segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Se o meu pai fosse meu filho...






 Adriano Deiró



Quando vejo tudo nos trilhos, me pergunto como teria sido, se o meu pai fosse meu filho...


Como partido, ele haveria tido um avô amoroso e bem estabelecido...


Uma avó cheia de alegria, que dá cambalhota e faz estripulia...


Uma mamãe 'molinha', que sorri, acaricia e conta historinha...


Isso tudo me faz pensar, amar e entendê-lo, sem condicionar...


Como teria sido a sua história? Guardo em memoria, gratidão à sua improvável vitória.


Não teria apanhado...e talvez tivesse jogado em muitos outros gramados...


Teria sido criança, teria feito lambança, sem ter tido de si roubada a infância...


Não teria passado fome, andado desconfiado, ou tido algum dia, seu samba discriminado...


Tido seu próprio sapato, não seria jamais emprestado, sobretudo calçado apertado.


Questioná-lo, ficou no passado!


Por este calo, todo o meu apreço, recompensa que nunca me esqueço...

A que me permite ser pai de um guri, tal qual o meu nunca teve pra si.





domingo, 15 de setembro de 2024

Todo mundo é um leitor

 




                                              

     Rodolfo Pamplona Filho              



Todo mundo é um leitor:

apenas alguns ainda

não encontraram

seu livro predileto.


Todo mundo é um leitor:

apenas não sabem

se sua vida é

um romance ou uma tragédia.


Todo mundo é um leitor:

apenas não viajaram

profundamente em sua alma

para saber a diferença

entre ficção e realidade.




Miami, 30 de dezembro de 2017


sábado, 14 de setembro de 2024

Meus sentimentos

 


 

 Negra Luz



Mãe,


Eu queria pegar essa lama

Esse betume que vazaram em ti

Com um filtro de café ...um melitta

Tirar de ti toda essa partícula ruim.

Mudar com meu amor o rumo das correntezas

Que em ti espalham essa eco- dor

Nadar por suas ondas com pano de enxugar gelo

Secar essa fonte de óleo sem temor

Elas as causas dessa agonia tem ti

E ainda para suas areias

Com baldinho de criança,

Peneirar os seu grãos e afastar de ti todo o mal.

Pois sei , mãe, mar, fonte da minha vida

Você faria, por mim, o impossível normal!





sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Consulta

 



Rodolfo Pamplona Filho


Consultar é uma atitude sofisticada


em uma relação a dois


Por vezes, a ação mais delicada


é dar nome aos bois.


Perguntar e esperar a resposta


é a prova definitiva


de que a opinião alheia Importa


e que o que se vai fazer


não é fruto de um só querer,


mas resultado de um conviver.


 


Salvador, 09 de abril de 2020.


quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Pequenos na Imensidão



Maria Aparecida Francisco 







A imensidão dos pequenos



Pequenos na imensidão


O homem e o universo


Na sua real dimensão 


 


O homem é um ponto insignificante


Na imensidão do universo 


Ao longe desaparece


Nas profundezas de um olhar


 


O universo é gigante


Nossos olhos não conseguem findar


Só na mente do homem 


Que quer sempre dominar


 


Dominar a natureza 


Dominar o universo 


Dominar o próprio homem


Para então um Deus se tornar


 


Quem será o gigante


Que conseguirá se superar


Desnudando os próprios monstros 


Para então se libertar


 


Imenso é universo 


Assim como a mente humana


Que busca o inverso  


Com suas atitudes desumanas


 


Humildade tem que haver


Pois somos um pontinho no universo 


A arrogância deve desaparecer


Extinguindo os homens perversos


 


O universo é exemplo


De grandeza e humildade


E é assim que devemos ser


Com a própria humanidade 


 



quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Dedicatória da Saudade






Rodolfo Pamplona Filho


A você, dedico todas

as canções do universo...

E penso que todas as poesias

são feitas para você,

das mais felizes às mais tristes..

A você, quero dedicar

somente as poesias felizes,

pois, nas tristes,

quero só compartilhar

 o choro, o abraço e o ombro...

