sábado, 19 de março de 2016

Madrugada (e esse Amor)




Beatriz A.M.



Você cheira o meus cabelos e morde o meu ombro esquerdo, quando a gente faz amor.
Você puxa os meus cabelos, e une ansiosamente os fios no topo da cabeça,  lá no alto, num penteado que me faz lembrar a coroa de uma santa moderna, quando a gente faz amor.
Quando a gente faz amor, você alterna a suavidade do encaixe perfeito com um desejo bruto que me joga de quatro, que me suspende as pernas, que me penetra sem pedir, que me arranha os seios, que me deixa roxa, que me faz tremer.
E tem os teus gemidos, que são como uma sinfonia e que carregam, até a garganta, um grito que explode agudo e lindo, um grito que me deixa boba, quando a gente faz amor..
E tem a tua fome dos meus seios, a minha sede do teu gosto, a tua barba no meu rosto, quando a gente faz amor.
E assim, noventa e três dias e sete encontros depois, sinto, nessa pele que é tão tua, um arrepio ao perceber que é esse amor que tem feito a gente, menino.  É Esse amor que tem nos feito mais gente...

Salvador, 26 de outubro de 2011


sexta-feira, 18 de março de 2016

Soneto da Riqueza

Rodolfo Pamplona Filho




É possivel empregar
a palavra riqueza
em dois sentidos sem par
e sem qualquer estranheza:

a primeira é a riqueza material,
concepção mundana e fria,
que é a do vil metal;
já a segunda poderia

ser a riqueza do sentimento,
que é, para o poeta, no momento,
encarnada no ser a se amar.

Trata-se de um jogo duplo bacana,
como diferentes formas na cama,
que o vocábulo pode encerrar...

Salvador, 27 de novembro de 2011.


quinta-feira, 17 de março de 2016

Por que você faz poema?


Herculano Neto http://herculanoneto.blogspot.com/2010/02/por-que-voce-faz-poema.html




para dizer sem dizer
e irritar quem não me entende
(quem me detesta
mas esmiúça minha palavra)

para alentar meu público fiel
meu público efêmero

para exibir minha verve
em troca do elogio oco
do pouco-caso

para que os conhecidos
busquem meus enganos nas entrelinhas
e os desconhecidos espelho na minha farsa

para transformar minha frase em verso
meu verso em canção
cartão-postal
epígrafe
tatuagem
epitáfio
sacada genial

“para chatear os imbecis”


quarta-feira, 16 de março de 2016


Rodolfo Pamplona Filho




Olhando os Campos da Espanha,
pensei em toda minha existência,
a caminho de Pamplona,
origem e destino fundidos,
sem saber o que o futuro reserva
para cada momento a viver,
cada desafio a enfrentar
e cada decisão a tomar...

Sentado horas no trem,
entretido com imagens na janela
e ouvindo meu amigo Daniel a cantar
no music player do celular,
satisfeito com o passado construído,
revi cada instante vivido,
cada batalha vencida
e cada resolução assumida...

Esperando o tempo passar,
vi-me menino carente e homem feito,
com desejos ainda a saciar
e a nutrir esperanças de voltar
a acreditar em algo a encantar
cada segundo que resta da lida,
cada tarefa a ser perseguida
e cada mudança nos rumos da vida...

Olhando os Campos da Espanha...

No trem de Madrid para Pamplona, 02 de outubro de 2012.



terça-feira, 15 de março de 2016

Pamplona em Pamplona


por Charles Silva Barbosa, em 02/10/2012



Se o ser Pamplona
está em terra Pamplona...

A simbiose na Espanha,
então, é perfeita...

A defesa da tesina é futuro prestes
a juntar-se ao passado em redoma...

Mais um sucesso em uma vida de lutas e conquistas a espreita...

"Strenght and honor"

segunda-feira, 14 de março de 2016

Soneto do Perdão


Rodolfo Pamplona Filho




Por vezes, vive-se um sentimento
em que se carrega um tormento
de não saber a canção
que toca o seu coração

É um alívio tirar um peso
enorme em cima dos ombros,
que o fazia se sentir preso
ou a viver em escombros.

Quando há real arrependimento,
o melhor medicamento
é uma gostosa sensação

de voltar a gostar do mundo,
nunca mais se vendo imundo
com o alívio do perdão.

Na Ponte Aérea Recife-Salvador, 26 de novembro de 2011.


domingo, 13 de março de 2016

Amarre meu coração na primeira árvore

(Fabricio Carpinejar)




Mas ele será canalha por que amou a verdade? Ele traiu o quê? Trair sua vida de repente não é trair o seu sentimento, de repente não é trair o seu desejo, de repente não é trair seu cheiro. Como avaliar o que será perfeito dentro de 2 ou 10 anos? Como apontar que aquilo será melhor se o melhor ainda aguarda a invenção? Como adivinhar se uma relação dará certo sem estar nela ou sair dela? Como escolher entre dois amores se não é concedida a chance de escolher entre duas mortes ou dois nascimentos? De que adian ta ser objetivo se o que menos emociona é a objetividade?

Quando se escolhe, nunca se saberá se foi a definição errada, pois recordar é não deixar de alterar o passado. Nunca se saberá se foi a definição certa, já que estaremos sempre insatisfeitos.

Opina-se à vontade sobre a paixão com senso e prudência até que aconteça de modo pessoal. Perde-se a idealização e o sentido de comentar. Não terá nenhum valor o que você aprendeu nas apostilas. O cotidiano é feito de baques. Eu diferencio com dificuldade o desespero de viver da alegria.

Que lealdade a gente busca no amor além da ânsia de saltar o braço em torno do pescoço dela ou da calma ancestral de sentar de mãos dadas no fundo do lotação? Ou do descobrir uma cicatriz de infância debaixo do queixo? Ou de ir ao cinema para encurvar os ombros? Ou de apertar o braço dela ao percorrer a rua e a noite? Ou de ser uma criança com desaforos adultos? Ou um adulto com elog ios infantis? Ou de estalar bei jos nos ouvidos? Ou de acumular a lã e a luz no umbigo? Ou de observar as telhas como um pelego de estrelas? Ou de assobiar o bico da garrafa, transformando o vinho que resta em sopro?

Que lealdade a gente busca senão a de se aproximar e não pensar? Deixar que o tempo ceda espaço para o tempo da linguagem e que a carne seja metade da fruta na boca.

O amor não é segurança, todos procuram o nervosismo. Ao amar, fica-se fragmentado, não dividido. Dividido é um homem ainda muito inteiro.

Fica-se tão sensível que se entra em um estado de insensibilidade. O choro é pavio mergulhado na vela. Difícil erguê-lo da cera. Não se reage, demora-se o olhar e o talher, demora-se a ouvir. Algo como sentar na ante-sala da voz para folhear revistas.

O fluxo emocional é maior do que a possibilidade de comunicá-lo. Flutua-se como se o mundo ainda estivesse ensaiando antes de amanhecer. Procura-se uma praia para arrastar com preguiç a a rede dos pés na areia. Sem coragem de falar, o jeito é esperar o milagre da espuma, um sinal, um aviso, que os peixes sejam mais fortes do que nós e arrebentem as cordas