A recompensa da luta pela liberdade
é a mais enaltecedora glória
que alguém pode conhecer,
pois a liberdade não tem preço
e, como diria Kant,
se as coisas têm valor,
os seres humanos têm dignidade.
Minguito, 09 de abril de 2022.
Blog para ler e pensar... Um texto por dia... é a promessa... Ficarei muito feliz em ler e saber o que cada palavra despertou... Se você quiser compartilhar um texto, não hesite em mandar para rpf@rodolfopamplonafilho.com.br. Aqui, não compartilho apenas os meus textos, mas de poetas que eu já admiro e de todas as pessoas que queiram viajar comigo na poesia... Se quiser conhecer somente a minha poesia, acesse o blog rpf-poesia.blogspot.com.br. Espero que goste... Ficarei feliz com isso...
A recompensa da luta pela liberdade
é a mais enaltecedora glória
que alguém pode conhecer,
pois a liberdade não tem preço
e, como diria Kant,
se as coisas têm valor,
os seres humanos têm dignidade.
Minguito, 09 de abril de 2022.
Beni Carvalho
I
Canta, no agalho agreste, o passaredo... Canta...
Em flor o cajueiral farfalha; o vento açoita...
E vai, de fronde em fronde, e vai, de moita em moita,
Áurea, a luz da manhã que, a sombra, abate e espanta.
Alto, côncavo, azul, escampo, o céu! Levanta
O vôo uma ave, além, que o bamburral acoita;
Não mais a verde mata a treva espessa enoita,
E tudo brilha, e esplende, e exulta, e harpeja, e encanta!
Claro, ao sol refulgindo, o Jaguaribe, lento,
Coleia, estuante, a arfar, os mangues alagando,
E, à praia, o coqueiral move e fustiga o vento...
Ao longe passa a voar, de marrecas um bando...
O rio, ansiando mais, lança-se ao Mar violento:
E o hino triunfal da Luz, ei-lo que vai cantado!...
Quem não trabalha,
apenas cumpre a tarefa
do jugo que lhe é imposto.
Quem não compete,
apenas exercita a atividade
do jogo em que foi inserido
O trabalhador e o atleta
suam a camisa
para conseguir o pão
do seu sustento e da sua família
O atleta e o trabalhador
enfrentam desafios
para obter o mínimo
existencial de Justiça
O atleta trabalha
e o seu merecimento
deve ser reconhecido
como a de todo trabalhador
O trabalhador triunfa
e a sua retribuição
é um pódio
como de um atleta vencedor
Trabalho e Esporte
são manifestações
da humanidade
e libertam corpo e alma
na busca da dignidade.
Minguito, 09 de abril de 2022.
Beni Carvalho
Forte, esgalhado, heril, o flamboyant, de flores
Rubras, na antiga fronde, ostentava a vitória
De púrpura triunfal, na opulência da glória
Do sol, no alto do Azul, todo em chama e fulgores.
Lutou. Venceu heróico! A conquista, na história
Vegetal, alcançou no meio de esplendores:
— Ora, altivo, pompeando à luz as rubras cores;
— Ora, verde, a cantar a Esperança ilusória!
Hoje, porém, descansa o flamboyant por terra,
Sangrenta a floração, circundando-o, morrendo,
À agonia mortal, que o seu martírio encerra:
— Egrégio lutador que, na refrega, exangue,
Fulminado, semelha, a cair, combatendo,
Um cadáver de herói, salpintado de sangue!
No fundo da cozinha,
a gente canta,
a gente dança,
a gente brinda
No fundo da cozinha,
a gente come
a gente bebe,
a gente ri
No fundo da cozinha,
há mais filosofia
do que em qualquer livro
ou aula da academia
No fundo da cozinha,
a gente sonha,
a gente ama,
a gente vive.
Salvador, 24 de abril de 2022.
Beni Carvalho
Colo desnudo em flor, lábio entreaberto em prece,
olhos, no alto, exorando o perdão de seu crime,
Magdalena, a ofegar, toda em febre aparece...
E o almo encanto da Vida e do Pecado exprime.
Perscruta o coração, que o Amor, voraz, oprime;
Sente-lhe a luta, e a dor que, dentro da alma, cresce...
E, a cada pulsação que lhe o peito oprime,
Os delírios sensuais, em prantos, amortece.
Em fogo o olhar, tremendo a voz, a mente em brasas,
Desnastrado o cabelo em ondas de veludos,
Demanda o Azul, assim, nessas formosas asas...
