sábado, 12 de abril de 2014

Brigadeiro de Colher

Brigadeiro de Colher (soneto)

Rodolfo Pamplona Filho
Como é bom se sentir criança
lambendo os beiços para aproveitar
o gosto que traz a lembrança
de quando nada havia a preocupar...

A sensação gustativa da memória
que o sabor do doce lança
faz acender a própria história
que é maior que encher a pança,

pois significa simplesmente reviver
a primeira manifestação de prazer,
muito antes de ser homem ou mulher,

pois, antes de qualquer orgasmo,
o seu primeiro grande espasmo
foi provar um brigadeiro de colher.


São Paulo, 09 de junho de 2013.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Procura-se Amizade



Procura-se Amizade
Procura-se: amizade que não se venda,
que não seja alugável, nem por prazo determinado
ou indeterminado, nem muito menos para eventos.

Deve ser ampla o suficiente para que eu sempre
me sinta à vontade. E ser ventilada pela brisa fresca
da alegria de nos revermos.

É indispensável que tenha vista para a justiça
e para a liberdade, em todas as suas acepções.

Precisa ter quatro quartos, e que necessariamente curta
todos eles - mas a suíte da Lua cheia sempre será a preferida.

O sol do seu sorriso deverá brilhar todas os dias;
em compensação, prometo que as nuvens que pairarem
sobre nós servirão unicamente para que conversemos à sombra.

É importante que tenha uma história entre suas paredes.
E, já que as paredes têm ouvidos, que se proponham
a ouvir a minha história. Velhas e novas histórias,
que ficarão muito mais enriquecidas pela interação
com as suas velhas e novas histórias pessoais.

Na portaria, a segurança de que nada que nós digamos,
ou façamos, será usada contra nós, em tempo algum.
Muito ao contrário, tudo que nós confidenciarmos
ao outro servirá para nos tornar mais íntimos, mais próximos,
mais cúmplices e, ao mesmo tempo, mais amplos,
mais abertos, mais encontrados, mais iguais.

A cozinha deverá ser integrada à sala dos nossos papos.
Comeremos e beberemos ao sabor das frases temperadas
e sorvidas pelo carinho e brilho nos olhos, alimentados
pela admiração recíproca. Que nunca estará no freezer,
porque sempre aquecida pelas lembranças do bom
que tem sido ter uma amizade assim.

O corredor bem que servirá para que, volta e meia,
nos encontremos de passagem. Mas um simples
"Oi" será o suficiente para que nós relembremos
o quanto nos gostamos. E a troca de sorrisos dirá
o quanto nos queremos.

É importante que, eventualmente, chova lá fora.
Pararemos para vê-la. E correremos, sorrindo, quando a atravessarmos.
Saberemos que sentir o cheiro da terra molhada
ficará ainda melhor com o cheiro da proximidade do outro.

A casa deverá ter sempre um cantinho para os irmãos e as irmãs.
E um canto de boas-vindas se ouvirá à sua chegada.

Por mais que eu queira que essa casa seja muito minha,
sei que reservarei o melhor espaço dela para os meus pais.
E para os pais de quem me visitar. Porque sempre serei grato
a eles por terem gerado pessoas tão amoráveis, parceiras,
fascinantes, verdadeiras, confiáveis e maravilhosas como eu e você.

Alberto Saraiva


quinta-feira, 10 de abril de 2014

Sinto falta (soneto de pé quebrado)

Sinto falta (soneto de pé quebrado)

Rodolfo Pamplona Filho
Sinto falta do riso
Sinto falta do pulso
Sinto falta do risco
Sinto falta do mundo

Sinto falta do tato
Sinto falta do beijo
Sinto falta do contato
Sinto falta do desejo

Sinto falta da vontade
Sinto falta do tesão
Sinto falta da paixão

Sinto falta da realidade
Sinto falta do calor
Sinto falta do seu amor 


Praia do Forte, 31 de maio de 2013.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Corte Pequeno e Profundo

