terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Igual-Desigual



Carlos Drummond de Andrade, in 'A Paixão Medida'

Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são
iguais.
Todos os partidos políticos
são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda
são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
e todos, todos
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais.
Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as acções, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou
[coisa.
Ninguém é igual a ninguém.
Todo o ser humano é um estranho
ímpar.


segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Depois do mar

Joana Ferraz

A carne molhada, bem água
É aquela que mais grita fundo

Lá de onde vem e fica o espaço
Dentro do corpo do mundo

Essa carne
É aquela mais vermelha
Parelha com o sol no rosto
Depois da manhã
Depois do mar

O corpo de fogo e de sal vai ficar
Nesse sofá cama de beijo comigo.


https://trazumverso.com/2016/12/15/depois-do-mar/

domingo, 29 de janeiro de 2017

Uma canção


Rodolfo Pamplona Filho


A melodia é o consolo

para a dureza da poesia

A harmonia dita regras

onde se deita a anarquia

O ritmo quer por ordem

na liberdade do caos

A métrica é a disciplina

de um quadro parnasiano

A rima é a esperança

de colorir o horizonte

A canção é o esconderijo

da alma do poeta.





Salvador, 23 de dezembro de 2016.

sábado, 28 de janeiro de 2017

Para onde vão as palavras de amor não ditas?...


Zack Magiezi

Para onde vão as palavras de amor não ditas?
Esquecidas em orfanatos por serem precoces demais

Envelhecidas em asilos..
por terem enrugado e perdido a independência

Amarradas em camisa de força
por serem insanas e incontroláveis

Suplicando nas sarjetas 
por precisarem de ajuda

Nas fotos dos desaparecidos
por um dia ter virado saudade

Se por ventura elas forem vistas por ai
diga que sinto fala.
sinto muita falta.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Aperfeiçoar


Rodolfo Pamplona Filho

Aperfeiçoar é estar ​
sempre disposto
a começar de novo.
Aperfeiçoar é estar ​
pronto para recomeçar ​
tudo do zero
Aperfeiçoar é estar ​
novamente a postos ​
para aprender
Aperfeiçoar é muito mais ​
do que repetir a mesma ideia
com palavras diferentes.
Aperfeiçoar é viver
cada momento ​
como se fosse o primeiro
com a pureza virginal ​
de uma página em branco,
sem desprezar ​
o que já foi escrito,
mas não se influenciando ​
pelos erros do passado,
nem tendo medo de seguir ​
por um novo caminho.

No vôo para Campinas/SP, 01 de abril de 2016.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

CRÔNICA ENGRAÇADA



Luis Fernando Veríssimo


Minha mulher e eu temos o segredo para fazer um casamento durar:

Duas vezes por semana, vamos a um ótimo restaurante, com uma comida gostosa, uma boa bebida e um bom companheirismo. Ela vai às terças-feiras e eu, às quintas.

Nós também dormimos em camas separadas: a dela é em Fortaleza e a minha, em SP.

Eu levo minha mulher a todos os lugares, mas ela sempre acha o caminho de volta.

Perguntei a ela onde ela gostaria de ir no nosso aniversário de casamento, “em algum lugar que eu não tenha ido há muito tempo!” ela disse. Então, sugeri a cozinha.

Nós sempre andamos de mãos dadas…Se eu soltar, ela vai às compras!

Ela tem um liquidificador, uma torradeira e uma máquina de fazer pão, tudo elétrico. Então, ela disse: “nós temos muitos aparelhos, mas não temos lugar pra sentar”. Daí, comprei pra ela uma cadeira elétrica.

Lembrem-se: o casamento é a causa número 1 para o divórcio. Estatisticamente, 100 % dos divórcios começam com o casamento.

Eu me casei com a “senhora certa”. Só não sabia que o primeiro nome dela era “sempre”.

Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de interrompê-la.

Mas, tenho que admitir: a nossa última briga foi culpa minha.

Ela perguntou: “O que tem na TV?”

E eu disse: “Poeira”.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Cinco Minutos



Cinco Minutos
(discurso como Patrono dos Formandos em Direito da UFBA 2016.1)
Rodolfo Pamplona Filho

O que se faz em cinco minutos?
Para quem espera, parecem muitos...
Para quem fala, parece nada,
pois toda oportunidade é joia rara
para poder passar uma mensagem
a quem se propõe a uma viagem
de conhecimento da vida profissional.

E, por isso, não me levem a mal
se eu, cumprindo o esquema,
resolver fazer um poema
sobre o que se fazer
quando se tem que escolher
cada palavra ou sentimento
para cumprir rigorosamente o tempo.

Em cinco minutos, tudo é possível,
desde que, com disciplina incrível,
consiga-se condensar
tudo que se quer manifestar.

Usarei cinco minutos, de verdade,
para, agradecido, falar nesta solenidade
e, para não ser chato ou cansativo,
serei extremamente objetivo.

Fui honrosamente galardeado
com o convite que me foi dado
de ser Patrono, com louvor,
de uma turma de que não fui professor.