Enquanto, aos céus, contrita, a suplicar, exangue,
Mostra os duros punhais dos seios pontiagudos,
Ainda quentes de amor, ainda rubros de sangue!
Muitas vezes,
a única coisa a fazer
é
deixar para lá
Na parte das vezes,
a solução adequada
é
deixar para lá
Em quase 100% dos casos,
a postura a adotar
é
deixar para lá
Segundo as estatísticas,
melhor postura não há
que
deixar para lá
E o resto?
O resto,
bem,
deixa para lá.
Minguito, 15 de abril de 2022.
Marco Aurélio Bezerra de Melo
Em meio a tantos
Olhares armados,
Sinto do mundo o fardo
De existir.
Só que quando chegas,
Te postas ao meu lado,
Deixo de lado o enfado,
Todo meu corpo sorri.
Ao largo do tempo,
Variadas vivências.
E daí, os dizeres:
Certo não vai dar.
Rejeitar com coragem,
Deixar essa ideia prá lá
É tarefa de quem tem poucos haveres a resgatar.
É daquele que guarda no peito
A paixão do primeiro beijo.
Que quer ser feliz
E sabe se perdoar
E perdoar.
Ama sem buscar
Levantar a cortina
Do desconhecido
Na esperança viva
Desse amor
Não se acabar.
Rodolfo Pamplona Filho
Reformar o lustre
para caber na sala
Aceitar que promessas
não passem de palavras...
Fazer amor sem som ou ardor
para não acordar as crianças
Não clamar por calor
para não criar expectativa
Anestesiar a sede de vida
para evitar a despedida
Levar o dia-a-dia sem vibração
só para não se sentir frustração...
Salvador, 31 de julho de 2012.
Paula Nei
Ao longe, em brancas praias embalada
Pelas ondas azuis dos verdes mares,
A Fortaleza — a loura desposada
Do sol dormita, à sombra dos palmares.
Loura de sol e branca de luares,
Como uma hóstia de luz cristalizada,
Entre verbenas e jardins plantada
Na brancura de místicos altares.
Lá canta em cada ramo um passarinho...
Há pipilos de amor em cada ninho,
Na solidão dos verdes matagais.
É minha terra, a terra de Iracema,
O decantado e esplêndido poema
De alegria e beleza universais.
Rodolfo Pamplona Filho
Na busca por justiça e igualdade,
promover direitos é a única verdade.
Ao erguer vozes em defesa ardente,
luta-se por cada ser vivente.
Pessoas trabalhando por pessoas:
Idosos e crianças, migrantes e refugiados,
todos e todas merecem notícias boas
de que haverá sempre alguém a seu lado.
Vítimas de doméstica violência,
pessoas em situação de rua,
comunidades tradicionais e de resistência,
vulneráveis na vida nua e crua.
Cada um e uma merece defesa,
na preservação da sua humanidade!
Nos corações, a chama é acesa
ao se promover sua dignidade!
Com mãos entrelaçadas, a força se amplia.
Na luta constante, a esperança se insurge.
Promoção e defesa, linda sintonia
de vozes ressoando em um tempo que urge.
Salvador, 29 de março de 2024.
Paulo Leminski
Uma pálpebra,
Mais uma, mais outras,
Enfim, dezenas
De pálpebras sobre pálpebras
Tentando fazer
Das minhas trevas
Alguma coisa a mais
Que lágrimas
Rodolfo Pamplona Filho
A consciência da finitude
permite a tranquilidade
de investir em um futuro
que certamente não se verá...
Afinal, a cortiça é recolhida
por quem não cultivou,
o fruto é desfrutado
por quem não o plantou
e ninguém limita
o alcance do amor...
A caminho de Évora, 01 de julho de 2015...
Paulo Leminski
um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegasse atrasado
andasse mais adiante
Rodolfo Pamplona Filho
Eu me irrito profundamente
com quem
nunca deu uma aula
e quer mostrar como ensinar;
nunca teve um filho
e se arvora a dizer como educar;
nunca escreveu um verso
e quer analisar poesia;
nunca fez um texto
e quer criticar um livro;
nunca compôs uma canção
e quer dar pitaco na música;
nunca trabalhou na vida
e opina sobre o resultado alheio;
nunca organizou nada
E quer dizer como se faz;
nunca acertou uma dentro
e acredita saber o que é certo.
Cusco, 11 de abril de 2017.
Rodolfo Pamplona Filho
Não há trancas suficientes
para aprisionar a verdade.
Salvador, 02 de abril de 2017.
