Rodolfo Pamplona Filho
A vida sem humor
não tem graça...
Literalmente...
É um critério perfeito
para escolher amigos:
Quem nao sabe rir de si
não merece rir de nós!
Brasília, 14 de março de 2013.
Blog para ler e pensar... Um texto por dia... é a promessa... Ficarei muito feliz em ler e saber o que cada palavra despertou... Se você quiser compartilhar um texto, não hesite em mandar para rpf@rodolfopamplonafilho.com.br. Aqui, não compartilho apenas os meus textos, mas de poetas que eu já admiro e de todas as pessoas que queiram viajar comigo na poesia... Se quiser conhecer somente a minha poesia, acesse o blog rpf-poesia.blogspot.com.br. Espero que goste... Ficarei feliz com isso...
Rodolfo Pamplona Filho
A vida sem humor
não tem graça...
Literalmente...
É um critério perfeito
para escolher amigos:
Quem nao sabe rir de si
não merece rir de nós!
Brasília, 14 de março de 2013.
Caetano Veloso
Um índio descerá de uma estrela colorida brilhante
de uma estrela que virá numa velocidade estonteante
e pousará no coração do hemisfério sul
na américa num claro instante
depois de exterminada a última nação indígena
e o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
mais avançado que a mais avançada
das mais avançadas das tecnologias
virá impávido que nem Muhamed Ali
virá que eu vi
apaixonadamente como Peri
virá que eu vi
tranqüilo e infalível como Bruce Lee
virá que eu vi
o axé do afoxé, Filhos de Gandhi
virá
um índio preservado em pleno corpo físico
em todo sólido , todo gás e todo líquido
em átomos, palavras, alma, cor,
em gesto, em cheiro, em sombra,
em luz, em som magnífico
num ponto eqüidistante entre o Atlântico e o Pacífico
do objeto sim resplandecente descerá o índio
e as coisa que ele dirá , fará não dizer
assim de de um modo explícito
virá impávido que nem Muhamed Ali
virá que eu vi
apaixonadamente como Peri
virá que eu vi
tranqüilo e infalível como Bruce Lee
virá que eu vi
o axé do afoxé, Filhos de Gandhi
virá
e aquilo que nesse momento se revelará aos povos
surpreenderá a todos não por ser exótico
mas pelo fato de poder estar sempre
estado oculto quando terá sido o óbvio
Rodolfo Pamplona Filho
O único jeito de aceitar a realidade
é parando de lutar.
Em vez de espantar o medo,
a solução é convidá-lo a andar ao lado... como parceiro, não inimigo.
A flor de lótus não cresce longe da lama
e não se vive sem dor.
Por isso, o jeito é aceitar o todo,
com seus lados bons e ruins,
amor e compaixão.
Não é possível se livrar do medo da morte, mas se pode aprender a conviver com ele.
Salvador, 29 de julho de 2018.
Chico Buarque de Holanda
Carolina
Nos seus olhos fundos
Guarda tanta dor
A dor de todo esse mundo
Eu já lhe expliquei que não vai dar
Seu pranto não vai nada mudar
Eu já convidei para dançar
É hora, já sei, de aproveitar
Lá fora, amor
Uma rosa nasceu
Todo mundo sambou
Uma estrela caiu
Eu bem que mostrei sorrindo
Pela janela, ói que lindo
Mas Carolina não viu
Carolina
Nos seus olhos tristes
Guarda tanto amor
O amor que já não existe
Eu bem que avisei, vai acabar
De tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei pra lhe agradar
Agora não sei como explicar
Lá fora, amor
Uma rosa morreu
Uma festa acabou
Nosso barco partiu
Eu bem que mostrei a ela
O tempo passou na janela
Só Carolina não viu
Rodolfo Pamplona Filho
Acordar, comer
Banhar-se, vestir
Trabalhar, beber
Deslocar-se, dormir
Não saber o que mais fazer?
Quem sabe, talvez, viver?
Ver que um dia passa
sem, de nada, achar graça
é finalmente perguntar:
será que morri e
me esqueceram de enterrar?
Salvador, 13 de junho de 2013, após uma sessão de analise junguiana.
Luís Vaz de Camões
Fermosa e gentil Dama, quando vejo
a testa de ouro e neve, o lindo aspeito,
a boca graciosa, o riso honesto,
o marmóreo colo e branco peito,
de meu não quero mais que meu desejo,
nem mais de vos que ver tão lindo gesto.
Ali me manifesto
por vosso a Deus e ao mundo; ali me inflamo
nas lágrimas que choro;
e de mim, que vos amo,
em ver que soube amar-vos, me namoro;
e fico por mim só perdido, de arte
que hei ciúmes de mim por vossa parte.
Se porventura vivo descontente
por fraqueza de esprito, padecendo
a doce pena que entender não sei,
fujo de mim e acolho-me, correndo,
à vossa vista; e fico tão contente
que zombo dos tormentos que passei.
De quem me queixarei
se vós me dais a vida deste jeito
nos males que padeço,
senão de meu sujeito,
que não cabe com bem de tanto preço?
Mas ainda isso de mim cuidar não posso,
de estar muito soberbo com ser vosso.
Se, por algum acerto, Amor vos erra,
por parte do desejo cometendo
algum nefando e torpe desatino;
se ainda mais que ver, enfim, pretendo;
fraquezas são do corpo, que é de terra,
mas não do pensamento, que é divino.
Se tão alto imagino
que de vista me perco – peco nisto –,
desculpa-me o que vejo;
que se, enfim, resisto
contra tão atrevido e vão desejo,
faço-me forte em vossa vista pura,
e armo-me de vossa fermosura.