Prometo fazer

um poema para você

mas apenas recitar

no dia em que puder

ver seu rosto novamente..


Salvador, 09 de junho de 2012.

terça-feira, 10 de setembro de 2024

ANGÚSTIA

 





Florbela Espanca, em "Livro de Mágoas"


Tortura do pensar! Triste lamento!

Quem nos dera calar a tua voz!

Quem nos dera cá dentro, muito a sós,

Estrangular a hidra num momento!

E não se quer pensar! ... e o pensamento

Sempre a morder-nos bem, dentro de nós ...

Querer apagar no céu – ó sonho atroz! –

O brilho duma estrela, com o vento! ...

E não se apaga, não ... nada se apaga!

Vem sempre rastejando como a vaga ...

Vem sempre perguntando: “O que te resta? ...”

Ah! não ser mais que o vago, o infinito!

Ser pedaço de gelo, ser granito,

Ser rugido de tigre na floresta!



segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Foco







Rodolfo Pamplona Filho



É preciso ter foco!

Mas como ter

se amar me faz perder?

Se Amar tira o meu foco,

não precisa tirar o seu

e nem precisa tirar de ninguém,

pois não é o amor que tira o foco,

mas, sim, o foco que se dá

ao amor e à vida!

Onde está o seu amor?

Ali estará o seu foco...


Salvador, 09 de junho de 2012.

domingo, 8 de setembro de 2024

CONTO DE FADAS

 





Florbela Espanca, em "Charneca em Flor"


Eu trago-te nas mãos o esquecimento

Das horas más que tens vivido, Amor!

E para as tuas chagas o unguento

Com que sarei a minha própria dor.

Os meus gestos são ondas de Sorrento...

Trago no nome as letras de uma flor...

Foi dos meus olhos garços que um pintor

Tirou a luz para pintar o vento...

Dou-te o que tenho: o astro que dormita,

O manto dos crepúsculos da tarde,

O sol que é d'oiro, a onda que palpita.

Dou-te comigo o mundo que Deus fez!

- Eu sou Aquela de quem tens saudade,

A Princesa do conto: “Era uma vez...”



sábado, 7 de setembro de 2024

Mágoas

 






Rodolfo Pamplona Filho



Há quem prefira

vender uma amizade

por um cachê artístico;

desprezar um amor puro

por ouvir a opinião de uma prima;

desprestigiar o trabalho alheio

para tentar se auto-afirmar;

esquecer uma fraternidade solidária

para soar de vítima da situação;

humilhar com ar de superioridade

a efetivamente investigar o ocorrido;

tripudiar a imagem de colegas

para posar de voz da maioria;

blefar descaradamente e sem pudor

do que aceitar ajuda desinteressada;

ignorar a presença e o cumprimento

em vez de tentar um diálogo honesto;

fazer troça da desgraça alheia

para se sentir aceito no grupo;

perseguir incansavelmente

por não tolerar o diferente;

jogar fora a chance de fazer o Bem,

para se deleitar com seu veneno...


Isso só gera mágoa,

que vira raiva,

até se converter,

se houver o remédio

do esquecimento,

em profunda indiferença,

mesmo sendo cicatriz,

que não se apaga,

para ensinar

em quem vale confiar...


Pamplona, 03 de outubro de 2012, pensando sobre o passado...

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Miliciana da poesia

 




Negra Luz


Sem receio anuncio:

Uma miliciana me tornei!

O crime para mim permitido

É extorquir do meu Português

Amplificadores da minha alma

Para as emoções dar voz e vez


Associada a outras

Que muito antes de mim

Se aperfeiçoaram no iter

Sobre rimas de festim

Festejo a minha escolha

Quando a este delito aderi


Mais fácil seria o Mundo

Se todos pudessem desferir

As rimas certeiras e cortantes

Que passei a redigir

Encriminando minh'alma

Certeza, nada errado cometi.


Se há dor, a palavra consola

Quando, raiva, na estrofe deságua

O temor a poesia apreende

E, no outro dia,

O máximo que o jornal anuncia

A notícia arrepia: Ela sorri!'