Rodolfo Pamplona Filho
O ouro já foi
o sangue
ou suor do sol
A prata seria
a lágrima da lua
em pleno dia
A riqueza de outrora
foi usurpada
como conquista
e a Glória do passado
somente ficará
na memória
dos livros de história.
Lima, 9 de abril de 2017.
Rodolfo Pamplona Filho
Há quem só entenda
a linguagem da violência,
em que a razão
e a possibilidade
de diálogo
são simplesmente substituídas
pela força de quem pode mais.
Salvador, 14 de março de 2017.
Rodolfo Pamplona Filho
Você sabe
que não estou acostumada
com regras ou ordens
Sempre fui livre
e se tentam
me impor algo,
reajo de forma rebelde...
Sou felizmente condenada
à minha própria liberdade,
em que o único sentido
da minha existência e vida
é simplesmente ser e viver...
Salvador, 02 de abril de 2017.
Paulo Leminski
ali
só
ali
se
se alice
ali se visse
quanto alice viu
e não disse
se ali
ali se dissesse
quanta palavra
veio e não desce
ali
bem ali
dentro da alice
só alice
com alice
ali se parece
Rodolfo Pamplona Filho
Há diálogos que tem
mais reticências
do que palavras...
Salvador, 06 de abril de 2017.
Rodolfo Pamplona Filho
Pessoas
hoje procuradas
já foram
em algum momento
apenas
pessoas perdidas
Lima, 10 de abril de 2017.
Paulo Leminski
quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante
basta um instante
e você tem amor bastante
um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto
Rodolfo Pamplona Filho
Um alentejano sozinho
é mais do que
o desfrute de uma boa bebida:
é a prova inequívoca
de um coração
inquilino da solidão...
Salvador, 08 de março de 2017, uma quarta-feira solitária...
Paulo Leminski
a estrela cadente
me caiu ainda quente
na palma da mão
cortinas de seda
o vento entra
sem pedir licença
Rodolfo Pamplona Filho
Quero alguém
para junto envelhecer,
mas não quero
ficar velho.
Quero alguém
para me amarrar,
mas não quero
perder minha liberdade.
Quero alguém
para realizar o sonho
de viver
uma nova realidade.
Cusco, 13 de abril de 2017.
Paulo Leminski
um texto morcego
se guia por ecos
um texto texto cego
um eco anti anti anti antigo
um grito na parede rede rede
volta verde verde verde
com mim com com consigo
ouvir é ver se se se se se
Rodolfo Pamplona Filho
Mulher sem ciúme
Homem sem barriga
Criança sem sorriso
Festa sem bebida
Férias sem viagem
Casamento sem DR
Menstruação sem TPM
Emprego sem patrão
Trabalho sem produção
Poeta sem musa
Poesia sem inspiração
Alegria sem você
Cusco, 15 de abril de 2017
Rodolfo Pamplona Filho
Apanhar quando se espera carinho
Ser acusado quando se queria um beijo
Explicar o que já foi entendido
Desculpar-se pelo que não fez
Um choro calado
pela surpresa da reação
Uma tristeza profunda
pela incompreensão
Uma saudade incontida
de um simples abraço
Uma lembrança bendita
de que ainda existe esperança.
Cusco, 15 de abril de 2017.
Rodolfo Pamplona Filho
É impressionante
como, para algumas pessoas,
tudo flui naturalmente,
enquanto, para outra gente,
é um parto de elefante:
algo definitivamente anormal
fazer algo que soa
entre o banal
e o sensacional.
Cusco, 11 de abril de 2017.
Paulo Leminski
eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora
quem está por fora
não segura
um olhar que demora
de dentro de meu centro
este poema me olha
Rodolfo Pamplona Filho
É preciso mesmo
ter sentido na pele
para sustentar
um posicionamento?
É necessário
passar o dissabor
para defender
o sofredor?
Será que a empatia
não libera a poesia
de se sentir irmanado
a quem sofreu o atentado?
Será que a fraternidade
não é aceitável
como esforço da humanidade
para reparar o irreparável?
O ideal do lugar de fala
é ser lugar de quem não se cala,
e que, mesmo não tendo sofrido a dor,
sabe reconhecer o seu valor
Se é certo que traz legitimidade
ao apresentar sua verdade,
exigir sua aplicabilidade
como única verdade
também pode se tornar
um mecanismo de exclusão,
em uma profunda distorção
de uma boa e sincera intenção.
Salvador, 18 de março de 2017, terminada em Machu Picchu, 14 de abril de 2017.
