sábado, 23 de abril de 2016

Eu Protesto!

Cláudia Villar


Eu protesto pela falta de sonhos,
Protesto pela falta das vontades,
Pela ausência das estrelas,
Pela fuga da lua,
Pela verdade não mais nua e tão crua!
Eu protesto pelas injustiças sociais,
Pelos raros dias em paz,
Pela chuva que demora em cair,
Pelo sol que decide sumir,
Pelo vento que não leva minhas dores,
Pelo tempo que não cura os amores,
Pelo choro que demora em cair,
Pelo riso que se esconde de mim,
Pelo rosto envelhecido que descobri hoje no espelho que é o meu,
Protesto, protesto, protesto!
Eu protesto pelas contas que chegam,
Protesto pelo dinheiro que falta,
Protesto pela água que some,
Pela dor que me consome,
Pelas maldades dos homens,
Pela burrice não escondida,
Pela inteligência adormecida,
Pela ilusória vida vivida,
Pela esperança esquecida.
Eu protesto!
Pela flora enganada,
Por toda a fauna roubada,
Pelos ladrões nas ruas,
Pelas verdades não mais nuas e tão cruas!
Eu protesto, eu protesto, eu protesto!
Por não ser tão lida,
Por um dia ter sido esquecida,
Por uma vida de pesadelos,
Pelos espelhos embaçados,
Pelas vitrines enganadoras,
Pelas mídias aniquiladoras,
Por um mundo mais feliz,
Protesto, protesto, protesto!
Por um Brasil mais vivo,
Por uma Copa honesta,
Por uma saúde saudável,
Por uma educação que eduque,
Por uma vida cheia de luz,
Por mais oração e menos humilhação.
Eu protesto!
Por um povo acordado,
Por um país não mais adormecido,
Protesto para que essa febre não se torne modismo
Para que, realmente, sejamos vencedores
Para não sermos mais simples secundários atores.
Protesto, protesto, protesto!
Por livros espalhados,
Por leituras disputadas,
Por bravura à Pátria Amada,
Por uma Literatura esparramada.

Enfim, eu protesto pela leitura desse poema

Por uma alma não mais pequena
Pelo compartilhamento sem fim
Pelo seu direito de concordar ou discordar de mim.






sexta-feira, 22 de abril de 2016

Meretrizes da Zona Sul (extended version)









São como rosas,
cheias de espinhos;
são como pedras,
mudando caminhos;
anjos das alcovas, com lábios de mel...
vidas amargas, no mais puro fel...
Ela são
Rainhas da Noite, de uma “Noite de Blues”!
Pobres mulheres!
Meretrizes da Zona Sul

Corpos maculados,
com almas tão puras
Feras escondidas
em doces criaturas.
Preferem a dor do que a solidão,
vendendo a si próprias, em busca do pão.
Ela são
Rainhas da Noite, de uma “Noite de Blues”!
Pobres mulheres!
Meretrizes da Zona Sul

Deusas pagãs
Senhoras da Vida
Fêmeas amadas
Temidas, feridas
São bichos selvagens em jaula de pedra
Crianças perdidas no meio da selva
Ela são
Rainhas da Noite, de uma “Noite de Blues”!
Pobres mulheres!
Meretrizes da Zona Sul

“É melhor ser meretriz do que ser ladrão” (será mesmo?)
“Vendo meu corpo, mas não vendo minha alma!” (será mesmo?)

Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho
(2004)

quinta-feira, 21 de abril de 2016

És autêntico?


                                              

