quinta-feira, 31 de julho de 2025

“Cidadão não. Engenheiro civil, formado. Melhor do que você"




Rodolfo Pamplona Filho


“Cidadão não.”

Desde quando

a profissão

é melhor

do que a satisfação

de ser tratado

com a dignidade

de ser parte da cidade?


“Engenheiro civil, formado.”

Desde quando

alguém pode ostentar

uma qualificação

sem ter sequer

a sua graduação?


“Melhor do que você"

Desde quando

a obtenção

de uma formação

torna um ser humano

melhor do que outro?


Tempos difíceis

em que os preconceitos

saíram das mentes abjetas

para se tornar parte

de algumas metas....


Tempos complicados

em que a discriminação

soa como ostentação

de desprezar a simpatia,

ignorar a empatia,

desconhecer a alteridade

e rir da solidariedade.


Salvador, 05 de julho de 2020, uma segunda-feira de perplexidade...

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Vazio de amor




 (Negra Luz)



A gaveta após a transferência

A catedral em geladeira

A lixeira depois das 10

A primeira faxina na casa

Vazios


As férias escolares

O cinema desativado

O picadeiro sem palhaços

O tablado antes do primeiro ato

Tudo vazios


A vida que não vingou

O corpo que se violentou

O coração depois de uma grande dor

As ruas quando o Mundo se isolou

O Tempo em que não se amou

Profundos vazios


Acomodar-se com o que está desenhado

As estrofes descrevem os espaços

Lacunas que tenho negado

E mesmo ouvindo almas ao meu lado

O silêncio me chama ao vazio:

Um imenso vazio de amor.

terça-feira, 29 de julho de 2025

Alento

 



Rodolfo Pamplona Filho



A sensação de dever cumprido

A lembrança de um amor vivido

A esperança de um futuro melhor

A certeza de que não sonho só

Tudo isso vai me dar um alento

neste dia turbulento


Salvador, 02 de junho de 2020.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

O SILÊNCIO DA POESIA

 






Marco Mendes


Silencia o espírito,

nenhuma batida o coração.

Estarei morto ou pensativo?

Onde estão as emoções?

Frustrado o poeta se afoga,

no mar da desilusão.

Na escuridão do fundo,

nenhum lume, só solidão.

Teste, teste, teste...

a verdade é inconteste.

Enquanto a poesia dorme,

o poeta está sofrendo.

domingo, 27 de julho de 2025

Alteridade





Rodolfo Pamplona Filho



O segredo da real felicidade

é conhecer a dor do outro

e, com isso, vibrar com seus triunfos

e ser solidário com suas derrotas.

Viver em desertos particulares

é a fórmula mais fácil

para ser infeliz

no gozo solitário

de seu prazer íntimo,

que desconhece que

a maior sedução existente

é o intercurso de almas...


Salvador, 29 de janeiro de 2020.

sábado, 26 de julho de 2025

Santa Sabedoria

 




Rogério Medeiros


Santo Antônio, ou

Santo Antoninho,

Como lhe chamam

Os portugueses

Em Lisboa,

Terra natal.


Santo Antônio,

Discípulo de São Francisco,

O santo da fraternidade

E da natureza.


Santo Antônio,

O milagreiro

E pregador.

A mostrar que

Também a sabedoria,

É uma forma de santidade.


Santo Antônio lisboeta,

Lembrai de nós brasileiros,

Dos tantos Antônios que temos,

Por aqui e além-mar.



E traga sua sabedoria,

Para aplacar a discórdia,

Que ameaça nos liquidar.

Amém.



Feliz 13 de junho.


sexta-feira, 25 de julho de 2025

Anne

 





Rodolfo Pamplona Filho


Um perfeito cemitério

de esperanças enterradas,

perdidas como

Grandes palavras

(que) são necessárias

para expressar grandes ideias

Você jura ser minha amiga

para todo o sempre?

Dormir numa árvore

à luz da lua

é a compensação pela

ansiedade dolorida

da esperança em vão.


Salvador, 19 de junho de 2020.

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Depois, O Arco-íris

 




Negra Luz




Tempestades que me cercam

Ecoam maiores do que são.

Ouço como tambores rufando,

Apenas cânticos de libertação.