Corte Pequeno e Profundo

No café da manhã
Um rasgo na mão
Uma dor da faca
Que entrou na carne
sangrou e a ferida me deixou...
Um ai. Um raio-x. Uma sutura.
Um pedaço de mim que cortou...
Uma dor que dilacera, que rasga, que fere, o que recordou...
Navalha a carne,
corre vermelho - a minha cor.
Anestesia que agonia o meu início de dia...
Escrever com sangue,
tirar do abismo da alma, o que sou...
O que é pior: um acidente com uma faca, um incêndio, um roubo à mão armada, um morte não esperada?
Cuidado: a vida é um caos em trânsito!
Um destino trágico ou um engarrafar de pensamento.
Eis, uma poesia para a dor...

Temos que ir em frente. Sangue, suor e lágrimas.

Ezilda Melo
02/04/2013

terça-feira, 8 de abril de 2014

Alienação Parental – Além da Lei (o poema)

Alienação Parental – Além da Lei (o poema)

Rodolfo Pamplona Filho
Qual é o sentido de ser deixado só?
Qual é o significado de
virar joguete de quem o criou?
O que faz alguém transformar
o fruto do amor
em uma forma para torturar
alguém a quem já se entregou?
Como imputar tamanha dor
a quem não pediu sequer
para vir ao mundo viver
ou provar o seu sabor?

Quando filhos viram massa,
só se construi um muro de tristeza;
Quando filhos viram moeda,
só se paga o preço do rancor;
Quando filhos viram brinquedos,
só se joga o jogo do ódio;
Quando filhos viram propriedade,
só se é dono do seu próprio veneno...

Morte, tragédia, culpa,
homicídio doloso da inocência
isolamento, depressão,
raiva convertida em manipulação
roubo, furto, perda,
em pungente sede de não,
vítima que é assassina
também de seu próprio eu,
em uma Medéia que ensina
o avesso de amar o seu
para, ao mesmo tempo,
nunca mais ser de ninguém...

Não seja algoz de quem te ama.
Não seja cúmplice da frustração.
A vida vai além da lei e da cama
e o mundo não é só comiseração.
Se relacionamentos terminam,
filhos são para sempre...
Se partir é doloroso,
mais ainda é deixar de ser gente...


Porto Alegre, 12 de abril de 2013.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Muitos abraços

Muitos abraços

Não corro atrás de ventos,
nem de inventos.
Há coisas demais perto de mim,
Que vejo e não invejo.
Não posso, sozinha, cuidar do mundo,
Nem me iludo.
Há gente demais perto de mim,
De mãos armadas, desalmadas.

Não vou chorar um minuto,
Nem uma gota.
Há choro demais perto de mim.
Quero olhos abertos e libertos.

Não vou engarrafar nuvens
Nem querer a lua.
Há imaginação demais perto de mim
Quero-as ver de longe, da rua.

Não vou cultivar plantas,
Nem horta, não me importa.
Há flores murchas dentro de mim
Que preciso ressuscitar.

Mas quero e peço a Deus:
Mãos limpas, abertas, em oferta,
Coração puro, desarmado e amante,
Longos braços, pra muitos abraços
Do mundo!


Maria Francisca – dezembro/2011.

domingo, 6 de abril de 2014

O Dia em que fui Rejeitado

O Dia em que fui Rejeitado

Rodolfo Pamplona Filho
Hoje dolorosamente chorei
pois finalmente constatei
que meu amor maior
prefere ficar só
do que ter todo dia
a minha companhia...
descobri que
não sou essencial...
que minha presença
não é fundamental...
que estar ao meu lado
pode ser um problema...
e recusar um afago
nem precisa ser dilema...
pois muitas vezes o carinho
é apenas parte do esquema
para sair, de vez, do ninho,
deixar de ser musa de meu poema,
falar que tudo é coisa pequena
e que devo parar de pensar no tema...
até que, tal qual um claro emblema,
conclua que tudo valeu a pena!


Salvador, 14 de abril de 2013, domingo, antes de ir para a igreja....