Vivemos em uma sociedade dinâmica que sofre todos os dias com suas turbulentas exigências da mídia. Você tem que segui-las? Sim, se você quer deixar o seu Eu Sou de lado e quiser participar do Eu Copio, e não, se você preserva a sua essência e priva seus próprios desejos, criatividade e integridade. Em poucas palavras: se você segue o que os outros dizem é porque você está perdendo o seu Eu Sou, você está se jogando fora e autodestruindo seu próprio pensamento. Afinal, você faz o que quiser.
Só porque todo mundo tá usando aquele tipo de calça não significa que também tenhas que o fazer. Creio que todo e qualquer humano tem este senso de percepção, não? Lembra daquela lei que as pessoas dizem ter? Duas palavras que muita gente conhece: livre arbítrio. Já vi muitos afirmarem que temos o poder da decisão e dizer simultânea e exatamente o contrário: Temos que seguir a sociedade para sermos aceitos. Aceitos por quem? Por pessoas que deixam sua autenticidade pra seguir as outras? Por pessoas que não estão ao mínimo ligando pra quem você é de verdade? Por meros copiadores? Sim, realmente é uma triste realidade. Mas, quer saber o fato? Seja você e as pessoas do seu “universo” vão se aproximar e então não precisará mais de máscaras.
Uma atitude comum que está acontecendo atualmente é o fingimento por parte de casais. Além de ser uma das causas do triste e destruidor divórcio, esse fingimento uma hora vai magoar, tanto você próprio quanto seu/sua parceiro/parceira. Por que mentes para si mesmo para agradar alguém? Quando este alguém descobrir que foi tudo mentira, as conseqüências vão machucar. Ame a si próprio primeiro para depois amar o outro! Jamais descobrirás o amor se não sente ele por ti mesmo.
Enfim, o que devo fazer para tornar-me autêntico? Dizer sempre a verdade, mesmo que tal magoe; pensar da sua forma, não dando ouvidos aos demais que não os merecem; conhecer a si próprio, pautando a vida no seu Eu Sou, e acreditar, tanto nas concretizações dos SEUS desejos quanto em si mesmo, afinal, querer é poder. Há muita gente que discorda, mas eu sei por experiência própria que aquela frase é verdadeira. Eu quero ser rico: trabalhe e ganhe seu dinheiro. Eu quero sair logo da escola: Pule o muro. Eu quero tirar nota boa na prova: Estude, simplesmente. Porém, não é tão fácil, pois você tem que querer tudo que engloba esse seu desejo, incluindo as conseqüências e as reações. Se pular o muro pra sair da escola, levará uma boa bronca. Se estudar vai perder seu dia majoritariamente infrutífero, se fores como a maioria dos humanos.
Por fim, responda-me: És autêntico?
Não faça parte dos 95%. Seja pouco para ser muito.


Osvaldo Trindade

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Gratidão

Rodolfo Pamplona Filho




Gratidão não se exige,
não se pede, nem se espera...
É presente de um coração puro,
que não vê outra forma de agir,
na memória da marca do passado
e do alívio do auxílio no desespero...

Por isso, a ingratidão machuca
como punhaladas nas costas,
como um tapa no rosto,
como uma dor fatal no peito...

O ingrato merece mais do que repúdio:
é pena de morte no coração,
que se fecha em uma ferida purulenta,
cujos bálsamos somente são
o ostracismo ou a ressurreição do perdão...

Reconhecer-se grato é o exercício da verdadeira humildade,
que é saber que, sozinho, não se consegue nada,
pois conquistas isoladas são vitórias de Pirro,
em que obter o resultado não significa necessariamente desfrutá-lo...

Gratidão é a resposta sincera
que o afeto exige por coerência!
É a marca que renova a esperança,
que não é a última que morre, posto imortal,
mas, sim, a certeza de que
ainda se pode ter fé na humanidade

Maceió, 03 de setembro de 2010

terça-feira, 19 de abril de 2016

A vida plena






No chão, deitado. O Sol dá adeus e a crescente Lua encontra seu tempo para brilhar. Os pássaros cantam alegremente ao procurar seus cantos de passar a noite. Os algodões dos céus, mais conhecidos como nuvens, correm para o ocidente e se banham em tinta rosa-alaranjada. O crepúsculo sorri assim como uma criança alegre o faz. O vento leva folhas secas para passear no tênue lago enquanto as formigas caminham discretamente por meus braços.
A vida parece calma. O tempo vagaroso olha para mim e estende a mão para que eu me levante. O tempo senta-se ao meu lado e anuncia pertencer-me. A natureza corre os olhos pela minha alma e me julga da mesma forma que uma mão orgulhosa o faz. Por minhas narinas, o vento se aventura e volta acalorado e pobre. E então, paro de roubar o vento para meus pulmões. Em movimento, apenas um coração pulsando. Os músculos estão esperando um comando que não virá tão cedo. Sinto como se o céu fosse o chão que eu sempre tive que caminhar. Eu só tinha que esticar os pés. Voluntariamente, minha visão é tomada pela escuridão das pálpebras. As nuvens crêem que a vida me deixou, a vida continua serena e pergunta ao vento o porquê, o vento diz que é um pedido aceito de perdão e questiona ao tempo quanto tempo mais precisarei, o tempo diz que o céu deve saber, o céu escurece e afirma que só eu sei, o lago franze o cenho enquanto as formigas começam a se preocupar e o crepúsculo deixa a noite entrar em casa. Então eu senti como se realmente fizesse parte do mundo. Senti como se eu fosse uma alavanca de uma máquina imensa. Senti como se eu pudesse segurar o mundo com as minhas mãos.
Deixei o vento insistente navegar em meus pulmões novamente. Ele pede perdão por ter reclamado. Abro os olhos. O céu, preocupado, está me observando a poucos centímetros. O tempo uma vez tranquilo agora estava acelerado. As formigas pareciam tentar me acordar. A natureza sorria aliviada atrás das árvores enquanto o lago decidia se a flertava ou admirava a noite.
Estiquei vagarosamente o braço direito. O céu agora mais escuro recuou como um animal amedrontado diante de um estranho. Então o toquei suavemente. Era liso como vidro. Gelado e tímido. Minhas mãos deslizaram por ele e senti um sorriso prazeroso formar-se em minha face uma vez inexpressiva como uma folha em branco. Ele tinha que ir. Acenou e me disse que nos veríamos novamente. Contou que olhar-me-ia. Ele se foi.
O tempo se levantou começando a caminhar. Levantei-me e o abracei com força. Após retribuir o abraço, ele falou que sou seu dono, mas que devo cuidar mais dele. O tempo se foi sorrindo enquanto corria para onde meus olhos não podem alcançar. O vento corria suavemente e as estrelas começavam a entrar em cena. Elas pareciam dançar no céu noturno. Piscando para mim e enciumadas pela Lua que roubava parte do seu alvo e discreto brilho.
Desta vez, levantei meu corpo e parei de sentir os batimentos cardíacos do mundo. Senti um calafrio vindo das minhas costas apontadas para o sul. Olhei para trás e ali estava o vento. Parado. Quieto. Paciente. Anunciando:
- Como o tempo, a ti pertenço.
Eu abri os braços e fechei os olhos enquanto levantava minhas mãos murmurando:
- Sopra.
Ele passou por mim com velocidade e senti como se estivesse com as rédeas de um cavalo veloz na mão. Ele me entendia. Eu o entendia. Eu sabia seu nome. Então relaxei os braços e os encostei ao meu corpo fazendo o vento parar. Lá no alto, ele sorria pra mim.
Corri. Corri. Eu estava leve. Livre. Solto. Autoconfiante.
Eu estava voando.
Osvaldo Trindade