Visões de ondas gigantes,

Devastando o meu coração,

Só gotas de orvalho ao pé do ouvido,

Tilintar da minha emoção.


O farol girando sem rumo,

Sem apontar para onde devo ir.

Nada demais, só sinais.

Cada passo indica para onde se deve ir.


Há lama na estrada,

Fios em curto a atravessar.

Quando no meio do caminho há pedras,

Pare, pense e se encontrará.


Os raios que balançam,

Embalam a sua razão,

Aguçam os seus medos retidos,

Mas iluminam a sua ação.


Depois da tempestade

Alastrada dentro de ti,

Sentirá o arco-íris,

Espectro de vida, nascentes brotando em ti.



quarta-feira, 23 de julho de 2025

Arraia no ar não tem dono





Rodolfo Pamplona Filho


Arraia no ar

não tem dono:

é de quem primeiro pegar

e sair soltando!

Como uma oportunidade que surge,

como um amor que nasce,

como uma ideia a desenvolver,

como um poema a recitar...


Arraia no ar

não tem dono:

é de quem primeiro pegar

e sair soltando!


Salvador, 02 de fevereiro de 2020.

terça-feira, 22 de julho de 2025

Memórias da minha tradição

 





Negra Luz




A flores em crepom na mesa.

No teto, as bandeirolas.

No xote, chamegos.

No xaxado, estórias.

Baião ou sertanejo.

Quentão mandingueiro.

O povo da roça saindo à chita,

Dançando quadrilha em busca de glória.

Na mesa, a fartura:

Canjica, milho cozido,

Bolo de carimã e de aipim.

Amendoim,nem te conto, farinha para mim.

Sou nordestina.

Junina de coração.

Os fogos, que em mim acendem,

Formam fogueiras de emoção.

Giro o Mundo, nada esqueço.

Essa a minha tradição.

Era janeiro!

Era verão!

O sol altaneiro!

Tudo memórias!

Tudo saudade de meu São João!

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Ciência e Consciência





Rodolfo Pamplona Filho




Uma coisa é a ciência,

outra é a consciência.

A primeira tenta explicar pergunta

A segunda já afirma respondendo

Uma decorre de consenso

Outra do próprio senso

Uma é absolutamente infinita

Outra abrange todo o espaço disponível

Mas tudo que quer a ciência

é, um dia, virar consciência

na mente de quem não lutou por ela.


Salvador, 05 de fevereiro de 2020.

domingo, 20 de julho de 2025

O fim e a glória





Rogério Medeiros




Fim de mandato.

Não foi fácil

Presidir um tribunal eleitoral.


Muitas aflições.

Pandemia do coronavírus,

A pior delas.


Problemas internos,

Pressões externas.

O poder é sempre solitário.


Decidir, eis o desafio.

Coragem e integridade,

Sempre.


Já dizia Einstein:

Uma hora namorando,

Parece um minuto;

Um minuto,

Sentado sobre um formigueiro,

Parece uma hora...


Fiquei durante um ano

Sentado sobre um formigueiro.

Pareceu-me uma eternidade.


Fiz o que pude e

Creio que fiz bem.

Não fui perfeito, ninguém é.


Agora, recordo Tom Jobim e

Vou viver a derradeira glória do ser humano:

Andar nas ruas,

Como um ilustre desconhecido.



sábado, 19 de julho de 2025

Consulta

 




Rodolfo Pamplona Filho


Consultar é uma atitude sofisticada

em uma relação a dois

Por vezes, a ação mais delicada

é dar nome aos bois.

Perguntar e esperar a resposta

é a prova definitiva

de que a opinião alheia Importa

e que o que se vai fazer

não é fruto de um só querer,

mas resultado de um conviver.


Salvador, 09 de abril de 2020.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Fui Eu

 









Fui eu esse menino que me espia

– melancólico olhar, sereno rosto,

postura fixa e o todo bem composto –

no retrato que o tempo desafia.


Fui eu na minha infância fugidia

de prazeres ingênuos, e o desgosto

de sentir tão efêmera a alegria

bem depressa mudada em seu oposto.


Fui eu, sim; mas o tempo que perpassa

e tudo altera nem sequer deixou

um grão de infância feito esmola escassa.