Pacificada no meu sentir

Tributos ti imponho, quando leres a mim

Sentir-se leve... Quiçá! Feliz.

Guardando provas: indícios do que cometi

Crimes que compensam

Assim eu os assumi.



quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Todo mundo é vítima

 







Rodolfo Pamplona Filho



Todo mundo é vítima

e ninguém assume a culpa

Todo mundo é vítima

e se pode fugir da luta

Todo mundo é vítima

e se empurra a responsabilidade

Todo mundo é vítima

e não se muda nada de verdade

Todo mundo é vítima

e há argumento para tudo

Todo mundo é vítima

e punir é um absurdo

Todo mundo é vítima


No Trem de Madrid para Pamplona, 02 de outubro de 2012.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Sigo




Negra Luz


Gratuidades


Eu vivo de gratuidades

Sim, gratuidades.

Elas estão para você e pra mim


Amanheço.

E logo o sol a iluminar meu dia

Logo mais, de graça, entardeceria.


Respiro.

Profundo. E me pergunto:

Pelo ar a quem pagaria para ver?


Sigo.

Há saúde no meu caminhar!

Alguma anistia? Franquia a cobrar?


Adianto.

No café recebo sorrisos e beijos

Amealhando- os todos os dias, enriqueço.


Penso.

A liberdade interna me fortalecia

Valor haveria pela minha evolução?


Saio.

Vários caminhos se alinham

A escolha: só minha, e se paga é por opção.


No Mundo,

Ainda me arrepio

Vejo a linha do horizonte: fronteira entre céu e mar


As dores

Se vem ou se percebo

Permitem entender que viver também é superar.


Justiça.

Gratidão haverei de espalhar.

É "free", "all inclusive", "de grátis" o essencial para viver e sonhar.


O preço.

Nada a quitar.

E se cobrassem, seguro, iria pagar.


Gratuidades

Que só valoraremos a falta

Se alguma delas passarem a limitar.





terça-feira, 3 de setembro de 2024

Soneto da Sintonia Infalível

 





Rodolfo Pamplona Filho


Ainda que divididos pelo Atlântico

e por fusos horários incompatíveis,

o que um sente de um lado,

o outro automaticamente responde.


Se um levanta assustado,

encontrará o outro conectado,

como se a energia gerada

fosse automaticamente repassada.


É realmente impressionante,

como tudo surge em um instante,

permitindo a imediata compreensão


pois o que, para muitos, é acaso,

para mim, é o mais evidente traço

de uma sintonia infalível de paixão.


Pamplona/Espanha, 03 de outubro de 2012.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

O apanhador de desperdícios

 







Manoel de Barros



Uso a palavra para compor meus silêncios.

Não gosto das palavras

fatigadas de informar.

Dou mais respeito

às que vivem de barriga no chão

tipo água pedra sapo.

Entendo bem o sotaque das águas

Dou respeito às coisas desimportantes

e aos seres desimportantes.

Prezo insetos mais que aviões.

Prezo a velocidade

das tartarugas mais que a dos mísseis.

Tenho em mim um atraso de nascença.

Eu fui aparelhado

para gostar de passarinhos.

Tenho abundância de ser feliz por isso.

Meu quintal é maior do que o mundo.

Sou um apanhador de desperdícios:

Amo os restos

como as boas moscas.

Queria que a minha voz tivesse um formato

de canto.

Porque eu não sou da informática:

eu sou da invencionática.

Só uso a palavra para compor meus silêncios.



domingo, 1 de setembro de 2024

VOCÊ NUNCA VAI VER OS BURACOS DAS RUAS DE NOVA YORK



 

Maria Maroca


Ao Álvaro

existem redes de solidariedade

que não se desfazem

entre pessoas que passaram, juntas, sede raiva amor miséria alegria Injustiça ódio tempo muito tempo: juntas - amor e dor, alegria e luto, que pensaram e sentiram juntas.

Mesmo que não se vejam mais.

Ainda que não pensem como antes.

Se me chamam, não questiono.

Estou.