sentir de perto,
Meu olhar incerto só quer lhe beijar
Me deixe tocar seu perfume
Não lhe sou imune, vou me apaixonar

quarta-feira, 4 de julho de 2012

IMPERMANÊNCIA

IMPERMANÊNCIA
Se houvesse algum sentido nesta vida
Além de olhar a morte a vir chegando
A luz que um dia à noite eu vi brilhando
Seria a tua luz adormecida

Em teu sêmen minha alma entretecida
Era espectro de homem miserando
Que hoje a tua morte vai chorando
Como quem chora a própria despedida

E quando lembro aquela mão tão forte
Que me afagava e que me corrigia
Apodrecida nos umbrais da morte

Vejo meus filhos que eu gerei um dia
Também chorando a malsinada sorte
A lhes tirar o pai e a alegria



Alexandre Roque
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terça-feira, 3 de julho de 2012

Redação feita por uma aluna do curso de Letras da UFPE


APLAUSO.gif
           
Rosa vermelha
Redação feita por uma aluna do curso de Letras, da UFPE Universidade Federal de Pernambuco - (Recife), que venceu um concurso interno promovido pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa.
Redação: Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador.
Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida.
E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.
Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar.
O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto.
Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar.
Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.
Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois.
Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo.
É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros.
Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.
Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.
Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício.
O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto.
Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.
O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Retomando o Foco e o Fogo

Retomando o Foco e o Fogo

Rodolfo Pamplona Filho

Há momentos em que
o Norte desaparece
e todo o que se quer fazer
simplesmente esvaece...

Não mais que, de repente,
some-se a perspectiva,
como se, no presente,
não valesse viver a vida!

É preciso dar um NÃO
e tomar a decisão
de reencontrar a empolgação,
que proporciona toda emoção!

É fácil seguir o mapa:
basta dar a cara ao tapa
e ter coragem de enfrentar
todas as etapas do caminhar!

Quando não vem a inspiração,
investe-se na transpiração!
É preciso o desafio encarar,
com vontade de acertar!

Nunca diga que é impossível,
nem que não conseguirá,
pois todo obstáculo é transponível
quando você se dedicar!

E tudo dará certo no final,
para usar o velho chavão,
pois é você que constrói, afinal,
o texto, o amor ou a canção.

Então, pare de se lamentar
e ponha mãos à obra,
pois teremos muito a comemorar,
quando chegar a nossa hora!

No final mesmo das contas,
é apenas buscar, em si, novo fôlego
e conseguir ter as tarefas prontas,
retomando o foco e o fogo.

Salvador, 29 de setembro de 2011.

domingo, 1 de julho de 2012

COMO COLOCAR AS IDÉIAS NO PAPEL?

COMO COLOCAR AS IDÉIAS NO PAPEL?

Começar... Este é o problema.
Todos temos problemas para começar a redigir. Há problemas para a nossa inibição redacional, como:

1 – falta de hábito para escrever
2 – vocabulário limitado
3 – desordem de raciocínio
4 – medo de errar

Redigir é como um trabalho braçal. É ensaio e erro. Lembram dos montes de folhas amassadas. Continua assim...

Por que as pessoas de gerações anteriores, mesmo aquelas com pouca escolaridade, redigem melhor dos que a das gerações atuais?

Porque escreviam mais. Havia mais estímulo ao ato de escrever. Estímulos que as comodidades da vida moderna nos fizeram perder...

Por exemplo, havia os “diários” – as mocinhas de então escreviam diários – não havia o psi – psiquiatra, psicanalista, psicólogo. Ao escreverem alguma coisa, lá estava o exercício do hábito de escrever.

Havia a correspondência – levava-se tempo para completar uma ligação telefônica, então as cartas levavam e traziam notícias. Hoje? Hoje dispomos do telefone, do celular, do e-mail - lacônicos e cifrados, sim porque mensagens de adolescentes é difícil de entendermos. Gastamos precioso tempo ali, naquele hieroglifo...Mas a comunicação oral também está em baixa.

E qual a solução? Escrever, escreve e escrever.

E quanto ao vocabulário limitado?

Pergunte algo para alguém. A pessoa pode até saber, mas a resposta não vem. Sabe aquele – Eu sei, mas não consigo explicar? Pois é: limitação de vocabulário. As idéias estão presentes, mas falta uma roupagem: as palavras porque ninguém lê.

Muitos até lêem. Mas não estão ligadas na forma, no desenho da palavra – daí escreverem errado. É lógico que tem de se preocupar com o conteúdo, mas sem perder a forma de vista...

Qual a solução? Ler, ler e ler.





Desordem de Raciocínio

O que nos impede de produzir bons textos: a falta ou o excesso de idéias? O excesso. Idéias nunca faltam. O caso é que temos idéias e não sabemos como organizá-las. Aí, surge o caos.

Quantas vezes ficamos lutando com uma correspondência sem conseguir redigi-la, pois as idéias parecem nunca dizer o que queremos? E quantas vezes queremos dizer uma coisa e vem outra, ou enviamos a correspondência e depois vemos que ficou faltando alguma coisa ou repetimos, repetimos e não era o que queríamos dizer àquele leitor?

Solução? Três.

Escrita automática – Escrever tudo o que vem á cabeça, sem preocupação de lógica, correção das palavras. Depois, é o momento de separar o que vale e o que não vale: selecionar. Nas primeiras vezes, é possível que se produza lixo, mas com o tempo a tendência é que haja aperfeiçoamento. Tudo leva à ordenação automática das idéias.

Tempestade de idéias (brain storm) – Esta forma é usada pelas equipes de produção de textos. O grupo se reúne e cada um dá uma idéia sobre o tema. As idéias são anotadas – por mais estapafúrdias que sejam - . No final, são selecionadas as idéias mais interessantes. Funciona em trabalhos de grupo – até de um “grupo de dois”.

Mapa mental – Melhor técnica para a redação individual de textos. Coloca-se tudo o que for pensando na tela – ou no papel -. Depois, são feitos os devidos “cortes” e – pronto – o roteiro está pronto.

E quanto ao medo de errar?

A escola nos incutiu a falsa idéia de que escrever bem é escrever gramaticalmente bem. Como a pessoa não conhece gramática a fundo, escreve pouco porque assim vai errar menos. Como você escreve pouco, vai errar mais e nunca terá segurança para escrever...

Se a gramática fosse a base para uma redação perfeita, o bom professor seria um excelente escritor – e não teríamos gênios, como o compositor Cartola, por exemplo, que mal assinava o próprio nome.

Solução?

Ao escrever, não pense na gramática. Escreva, simplesmente. Não pare para pensar se determinada palavra é com sou ç ou ss, se há vírgula ou não... Escreva como achar que é. Depois revise com o auxílio de um dicionário. Mas não pense em escrever e pensar na gramática ao mesmo tempo, pois aí nem você escreve errado nem certo. Simplesmente não escreve.
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Autora do Artigo: Maria Rita Quintella é formada em Letras pela PUCRS, pós-graduada em Teoria da Literatura na mesma Universidade, onde integra a equipe de professores-avaliadores das redações do Vestibular. Trabalha com revisão de textos/preparação de originais para editoras e empresas.