Paulo Leminski
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
Quero escalar você lentamente,
conhecendo cada atalho ou curva,
subindo suas escarpas com firmeza
até alcançar o seu cume...
Desbravar suas corredeiras,
penetrar em suas cavernas,
deslizar em suas encostas
e me pendurar em seus vales.
Passear de tirolesa em seus encantos
Mergulhar em suas cascatas
Subir ao seu pico nevado
e descer até a sua base
Descobrir a nascente de seus rios
e conhecer seus afluentes
Explorar toda a sua extensão
até conquistar seu coração.
No caminho para Machu Picchu, 14 de abril de 2017.
Paulo Leminski
Apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme.
Durante longo tempo,
busquei encontrar
um novo alento
para descansar
Nas minhas andanças,
sempre a lutar,
sofri tanto que cheguei
a desistir de sonhar
Mas, um dia,
tudo mudou:
uma pequena menina me ensinou
o que é o amor…
No renovar das esperanças,
se um evento pede lembranças,
minha vida é uma festa em redes
e você é meu presente de olhos verdes…
Belo Horizonte, 24 de fevereiro de 2024.
Mihai Eminescu
Por mais estrelas que ardam nas alturas,
Por mais ondas que vaguem sobre o mar,
Dessa luz, de seus brilhos e lonjuras
Ninguém sabe – nem nada há de ficar.
Tu podes, pois, seguir o teu caminho:
Sejas bom, ou de crimes instrumento –
É o mesmo pó, abismo e remoinho!
Tua herança de tudo – o Esquecimento!
Parece-me que morro: junto à porta
Esperam os que querem me enterrar;
Ouço cantos e vejo uma luz morta.
Ó sombra doce, vem mais perto, a dar
Sobre mim este adejo que transporta
Da Morte a asa negra, úmido olhar.
Tradução: Luciano Maia
Primeiro se perde a paixão
Depois a confiança
Depois o tesão
Depois a esperança
Depois não sobra mais nada
Salvador, 27 de fevereiro de 2024.
Mihai Eminescu
Quando até a voz do pensamento cala,
Me envolve o doce canto de uma prece –
Então te chamo; o meu chamar te abala?
Sairás da fria bruma que te tece?
E a escuridão da noite aclararás
Com teu olhar pacífico e risonho?
Retorna, deixa as sombras para trás,
Para te ver voltar – como num sonho!
Vem lentamente... perto... ainda mais;
Chega sorrindo junto à minha face,
Mostra-me, num suspiro, que és tornada.
Que teu cílios nos meus façam-se laços,
Para que eu sinta um frêmito nos braços –
Para sempre perdida e sempre amada!
Tradução: Luciano Maia
Rodolfo Pamplona Filho
Nunca pensei
que o stress
pudesse fazer
meu corpo sentir
o reflexo do caos
que habita minha mente
Nunca sonhei
que a dor da alma
virasse física
e se convertesse
em agonia constante
na minha própria pele
Nunca desejei
tanto a libertação
de uma relação
outro gostosa,
mas que só me causou
urticária nervosa.
Salvador, 26 de fevereiro de 2024.
Mihai Eminescu
São muitos anos e outros vão passar
Desde a hora santa em que nos encontramos,
Mas lembro sempre o quanto nos amamos,
Gélidas mãos e grande ardor no olhar.
Ó, vem palavras doces me inspirar,
Teu rosto sobre mim deita e me mira:
Sob sua luz me deixa ainda sonhar,
Novas canções arranca à minha lira!
Tu nem o sabes - ao te aproximares,
Meu coração no fundo já se acalma
Qual o surgir da estrela sobre os mares;
Quando sorris, criança, és minha calma,
Se extingue, então, a vida de pesares,
O olhar me arde e me transborda a alma!
Tradução: Luciano Maia
Eu sempre acreditei
que o trabalho emancipa
Eu sempre defendi
a importância da gentileza
Eu sempre pensei
que eu fosse visivelmente delicado
Eu sempre lutei
para prestar um serviço com cuidado
Eu sempre busquei
ser visto como alguém dedicado
Eu sempre achei
que todos me achavam bem educado
Mas, lá no fundo,
Eu não passo de um mandrião estouvado.
Salvador, 26 de fevereiro de 2024.
Mihai Eminescu
-“Branca, sabes que de amor
sem lei nasceste, mas isto
fez-me jurar desde então
que esposarás Jesus Cristo!
Vestindo o hábito de monja,
Indo a um mundo mais sublime,
Redimirás tua mãe,
Me libertarás de um crime.”
