sábado, 17 de agosto de 2019

Leveza



Cecília Meireles

Leve é o pássaro:
e a sua sombra voante,
mais leve.

E a cascata aérea
de sua garganta,
mais leve.
E o que lembra, ouvindo-se
deslizar seu canto,
mais leve.
E o desejo rápido
desse mais antigo instante,
mais leve.
E a fuga invisível
do amargo passante,
mais leve.

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

A Alma Doente



Rodolfo Pamplona Filho

O corpo dói
e pede ajuda
a quem sequer sentiu
a força da dor na alma.

A cabeça lateja
e reclama
de quem não viveu
a intensidade da alma.

O espírito fraqueja
e rasteja
por não conhecer
a cura da doença da alma.


Praia do Forte, 24 de junho de 2018.

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Primeiro Motivo da Rosa




Cecília Meireles

Vejo-te em seda e nácar,
e tão de orvalho trêmula, que penso ver, efêmera,
toda a Beleza em lágrimas
por ser bela e ser frágil.

Meus olhos te ofereço:
espelho para face
que terás, no meu verso,
quando, depois que passes,
jamais ninguém te esqueça.

Então, de seda e nácar,
toda de orvalho trêmula, serás eterna. E efêmero
o rosto meu, nas lágrimas
do teu orvalho… E frágil.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Diferenças



Rodolfo Pamplona Filho

Há uma diferença
entre ser discreto
e esconder segredo

Há uma diferença
entre ser sincero
e agredir verbalmente

Há uma diferença
entre ser verdadeiro
e expressar ódio

Há uma diferença
entre ser livre
e abusar do poder.

Orlando, 03 de janeiro de 2019.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Quem pisou o mesmo chão




César Faria

Quem pisou o mesmo chão,
Quem bebeu a mesma água,
Quem respirou os mesmos ares,
Quem abriu os olhos e também chorou como um bebê,
Quem ao fechar de outros olhos também não conteve o choro da saudade,
Quem enxergou os mesmos campos e as mesmas praias,
Quem se banhou nos mesmos rios e nos mesmos mares,
Não importa se tem o mesmo sangue,
É da mesma família!
É da mesma cidade!

Fiz agora no correr da pena,
Em um minuto,
Este poema,
Dedicado aos amigos de Entre Rios!


16/06/2019.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Ela com A, Ela do B



Rodolfo Pamplona Filho

Ela com A
Ela com Afeto,
Amor e Admiração

Ela do B
Ela do Barraco,
Briga e Batida de frente

Ela com A
Ela com Amizade,
Abraço e Ação

Ela do B
Ela com Birra,
Bolacha e Batalhas

Ela com A
A mulher que sonhei
para mim

Ela com B
O pesadelo que
sempre temi

Ela com A
Ela do B
Duas pessoas
em um mesmo ser.

Salvador, 18 de outubro de 2018.

domingo, 11 de agosto de 2019

Amar





Carlos Drummond de Andrade

Opções
Que pode uma criatura senão,
Entre criaturas, amar?
Amar e esquecer, amar e malamar,
Amar, desamar, amar?
Sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
Sozinho, em rotação universal, senão
Rodar também, e amar?
Amar o que o mar traz à praia,
O que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
É sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
O que é entrega ou adoração expectante,
E amar o inóspito, o áspero,
Um vaso sem flor, um chão de ferro,
E o peito inerte, e a rua vista em sonho,
E uma ave de rapina.
Este o nosso destino: Amor sem conta,
Distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
Doação ilimitada a uma completa ingratidão,
E na concha vazia do amor à procura medrosa,
Paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
E na secura nossa, amar a água implícita,
E o beijo tácito, e a sede infinita.