sábado, 30 de abril de 2016

Eu


 Paulo Leminski
 





eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora

quem está por fora
não segura
um olhar que demora

de dentro de meu centro
este poema me olha

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Wilderness







How many times
have you heard my shy voice
telling feelings that
don’t have meaning in words?

How many times
must I tell you that I miss you
while a storm of tears
keep crumbling from my face

And even if
the sky should fall down
and the ocean
turns to a desert

I won’t
be afraid of passion
‘cause the more you love,
the more you grown

So, do you think it’s over
and time will pass
like summer rain
So, do you think you can let me
with my wilderness
waiting for a call,
wishing you were here again

Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho (1992)

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Os mortos

 Ferreira Gullar




os mortos veem o mundo
pelos olhos dos vivos

eventualmente ouvem,
com nossos ouvidos,
       certas sinfonias
                 algum bater de portas,
       ventanias

           Ausentes
           de corpo e alma
misturam o seu ao nosso riso
           se de fato
           quando vivos
           acharam a mesma graça

               

De Muitas Vozes (1999)

quarta-feira, 27 de abril de 2016

O utopista

 Murilo Mendes
 






Ele acredita que o chão é duro
Que todos os homens estão presos
Que há limites para a poesia
Que não há sorrisos nas crianças
Nem amor nas mulheres
Que só de pão vive o homem
Que não há um outro mundo.

terça-feira, 26 de abril de 2016

Resposta




Eu respondo com o silêncio
Dos que foram forçados...
... a calar...
... por ter coragem
Eu respondo com as lágrimas
Das mães da Plaza de Mayo...
... que choraram...
... de verdade
Eu respondo com o sangue
Jorrado e derramado...
... na Praça da Paz...
... onde se fez a guerra
Eu respondo com a dor,
A dor que torturados...
...que morreram por não pensar...
... igual a quem tinha...
O poder...
... para mudar
O poder...
... para fazer sofrer
e matar.

(1991)
Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Vou-me embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira




Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive


E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada


Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar


E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

domingo, 24 de abril de 2016

Direito Skinhead



Rodolfo Pamplona Filho

Princípio da Truculência Máxima:
In dubio, pau no réu..
Tal qual em “O Pequeno Príncipe”,
você se torna eternamente responsável
pelas empresas que cria...
Afinal de contas,
o processo judicial não pode
ter sensação de coito interrompido...

Quebra de sigilo fiscal,
bancário, telefônico e pessoal:
tudo isso é fichinha
para o que se está
disposto a fazer,
para, em seu entender,
cumprir o seu dever...

Bloquear suas contas,
restringir o seu crédito,
mandar prendê-lo,
se deixassem...
Não há limites
para a sede de justiça,
ainda que seja para beber
todo o seu sangue e seu suor...

Quando o Direito
não é respeitado,
tanto na vida,
quanto no processo...

Quando o Direito
parece ser apenas
um conto de fadas
ou uma história de Carochinha...

Quando o Direito
reconhece que não há
limites para a criatividade humana
quando se quer manobrar para não honrar,
fugir ou fraudar direitos...

Quando o Direito
definitivamente
precisa ser reinventado
para ser efetivado,
não há mais salvação:
É o tempo e lugar
do Direito Skinhead!

Salvador, 04 de setembro de 2010, estressado em um sábado...