sábado, 12 de março de 2016

Soneto do Querer


Rodolfo Pamplona Filho




Eu quero ter seu amor todo tempo
e a cada simples momento,
como se um incontido vento
me tomasse cada argumento...

Eu quero gritar para o mundo
tudo que carrego no peito
como um vazio sem fundo
que só é repleto no leito

onde descobri o imenso prazer
de compartilhar com você
a cama, os sonhos e a vida,

pois não há sede maior
do que quando se está só
no instante da partida.

Na Ponte Aérea Recife-Salvador, 26 de novembro de 2011.


sexta-feira, 11 de março de 2016

A vida quase morta.





(Cris Guerra)

"O contrário do prazer não é a tristeza, é o tédio", disse o belo professor de filosofia. Ela não imaginava que a inteligência pudesse morar em casa tão bonita.

Rápida, tentou impressionar:

— Da tristeza eu faço letra de samba. E acordo de novo a alegria que mora em mim.

"É preciso ter coragem", ele respondeu. Sem coragem, a vida é mesmo um tédio. E o que ela mais teme é ser engolida pelo tédio.

— É preciso ter coragem para não se acostumar.

E pediram mais uma garrafa de vinho

http://amoreponto.blogspot.com/2009/09/o-contrario-do-prazer-nao-e-tristeza-e.html


quinta-feira, 10 de março de 2016

Soneto da Interpretação da Poesia


Rodolfo Pamplona Filho




O poema não pertence ao poeta,
mas, sim, ao mundo que o interpreta.
Por isso, qualquer explicação
é pura e simples reflexão

sobre qual era a proposta,
que, originalmente, havia sido posta
para fazer a construção
de uma nova manifestação.

Mas qualquer conjectura
nunca será realmente pura
para quem conseguiu se envolver

nas palavras lançadas ao vento,
buscando novo alento
na sensibilidade de cada ser.

Na Ponte Aérea Recife-Salvador, 26 de novembro de 2011.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Sobre Encontros Casuais

Rodolfo Pamplona Filho





 
Lua Estrela

Queria poder beber o seu riso
Sentir o seu cio
Amar o seu tom

E mais uma vez
Sentir o arrepio
Do seu ouvido
Saber como é bom

Estar contigo
Dormir contigo
E ser contido

Pela madrugada
Inesperada
Que entra e cala

Todo o furor
Do nosso amor
Que enfim resvala...




terça-feira, 8 de março de 2016

(Re)Encontrando um Irmão

Rodolfo Pamplona Filho





(Re)Encontrando um Irmão
Rodolfo Pamplona Filho
Quanto tempo se passou
sem que uma palavra fosse
sequer trocada ou ventilada?

Quantos momentos se perderam
pelo medo de um contato proibido,
sabe-se lá por qual razão?

Quantas imagens foram implantadas
sem saber qual era, na realidade,
o rosto de quem não se conhecia?

Quanta animosidade foi estimulada
por quem cabia apenas, na verdade,
permitir e ensinar o amor?

O passado jamais voltará
e é um pueril exercício de ingenuidade
lamentar o que poderia ter sido...

O presente é o que se pode viver
e, em vez de chorar o ocorrido,
que tal aproveitar o que surgiu?

O futuro não pertence a ninguém,
mas pode ser melhor do que tudo,
pois ainda será construído!

Um irmão nunca se perde!
Se os caminhos se afastaram
é porque era necessário lapidar

a carne, o sangue e o espírito,
que se há de compartilhar enquanto
se tem alguma esperança na vida...



Rio de Janeiro, 07 de outubro de 2012




segunda-feira, 7 de março de 2016

JOSÉ



Carlos Drummond de Andrade


E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?




domingo, 6 de março de 2016

A Ignorância é uma Benção



Rodolfo Pamplona Filho

Quem disse que, estudando,
alguém se torna feliz?
Ilude-se quem anda pensando
que descobrirá a real diretriz...

Aprender abre horizontes,
perspectivas, oportunidades...
Permite superar velhos montes
ou adquirir econômica estabilidade!

Mas não deve ser encarada
como causa de felicidade,
pois compreender a verdade

acaba sendo uma grande furada
pra quem crê haver sempre solução:
a Ignorância é uma Benção

Congonhas, na conexão de Cuiabá para Salvador, 30 de outubro de 2011.