Das delicadas sobrancelhas pretas
os arcos, com que fere, Amor tomou,
e fez a linda corda dos cabelos;
e, porque de vós tudo lhe quadrou,
dos raios desses olhos fez as setas
com que fere quem alça os seus, a vê-los.
Olhos, que são tão belos,
dão armas de vantagem ao Amor,
com que as almas destrui;
porém, se é grande a dor,
co a alteza do mal a restitui;
e as armas com que mata são de sorte
que ainda lhe ficais devendo a morte.
Lágrimas e suspiros, pensamentos,
quem deles se queixar, fermosa Dama,
mimoso está do mal que por vós sente.
Que maior bem deseja quem vos ama
que estar desabafando seus tormentos,
chorando, imaginando docemente?
Quem vive descontente
não há-de dar alívio a seu desgosto,
por que se lhe agradeça;
mas com alegre rosto
sofra seus males, para que os mereça;
que quem do mal se queixa, que padece,
fá-lo porque esta glória não conhece.
De modo que, se cai o pensamento
em algüa fraqueza, de contente
é porque este segredo não conheço:
assi que com razões, não tão-somente
desculpo ao Amor de meu tormento,
mas ainda a culpa sua lhe agradeço.
Por esta fé mereço
a graça, que esses olhos acompanha,
o bem do doce riso;
mas porém não se ganha
cum paraíso outro paraíso.
E assi, de enleada, a esperança
se satisfaz co bem que não alcança.
Se com razões escuso meu remédio,
sabe, Canção, que, porque não vejo,
engano com palavras o desejo.
Rodolfo Pamplona Filho
A última nota na canção.
O arremate da costura
O ponto final na redação
O encerramento da semeadura
O beijo de despedida
O suspiro final
A lágrima vertida
O pecado original
O Adeus na partida
O final da festa
A palavra definitiva
O que mais nos resta
Praia do Forte, 03 de junho de 2018.
Georgina Albuquerque
A estrada pertence ao homem que a ilumina
e busca dar certeza
aos passos que exercita afoito.
É também da mulher que aguarda dar à luz,
suor brotando meio ao sangue,
o seio pesado e entumescido
premiando a vitória do parir.
Cordões rompidos preservam resquícios,
rastros de passado na terra úmida;
frutos cobiçados, maturação alcançada,
choro irrompendo uma membrana fina.
Ainda que os mortos-vivos se levantem,
e cantem pela manhã os pássaros indiferentes,
o mundo é dos obstinados que se entregam,
e pensam que carregam o necessário dentro de si.
A chegada, porém, pertence ao homem corajoso,
aquele que despreza o tempo no afago à sua amada;
à mãe que sorri, indolente, noite enluarada,
e conta sempre ao filho coisas engraçadas.
Não precisa dormir, nem dar à luz, nem nada,
tampouco encenar uma vida agitada.
O final da rota é apenas o início,
um útero macio que comporta, aquecido,
a calma experiência de um viver fugaz.
Rodolfo Pamplona Filho
A TV divulga, a rádio anuncia,
o jornal comunica
o saldo das mortes do final de semana...
o trânsito, o acidente doméstico
ou a costumeira e pontual queima de arquivo...
Normal...
Ouvimos impassíveis,
tomando o café nosso de cada dia,
no meio das notícias políticas
ou da alegria, tristeza com
o resultado do jogo do nosso time...
Normal...
Não há espaço para indignação,
nem mesmo há tempo para isso...
A informação passa por
nossos olhos e ouvidos
como uma brisa imperceptível...
Normal...
O sangue escorre das imagens,
do som e dos papéis...
mas não se sente nada...
Anestesia coletiva, difusa e impessoal...
A apatia e a indiferença
não fazem acepção de pessoas...
Normal...
Normal?
Salvador, 16 de agosto de 2010, uma segunda-feira sangrenta...
Társio Pinheiro
Quem saltará
do fundo do meu espelho
revestido de bruma
de elmo
de escudo
e espada na mão?
Certamente
cavaleiro templário
dono de estratagemas e artifícios
fiel guardião
de todos os meus mistérios.
Rodolfo Pamplona Filho
Desejo morrer
por não poder
fazer mais do que
fiz para você,
na ilusão de que controlaria
onde o Sol um dia se poria.
Desejo morrer
por não conseguir
fazer você afinal sorrir
depois de uma vida
de luta, dor e lamento
como se sua sina fosse o sofrimento.
Desejo morrer
por não consumar o
tudo que sonhei realizar,
sentindo-me preso
a uma vida sem sabor
onde nunca terei o fogo do amor.
Salvador, 16 de junho de 2018.
Jorge Tufic
Dá-me, Apeles, o sangue dos teus dedos
e as cores deste mar, espuma ardente
em que Vênus ressoa e se reparte
entre deuses e bichos, céus e terras,
para que a louve, prostituta imensa
feita de orgasmo e sol. Pombos e cisnes
a conduzem nos braços da Volúpia
onde ela exerce, pleno, o seu domínio.
Mas, de repente, queda-se cativa
de um mortal como Adônis. Tão completa
me parece esta deusa que seu brilho
tem, sobre nós, a calma perspectiva
de uma fúria saciada: um simples nome
que a eternidade rútila consome.
Rodolfo Pamplona Filho
Na porta do elevador,
ela me diz: - Bom dia!
Eu abaixo os olhos
e digo: - Bom dia!
E a vida continua...
Subimos silenciosos,
cada um para seu andar,
como se momentos embaraçosos
não interferissem no andar
E a vida continua...
E a vida continua...
E a vida...
E...
?
Chico Buarque
Notas
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
Rodolfo Pamplona Filho
Quando em meu peito, romper-se a corrente
Que a alma me prende à dor de viver
Não quero por mim, nem uma lágrima,
Nem um suspiro, nem um sofrer...
Vinicius de Moraes
É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...