Fui eu; e da figura só ficou

o olhar desenganado na fumaça

em que a criança inteira se mudou.


abril 1998


(De Sentimento da Morte – 2003)


Poema de Fernando Py (1935-2020)

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Crianças feridas

 





Rodolfo Pamplona Filho


Crianças feridas

se reconhecem reciprocamente.

Encontros de sensibilidades

na carência de amor

e de reconhecimento.

Na precisão

do olhar do outro

com bons olhos.

No reconhecimento

não por ser brilhante,

mas por ser específico.

Ser visto com olhos normais

se limita ao senso comum;

os bons olhos veem

apenas o que é único.


Salvador, 12 de fevereiro de 2020

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Soneto





Sânzio de Azevedo



Há muito tempo, muito tempo mesmo,

sentisse uma tristeza ou uma alegria,

brotavam-me da pena, às tontas, a esmo,

rastros de poema, cacos de poesia...

É claro que nem tudo que me vinha

com maior ou menor facilidade,

ao fim e ao cabo, na verdade tinha

a mesma altura, a mesma qualidade.

Mas escrevia. Hoje, bem mais distante

ficou aquilo que era minha meta.

Somente a inspiração rara e inconstante

é que me diz que ainda sou poeta.

Já nem sei bem o que daria agora

para escrever poemas como outrora.



terça-feira, 15 de julho de 2025

Arrogância na Pandemia

 




Rodolfo Pamplona Filho



“Sabe com quem

você está falando?

Não entende bem

quem está no comando?”


Arrogância

Espírito mau

Petulância

Cara de pau

Dizer: não fiz nada!

Tripudiar

Dar carteirada

Humilhar

Ter a habilidade

de incomodar

autoridades

para livrar

a própria cara

e mandar colocar

no seu devido lugar

quem está

apenas a cumprir

o seu dever

de servir...


E toda essa empáfia

de desfazer do trabalho alheio:

Jogando as multas na cara

de quem mexeu no vespeiro

é somente para arrotar

a sua condição especial

de cidadão exemplar

que defende o social

e que, por isso, é vítima,

e não agressor...

em uma farsa ilegítima,

um verdadeiro complô,

envolvido em um esquema

decorrente do sistema

do que se joga no ventilador...


Salvador, 19 de julho de 2020.

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Mãe

 




Poema de Adriano Espínola,

in: Praia provisória, 2006




De terra a tua voz,

de terra os teus gestos,

de terra a tua bênção,

de terra a tua mágoa,

de terra os teus restos

agora enraizados:

árvore crescendo

às avessas - lá onde

tudo começa e finda:

no silêncio do sangue

que me dói ainda.



domingo, 13 de julho de 2025

(Re)Encontros Virtuais na Pandemia

 




Rodolfo Pamplona Filho


Há tanto tempo

que eu não te via

que parecia

uma lembrança

de um mundo distante...

Mas, neste instante,

parece que foi ontem

que me despedi de nosso papo,

que disse até amanhã,

que marcamos uma saída,

que vivemos a nossa vida...

Um brinde ao reencontro,

ainda que virtual,

pois, em tantos desencontros

da quarentena presencial,

há a plena certeza

de uma única fortaleza:

sempre volta a alegria,

até mesmo na pandemia,

pois o isolamento é efetivo,

mas nunca precisará ser afetivo...


Salvador, 28 de junho de 2020.

sábado, 12 de julho de 2025

Nicanor e seu Cavalo

 




Poema de Carlos Nejar (1939-)



Nunca vi ninguém olhar

com tal ternura um cavalo

e um cavalo navegar

nos seus olhos, desviá-lo

para dentro, onde é mar

e o mar, apenas cavalo.

Nunca vi ninguém olhar

nicanor naqueles olhos

que pareciam findar

onde os espaços se foram.

Nicanor sabia olhar

sem o menor intervalo

como lhe fosse apanhar

a toda brida, os andares.