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Corpo e Coração




Rodolfo Pamplona Filho


Eu não rifo meu coração.
Dele, não faço leilão.
Meu coração não se rifa,
porque ele não é meu!
De quem mais ele seria,
se não seu?

Meu coração é
muito mais importante
que meu corpo,
que é apenas uma parte,
nem de longe a mais relevante
e que não se confunde com o todo.

O meu corpo não é rifado,
mas, sim, disponibilizado,
em um comodato necessário
exercendo quase uma função social,
ao satisfazer um instinto animal
e também de curiosidade científica.

E assim vou vivendo
e também aprendendo
a saber separar
o aproveitar e o amar,
o simples dar e o  entregar,
o curtir e o se permitir,
o prazer e o viver...

Salvador, 12 de dezembro de 2011.


Perdendo a Fé



Rodolfo Pamplona Filho
 
 
 
 
Será possível definir o momento
em que se passa a crer em algo?
Se isto for aceitável,
por que não o seria
o instante em que se perde a fé?
A fé como a certeza
no que não se vê...
A fé como a esperança
que não se está só...
A fé como a motivação
para ainda confiar em alguém...

A fé não se explica: sente-se...
como um sopro no calor,
um abraço no temor,
uma luz na escuridão,
uma pausa na aflição...
A fé consola e acalma,
traz paz ao fundo da alma,
transforma a derrota em vitória
e muda o sentido da história.

Em que se perde a fé?
No homem, na lição,
na promessa, na salvação,
no governo, no projeto,
no caminho estreito e reto...
Perde-se fé na igreja
ou na comunidade,
na capacidade benfazeja
de falar a verdade...

Há como não perder a fé,
quando isto soa inevitável?
Há como permanecer de pé,
diante do inominável?
Há como acreditar na graça,
sem esperar um salvador?
Perder a fé é uma desgraça...
E isto é desolador,

pois o que se pode fazer quando
se descobre ter perdido a fé?
Reencontrar a estrada de outrora,
como se tantos passos
já não tivessem sido dados?
Como se tantas experiências
não tivessem diferentes lados?
Como se fosse possível desprezar
toda a vida posterior?
Como se a vontade pudesse apagar
singelamente toda dor?

Perdi a fé,
perdendo a fé...
Salvador, 07 de novembro de 2010.

domingo, 17 de abril de 2016

The Watch, The Clock, The Time



Rodolfo Pamplona Filho


The Watch...
The Clock...
The Time...
What if
I could never die,
would I have time
to feel that I'm alive?
I would like to stop the clock
to see if I can get more...
time...

The Watch...
The Clock...
The Time...
I wanna have a clone
or a lot of ones
to make everything
I wanna live once more...
Or simply
stay lay in bed
thinking about
what should I have
do
to
spend more time with you...

The Watch...
The Clock...
The Time...

Praia do Forte, 11 de dezembro de 2011.