-“Deste mundo, caro pai,
quem quiser dele se mude;
a minh’alma é tão alegre,
radiosa a juventude!
A dança, a música, o bosque,
Isto é o que minh’alma preza;
Não um catre solitário
Onde chorando se reza!”
-“Sei o que melhor te serve,
como eu disse assim será;
À viagem de amanhã,
Te prepara desde já!”
Mãos aos olhos leva Branca,
Tudo em sua mente se aduna;
A cabeça ardendo, louca...
Só lhe resta esta fortuna?
Seu cavalo branco, amigo,
Selado lá fora, espera;
Ela põe o pé no estribo,
Ir ao bosque delibera.
A noite vem do arvoredo
Cujo perfume a embevece;
O céu as estrelas mostra,
Doce anúncio se oferece.
Ela nos bosques penetra
Até a velha tília, onde,
Com flores que vêm ao solo,
Fonte mágica se esconde.
Embalada à voz das águas,
Canta a trompa, um som incerto.
Forte... cada vez mais forte...
Perto... cada vez mais perto...
E a fonte, presa em magia,
Brotando, um rumor espraia –
Sobre os bosques das colinas,
Lua branda de atalaia.
Como em sonho, Ela delira
E ao olhar, pasma, ao seu lado,
Vê um garboso mancebo
Em corcel negro montado...
Será que os olhos lhe mentem?
Ou será verdade pura?
Flores de tília ao cabelo,
Trompa de prata à cintura.
Ela então os olhos baixa,
Passa a mão na fronte e um gozo
O seu coração lhe inunda
De um encanto doloroso.
Ele se chega mais perto,
Infantil e suplicante;
Dela a alma se inebria,
Cerra os olhos, neste instante.
Com uma mão tenta afastá-lo,
Mas sente presos seus braços
De uma dor, de uma doçura
No seu peito em fortes laços.
Gritaria... mas não ousa,
Sua fronte cai-lhe ao ombro;
Seus beijos sem conta a boca
Dele sorve, em desassombro.
Carinhoso, ele a interroga
Mas ela a face lhe esconde.
E com voz doce, baixinho,
Pouco a pouco lhe responde.
..................................................
Vão juntos, em cavalgada,
A ninguém ouvidos dando,
E no amor, vão um ao outro
Nos olhos se devorando.
E sempre vão mais além
Por sombras, de vale em vale;
E a melancólica trompa
Soa doce, soa grave.
O seu brando som se espalha
Pelos vales ressoante,
Mais suave... mais suave...
Mais distante... mais distante...
Sobre os pinhos das colinas
Segue a lua de atalaia.
E a fonte, presa em magia,
Brotando, um rumor espraia.
Tradução: Luciano Maia
Rodolfo Pamplona Filho
Não há decepção,
por maior que seja,
que não possa ser ampliada
Toda vez que eu acho difícil
ou que algo está ruim,
ainda é possível deixar pior
Você faz isso
de propósito
para testar os meus limites?
Sempre sem querer
Sempre sem saber
Sempre sem entender
Mais um caso isolado
que acontece muito
e sempre.
Sempre é,
sempre foi
e sempre será.
Salvador, 26 de fevereiro de 2024.
Tão delicada, és semelhante
À alva flor da cerejeira.
E como um anjo entre os mortais
Surges da minha vida à beira.
Nem bem tu tocas o tapete,
A seda soa ao teu pisar
E da cabeça até os pés
Pairas num sonho, a flutuar.
Das dobras longas do vestido,
Como do mármore, ressais,
Presa a minh’alma aos olhos teus
Cheios de lágrimas e ais.
Ó sonho meu feliz de amor,
Noiva suave, de outras lendas,
Não me sorrias! Se sorrires
Tua doçura me desvendas.
Podes, no encanto da tua noite,
Deixar-me os olhos sempre baços
E com o murmúrio de tua boca
No frio enredo dos teus braços.
Súbito, passa um pensamento
No véu do teu ardente olhar:
É a renúncia penumbrosa,
Sombra de doce suspirar.
Te vais e eu bem compreendi
Não mais deter o passo teu;
Perdida, sempre, para mim,
Noiva imortal no peito meu!
Pois ter-te visto é culpa minha,
Da qual jamais terei perdão;
Expiarei sonho de luz
A mão direita erguendo, em vão.
Ressurgirás como uma aura
Da eterna virgem, de Maria,
Em tua fronte uma coroa...
Aonde tu vais? Voltas um dia?
Tradução: Luciano Maia