E se podiam falar

num trote pequeno ou largo,

com rédea de muito amparo,

o corpo estando a montar

a eternidade cavalo.



sexta-feira, 11 de julho de 2025

Amores na Pandemia

 





Rodolfo Pamplona Filho




A pandemia traz terrores,

mas também renova amores,

pois, por medo da solidão,

amores vêm e vão,

na busca de companhia

ou apenas dormir de conchinha,

pois o amor que sobrevive ao isolamento

persiste infinitamente em seu belo momento.


Salvador, 28 de junho de 2020.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Off price

 







Que a sorte me livre do mercado

e que me deixe

continuar fazendo (sem o saber)

fora de esquema

meu poema

inesperado


e que eu possa

cada vez mais desaprender

de pensar o pensado

e assim poder

reinventar o certo pelo errado


Ferreira Gullar. Em alguma parte alguma. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010.

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Arte na Pandemia

 





Rodolfo Pamplona Filho



Aprendemos a viver

sem bares e restaurantes,

sem coisas que fazíamos antes,

mas não conseguimos

abrir mão da poesia,

do sentimento de alegria,

da música que contagia,

da arte que nos inebria...

Se há algo que se aprendeu

no isolamento da pandemia

foi que a arte sempre vive

e sempre será vida

no nosso dia-a-dia.


Salvador, 28 de junho de 2020.

terça-feira, 8 de julho de 2025

Receita de poema

 



Antonio Carlos Secchin.


Um poema que desaparecesse

à medida que fosse nascendo,

e que dele nada então restasse

senão o silêncio de estar não sendo.


Que nele apenas ecoasse

o som do vazio mais pleno.

E depois que tudo matasse

morresse do próprio veneno.



segunda-feira, 7 de julho de 2025

Cabelo na Pandemia

 




Rodolfo Pamplona Filho


Na pandemia,

muitas coisas

crescem

sem parar

É o medo,

o receio

ou mesmo o terror.

Mas, abstraindo

o horror,

melhor falar

de uma coisa

com menos

(ou tanto)

terror!

É o cabelo que,

pelo lockdown,

não para de

me deixar mal!

Cresce, cresce,

Sem parar

Brancos

Assumidos

Grandes

Sem pentear

Sem pintar

Sem cortar

Sem controle

Sem ficar

no seu lugar...

Mas, aí dele,

pois, um dia,

voltarei

a cortar!

E, nesse dia,

hei de me vangloriar:

meu cabelo,

no espelho,

poderei olhar!


Salvador, 28 de junho de 2020.

domingo, 6 de julho de 2025

Ser Idoso

 

 





 




Rodolfo Pamplona Filho




Terceira idade

Melhor idade

Qualquer idade


Descobrir-se em um mundo

diferente daquele

que presenciou na infância.


Conhecer aparelhos

que seus descendentes

dominam desde criança.


Frequentar mais funerais que batizados

e ir a casamentos de pessoas,

que poderiam ter sido

seus pajens ou damas de honra...


Falar de remédios e dores

e não ser conversa desagradável...

Ou descrever certos horrores

não ser assunto impublicável...


Chamá-lo de tio, avô ou senhor

e não se incomodar com isso...

Ficar feliz ou envaidecido

quando é chamado de moço

ou quando se lembram

de feitos seus,

realizados há mais de uma década...


Viver o decurso do tempo...

que leva cabelos e traz peso,

mas propicia a sabedoria

e quilometragem da experiência...



Ser idoso não é bom ou ruim,

mas, sim, um estado de fato...

Tornar-se idoso é melhor, enfim,

do que perecer jovem no passado.



Salvador, 05 de maio de 2011.

sábado, 5 de julho de 2025

A água em você



 


(Negra Luz)


Me diga que não precisa pensar na vida.

Me diga que não precisa pensar em você.

Se a resposta certa é o que espero,

Então me diga que pensa na água,

Ela está em você.

A água está em em mim

Está em você.

Sem ela, a fonte da vida é rio que seca.

Ressecam-se a fauna e a flora

E todo viver. 


Oxum e Yemanjá tem seus filhos

E abençoam com água

Salgada ou doce,

Abençoam o nosso viver.


Se tens fé nas Águas,

Da água deve cuidar,

Pensar nas nascente, 

Nos mares 

E nas suas vidas.

Em não poluir, revitalizar,

Proteger o que temos

Rever desperdícios e perdas ajudam a resolver.