E estou muito bem acompanhado
pois o Corpo Docente pranteado
é uma verdadeira constelação
que merece expressão menção:

O Paraninfo que encabeça o plantel
é o encantador Fabiano Pimentel,
que está acima do Bem e do Mal,
pois ensina Processo Penal.

E os demais professores homenageados
merecem ser sempre lembrados,
dominando, cada um, a sua arte,
na Sua graduação, fazendo parte.

Meu eterno colega e administrativista
é também um excelente guitarrista,
meu velho amigo Durval,
que exerce a magistratura federal,
tal qual um ex-aluno e hoje parceiro,
indiscutível bom companheiro,
o Professor Fábio Roque,
sempre pronto para dar um toque,
assim como outro cidadão idôneo,
o grande tributarista Helcônio.

Nosso Presidente também é um Astro:
o diligente Diretor Celso Castro,
que transferiu a autoridade da regência
para nossa colega de docência,
Isabela Fadul de Oliveira,
minha colega desde o Antônio Vieira!

O secretário dessa sessão
é um funcionário da coordenação,
Senna, que também já foi cantor,
antes de se tornar servidor.

Completam essa seleção
Suzane, da Coordenação,
e, da Biblioteca, Marivaldo Santana,
gente boa, que honra essa fama.

Mas não posso extrapolar a duração
da proposta desse discurso diminuto,
que é conseguir a proeza e a satisfação
de fazer tudo sem passar um minuto.

Em cinco minutos, cozinha-se um ovo,
descobre-se algo novo,
prepara-se o macarrão
ou perde-se a condução.

Em cinco minutos, pode-se fazer diferença,
independentemente de qualquer crença,
pois tudo pode acontecer
quando se dedica para valer...

Em cinco minutos, pode-se virar um jogo,
pode-se salvar alguém do fogo,
pode ser o momento da despedida
ou ser tudo que resta da vida.

Em cinco minutos, apaixona-se à primeira vista,

desenvolve-se a arte da conquista,
clama-se a Deus com todo o coração
ou, em um debate, perde-se a razão.

Por cinco minutos, atrasa-se para uma entrevista,
apaga-se, na perícia, uma pista,
dá para passar um bife no alho
ou tomar revelia na Justiça do Trabalho.

Cinco minutos é mais do que suficiente
para quem decide ser diferente,
para beijar seu filho no começo do dia
ou um sorriso iluminar uma alma vazia.

Em cinco minutos, arrumo-me para um compromisso
- claro que, para as mulheres – não se aplica isto! –
escrevo um soneto, ouço uma canção,
vejo o canal pamplona ou faço uma oração.

Em cinco minutos, tira-se uma soneca,
devolve-se um livro na biblioteca,
desiste-se de uma prova,
cava-se até mesmo a própria cova.

Em cinco minutos, mesmo sendo um instante,
cochila-se em uma aula maçante,
confere-se um gabarito,
vai-se do sussurro ao grito...

Em menos de cinco minutos, fiz este discurso
e vocês coroaram o seu curso.
Em menos de cinco minutos, pronunciei-me para celebrar sua vitória
e vocês passaram a fazer parte da minha história.



Declamado em 06 de janeiro de 2017,
na Reitoria da Universidade Federal da Bahia, em Salvador/BA

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Encontro


Joana Ferraz

Desde a primeira vez que ganhei aquele abraço, eu sabia. Sabia que iria precisar dele mais vezes, que sentiria de longe a lembrança do momento me encostando.  Foi na varanda, ao vento das árvores grandes que cercam o primeiro rio. O rio que por causa dele estou aqui, estávamos ali. E há muito imaginava o momento, pintando cenas no corpo do desejo. Quais cores fariam presença? Espiei o quarto, vi as telas, achei estranhas. Ou não entendi muito bem. Deve ser porque o sorriso doce também traz confusão. “Agora te conheço mais”.  Depois as mãos pesadas me seguraram as costas e o abraço tocou todas as partes do meu corpo. Era como se estivesse em uma torre cercada de lua e de nada, onde ao longe eu via a mesma cena comum das minhas janelas.  Minha cidade então se transformou num sítio gigante, vazio e afastado, porque o beijo era bom. Porque a língua brincou nas esquinas da minha boca e a vontade reencontrou as florestas que já existiram.

O vestido solto só podia ser de propósito, a roupa desses encontros são as peles.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Poder


Rodolfo Pamplona Filho 

Qual é o sentido ​
de conseguir fazer ​
além do que ​
se imagina ter?
Qual é o significado ​
de não haver pecado​
em falar o que pensa ​
sem limites de crença?
Qual é o alcance​
de ditar o lance​
do que se vai respeitar ​
sem espaço para mudar?
Talvez o cumprimento de um dever...​
Talvez o exercício de um prazer...​
Talvez a força que move o ser...​
Talvez simplesmente o poder...


Salvador, madrugada de 26 de abril de 2016.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Direito Animal


Rodolfo Pamplona Filho

Animal ​
é quem respira ​
é quem sente​
é quem luta​
contra o mal

Animal​
é quem grita​
é quem sofre​
é quem ousa​
transcendental

Animal​
é quem chora​
é quem goza​
é quem morre​
no derradeiro final.

