sábado, 21 de setembro de 2019

Dedicatória da Saudade







Rodolfo Pamplona Filho

A você, dedico todas
as canções do universo...
E penso que todas as poesias
são feitas para você,
das mais felizes às mais tristes..
A você, quero dedicar
somente as poesias felizes,
pois, nas tristes,
quero só compartilhar
 o choro, o abraço e o ombro...
Prometo fazer
um poema para você
mas apenas recitar
no dia em que puder
ver seu rosto novamente..

Salvador, 09 de junho de 2012.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

A MULHER









Ó Mulher! Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!
Quantas morrem saudosa duma imagem.
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca rir alegremente!
Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doce alma de dor e sofrimento!
Paixão que faria a felicidade.
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!

Florbela Espanca

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Apego






Rodolfo Pamplona Filho


Apego é sofrimento
Possuir vira tormento
Debater-se para manter
o que possui (ou pensa deter).
Arrasar-se por não querer
passar sem algo específico ter
Por isso, para ser feliz,
aprenda a dizer não,
das coisas, abrir mão...
e pare de se debater...
descobrindo o prazer
de finalmente
e simplesmente
viver...

Santiago/Chile, 27 de junho de 2012.

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Amar








Carlos Drummond Andrade


Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Certezas da Vida






Rodolfo Pamplona Filho


Na vida, há mais dúvidas
do que certezas...
Não se sabe quanto tempo se vive,
nem o que se terá às mesas...
Uma convicção, porém,
que todos certamente têm
é que impostos pagarão
e, um dia, morrerão...
Eu, porém, tenho a sorte
de mais uma certeza ter:
que nem terminará a morte
o meu amor por você...

Santiago/Chile, 27 de junho de 2012.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Poema de Sete Faces






Carlos Drummond Andrade


Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

domingo, 15 de setembro de 2019

Cachorro Vira-Lata








Rodolfo Pamplona Filho

Sou um cachorro vira-lata,
solto nas ruas,
em busca de comida
e de carinho...
Procurando um refúgio,
onde possa ser amado
e não ter mais subterfúgio
para me sentir abandonado...

Puerto Varas-Chile, 02 de julho de 2012.