Se já bebeu água com sede,

Sabe o que é não ter...

Por um segundo e urgimos sem ela.

Imagine o pior dos mundos sem a ter!


Me diga que não precisa pensar na vida.

Me diga que não precisa pensar em você,

Se a resposta certa é o que espero,

Então me diga que pensa na água,

Ela está em você.


sexta-feira, 4 de julho de 2025

Desculpa Furada (Viva a Cultura de Vitimização!)







 Rodolfo Pamplona Filho




Nada do que eu faço é culpa minha!


Toda as minhas influências


e paradigmas comportamentais


ensejaram a internalização


de um gestalt disfuncional!


Sem o devido planejamento,


não há como desenvolver!


Meu comportamento viciado


é fruto de um processo doentio


de codependência forçada!


Preciso urgentemente de


um tratamento holístico integral,


sem internamentos compulsórios,


mas, sim, como resultado


de um diálogo habermasiano


de construção comunicativa


de um consenso democrático


que me permita exercitar,


sem condicionamentos,


a autonomia da vontade...


Sem isso, não há


como responder


por qualquer ato,


pois todo resultado


foi contaminado


pelo desrespeito


da minha individualidade...




Viva a Cultura de Vitimização!








Praia do Forte, 03 de agosto de 2013, lendo Calvin...

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Amor Feinho





Adélia Prado




Eu quero amor feinho.


Amor feinho não olha um pro outro.


Uma vez encontrado é igual fé,


não teologa mais.


Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo


e filhos tem os quantos haja.


Tudo que não fala, faz.


Planta beijo de três cores ao redor da casa


e saudade roxa e branca,


da comum e da dobrada.


Amor feinho é bom porque não fica velho.


Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:


eu sou homem você é mulher.


Amor feinho não tem ilusão,


o que ele tem é esperança:


eu quero um amor feinho.


quarta-feira, 2 de julho de 2025

Amor sem promessas

 



Rodolfo Pamplona Filho


Quando se ama,

fazem-se promessas,

como se houvesse necessidade

de verbalizar

que se pode fazer tudo

por amor


Mas prometer gera expectativas

que, quando não realizadas,

causam uma frustração,

como se o amor perdesse força

por uma promessa não cumprida.


É olhar uma parte pelo todo,

o acessório pelo principal,

o detalhe pelo conjunto,

o universo por um lugar

a vida por um dia


Amar não exige promessas

Amar exige amar

Amar sem promessas

Amar, simplesmente amar.




Salvador, 06 de julho de 2018.


terça-feira, 1 de julho de 2025

A vida




Camilo Martins Neto



Mergulho no rio 


Correnteza à baixo


Nadando de frente


Ora de lado


Outras de costas


Enfrentando tudo


Basculhos, pedras


Cortantes folhas,


Águas turvas,


Peixes vorazes,


Cobras venenosas,


Peçonhentos tantos


A desanimar a lida.


Mas, nado, e, nada


Me impede a ida


Quero chegar ao


Outro lado da vida.


Canso, descanso


E no remanso fico


A boiar na água


Mansa do meu rio.


Rio que vai e nunca


Mais volta, tal como


Eu que nado, nado...


E vou, pra nunca


Mais voltar à mesma


Água que se foi.


É assim, braços


Cansados, pernas


Cansadas, corpo


Cansado, o tempo


Que também se foi...


Estou quase chegando


Ao outro lado do rio


Nado e nada me


Impede de pisar


Em solo firme


E vem lembranças


Da travessia 


Quanta luta e o


Suor se misturando


Com a água do rio,


As lágrimas a


Aumentarem-lhe


O volume e juntar-se


À água salgada


Do velho mar.


Falta pouco e


Nesse pouco


Vejo o quanto


Foi importante


Nadar e não


Deixar que nada


Impedissem as


Sagradas braçadas


Que além das


Forças, minhas e


Do rio, foram


Vencendo cada


Obstáculo quase


Intransponíveis


Da travessia do rio.


E continuo nadando


E dando tudo de


Mim para vencer


A correnteza final


E chegar e sorrir


E chorar de alegria


E descansar afinal


Merecidamente


Eternamente, pois


Assim é a vida.