Animal​
Ânima, Alma​
Senciência​
Ser Ciência

Animal ​
Animal...​
sou eu, é você​
somos todos nós!

Praia do Forte, 24 de abril de 2016.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Eh no calor da melodia ​



Rodolfo Pamplona Filho​

Que  quero apresentar ​
A banda Crooners in concert ​
que veio para ficar, ​
Rodolfo Pamplona Filho​
Canta uma moda diferente e a ele ofereço uma estrofe do repente.
É no calor da melodia ​
Vou falar da bateria ​
Que toca todas as moda​
Com o coração a mil. ​
Mando aqui o meu abraço ​
pro batera Cássio Brasil .
Para fazer mais uma rima ​
Só tem gente afiada​
Cantam com o coração ​
Não precisam de mais nada, ​
eu aqui quero saudar ​
o Adelmo  da guitarra.
Uma banda em unidade ​
Com o coração nas cordas ​
Deixo aqui o meu recado​
Ele toca todas as modas ​
E não vence pelo cansaço ​
To falando desse cara, ​
o Fábio do contrabaixo!
Pra finalizar a brincadeira ​
deixe eu me apresentar ​
Sou Camila Nogueira ​
paraibana de rachar. ​
Quero ir para um show ​
pra ouvir vocês tocar .

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Ausente



Joana Ferraz 

Os sorrisos que me provocas
Parecem eternos.
Como eu queria, meu amor,
Que pudesses ver
Que os sorrisos trazem outros sorrisos
Por lembrar, por te ter.

E se visses meu dia
Em tua companhia
Quase dou a mão, quase olho pro lado
Suspiro. Saudade.

Sente. Dá pra sentir. Ausente?
Quando estás
Os meus olhos sempre dizem:
Vais ficar.

https://trazumverso.com/

domingo, 15 de janeiro de 2017

Cuidado com a Poesia


Rodolfo Pamplona Filho 


A poesia, quando nasce,
tira o sono, arranca os pijamas
e impede a paz

A poesia, quando surge,
arrebata, rasga as roupas
e sobe à superfície

A poesia, quando cresce,
empodera, toma o corpo
e preenche a alma

A poesia, quando domina,
seduz, induz a pensar
e muda o mundo.



27 de dezembro de 2016, em direção a Ilhéus, pensado, inspirado e dedicado a Ferreira Gullar.

sábado, 14 de janeiro de 2017

A chuva.



Moisés Dantas  

Anunciou-se em barulho vindo de longe
Rufando telhados trazidos a mim
Caminhou com pés rápidos em visão turva
Até se fez chuva a tudo cobrir

Correu pra molhar cruzando vetores
Brincou de ser mar com ondas de vento
Calou com sua música milhões de motores
Em câmera lenta, ao chão sedento

Aplaudiu o espetáculo que ali se via
Com milhares de mãos invisíveis no ar
Guarda-chuvas se abriram pra não lhe conter
No seu vício incessante de se derramar

Voava lânguida e só a nuvem triste
No fim de uma manhã cinza e crua
A terra molhada ergueu o seu cheiro
Como uma linda mulher que corre na rua.

13-01-03

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Amores Possíveis



Rodolfo Pamplona Filho

O rei e a rainha sempre ficarão juntos
em qualquer lugar da existência:
Mesmo em casas separadas?
Mesmo em continentes separados?
Mesmo em planetas diferentes?
Nenhuma distância separa
o que nasceu para ser um do outro.


Salvador, 20 de dezembro de 2016.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Utopia


Rodolfo Pamplona  


A Utopia é
o cruzeiro do sul,
a estrela polar,
o Norte magnético.

A Utopia é
o mundo sem crime,
todo pecado punido,
todo sonho realizado.

A Utopia permite
corrigir o real,
transformar o concreto,
desejar o impossível.

A Utopia é
o inatingível,
o inalcançável,
o irrealizável.

A Utopia é
indispensável,
imprescindível,
simplesmente essencial.


Ilhéus, 27 de dezembro de 2016, mas pensando em tempos antes.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A Mulher que habita em mim


Rodolfo Pamplona 

A Mulher que habita em mim
nunca teve medo
de andar sozinha
em uma rua escura

A Mulher que habita em mim
não ficou horas deitada
chorando
com cólica menstrual

A Mulher que habita em mim
nunca precisou sorrir
diante de um gracejo
ou cantada agressiva

 A Mulher que habita em mim
não precisa provar
que consegue trabalhar mais
e melhor, "apesar de ser mulher".

A Mulher que habita em mim
nunca se sentiu agredida
com um olhar,
uma palavra
 ou um gesto de condescendência.

A Mulher que habita em mim
é insensível.

A Mulher que habita em mim
é um homem.


27 de dezembro de 2016, em direção a Ilhéus.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

E La Nave Va



Pessoas surgem

Pessoas passam

Pessoas somem

Pessoas marcam

Pessoas chegam

Pessoas vão

Algumas ficam

Outras não

E a vida segue...

Búzios, 29 de dezembro de 2016.